Neste
postal escrevemos sobre as palavras de um dirigente da AIP. Ontem à noite, ao regressarmos de um "desterro" de 2 dias e meio, lê-mos um outro
artigo de jornal com o mesmo tipo de mensagem.
O caderno de Economia do DN de 19 de Outubro, na sua página 13, traz o artigo “Indústria quer subir preços do arroz para manter o sector a funcionar”, assinado por Diana Mendes.
Confesso que não sei se percebi a mensagem da Associação Nacional dos Industriais do Arroz (ANIA), cá vão as minhas anotações numeradas sobre o que li:
1. Os industriais do arroz sentem que precisam de aumentar os preços que praticam à distribuição, em 30 a 40%.
2. O preço que praticam actualmente à distribuição pode oscilar entre os 40 e os 70 cêntimos, quando há cinco anos podia atingir um euro.
3. A distribuição “tem vindo a pressionar as empresas a baixar cada vez mais os preços, esmagando as margens de lucro”.
4. “Há 20 anos existiam 52 empresas no sector. Agora existem apenas dez. dessas, apenas as multinacionais conseguirão subsistir”
5. A ANIA não acredita que a distribuição venha a aceitar os aumentos.
6. Se as empresas nacionais fecharem, serão lesados 500 a 600 trabalhadores directos.
7. Se as empresas nacionais fecharem, serão lesados dezenas de milhares de orizicultores.
8. Portugal importa 40% do arroz do mercado internacional.
9. Os preços do arroz no produtor estão a aumentar na sequência da abertura de mercados com mais procura e do acréscimo de custos energéticos e de transporte. Em 2004, comprávamos uma tonelada a 200 euros, agora pagamos 350 e por vezes 400.
10. Entre 2004 e 2006, por exemplo, o arroz vaporizado passou de 96 para 64 cêntimos, nos supermercados.
11. Temos (industriais) tido uma quebra de 40% da facturação e as despesas são as mesmas (
aqui presumo que são as despesas de laboração, excluíndo os custos do arroz em bruto, a matéria-prima, senão há contradições no discurso).
Procurei organizar as minhas anotações, tentando descortinar relações de causa-efeito, cheguei a isto (o que não está numerado são achegas minhas, para relacionar as frases):
Se analisarmos as frases, podemos identificar aquelas que não têm setas a entrar, só setas a sair:
A imagem pode ver-se em grande
aqui.
As frases 8 e 9 são constatações da realidade que estão fora da capacidade de influência da ANIA, são como a lei da gravidade, existem ponto.
Os sócios da ANIA, os industriais podem actuar sobre o 11, sobre as despesas, mas qual será a margem, a folga que conseguirão libertar?
Assim, concluímos que a causa-mãe dos problemas dos industriais de arroz se resume a
"Os industriais não têm poder para obrigar a distribuição a aceitar aumentos" .
Algo que o jornal não explica, não explora, o jornal serviu apenas de megafone, de instrumento de ampliação das queixas, dos medos da ANIA. A questão de fundo é porque é que os industriais não têm poder para obrigar a distribuição a aceitar aumentos? Será que a distribuição é gananciosa? Neste caso particular a afirmação 10 diz-nos que não, que estão a passar os efeitos do seu forte poder negocial para benefícios ao consumidor.
Portanto, enquanto a ANIA não resolver esta sua falta de poder... nada feito.
Já agora, será que os industriais de arroz também fizeram o seu trabalho de casa? A distribuição nos últimos 20 anos aumentou a sua produtividade, a sua eficiência. Será que o fornecedor, industrial de arroz conseguiu acompanhar o desafio?
Resta-me uma questão, porquê este artigo? Foi um favor do DN à ANIA?
Porque eu, como consumidor do jornal fico com uma informação em falta porque é que "Os industriais não têm poder para obrigar a distribuição a aceitar aumentos" .
Quais são as alternativas da distribuição? Assim, o artigo é mais um grito de alguém que vê o mundo a mudar e espera uma ajuda que não sabe descrever.
Talvez a China e a India acabem por salvar a indústria do arroz em Portugal, crescimento da economia --> maior poder de compra --> maior consumo de arroz --> escassez global de arroz --> embaladores podem fazer melhores preços. Quem sabe?