sexta-feira, outubro 13, 2006

Produtividade: não esquecer a segunda parcela da equação!

Encontrei este artigo no DN de hoje: "Custos do trabalho aumentam e produtividade cai desde 2000 ", assinado por Rodolfo Rebêlo.

Saliento esta parte:

"Nos últimos anos, os custos unitários do trabalho (nominais) na indústria portuguesa subiram a um ritmo superior ao da área do euro. É, para a AIP, o resultado de um efeito conjugado entre o aumento dos salários anuais - sempre superior à média da Zona Euro - com um menor crescimento da produtividade do trabalho"

e esta:

"Para agravar os custos industriais, em 2005, diz a AIP, os preços da electricidade para a indústria nacional registaram um "aumento nominal de 14%", semelhante ao verificado na Alemanha. Mas em relação aos principais parceiros económicos, como a Itália, Espanha e França, a "inflação dos preços energéticos" foram significativos. No ano passado, Espanha decretou aumentos de 5% e em França os preços da electricidade estagnaram." (Já agora, espero que a AIP acredite no jogo das forças do mercado. Assim, depois da Califórnia e do Brasil, o que dizer deste cenário de rotura do fornecimento de electricidade na Europa? - "Europe's Batteries Running Low " na revista Forbes.)

e ainda esta:

"Por fim, os impostos sobre os lucros. Afirma a AIP que, em 2006, a taxa nominal situa-se nos 27,5%, bem acima das taxas praticadas pelos países de Leste, concorrenciais ao investimento exterior. "

Qual a finalidade deste estudo sobre o "estado das empresas em Portugal " que a Associação Industrial Portuguesa (AIP) apresentará no dia da competitividade, a 25 deste mês?

O primeiro argumento é capaz de ser factualmente verdadeiro, mas nos tempos que correm, as empresas privadas só sobem os salários por três motivos: recompensar os trabalhadores pelo aumento dos resultados, ou para fazer face ao mercado de trabalho e evitar que os bons trabalhadores saiam para a concorrência... ou porque alguém na gestão não sabe fazer contas.

O segundo argumento é factualmente verdadeiro, mas qual será o impacte real na estrutura de custos?

O terceiro argumento é factualmente verdadeiro, mas não tem nada a ver com a produtividade, está é relacionada com a maior, ou menor atractividade de Portugal como destino de investimento, para nacionais e estrangeiros. Quando baixar a taxa, até será mais fácil que novos agentes entrem e até levem às cordas actuais sócios da AIP.

Repito, qual a finalidade deste estudo sobre o "estado das empresas em Portugal " que a Associação Industrial Portuguesa (AIP) apresentará no dia da competitividade, a 25 deste mês? Parece aquele grito "Agarrem-me senão eu mato-o!"

O entrevistado, e se calhar a maioria dos empresários, só está a ver metade do filme. A produtividade mede a relação entre dinheiro que sai (para pagar salários, para pagar utilidades, para pagar serviços, para pagar materiais, para...) e dinheiro que entra (aquilo que o mercado está disposto a pagar pelos produtos, ou serviços). O que é que o relatório dirá sobre esta parcela da equação? Porque é que o entrevistado não fala nesta segunda parcela da equação?

Na média, parece que esgotamos um paradigma de negócio e ainda não assumimos que precisamos de um corte epistemológico que nos abra a janela, para um outro paradigma baseado na diferenciação, e não no custo.
Parece que alguém sente o mundo à sua volta a mudar, e sentindo-se impotente para cavalgar a mudança, grita em busca de uma ajuda que não sabe descrever.

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