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quinta-feira, junho 29, 2017

Estas coisas não lembram à corte lesboeta

Ontem em conversa com um empresário fiquei a saber do caos que reina na zona de Águeda.

Parece que estas coisas não chegam ao mainstream, não lembram aos lesboetas que mandam nos media.

Águeda é um avatar do que vai acontecer em breve no resto do país. Águeda é forte na metalomecânica. Ainda há dias sublinhava isto:
"“O setor não tem número de formandos necessários e isto é uma tragédia e com a taxa de desemprego a baixar, este é um problema que se vai agudizar”, sublinha." 
Este empresário já está a pensar numa resposta: automatização.

sábado, junho 03, 2017

Cuidado com as médias

A propósito deste título "“Na Europa, cada mil milhões de euros de exportações apoiam 14 mil empregos”"

Este é o pensamento que critiquei no Senhor dos Perdões, ver a economia como um monólito, como uma realidade homogénea.

Como é que é possível lançar um número como este e esperar que tenha algum significado?

O perfil de exportações português é diferente do alemão e diferente do romeno, por exemplo. Por exemplo, em 2016 a rubrica "Viagens e turismo" representou mais de mil milhões de crescimento das exportações. Quantos empregos foram criados? Muito mais do que 14 mil.

Recordar esta lição.

Surpresas

Ontem de manhã, antes de uma reunião de trabalho numa empresa, folheei o último Boletim Económico (maio de 2017) do Banco de Portugal e foi um festival de surpresas.

Tendo em conta o que os media relatam acerca da economia portuguesa nestes tempos e o que relatavam quando a actual situação era oposição esperava diferenças abissais. No entanto:
"De acordo com o Inquérito ao Emprego do INE, em 2016 o número total de desempregados diminuiu 11,4 por cento em termos homólogos, após a queda de 11,0 por cento registada em 2015
...
Neste âmbito, o número de indivíduos desempregados à procura de emprego há 12 ou mais meses registou em 2016 uma queda de 13,4 por cento (após menos 13,7 por cento em 2015).
...
De acordo com o Inquérito ao Emprego, o emprego total aumentou 1,2 por cento em 2016, após um aumento de 1,1 por cento em 2015. Esta evolução reflete o crescimento do emprego por conta de outrem (2,1 por cento) dado que o emprego por conta própria registou uma queda pronunciada (3,2 por cento). Em termos setoriais, o principal contributo para a taxa de variação homóloga do emprego por conta de outrem registou-se nos serviços transacionáveis, que incluem as atividades ligadas ao turismo.
...
Em 2016, o consumo privado apresentou um crescimento de 2,3 por cento, ou seja, um valor inferior em 0,3 p.p. ao registado em 2015."[Moi ici: Esta última nunca passaria pela cabeça de ninguém]

sexta-feira, junho 02, 2017

Adeus Okun (parte IV)

A empresa mandou-me os dados por linha de fabrico.

Usei umas cartas de controlo estatístico para avaliar o desempenho de cada linha. Uma das linhas tinha um comportamento estranho: a produção diária da primeira metade do ano (YTD) estava sistematicamente abaixo da média anual e, a produção diária da segunda metade do ano estava sistematicamente cima da média anual. Começámos logo a levantar teorias, algumas rebuscadas, que pudessem explicar este comportamento anormal.

Quando chegámos à empresa pedi para visitar a linha de fabrico e perguntei ao encarregado do turno como é que ele explicava a evolução. A resposta foi:
- Começámos a fazer mais uma hora extra por turno desde ...

Porque recordo este episódio desta semana?

Tenho escrito a série "Adeus Okun" onde, tal como o encarregado da referida linha de fabrico, usando a minha experiência de contacto com a realidade, explico de forma comezinha como pode o emprego crescer mais do que a Lei de Okun prevê dado o crescimento do PIB.

Hoje, em "Produtividade piora apesar da forte retoma do investimento" sinto que alguém escreve sobre dados que recolheu e se esqueceu, ou não tem possibilidade de descer da torre de marfim até à realidade em busca de explicações. Leio:
"Banco de Portugal diz que paragem no investimento dos últimos anos prejudica a produtividade atual.[MOi ici: Afirmação com que não concordo logo à partida]
...
A produtividade aparente do trabalho piorou no primeiro trimestre deste ano, apesar da forte retoma do investimento e da reposição dos níveis salariais
...
O Banco de Portugal suspeita que o problema não esteja tanto nos salários, mas mais na falta de investimento (capital).
...
O indicador de produtividade média aparente laboral, que no fundo pode ser o produto interno bruto (PIB) gerado por cada trabalhador num terminado período (a preços correntes ou constantes) ou o valor acrescentado bruto da economia ou de um setor de atividade dividido pelo número de empregados (como faz o Banco de Portugal), está estagnado (calculado a preços correntes, com inflação) ou a cair, se calculado a preços constantes, tirando a inflação.
...
"Os reduzidos níveis de capital concorrem para o fraco desempenho da produtividade do trabalho na economia portuguesa", concluem os economistas do BdP, num estudo divulgado em maio. E dizem mais: "As explicações são complexas, podendo relacionar-se com as alterações da estrutura produtiva, num contexto em que os níveis de capital por trabalhador permanecem reduzidos, após vários anos com baixos níveis de investimento.""
O meu contacto diário com a realidade das PME dá-me duas pistas:

  • crescimento baseado em actividades não ou dificilmente escaláveis, tema que a série de "Adeus Okun" desenvolve. Por exemplo, a renovação habitacional é mais uma actividade pouco escalável, pequenas empresas a trabalhar para proprietários com um imóvel;
  • ao contrário do que dizem os keynesianos as PME estabelecidas que conheço não contratam hoje porque esperam vir a ter mais trabalho no futuro. Esticam os recursos, preferem colocar toda a organização em stress para servir a crescente procura e só quando ganham confiança no futuro é que voltam a contratar, para distender a organização e reduzir o stress (nesta fase o emprego cresce mais do que a facturação porque se está a compensar o que já se devia ter compensado no passado)


terça-feira, maio 30, 2017

Adeus Okun (parte III)

Parte I e parte II.

Outro exemplo de como a economia do século XXI difere da economia do século XX. Basta pensar na UNICER e na sua evolução recente "Unicer fecha produção de cerveja em Santarém e centraliza fabrico em Leça do Balio" e comparar com Mongo nos Estados Unidos e a explosão das cervejas artesanais:
"America seems to be toasting her economic recovery with a cold one. After a seven-year slump from 2004 to 2010, the breweries industry (NAICS 312120) reversed direction in a hearty uptick at the end of the recession and has sprung up 44% in the past four years. With 35,675 brewery jobs in 2014 (compared to 26,519 in 2004 and only 24,864 in 2010) and average earnings of $82,044 per job, the industry is clearly in a happy spot.
.
Brewery establishments have more than tripled since 2004. This makes sense, given the job growth, but the difference since 2010 is that the establishments are also smaller, spreading out the workforce. In 2004, there were 384 establishments with an average of 69 workers per establishment. In 2014, there were 1,271 establishments with an average of only 30.6 workers per establishment."
Ou de outra forma:
"Combined with already existing and established breweries and brewpubs, craft brewers provided nearly 122,000 jobs, an increase of over 6,000 from the previous year.
.
“Small and independent brewers are a beacon for beer and our economy,” added Watson. “As breweries continue to open and volume increases, there is a strong need for workers to fill a whole host of positions at these small and growing businesses.”"
Enquanto o século XX dependia da eficiência o século XXI aposta na preferência.

domingo, maio 28, 2017

Adeus Okun (parte II)

Parte I.

Já depois de ter lançada a pré-publicação da parte I, na passada Sexta-feira tive oportunidade de reunir-me ao jantar com gente que já não via, alguns desde 1982.

Um dos presentes, pessoa a quem muito devo e de quem me afastei por causa da minha impetuosidade juvenil tardia, contou-me que tem uma casa de turismo rural no interior. A casa tem 5 quartos e tem 2 funcionários.

Atentemos agora nestes trechos retirados de "Vieira da Silva: “Aprendi nos livros que a economia tinha de crescer a 2,5% para que aumentasse o emprego”":
"“Esse é o mistério”. A classificação é de Vieira da Silva sobre já não ser preciso crescer dois ou três por cento para o emprego aumentar. “sou economista e aprendi nos livros durante muitos anos que a economia tinha de crescer a 2,5% para que aumentasse o emprego”, afirmou o ministro em entrevista
...
Além disso, o ministro socialista explicou que este fenómeno alarga-se a outros países. “Esta diferença entre o emprego a crescer mais rapidamente do que aparentemente a economia está a desenvolver-se não acontece só em Portugal”, alertou."
Quando no Sábado de manhã juntei as duas peças surgiu-me uma pergunta: Quantos funcionários tem um hotel por cada x hóspedes que recebe?

Goglei a pergunta e surgiu-me logo este título "Sindicato diz que uma trabalhadora de hotel não pode limpar 26 quartos por dia". Talvez este título não seja representativo da realidade. No entanto, julgo que permite ilustrar a mensagem da parte I.

O crescimento da facturação das unidades de turismo local gera naturalmente muito mais emprego que o mesmo aumento numa "linha de montagem" da hotelaria.

quarta-feira, maio 24, 2017

Ignorância, politiquice ou a idade? (parte II)

Para reforçar a Parte I recomendo a leitura prévia de "Exportações: mergulhar nos números" para se ter uma ideia da onda actual da indústria.

Os números do IEFP ilustram a força da redução do desemprego na indústria.


Depois de estabelecermos que o crescimento e o emprego é mais do que só o turismo... olhemos para o turismo.

Aqui, contra o que é habitual neste blogue e na minha natureza, vou olhar para o que o governo de Passos Coelho, Adolfo Mesquita Nunes e Álvaro Santos Pereira fizeram:
  • Liberalização do sector do turismo
  • Vistos Gold
  • Paraíso fiscal para quem não ganha dinheiro em Portugal
Olhando para aquela tabela ali em cima o que salta à vista?
  • Construção
  • Imobiliária
  • Alojamento e restauração
  • Comércio por grosso e a retalho
Facilmente consigo relacionar os 3 primeiros sectores com aquelas 3 medidas acima.


Quadro retirado do Boletim do IEFP acerca do mercado do emprego relativo ao mês de Abril de 2017.

segunda-feira, maio 08, 2017

Fico com a ideia de que muita gente ainda não percebeu isto

Deixei de comprar o semanário Expresso há tantos anos que perdi a conta. No entanto, sempre que vou a casa da minha mãe recolho os cadernos de Economia que ela guarda para eu dar uma vista de olhos.

Se olharem para os 4 últimos cadernos de Economia em conjunto facilmente percebem um tema a emergir: a falta de pessoas para trabalhar.

Por exemplo:
  • (6 de Maio de 2017) "Aparecem hotéis mas faltam trabalhadores"
  • (29 de Abril de 2017) "Faltam mãos ao 'cosido à portuguesa'
Entretanto, também a 6 de Maio último, no dinheiro vivo, apareceu este texto "Um terço das reformas atribuídas em 2016 foram antecipadas".

Ontem, ao princípio da noite no Twitter encontrei:








Fico com a ideia de que muita gente, e muita com responsabilidades governativas e associativas, ainda não percebeu o impacte desta evolução na vida das pessoas e das empresas.

sábado, fevereiro 25, 2017

Dúvida sincera

Há um ano vivia-se a incerteza de um novo governo. Muitos, a começar por mim, não acreditavam que o novo governo resistisse.

Agora, temos um governo com um ano, temos o ministro da Economia a falar de uma aceleração do crescimento.

Pessoalmente, acompanho cerca de 50% da economia do país, a economia do sector transaccionável, e essa está muito bem.

Ao olhar para os números do desemprego do IEFP fiquei com uma dúvida sincera:


Por que será?

terça-feira, fevereiro 14, 2017

Um bom teste para a minha hipótese

A propósito de "Bruxelas. “A criação de emprego vai abrandar em Portugal"" eis um bom teste para a minha hipótese apresentada em "O que os números das exportações me sugerem".

Apesar das asneiras que os governos portugueses possam cometer, a força do tsunami do refluxo da globalização mais do que compensa as asneiras.

BTW, se com o choque chinês o sector transaccionável penou na primeira década deste século e o sector não transaccionável bombou com o acesso a dinheiro fácil e à orgia de endividamento, o que é que impedirá que o contrário agora aconteça?

segunda-feira, janeiro 30, 2017

Sintomas (parte II)

Este texto "Hays: "Empresas devem preparar-se para cenário de escassez de profissionais"" relaciono-o com esta tendência "Sintomas".

Ao qual se pode acrescentar:
Até este fenómeno, no outro lado do mundo, "Mão-de-obra estrangeira no Japão supera um milhão de pessoas pela primeira vez em 2016" está relacionado.

Se puderem procurem o comentário de Nicolau Santos no noticiário das 13h de hoje na Antena 1. Ainda que seja um apoiante encarniçado da situação, a sua cegueira de lisboeta fechado numa torre de marfim, impede-o de ver a transformação que está a ocorrer em Portugal a nível do emprego.


quarta-feira, janeiro 25, 2017

Ideias acerca da perda de poder da estatística

Algumas ideias a propósito de "How statistics lost their power – and why we should fear what comes next".

Cada vez mais os resultados estatísticos não são resultados naturais mas resultados "engenheirados". Por exemplo, quando os governos inflacionam os gastos no so-called "investimento público" para conseguirem melhores resultados a nível de PIB e emprego. Que melhor exemplo do que alterar a geografia da Região de Lisboa e Vale do Tejo para manipular estatísticas perante Bruxelas?

Cada vez mais afastamos-nos do Normalistão a caminho do Estranhistão, ou seja, a média é cada vez mais menos representativa de populações cada vez mais heterogéneas (recordar a explosão de tribos em curso). E as pessoas não se revêem nessas médias e desconfiam.

A sociedade é cada vez mais fluida e dinâmica enquanto que a estatística é muito mais conservadora e lenta na sua actualização da interpretação da realidade. Por exemplo, cada vez mais pessoas trabalham por conta própria em regime de auto-emprego e as definições estatísticas continuam a não classificar essas pessoas como estando empregadas.

terça-feira, janeiro 24, 2017

Tudo feito por gente com skin-in-the-game

Há dias, de manhã bem cedo, ao passar em frente à estação de S. Bento no Porto, não pude deixar de apreciar o impacte do turismo e do arrendamento local na cara da cidade. Reparem nestas fachadas:
Renovadas, limpas, bonitas.

Tudo feito por gente com skin-in-the-game.

Assim, no ano em que o Estado torrou menos dinheiro no so-called "investimento público", e que na maior parte das vezes não tem nada de investimento e, não passa de assar sardinhas com o lume dos fósforos, o desemprego no sector da Construção teve este desempenho:
Notável e muito mais saudável.


segunda-feira, janeiro 23, 2017

Sintomas

Só no último mês, a quantidade de sintomas que vêm parar a este blogue e que apontam no mesmo sentido.

Os Sarumans que controlam o panorama do comentário económico e político-económico português continuam a sua pregação contra o euro, sob a falsa acusação de que nos torna menos competitivos.

Eu, pelo contrário, só vejo sintomas de uma recuperação industrial portuguesa e europeia.

Por exemplo, de ontem:

"No negócio do dia-a-dia, a AMF Shoes está a negociar com os maiores players mundiais na área do calçado técnico, na tentativa de criar conceitos próprios. “São players que querem regressar à Europa e que olham para Portugal como um país interessante,"
Aqui registados no blogue no último mês:

Ouvem algum político falar disto? Se falassem perdiam este capital de queixa e reivindicação perante Bruxelas.

sábado, janeiro 21, 2017

domingo, janeiro 15, 2017

"they’ll create more and better jobs by not focusing on creating jobs"

Posso ser um anónimo da província.

Posso nem ter formação académica em Economia.


Quanto mais passam os anos e mais aprendo a pensar por mim do que a seguir sebentas e a opinião da tríade, (gente em torres de marfim qual Sarumans que há muito perderam a ligação à economia real, se é que alguma vez a tiveram), vou formulando hipóteses de interpretação da realidade cada vez mais afastadas do mainstream preguiçoso.

Por exemplo, quantos políticos elegem o emprego como o objectivo do seu mandato? "António Costa: “Emprego, emprego, emprego” é o objetivo"

O que digo acerca do emprego ou do lucro como objectivo? Está errado. O emprego é um resultado, é uma consequência não um objectivo directo. Quando elegemos o emprego ou o lucro como o objectivo directo, imediato, temos as auto-estradas paralelas que se constroem para criar emprego provisório (assar sardinhas com a chama de fósforos) ou as Enrons.

Daí:

Agora encontro "Power Sheet":
"Business leaders and their p.r. advisers are holding a festival of spin on the subject of jobs,
...
There’s no harm in any of this, except in one way: Repetition of the theme could lead to a widely accepted view that the economy’s purpose is to create jobs. It isn’t. That sounds heartless, but jobs are a byproduct of economic growth, not the end product, and remembering that reality is, ironically, crucial to more people having better jobs.
...
Let’s hope that, in proclaiming their growing U.S. employment, they can avoid suggesting it’s the reason for their existence. The paradoxical reality is that they’ll create more and better jobs by not focusing on creating jobs."
Como não recordar Viktor Frankl: as pessoas mais felizes são as que não elegem a felicidade como um objectivo. A felicidade decorre naturalmente como consequência de um outro propósito.

segunda-feira, dezembro 26, 2016

O reshoring e Mongo are making indústria portuguesa great again.

Ontem no Porto deu-me para ler o JN, (a minha mãe voltou ao JN, depois de anos pelo Público e DN, porque diz que é um jornal que traz notícias, os outros só trazem opiniões).

Um artigo que me interessou foi este:

Fiz logo a "ponte" para:

  • a micro-empresa que este ano teve de recorrer ao trabalho temporário, contra sua vontade, porque não conseguia contratar ninguém;
  • a empresa grande portuguesa que auditei este ano e que me disse que contrata todos os que lhe batem à porta porque não há pessoal;
  • a pequena empresa do interior onde estava e apareceram dois jovens brasileiros sorridentes a pedir trabalho. Na semana seguinte já os vi a dar no duro.
Entretanto ontem à noite ao rever os artigos dos cadernos de Economia do Expresso que roubo a quem ainda tem pachorra para o comprar encontro no artigo "Invasão francesa chega ao Porto", de 17 de Dezembro último, a seguinte caixa:
"Os papéis inverteram-se: agora são as empresas que se promovem junto dos candidatos a emprego" 
O reshoring e Mongo are making indústria portuguesa great again.

Oiço agora na rádio que o primeiro-ministro falou de educação ... não ouvi mas desconfio que fez o papel que aquele treinador brasileiro desencorajava:
"Não tentem marcar o segundo golo antes do primeiro!"
Ainda há dias um inquérito concluía que uma percentagem elevada de jovens tinha mais qualificações do que aquelas que o seu emprego actual exigia.

BTW, é tão interessante o que o alinhamento de um jornal com a situação faz: agora que o partido no poder é aquele com que o Expresso alinha, os call-centers deixaram de ser um centro de exploração e passaram a ser algo de muito positivo.

quinta-feira, dezembro 22, 2016

Imprensa amestrada

16 de Dezembro de 2016, "Governo garante 1300 empregos com apoio a seis empresas" e quem olha para o título fica com a ideia que vão ser criados 1300 postos de trabalho. No entanto, lendo o texto:
"Ao todo, o governo segura no país 1800 postos de trabalho, a maioria a norte - 525 são novos empregos e outros 800 são postos de trabalho já existentes e que agora ficam assegurados de forma mais duradoura."
Oh, wait! afinal só vão ser criados 525 postos de trabalho. Como uma das empresas beneficiada é a Eurocast que vai iniciar a actividade de raiz em Estarreja com 170 trabalhadores, as outras 5 empresas vão criar 355 postos de trabalho. Depois, aquele trecho " que agora ficam assegurados de forma mais duradoura." parece que são empresas com poucas vantagens competitivas. Sem o apoio do Estado não sobreviveriam com a dimensão actual. Dá que pensar.

21 de Dezembro de 2016, "Governo aprova investimento de 85 milhões em fábrica da Altri". E serão criados ...
.
.
.
11 postos de trabalho!

E quantos serão criados na Celbi?

Por isto é que ao longo dos anos aprendi a dar pouca importância a estas empresas como criadoras de emprego. Como criadoras de emprego são muito fracas e ineficientes. Por cada milhão de euros de investimentos criam muito poucos postos de trabalho e o efeito cascata da distribuição de riqueza é muito baixo. Estou a pensar numa micro-empresa que facturará cerca de 500 mil euros em 2016 e que acrescentou 3 novos postos de trabalho, tudo sem apoios comunitários.

Por favor, não usem a criação de emprego como argumento para estas benesses fiscais.

BTW, quantos trabalhadores dos serviços irão aproveitar estes postos de trabalho?

Desligados da realidade

Ainda esta semana numa empresa falei sobre este tema para demonstrar como os políticos estão desligados da realidade porque, quando falam em desemprego, pensam logo em fábricas fechadas, ou seja, desemprego industrial. A realidade, como já descrevi aqui no passado, é bem diferente:
"No que respeita à atividade económica de origem do desemprego, dos 405 933 desempregados que, no final do mês em análise, estavam inscritos como candidatos a novo emprego, nos Serviços de Emprego do Continente, 68,6% tinham trabalhado em atividades do sector dos “serviços”, com destaque para as “Atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio”; 25,8% eram provenientes da “indústria”, com particular relevo para a “Construção”; ao sector “agrícola” pertenciam 4,6% dos desempregados."
Outro exemplo do desligamento da realidade, por a considerarem um bloco monolítico que é apenas o que vemos nos media:
"O aumento do salário mínimo nacional (SMN), dos 530 para os 557 euros, terá reflexos diretos e indiretos em "cerca de 40%" dos trabalhadores das IPSS, cerca de 100 mil pessoas - num universo de 250 mil -, disse ao DN Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS). A "ameaça [de despedimentos], no futuro, existe sempre", admitiu."
Trecho retirado da Informação Mensal do Mercado do Emprego, publicado pelo IEFP, relativo ao mês de Novembro de 2016.

BTW, apesar da descida do IVA, o desemprego no sector "Alojamento, restauração e similares" cresceu 14,3% em cadeia. E as promessas da AHRESP?

BTWII, o texto sobre as IPSS e o SMN é um caso clássico de uma mentalidade que felizmente muitas PME já ultrapassaram, nem uma palavra sobre produtividade.

sexta-feira, dezembro 16, 2016

Para reflexão

"Em reacção aos dados do emprego divulgados pelo Eurostat, Daniel Bessa alertou na terça-feira à noite, no programa "O Estado do País" do Porto Canal, para o facto de o emprego estar a crescer mais do que a riqueza que o país produz.
.
 "Normalmente, o emprego cresce um bocadinho menos do que o PIB, porque vai havendo ganhos de produtividade e para fazer crescer o PIB 1% normalmente não é preciso mais 1% das pessoas. Ora bem, temos um PIB a crescer 1% e pico e o emprego a crescer mais de 2% - e esse resultado é um pouco perturbador. Está-se a criar mais emprego do que aquilo que o PIB por si só justificaria", alertou o professor de Economia e Gestão"
O tema não é nem novo nem exclusivo de Portugal. Por exemplo em "Why Has the Unemployment Rate Fared Better than GDP Growth?" de Robert E. Hall e publicado em Setembro passado:
"In 2016, the unemployment rate finally reached normal after rising to 10 percent soon after the financial crisis of 2008. In terms of the utilization of the labor force, the performance of the U.S. economy is now good. But real GDP—and therefore real income—is far below its normal growth path. By that standard, the performance of the economy is abysmal. The clash between the two measures of performance has no parallel  in the history of the economy since 1948, when accurate measurement of unemployment began."

Trecho inicial retirado de "Daniel Bessa: Empresários do Norte poderiam subir mais os salários dos trabalhadores"