quinta-feira, abril 01, 2021

"the search for new knowledge which creates imperfect competition"


 Outro trecho sobre a concorrência imperfeita:

"In both Adam Smith and in neo - classical theory there is in some fundamental way a contradiction between the notion of perfect markets and the way the economy adds knowledge. This problem spills over to how economic theory today explains profits. There is no incentive to produce new knowledge in perfect markets – the possibility of appropriating the fruits of new knowledge is absent. By letting new knowledge enter the system like ‘‘manna from heaven’’, the very engine of growth – the search for new knowledge which creates imperfect competition – is excluded from mainstream theory. For this reason, an understanding of how different degrees of imperfect competition is caused by conditions of production is at the very core of any understanding of economic growth. Economic theory, however, does not have a relevant theory of production, and of the role of human knowledge in this process."

Trecho retirado de "The Visionary Realism of German Economics: From the Thirty Years' War to the Cold War". 

Para reflexão

Recomendo este texto de Seth Godin "No fooling":

"The first of April was a day when we were supposed to be aware that not everything was as it seemed, that we should be on our guard. And now, exhausting as it is, every day is like that.

I’m hopeful that our culture is resilient enough to get back to the truth.

Show your work. Earn attention and build trust. Every day.

Too much spin simply makes us dizzy."

quarta-feira, março 31, 2021

Curiosidade do dia

Aquela altura da vida em que sentimos que deixamos o caminho feito por nós até aqui e iniciamos um novo ramo, um novo caminho.




Agora é a arte!

A leitura de "The Visionary Realism of German Economics: From the Thirty Years' War to the Cold War" é uma sucessão de surpresas boas. Depois da concorrência imperfeita, agora é a arte e os Muggles.

"The theoretical conflict between the forefathers of today’s mainstream economics and the forefathers of the alternative canon has existed since the 1622– 23 debate between Gerard De Malynes (Malynes, 1622, 1623) and Edward Misselden (Misselden, 1622, 1623), where Malynes represented a static theory rooted in barter and Misselden represented a theory centred on learning and production. In the history of economic thought, their debate is interpreted as being about exchange controls and the balance of trade. However, by going back to the sources, one finds that the main line of attack by Misselden against Malynes is his ‘‘mechanical’’ view of man – Malynes has left out Man’s ‘‘art’’ and ‘‘soul’’. Misselden quotes at length a paragraph from Malynes, where Malynes reduces trade to three elements, ‘‘namely, Commodities, Money, and Exchange’’. Objecting to this definition, Misselden says: ‘‘It is against Art to dispute with a man that denyeth the Principles of Art’’. Misselden scorns Malynes for not seeing the difference between a heap of stones and logs and a house – because Man’s productive powers produce the house but his soul has been left out. A similar criticism can be made of neo-classical economics.

Misselden represents the acute Renaissance awareness of the enormous territory to be covered between Mankind’s present poverty and ignorance, and the enormous potentials."

terça-feira, março 30, 2021

A vida é assim!

Este texto de Roger Martin, "The Shift from Pre-Competitive to Competitive" faz-me recuar à primeira metade da primeira década do século XXI na economia portuguesa.

Fez-me recuar às empresas, e foram tantas, e escrevi sobre elas por aqui ao longo dos anos, que não tinham actividade comercial, que se limitavam a "rezar" para que o cliente batesse à porta.

O Estado Novo criou uma cultura de não concorrência, ao estilo das farmácias, criando barreiras à entrada que protegiam os incumbentes. Estes, em vez de se digladiarem, estavam no mercado sem grande concorrência entre si. Por outro lado, as barreiras alfandegárias com taxas altas, bem como uma capacidade produtiva inferior à procura, asseguravam um mundo com poucos riscos para as empresas.

Já escrevi escrevi no passado várias vezes. Se considerarmos as empresas nacionais à altura da adesão à CEE, podemos identificar 3 grupos:
A adesão à CEE decapitou o topo do mercado, as empresas portuguesas que trabalhavam para o topo do mercado em Portugal não tinham qualquer hipótese de competir com as congéneres europeias. Já as empresas que trabalhavam para o mercado do preço tiveram o início do seu tempo de glória. Como escrevi aqui várias vezes, o desemprego chegou aos 3,9% - eramos a china da Europa antes de haver China. O Cavaco de 1985, para mim, morreu em Setembro de 1992, nesta noite. Quando digo morreu, digo perdeu a chama interiormente, percebeu a sério o que tinha.

Com os anos 90 começa a verificar-se o fenómeno da polarização dos mercados, e começa o declínio das empresas do meio-termo.

Com o novo século a China entra em jogo e mata o jogo das empresas que competiam pelo preço puro e duro em sectores transaccionáveis.

Entretanto, quem vive no estado acredita sempre em amanhãs que cantam.

Os outros, sabem que isto é como a savana africana:
"Em África, todas as manhãs, uma gazela acorda. Sabe que tem de correr mais depressa que o leão, ser mais veloz ou será morta. Todas as manhãs, um leão acorda. Sabe que tem de correr mais depressa que a gazela mais lenta, ou morrerá de fome. Não interessa se és um leão ou uma gazela. Quando o sol se levantar será bom que corras."

A vida é uma peça de teatro: O Rei Lear  

segunda-feira, março 29, 2021

Again - It's not the euro, stupid!

Sábado à tarde investi algum tempo a ler mais umas páginas d"Windows of Opportunity: How Nations Make Wealth" de David Sainsbury.

Uma lição magistral sobre o que aconteceu nos últimos 30 anos a nível do comércio mundial. Uma lição que devia ser lida pelos tótós que defendem que o euro foi o responsável pelo desempenho do nosso país. Sainsbury dá como exemplos a China, a Polónia e a Índia. Em 2015 a China tinha 20% da manufactura mundial... em 1990 tinha 3%.

Primeiro, a drástica limitação da influência do estado na economia e a abolição de preços fixados pelo governo, deixando isso ao cuidado do mercado. E isso coincidiu com uma janela de oportunidade:

  • a liberalização do comércio mundial;
  • novas formas de transporte; e
  • o desenvolvimento de cadeias de fornecimento globais CFG.
O efeito do aparecimento do contentor nos anos 60 e a sua progressiva generalização nos anos 70 e 80. O frete aéreo tornou-se comercialmente viável com a ascensão das DHL e UPS deste mundo.

O crescimento das CFG, facultado pelo avanços revolucionários na transmissão, armazenamento e processamento de informação (lembro-me de ler isto numa The McKinsey Quarterly em 2004 ou 2005) baixaram os custos de comunicação. O custo das chamadas telefónicas baixou, o número de telefones móveis explodiu, e nos anos 90 a internet baixou ainda mais o custo de movimentar ideias. Isto permitiu que etapas de produção que no passado tinham de ser feitas por perto pudessem agora ser feitas em diferentes países sem perda de tempo e eficiência.

Assim que as CFG começaram a ganhar força muitos países em vias de desenvolvimento decidiram que as barreiras ao comércio que usavam para proteger as suas empresas, impediam-nos de ganhar o seu quinhão de offshored jobs. Assim, por volta de 1990 começaram a cortar nessas tarifas com entusiasmo. 

Algo que me fez recordar Portugal e os vistos gold:
"In the late 1980s, developing countries not only cut tariffs, they also developed a new relationship to foreign direct investment (FDI). Up to this point, they had had a love/hate relationship with FDI. Though they liked foreign investment, they feared the impact it might have on the performance of their own companies. In almost all developing countries, the balancing of these pros and cons had led to regulation of FDI. This attitude changed, however, in the late 1980s, and can be seen in the growth of bilateral investment treaties (BITs)."

 Quando escrevo aqui no blogue sobre a importância do investimento directo estrangeiro (aqui e aqui, por exemplo) é por causa disto, para poder queimar etapas, já que os macacos não voam, e no entretanto, contaminar outras empresas como fornecedoras de proximidade:
"Internalised technology transfer provides access to state-of-the-art technologies, along with brand names and entry into global markets. It is, therefore, very effective way to transfer and operationalise new technologies for export competitiveness."

Por fim, recordo Bloomberg e o setting the table:

"The third factor that helped developing countries build up their capabilities was the management of technology diffusion by governments"

E os tótós que culpam o euro... queriam o escudo para, à custa da ilusão monetária, competir com os custos chineses... uma tolice pegada. 

BTW, acho que isto "Suez blockage will accelerate global supply chain shift, says Maersk chief" está a acontecer há alguns anos, a estória das cadeias de fornecimento por continentes e não globais, mas é como os nenúfares no lago, temos 47 dias incipientes pela frente.

Webinar - Instill a touch of STRATEGY in a QMS

 


domingo, março 28, 2021

"e fiquei parvo... tanta infantilidade"

No Dinheiro Vivo de ontem li este artigo "Concorrência asiática põe em risco máscaras made in Portugal" e fiquei parvo... tanta infantilidade.

Gente que se mete num negócio de volume, sem conhecimento do mercado e sem escala ...

Alguns trechos:

"Um ano depois, e com muitos milhões de euros gastos, o mercado está inundado de máscaras chinesas e quem investiu já se arrependeu. Os encerramentos estão à vista. "Tem sido uma luta constante e diária, é impossível concorrer com os preços que vêm da China", diz Pedro Nicolau, da Vencer o Momento, Lda. "Não temos como dar continuidade a este projeto, com uma concorrência tão desleal [Moi ici: Quando entra esta argumentação eu saio, ela só demonstra a infantilidade do seu autor] e se não houver na Europa uma forma de proteger os seus interesses e contribuintes", diz, por seu turno, Carlos Alexandre Brito, da OH Máscaras.

...

Num mercado global, em que a concorrência se faz única e exclusivamente pelo preço, as máscaras não terão futuro para nós” [Moi ici: Como é que poderiam ter pensado numa alternativa proteccionista?]

...

“Com capacidade instalada para mais de 400 mil máscaras por dia, precisávamos de chegar aos grandes compradores, hospitais e escolas, mas nos concursos públicos deparamo-nos com concorrência desleal de tradings que são meros intermediários da produção chinesa, sabe-se lá em que condições”, diz Carlos Alexandre Brito. 

O responsável da OH Máscaras garante que os preços praticados nos concursos públicos “estão abaixo do custo de produção”.

...

Mas já não vê saída: “Temos ótimas condições, temos produto de qualidade, tínhamos tudo para conseguir vencer, mas, como está o mercado, é impossível. É difícil aguentar o barco com custos mensais de sete ou oito mil euros e praticamente sem lucros”."


sábado, março 27, 2021

Consequências da concorrência imperfeita

E continuava eu a minha leitura de "The Visionary Realism of German Economics: From the Thirty Years' War to the Cold War" durante a caminhada matinal de ontem quando tropeço nisto:

"Looking at history from a simple perspective of barter, not production, [Moi ici: Como não recordar as palavras de Vera Gouveia Barros sobre concorrência perfeita] and under diminishing returns/ single equilibrium/ perfect information, the importance of these policies is lost. In the diminishing return/ equilibrium perspective, any and all factors causing unequal economic growth are lost, creating the world of artificial harmony and world- wide factor- price equalisation. As we shall attempt to show later, a most important historical role of Adam Smith’s was precisely that of laying the ground for ‘‘perfect markets’’ and ‘‘natural harmony’’ by making the quest for knowledge into a zero- sum game – using the metaphor of a lottery – from the point of view of both the individual and the State. In this way Adam Smith effectively removed the quest for imperfect competition through new knowledge which was so important to Renaissance thinking. This is the root of why new knowledge and new technology hits today’s mainstream  economics as ‘‘manna from heaven’’.

...

Just as we today would see a career of washing dishes in a restaurant as having a limited potential for creating income compared with a career as a lawyer, the Renaissance economists extended this argument to apply to the common weal as well. In other words, they believed that the factors which created differences in welfare within an economy were the same factors which created differences in income between nations. As a result of the process of pre- Ricardian common sense, no factor- price equalisation would be achieved by putting all the people washing dishes in one nation and all the lawyers in another and open up for free trade between the two nations. In these theories economic growth is ‘‘activity- specific’’; it is only available in some economic activities subject to dynamic imperfect competition, and not in others.

...

What, then, are the characteristics of growth inducing – ‘‘good’’ – economic activities? We have, in several publications, provided a ‘‘quality index’’ of economic activities, listing the characteristics which, in a system of dynamic imperfect competition, ranks economic activities according to their ability to provide increasing economic welfare to a nation. This ‘‘quality index’’ is reproduced in Figure 2.2.

Differences in wage levels, both nationally and between nations, seem to result from varying degrees of imperfect competition – caused by both static and dynamic factors. The factors at work have long been identified both by businessmen and in industrial economics, and they are correlated. Figure 2.2 attempts to create an area from light to dark grey where ‘‘the quality’’ of economic activities at any time can be roughly plotted on a scale from white: ‘‘perfect competition’’ – to black: ‘‘monopoly’’. The latter is only a temporary state, as new technologies fall towards a lower score as they mature."

Sou um anónimo da província, mas há mais de 15 anos que descobri a virtude da concorrência imperfeita. Não porque tenha lido algo, mas porque estando do lado da produção, foi a alternativa que emergiu na minha cabeça, lá por volta de 2004 ou 2005, como sendo a única hipótese para fugir da guerra do preço onde as PMEs tugas nunca poderiam ter sucesso a competir com a China. Por que é que  os académicos tugas, membros da famosa triade, ainda lá não chegaram?

sexta-feira, março 26, 2021

Brace for impact

"The world is going to change, and resilience is our best response.

It’s not about building things that always turn out the way we expect. Bulletproof is too expensive, too rigid and requires perfect knowledge of the future.

...

Instead of designing for the best case scenario, we make the effort to consider how our work thrives when the best case doesn’t arrive. Because that’s far more likely.

...

Flexibility, community, and a sense of possibility can go a long way. That doesn’t make it easier, but it’s our best path forward."

O Jornal de Negócios brinda-nos hoje com dois textos sobre moratórias, chamo especial atenção para a dimensão das associadas às PMEs.

BTW, um outro texto do mesmo jornal, o texto de Cristina Casalinho sobre comparações estatísticas deixa dois temas importantes de fora... quando ela compara o número de portugueses com uma licenciatura: licenciatura em quê? Licenciatura para quê, para arranjar guia de marcha para emigrar? 

Ontem, jovem com 26 anos (true story) ligou-me a dizer que depois de impostos ia ganhar 6800 €/mês não em Portugal, claro! Lembrem-se da caridadezinha.

Trecho retirado de "Resilience"

quinta-feira, março 25, 2021

Promotor da concorrência imperfeita, dos monopólios informais e das rendas pornográficas

Este é o meu mote para o trabalho que desenvolvo na área da gestão com PMEs.

Ontem, ouvi o podcast do programa "Tempestade perfeita", na rádio Observador do passado dia 22 e sorri ao ouvir o início da intervenção de Vera Gouveia Barros. E recordei um livro de economia de César das Neves onde ele incluía um subcapítulo sobre a beleza da concorrência perfeita.

Pois bem, este anónimo engenheiro da província continua a assumir-se como um promotor da concorrência imperfeita, dos monopólios informais e das rendas pornográficas. 

Pois bem, este anónimo engenheiro da província continua a assumir-se como alguém que vê como algo interessante o fim das patentes.

Defendem-se as patentes com o argumento de que sem elas não haveria inovação em muitos campos. Pois eu penso exactamente o contrário. Sem patentes, o ritmo da inovação seria maior. 

Voltemos às palavras de Vera Gouveia Barros: "Em Economia Industrial nós mostramos como a solução mais próxima da concorrência perfeita é aquela que traz mais bem estar no seu total"

E ponho-me a pensar: 
  • quem são os alunos formatados por Vera Gouveia Barros? Qual vai ser o seu destino? 
  • o que é isto de "bem estar no seu total"?
Quem trabalha para uma PME em Portugal deve ter cuidado com este tipo de conversa. Uma PME que compita num mercado com concorrência perfeita não tem qualquer hipótese de sobrevivência num espaço aberto onde outros; à custa de um mercado doméstico de maior dimensão, à custa de mais capital, à custa de menores constrangimentos das partes interessadas, terão sempre vantagem!!!
Quem trabalha para uma PME tem uma prioridade: "Your job is to make all things unequal"

Quem trabalha para uma PME tem de se comportar como um pequeno mamífero no tempo dos dinossauros, tem de ser ágil e fugir para espaços onde possa criar algum tipo de concorrência imperfeita a seu favor. 

Como é possível continuar a encher mentes susceptíveis com estas doutrinas? David tem tudo a ganhar em fugir de um confronto de igual para igual com Golias

Num mundo de concorrência perfeita:


Num mundo de concorrência imperfeita:

Live and let live!



quarta-feira, março 24, 2021

Banhista gordo e o intervalo na seta do tempo

Ao longo dos anos tenho escrito aqui sobre o futuro do calçado, e de outros sectores tradicionais, em Portugal. Recordo daqui aquilo a que chamo a Fase IV, para subir na escala de valor vai ser preciso:

"O número de empresas vai voltar a diminuir

A quantidade de pares produzidos vai voltar a diminuir

O número de trabalhadores vai voltar a diminuir

O preço médio por par vai novamente dar um salto importante"

Esta será, é, a corrente de fundo, a evolução estrutural.

No entanto, o evento pandémico, provoca perturbações conjunturais.

Em Fevereiro passado, aqui, escrevi:

"Sim, sexta-feira estive com empresários em Felgueiras que estão muito animados com as perspectivas, com as encomendas que têm caído. Eu não estou tão optimista."

Entretanto, falei com outras pessoas que comentaram que a situação no sector era muito heterogénea, e que sobretudo as empresas grandes estavam carregadas de encomendas, algumas já estavam tomadas até Junho/Julho.

Por que volto a referir isto? Por causa deste artigo "Esta têxtil de Barcelos precisa de confeções para dar resposta às encomendas":

"Esta têxtil de Barcelos acaba de lançar o apelo nas redes sociais: "A Pedrosa & Rodrigues está a alargar a rede de Confeções Parceiras e procura fábricas com capacidade para grandes produções, em regime de subcontratação. Pedimos às Confeções interessadas que por favor nos contactem pelo Messenger, sendo que será dada preferência a empresas com corte, confecção e embalagem integrados", diz a empresa espcializada na produção de moda na sua página do Facebook.

...

O pico é já totalmente focado na produção de moda, sendo que há peças com encomendas mais numerosas, para as quais a empresa precisa de parceiros."

Recordo aquilo a que há anos chamo de "o efeito do banhista gordo". A China é muito, muito grande, tem uma capacidade produtiva enorme. Estando os países ocidentais com dificuldades em colocar encomendas na China, ou em fazer o seu acompanhamento, as marcas procuram colocar as encomendas em zonas mais próximas. Como a China é muito grande, é preciso recorrer a muitos países para dar conta da procura. Assim, o evento pandémico acaba por provocar um intervalo na seta do tempo da evolução estrutural. Quanto tempo durará?

BTW, amigos economistas que pregam a necessidade de empresas grandes, não esqueçam, em sectores tradicionais quanto maior a dimensão da empresa menor à margem unitária, menor o valor acrescentado de cada unidade produzida.

terça-feira, março 23, 2021

Subir na escala de valor e calçar os sapatos do outro (parte II)

Parte I.

A empresa A do exemplo anterior, apesar de preguiçosa, apesar de ter um desempenho de zombie vai sobrevivendo à custa de artimanhas legais e desinteresse dos outros concorrentes em servir os seus clientes.

Entretanto, a China entra em jogo e começam a aparecer os produtos superbaratos com os quais as empresas A não podem competir:
E assim, em t4 as empresas tipo A morrem às mãos da concorrência amarela (chinesa).
Em t5, as empresas A já não existem, e agora a perseguição é às empresas C.

A velocidade de subida na escala de valor das empresas chinesas, e a constante entrada em campo de players com custos baixos (Turquia et al) dizima empresas em Portugal a uma velocidade superior aquela a que as empresas, ou os sectores se podem regenerar naturalmente.

A incapacidade de calçar os sapatos do outro impede ver que o que chineses e turcos nos fazem, é o que nós fizemos aos alemães e franceses que trabalhavam nas indústrias tradicionais, quando o país aderiu à EFTA. Por isso, falam em dumping social, ou em batota, ou associam o sucesso a negócios como o contrabando de droga.

Também existem os Peter Pan. Os Peter Pan são as empresas que operam em mercados em que os chineses ainda não entraram, mas que também sentem a concorrência de quem oferece o mesmo produto ou serviço por um preço extremamente mais baixo. Os Peter Pan não conhecem, ou não ouviram falar do modelo de Kano:
Sentem-se injustiçados, então até dão boas condições aos seus trabalhadores e aparecem uns maus que praticam preços de arrasar a estragar tudo.

Como o ginásio de topo com que trabalhei em 2011 e que se zangava com os velhos clientes que o trocavam por opções mais baratas em pleno descalabro do mercado interno. Não, não são os clientes os maus, os maus são os que não evoluem e não arranjam mais truques, mais novidades para continuar a seduzir os clientes.

E assim chegamos aos truques, e ao truque alemão. A necessidade imperiosa de estar sempre a trabalhar para subir na escala de valor, para aumentar o peso do numerador na equação da produtividade. A velocidade a que a empresa portuguesa-tipo faz isto é muito baixa. Maliranta e Nassim Taleb explicam (ver parte I).

E aqui entra o exemplo irlandês. O exemplo irlandês não tem a ver com os empresários irlandeses, tem a ver com o capital estrangeiro injectado como investimento directo:

Recordar Irlanda e João Duque:

Em 1990 a trabalhar com uma empresa japonesa levei-os a visitar uma fábrica de grades de cerveja na Figueira da Foz. Apesar da desarrumação, da sujidade, das máquinas da empresa, o japonês gostou da empresa, confidenciou-me que a super-ocupação do espaço com máquinas o faziam lembrar as fábricas japonesas (BTW, outro japonês com que trabalhei, chegava a uma empresa e via-a super arrumada e com muito espaço e não conseguia compreender o desperdício de dinheiro, o valor do m2 no Japão era exorbitante, ficava logo de pé atrás). Imaginem, uma fábrica de grades de cerveja arrastada por uma empresa estrangeira para uma subida na escala de valor... qual o valor líquido co-criado por grama de polímero, ou por minuto de injecção, a fabricar grades de cerveja ou componentes para automóveis. Hoje, essa empresa é um player no negócio de componentes para automóveis.

A rapidez e a dimensão da subida na escala de valor requer este know-how estrangeiro como semente para puxar pelas empresas portuguesas. A seguir ao 25 de Abril o que interessava era produzir, mas num mundo com excesso de produção quem manda é quem compra (B2B). E quem compra tem de dominar as cadeias de fornecimento, tem de mandar nas prateleiras. Um país sem marcas não pode ter essa veleidade, mas pode trabalhar e subir na escala de valor ao servir essas empresas.










segunda-feira, março 22, 2021

Curiosidade do dia


Subir na escala de valor e calçar os sapatos do outro (parte I)

Vamos lá tentar relacionar uma série de textos publicados no blogue ao longo das últimas semanas, e ao longo dos anos. Comecemos por este texto de Maio de 2011 sobre o “Vocabulário do valor” (BTW, Nuno, este texto foi pensado aqui), onde se pode visualizar esta figura:

Vamos simplificá-la desta forma:

Vamos considerar a situação de uma empresa “instalada”, preguiçosa, confiante no direito ao seu queijo.

Se nada for feito, a WTP (willingness to pay) baixa, o produto ou serviço deixa de ser novidade, outros conseguem apresentar alternativas mais baratas, logo o preço praticado baixa, ao mesmo tempo que os custos aumentam (vejo muitas vezes na análise de contexto da ISO 9001 a inclusão do aumento do salário mínimo como um exemplo de factor externo negativo 🙏). Ou seja, se nada for feito, o “valor líquido co-criado” (ver primeira figura acima) encolhe.

 

Quando ao longo dos anos aqui no blogue escrevo sobre a subida na escala de valor, (BTW, caro Pedro a caixa de que falo neste link foi-me oferecida por si) escrevo sobre o aumento do valor líquido co-criado:

Vamos chamar a esta empresa preguiçosa, empresa A. 

Vamos chamar de empresa B a uma empresa que segue o truque alemão e aposta na inovação para aumentar a WTP dos clientes, não segue a religião dos Muggles. Reinveste grande parte do lucro (ou seja, aposta forte nos custos do futuro).

Vamos chamar de empresa C a uma empresa que não conhece o Evangelho do Valor e, por isso, faz um grande esforço a tentar melhorar a eficiência.

 

Vamos agora simular a evolução do “valor líquido co-criado” ao longo tempo:

A empresa C faz lembrar a Rainha Vermelha, corre o risco de morrer de anorexia, sempre em pânico com o jogo do gato e do rato.


Diferentes empresas terão diferentes velocidades de criação ou destruição de “Valor líquido co-criado”. Acabarão a trabalhar para diferentes tipos de clientes.

Uma lição que aprendi em 2008(?):


Uma das coisas que aprendi em 2008 foi a da variabilidade da distribuição de produtividades. Existe mais variabilidade da produtividade entre as empresas de um mesmo sector de actividade económica do que entre sectores de actividade económica.

Por que existe esta dispersão de produtividades? Porque as empresas são compostas por humanos, humanos diferentes, com vontades diferentes, com conhecimentos diferentes, com motivações diferentes. Sim, é verdade, por mais que o know-how esteja disponível nem todos o usam. Ou porque não têm recursos (porque desviam poucos lucros para os custos do futuro, ou porque não conseguem capitalizar o suficiente), ou porque preferem a gratificação imediata da exploitation, ou porque têm medo do alto-mar e preferem a cabotagem.


Por isso Maliranta e Nassim Taleb escreveram o que escreveram. A produtividade não sobe porque as empresas sobem na escala de valor, mas porque são eliminadas por concorrentes mais novos.

Agora imaginem que este pacato universo:

É perturbado pela chegada de estranhos.

 

Continua com a chegada da China e os Peter Pans.

domingo, março 21, 2021

Curiosidade do dia

"Eu? Dizendo que não é possível financiar a saúde, a educação, as pensões, etc. sem enfrentar o problema do desempenho económico mediocre do pais. Ou mudamos ou acabaremos uma Suécia fiscal implantada numa Albânia económica. A classe média já exporta os filhos licenciados para fora. Um dia esses filhos enviarão remessas para financiar a velhice dos pais. O colapso da classe media significará a inviabilidade do pais e do nosso regime democrático. Chega de propaganda, chega de atirar palavras contra a realidade. A realidade vence sempre."

Trecho retirado de "Sérgio Sousa Pinto: “O soarismo não tem hoje qualquer utilidade para a nova narrativa”

"why some countries grow faster than others" (parte II)

Parte I

"As the firms in a country take advantage of the windows of opportunity for innovation to which they have access, they increase their value-added per capita, and the wages and salaries they pay their employees. And this in turn opens up a window of opportunity for countries with lower wages to exploit, provided they can develop the capability to do so. The new opportunity for these firms becomes a 'capability-destroying' challenge to the incumbents, unless the incumbents' capabilities allow them to introduce and exploit new opportunities of their own. [Moi ici: Esta é a lógica que permitiu que o Portugal dos anos 60 em diante aproveitasse a deslocalização da indústria tradicional francesa e alemã, mas que os portugueses quiseram impedir que acontecesse, quando eles próprios se transformaram em incumbentes preguiçosos]

 This is the dynamic behind the technological upgrading of countries in sequence, which was named the 'flying geese model' by the Japanese economist Kaname Akamatsu in the 1930s. Saburo Okita, another Japanese economist and later Minister of Foreign Affairs in the 1980s, adopted the 'flying geese model' and argued that a poor country is able to upgrade its technology by jumping from one product to another with increasing knowledge content.

In the case of cheap garments, the first flying goose was Japan's firms, which boosted their value-added and increased the standard of living of Japan to such an extent that production was taken over by South Korean firms, while Japanese firms moved into the more complex manufacturing of TV sets. South Korean firms then increased their labour costs, and cheap garments were for a while produced in Taiwan, until the same thing happened there and the production of cheap textiles moved to Thailand and Malaysia, and then finally to Vietnam. In this way, whole group of countries used garment production to upgrade their production capabilities and standard of living. [Moi ici: Daqui a importância de em vez de perder energia a defender o passado, abraçar a mudança para subir na escala de valor]

 In order to understand the ability of the firms and nations to innovate and grow, it is also necessary to understand the linkages between the capabilities of different industries. Beneath the surface of every product there are not just physical components, but a deeper set of hidden technological and organisational capabilities that enabled it to be created and produced. Today, for example, electronics account for about one-third of materials and labour involved in producing an automobile.

 These capabilities are also not static. 

 ...

This point about the capabilities underlying the products of a particular industry is very important when thinking about whether a new industry entering a country will be successful. A good mental image to use in such cases, as César Hidalgo has suggested, is a jigsaw puzzle. Bringing a complex industry into a new country is, according to him, like trying to move a jigsaw puzzle from one table to another. [Moi ici: Outra vez a imagem dos macacos que não voam, trepam as árvores] The more pieces are in the puzzle, the more likely it is to fall apart as one tries to move it. It is also easier, he points out, to move such a jigsaw puzzle if one only has to move a few pieces to another table, on which the remaining pieces of the same puzzle have already been assembled."

Trechos retirados "Windows of Opportunity: How Nations Make Wealth". 

 

sábado, março 20, 2021

Curiosidade do dia




 

"What we discover along the way ..."

Claro que Adam Grant escreveu o texto que se segue a pensar em pessoas. Eu aproveito-o como desafio para que quem lidera empresas interprete-as à luz da empresa:

"One day she saw a patient on the floor of an elevator writhing in pain, and the staff members nearby weren’t sure what to do. Candice immediately took charge, rushed the woman into a wheelchair, and took her up in the elevator for urgent treatment. The patient later called her “my savior.”

Candice Walker wasn’t a doctor or a nurse. She wasn’t a social worker, either. She was a custodian. Her official job was to keep the cancer center clean.

Candice and her fellow custodians were all hired to do the same job, but some of them ended up rethinking their roles. One cleaner on a long-term intensive care unit took it upon herself to regularly rearrange the paintings on the walls, hoping that a change of scenery might spark some awareness among patients in comas. When asked about it, she said, “No, it’s not part of my job, but it’s part of me.”

Our identities are open systems, and so are our lives. We don’t have to stay tethered to old images of where we want to go or who we want to be. The simplest way to start rethinking our options is to question what we do daily.

It takes humility to reconsider our past commitments, doubt to question our present decisions, and curiosity to reimagine our future plans. What we discover along the way can free us from the shackles of our familiar surroundings and our former selves. Rethinking liberates us to do more than update our knowledge and opinions—it’s a tool for leading a more fulfilling life."

O mundo está sempre a mudar, o valor está sempre a ser erodido, a menos que se trabalhe para subir na escala, deliberadamente. Muitas vezes isso representa largar a pele antiga e abraçar uma nova vida.  

Trecho retirado de “The Power of Knowing What You Don't Know”

sexta-feira, março 19, 2021

"why some countries grow faster than others"

Mais uns trechos de "Windows of Opportunity: How Nations Make Wealth".

Recordar Irlanda e João Duque:

"If we want to know why some countries grow faster than others, it is also important to understand that there is a ladder of economic development, the rungs of which represent different types of industry. It is a ladder developing countries have to climb in order to be successful - no developing country tries to start growing by creating a pharmaceutical industry, and no country has ever achieved a high GDP per capita by having a cheap garment industry

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perhaps a more useful way of thinking about the rungs of the ladder of economic development is to see them as representing industries which require increasingly complex organisational and technological capabilities. On the bottom rungs are simple industries involved in, for example, the production of cheap clothes, the assembly of electronic components and the making of simple toys. On the top rungs are industries requiring complex organisational and technological capabilities that can only be acquired experientially, cumulatively and collectively; such as the aerospace, pharmaceutical and semiconductor industries. In simple industries, such as the production of cheap clothes or the assembly of electronic components, it is difficult for any firm to gain a competitive advantage. Consequently, the value-added per capita of firms is low, and the wages and salaries they can pay is also low.

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Knowledge involves understanding the relationships or linkages between entities, and being able, therefore, to predict the outcome of events without having to act them out. 

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Knowhow is different, as it involves the capacity to perform tacit actions; that is actions that cannot be explicitly described.

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Before knowledge and knowhow can be used to make new products and services, they have to be embodied in individuals and organisations. The knowledge and knowhow that a single individual can acquire is limited, as an individual can only absorb so much information. Therefore, the knowledge and knowhow to make complex products and services have to be embodied in a number of different individuals and co-ordinated by a firm's organisation.

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This point about the difficulty of accumulating the knowledge and knowhow to make products and services is important for two reasons. Firstly, neoclassical economists tend to assume that demand and incentives are enough to stimulate the production of a product or service anywhere in the world, and if they don't it must be because the system of allocating resources is not working efficiently. However, while incentives and demand may be enough to motivate intermediaries and traders, the people who produce goods and services also need to know how to make them.

Secondly, if the ability to accumulate the knowledge and knowhow to make products and services is difficult, it is likely that countries will have accumulated varying levels of knowledge and knowhow on their economic history, and therefore the complexity of the products and services they can produce will vary.

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products requiring a large input of knowledge and knowhow would tend to be exported from only a few countries. Some of the products exported by a large number of countries include simple garments, such as underwear, shirts and pants; while some of the products exported by a relatively few countries include optical instruments, aircraft and medical imaging devices. Such a simple scan suggests that industries requiring less knowledge and knowhow are present in more places, as one might expect."