quarta-feira, março 24, 2021

Banhista gordo e o intervalo na seta do tempo

Ao longo dos anos tenho escrito aqui sobre o futuro do calçado, e de outros sectores tradicionais, em Portugal. Recordo daqui aquilo a que chamo a Fase IV, para subir na escala de valor vai ser preciso:

"O número de empresas vai voltar a diminuir

A quantidade de pares produzidos vai voltar a diminuir

O número de trabalhadores vai voltar a diminuir

O preço médio por par vai novamente dar um salto importante"

Esta será, é, a corrente de fundo, a evolução estrutural.

No entanto, o evento pandémico, provoca perturbações conjunturais.

Em Fevereiro passado, aqui, escrevi:

"Sim, sexta-feira estive com empresários em Felgueiras que estão muito animados com as perspectivas, com as encomendas que têm caído. Eu não estou tão optimista."

Entretanto, falei com outras pessoas que comentaram que a situação no sector era muito heterogénea, e que sobretudo as empresas grandes estavam carregadas de encomendas, algumas já estavam tomadas até Junho/Julho.

Por que volto a referir isto? Por causa deste artigo "Esta têxtil de Barcelos precisa de confeções para dar resposta às encomendas":

"Esta têxtil de Barcelos acaba de lançar o apelo nas redes sociais: "A Pedrosa & Rodrigues está a alargar a rede de Confeções Parceiras e procura fábricas com capacidade para grandes produções, em regime de subcontratação. Pedimos às Confeções interessadas que por favor nos contactem pelo Messenger, sendo que será dada preferência a empresas com corte, confecção e embalagem integrados", diz a empresa espcializada na produção de moda na sua página do Facebook.

...

O pico é já totalmente focado na produção de moda, sendo que há peças com encomendas mais numerosas, para as quais a empresa precisa de parceiros."

Recordo aquilo a que há anos chamo de "o efeito do banhista gordo". A China é muito, muito grande, tem uma capacidade produtiva enorme. Estando os países ocidentais com dificuldades em colocar encomendas na China, ou em fazer o seu acompanhamento, as marcas procuram colocar as encomendas em zonas mais próximas. Como a China é muito grande, é preciso recorrer a muitos países para dar conta da procura. Assim, o evento pandémico acaba por provocar um intervalo na seta do tempo da evolução estrutural. Quanto tempo durará?

BTW, amigos economistas que pregam a necessidade de empresas grandes, não esqueçam, em sectores tradicionais quanto maior a dimensão da empresa menor à margem unitária, menor o valor acrescentado de cada unidade produzida.

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