segunda-feira, março 29, 2021

Again - It's not the euro, stupid!

Sábado à tarde investi algum tempo a ler mais umas páginas d"Windows of Opportunity: How Nations Make Wealth" de David Sainsbury.

Uma lição magistral sobre o que aconteceu nos últimos 30 anos a nível do comércio mundial. Uma lição que devia ser lida pelos tótós que defendem que o euro foi o responsável pelo desempenho do nosso país. Sainsbury dá como exemplos a China, a Polónia e a Índia. Em 2015 a China tinha 20% da manufactura mundial... em 1990 tinha 3%.

Primeiro, a drástica limitação da influência do estado na economia e a abolição de preços fixados pelo governo, deixando isso ao cuidado do mercado. E isso coincidiu com uma janela de oportunidade:

  • a liberalização do comércio mundial;
  • novas formas de transporte; e
  • o desenvolvimento de cadeias de fornecimento globais CFG.
O efeito do aparecimento do contentor nos anos 60 e a sua progressiva generalização nos anos 70 e 80. O frete aéreo tornou-se comercialmente viável com a ascensão das DHL e UPS deste mundo.

O crescimento das CFG, facultado pelo avanços revolucionários na transmissão, armazenamento e processamento de informação (lembro-me de ler isto numa The McKinsey Quarterly em 2004 ou 2005) baixaram os custos de comunicação. O custo das chamadas telefónicas baixou, o número de telefones móveis explodiu, e nos anos 90 a internet baixou ainda mais o custo de movimentar ideias. Isto permitiu que etapas de produção que no passado tinham de ser feitas por perto pudessem agora ser feitas em diferentes países sem perda de tempo e eficiência.

Assim que as CFG começaram a ganhar força muitos países em vias de desenvolvimento decidiram que as barreiras ao comércio que usavam para proteger as suas empresas, impediam-nos de ganhar o seu quinhão de offshored jobs. Assim, por volta de 1990 começaram a cortar nessas tarifas com entusiasmo. 

Algo que me fez recordar Portugal e os vistos gold:
"In the late 1980s, developing countries not only cut tariffs, they also developed a new relationship to foreign direct investment (FDI). Up to this point, they had had a love/hate relationship with FDI. Though they liked foreign investment, they feared the impact it might have on the performance of their own companies. In almost all developing countries, the balancing of these pros and cons had led to regulation of FDI. This attitude changed, however, in the late 1980s, and can be seen in the growth of bilateral investment treaties (BITs)."

 Quando escrevo aqui no blogue sobre a importância do investimento directo estrangeiro (aqui e aqui, por exemplo) é por causa disto, para poder queimar etapas, já que os macacos não voam, e no entretanto, contaminar outras empresas como fornecedoras de proximidade:
"Internalised technology transfer provides access to state-of-the-art technologies, along with brand names and entry into global markets. It is, therefore, very effective way to transfer and operationalise new technologies for export competitiveness."

Por fim, recordo Bloomberg e o setting the table:

"The third factor that helped developing countries build up their capabilities was the management of technology diffusion by governments"

E os tótós que culpam o euro... queriam o escudo para, à custa da ilusão monetária, competir com os custos chineses... uma tolice pegada. 

BTW, acho que isto "Suez blockage will accelerate global supply chain shift, says Maersk chief" está a acontecer há alguns anos, a estória das cadeias de fornecimento por continentes e não globais, mas é como os nenúfares no lago, temos 47 dias incipientes pela frente.

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