domingo, janeiro 14, 2024

O futuro, a abstinência e a taxa de juro

"Animals do not seem to consider the future in the same manner as we do. [Moi ici: Esse é para mim o significado de Adão e Eva passarem a ser mortais, quando tomaram consciência do futuro] If you visit the African veldt, and you observe a herd of zebras, you will often see lions lazing about around them. And as long as the lions are lying around relaxing, the zebras really do not mind. This attitude seems a little thoughtless, from the human perspective. 

...

Relaxed lions are never a problem!" Zebras do not seem to have any real sense of time. They cannot conceptualize themselves across the temporal expanse. But human beings not only manage such conceptualization, they cannot shake it. We discovered the future, some long time ago —and now the future is where we each live, in potential. We treat that as reality. It is a reality that only might be-but it is one with a high probability of becoming now, eventually, and we are driven to take that into account.

You are stuck with yourself. You are burdened with who you are right now and who you are going to be in the future. That means that if you are treating yourself properly, you must consider your repetition across time. You are destined to play a game with yourself today that must not interfere with the game you play tomorrow, next month, next year, and so on."

Li isto há dias em "Beyond Order" de Jordan Peterson. 

Agora, acabo de ler em "The Price of Time" de Edward Chancellor:

"The argument of this book is that interest is required to direct the allocation of capital, and that without interest it becomes impossible to value investments. As a reward for abstinence' interest incentivizes saving. Interest is also the cost of leverage and the price of risk. When it comes to regulating financial markets, the existence of interest discourages bankers and investors from taking excessive risks."

E o que é esta abstinência? O sacrifício, o adiar a gratificação imediata:

"Depois da expulsão do paraíso, porque descobrimos que éramos mortais, porque descobrimos que havia uma coisa chamada futuro tivemos de começar a trabalhar. [Moi ici agora: Na verdade no Paraíso também se trabalhava, ver Gn 2, 15] Trabalhar gera frutos que podem ser consumidos de imediato, ou podemos atrasar a gratificação e investir alguns desses frutos em buca de um futuro melhor. Ora uns investem muito, outros investem menos, outros não investem nada. Assim, quando o futuro chega, uns têm mais retorno, outros menos e outros nenhum. Nessa altura cresce a inveja e Caim mata Abel."


sábado, janeiro 13, 2024

"rates turned negative"

"After the Lehman Brothers bankruptcy in September 2008, neoliberal economists implemented the anarchist Proudhon's revolutionary scheme. Central bankers pushed interest rates to their lowest level in five millennia. In Europe and Japan, rates turned negative - an unprecedented development.

...

Central bankers congratulated themselves for restoring calm on Wall Street. The bogey of deflation was dismissed. Unemployment came down sharply. These were the 'seen' effects of zero interest rates. The secondary consequences of zero interest rates went largely unseen. Yet they were there for anybody who cared to look.

...

the sharp decline in interest rates had encouraged households to spend more and save less. The downside of bringing forward consumption from the future, White suggested, was that people must in fact save more for any predetermined goal; and, given the prevailing low interest rates, it would take much longer to accumulate a satisfactory nest egg The authorities believed that low rates would boost corporate investment. But White suggested firms were actually investing less. Furthermore, ultra-easy money was responsible for the misallocation of capital. Creative destruction was thwarted. 'It is possible,' White concluded, 'that easy money conditions actually impede, rather than encourage, the reallocation of capital from less to more productive resources.' By lowering the cost of borrowing, ultra-easy money provided an incentive for investors to take undue risks. At the same time, insurance companies and pension providers were struggling to cope with the low interest-rate regime. Given the low cost of borrowing, governments were unconstrained to run up their national debts. In the last analysis, easy money served only to postpone the day of reckoning. 'Aggressive monetary easing in economic downturns is not a "free lunch", concluded White, 'at best, it buys time to rebalance economies. In reality, this opportunity is wasted.' On Wall Street, they talked about 'kicking the can'."

Trechos retirados de "The Price of Time" de Edward Chancellor.

Pergunta honesta: qual o significado?

Qual o significado de ter uma mesa no escritório assim?

Qual o significado de aceitar, querer, ser fotografado diante de uma mesa assim?



sexta-feira, janeiro 12, 2024

Como ainda não morremos, voltamos ao bilhar

"This long run is a misleading guide to current affairs. In the long run we are all dead. Economists set themselves too easy, too useless a task if in tempestuous seasons they can only tell us that when the storm is long past the sea is flat again"

John Maynard Keynes

Não sei porque é que as pessoas se queixam da inflação elevada e das suas consequências? Será porque algures o longo prazo torna-se presente e afinal ainda não morremos?

A vida para além do défice existiu e passou por chamar a troika.

"No very deep knowledge of economics is usually needed for grasping the immediate effects of a measure; but the task of economics is to foretell the remoter effects, and so to allow us to avoid such acts as attempt to remedy a present ill by sowing the seeds of a much greater ill for the future".

Ludwig von Mises

quinta-feira, janeiro 11, 2024

Acerca dos jogadores amadores de bilhar

""In the sphere of economics, a habit, an institution, or a law engenders not just one effect but a series of effects. Of these effects only the first is immediate; it is revealed simultaneously with its cause; it is seen.

The others merely occur successively; they are not seen; we are lucky if we foresee them.

The entire difference between a bad and a good Economist is apparent here. A bad one relies on the visible effect, while the good one takes account of both the effect one can see and of those one must foresee."

The bad economist, says Bastiat, pursues a small current benefit that is followed by a large disadvantage in the future, while the good economist pursues a large benefit in the future at the risk of suffering a small disadvantage in the near term."

Há milhares de anos escrevo aqui no blogue sobre os jogadores amadores de bilhar ... 


Trecho retirado de "What is Seen and What is Not Seen" de Frédéric Bastiat.

quarta-feira, janeiro 10, 2024

Ficar na Terra do Nunca

Nunca li a estória do Peter Pan num livro. Aos 8 anos comecei a ler aqueles “patinhas” brasileiros com as histórias das personagens da Disney. Aí comecei a encontrar pequenas estórias, episódios, do Peter Pan na Terra do Nunca com a Wendy, os Meninos Perdidos o Capitão Gancho.

Há tempos descobri que o autor escreveu o livro com camadas de significados a envolver as personagens. Porquê não li o livro escapou-me tanta coisa sobre a vida interior das personagens. Claro que o Capitão Gancho tem medo do crocodilo, quem não tem medo de um crocodilo a correr atrás de si? Mas um crocodilo com um relógio na barriga? Tic Tac Tic Tac. Gancho é cada um de nós com medo da morte que se aproxima inexoravelmente. 

Eu, que gosto tanto de metáforas, já arranjei mais uma para as PMEs e para mim. Peter Pan, a criança que não quer deixar de ser criança. Já aqui escrevi sobre o espaço de Minkowski, as escolhas que fizemos no passado limitam as escolhas que podemos fazer no presente. Escolher mal hoje significa limitar o campo de possibilidades no futuro. Muitas vezes optamos por não escolher com medo da perda de potencial. E ser criança é isso, é um campo de possibilidades em aberto. Crescer significa começa a fazer escolhas. E para uma PME escolher é ter uma estratégia e, como dizia Porter, tão importante ou mais ainda é escolher o que não fazer, do que escolher o que fazer. Não escolher é ficar na Terra do Nunca. Não escolher é querer servir todos os clientes, é ficar stuck-in-the-middle.

Esta pergunta é genuína, mesmo. (parte II)

Comunico que me informaram da razão para a dificuldade de atracção referida na parte I


Agora fica tudo mais claro. A navalha de Occam funciona mesmo, a explicação mais simples é a preferível.

O marketing é extraordinário.


terça-feira, janeiro 09, 2024

Uma via difícil e os escolhedores de vencedores

 E volto a "A Growth Strategy for the Greek Economy":

"Global competition in all sectors of the economy, and particularly in manufacturing, demands a reduction in production costs through the introduction of advanced technologies, and the development of innovative high-quality products. Success in these areas requires R&D activities. However, R&D spending in Greece is low compared to other European countries. For example, in 2018, the R&D spending of Greek firms accounted for 0.57% of GDP, compared to 1.41% on average in the EU (Figure 5-13, Section 5.4)."

O texto sublinhado implica que à medida que os custos de produção baixam, o sistema produtivo tem de ser capaz de produzir e vender muito mais unidades para poder pagar o capital investido. Uma via difícil. 

Outra vez, os autores não colocam a hipótese da economia se mover na horizontal.

A propósito, no JdN de ontem li:

"Se quando venceu as diretas o discurso foi criticado pela falta de preparação, no encerramento do 24.° congresso do PS Pedro Nuno Santos fez questão de dizer ao que vinha: pretende implementar um novo modelo "com mais dinheiro para menos setores" da economia,

...

A grande mudança, anunciou, será feita - se vencer - na forma como os apoios passarão a ser atribuídos, selecionando "um número mais limitado de áreas estratégicas onde concentrar os apoios durante uma década". Defendeu que "é tempo de ser claro e de fazer escolhas [na atribuição de incentivos|". "Só conseguiremos transformara economia com mais dinheiro para menos setores.""

Quem segue este blogue sabe que eu cada vez mais torço o nariz ao efeito nefasto dos subsídios na economia. No entanto, o que acho interessante nesta proposta é saber quais são as áreas estratégicas. Quais os critérios para a sua definição? BTW, "picking winners" sempre deu asneira, daí a minha proposta de longa data "deixem as empresas morrer".

BTW, ainda acerca de Pedro Nuno Santos e este pormaior:

"Isto porque, explicou, "a economia está em profunda transformação", onde "a automatização, a robotização e a inteligência artificial têm um enorme potencial para aumentar a produtividade, mas trazem desafios". "Neste processo, muitos setores altamente lucrativos mas com poucos trabalhadores, deixam de contribuir para o sistema de segurançasocial tanto quanto poderiam e deveriam", enfatizou."

Que mais treta vai inventar ao melhor estilo do jogador de bilhar amador, tão focado na próxima jogada, na jogada imediata, que não se pensa nas consequências dessa jogada. Um clássico deste blogue: Nós não estudámos até ao fim todas as consequências das medidas que sugerimos.

Sempre preocupados em sacar e não em criar riqueza. Aquele "setores altamente lucrativos", faz-me logo pensar no Portugal actual, se ganhas mais de 1800 euros por mês já és rico pela bitola socialista.

Já nem a UE nos consegue salvar deste monstro fiscal.

segunda-feira, janeiro 08, 2024

Come on, aumentar a produtividade à custa de apoiar salários?!

Primeiro, pelo que vou lendo, tenho uma opinião positiva sobre a evolução da economia grega. Recordo, por exemplo este postal do início do passado mês de Dezembro, "A receita irlandesa na Grécia (parte II)", ou este outro publicado no início do passado mês de Outubro, "A receita irlandesa na Grécia".

Segundo, há dias escrevi este postal "Por causa de uns pastéis de nata (parte II)" que termina com um comentário a um video de Milei:

"Voltando agora ao vídeo de Milei. Simpatizo com a teoria, mas o desafio é criar as condições para que a evolução horizontal na figura acima possa ocorrer a uma velocidade tal que não torne a transição muito dura. Contudo, os governos fazem exactamente o oposto. Em vez de apoiarem o novo, apoiam os incumbentes, fica-se numa terra de ninguém tão bem descrita por Spender e Taleb."

Na passado Sexta-feira mão amiga mandou-me este artigo, "A Growth Strategy for the Greek Economy" que me levou ao original.

Escolhi começar pelo capítulo 3, "Vision and goals for the Greek economy" e o que li ... não me agradou:

"Employment in manufacturing has fallen internationally, but in Greece it has declined excessively. This is attributable to distortions that have led to too many self-employed individuals and small businesses that are dominant in the specific environment. In more technologically mature EU member states (the so-called EU15 group), the share of labour in the manufacturing sector was 20% in 2000, and just 14% in 2019. The reasons behind this reduction are new technologies and globalisation, in particular China's emergence and its impact on international trade. In Greece, 14% of the labour force was employed in manufacturing in 2000 and 8.2% in 2019. Based on Greece's technological lag compared to the EU15 countries and its relatively closed economy, one would expect that the share of employment in manufacturing would be larger than in the EU15. Indicatively, in Portugal, which is at the same technological level as Greece, 22.7% of the labour force was employed in manufacturing in 2000 and 17.6% in 2019.

It is important to contain the reduction of employment in Greece's manufacturing sector and to achieve a convergence to the EU average. Currently, Greece exhibits one of the lowest shares of manufacturing activity in the EU, comparable only with the Netherlands and the Nordic countries - economies with much higher per capita income and greater industrial maturity. Policy proposals for enhancing Greece's manufacturing sector, and the remaining sectors examined in this section, are examined in detail in Chapter 6. This section summarises the main directions.

The support of salaried employment is critical to the growth of the manufacturing sector in Greece. Greek manufacturing firms are generally small, in part due to the particularly high number of self-employed in the services sector. When measures to support salaried employment are adopted, these businesses will have a greater comparative advantage in the international markets and will grow."

E recuo a 2006 e à ideia de Blanchard sobre a redução de salários para aumentar a produtividade que comentei em "Redução dos salários em Portugal" (Blanchard retratou-se em 2017). E recordo Reinert e o caso do Uganda e o quadrante do empobrecimento.

O que os autores propõem no artigo citado acima é aumentar a competitividade das empresas apoiando-as no pagamento dos salários dos seus trabalhadores. Weird!!!

O que estes autores não perceberam ainda foi a necessidade do que escrevi acima "mas o desafio é criar as condições para que a evolução horizontal na figura acima possa ocorrer a uma velocidade tal que não torne a transição muito dura". Não conseguem ganhar produtividade a proteger o passado.

domingo, janeiro 07, 2024

Esta pergunta é genuína, mesmo.

 No Dinheiro Vivo de Ontem em "Luís Onofre "Ajudámos os bancos na altura da troika, é tempo dos bancos ajudarem as empresas"" sublinhei:

"A falta de mão-de-obra ainda é um problema?

A especializada, sim. Eu tenho um défice de quase uma dúzia de pessoas na minha empresa e não consigo arranjá-las. E para a conseguirmos especializar um trabalhador é muito complicado, as pessoas acabam por desistir e preferem ir para restauração e o turismo."

Tão estranho... a empresa de Luís Onofre não será das mais pobres do sector e, mesmo assim, não consegue ser mais atraente que a restauração e o turismo? Por que será? 

Esta pergunta é genuína, mesmo.

sábado, janeiro 06, 2024

Não é impunemente ...

 No JN de 4 de Janeiro passado li "Sonae encerra supermercados Go Natural até final do mês". 

Recordei logo o fim da Berg em Onde a vai expôr?

Recordei Sem estar com as mãos na massa...

Recordei Vou apenas especular.

Quando fogem do negócio do preço ... sofrem do que referimos há poucos dias Não é impunemente ...

sexta-feira, janeiro 05, 2024

Confirmation bias

 "The tricky thing about the confirmation bias is that it can look very scientific. After all, we're collecting data. Dan Lovallo, the professor and decision-making researcher cited in the introduction, said, "Confirmation bias is probably the single biggest problem in business, because even the most sophisticated people get it wrong. People go out and they're collecting the data, and they don't realize they're cooking the books." At work and in life, we often pretend that we want truth when we're really seeking reassurance: "Do these jeans make me look fat?" "What did you think of my poem?" These questions do not crave honest answers.

...

The odds of a meltdown are one in 10,000 years.

—Vitali Sklyarov, minister of power and electrification in the Ukraine, two months before the Chernobyl accident

Who the hell wants to hear actors talk?

—Harry Warner, Warner Bros. Studios, 1927

What use could this company make of an electrical toy?

—William Orton, president of the Western Union Telegraph Company, in 1876, rejecting an opportunity to purchase Alexander Graham Bell's patent on the telephone

...

A study showed that when doctors reckoned themselves "completely certain" about a diagnosis, they were wrong 40% of the time. When a group of students made estimates that they believed had only a 1% chance of being wrong, they were actually wrong 27% of the time. We have too much confidence in our own predictions. When we make guesses about the future, we shine our spotlights on information that's close at hand, and then we draw conclusions from that information.

...

The problem is that we don't know what we don't know. ...

The future has an uncanny ability to surprise. We can't shine a spotlight on areas when we don't know they exist."

Trechos retirados de "Decisive - How to Make Better Choices in Life and Work" de Chip and Dan Heath.

quinta-feira, janeiro 04, 2024

Curiosidade do dia

 "Dutch supermarket chain Jumbo said that shoplifting exceeded its annual profits last year, highlighting how the cost of living crisis has driven up crime and is hurting businesses.

The group said yesterday that theft cost it more than €100mn in 2023, against forecast annual post-tax profit of around €80mn.

Retailers worldwide have reported an increase in shoplifting as soaring inflation raised prices faster than wages."

Trecho retirado do FT de hoje, "Dutch supermarket chain Jumbo reels after shoplifting losses exceed annual post-tax profit" 

Por causa de uns pastéis de nata (parte II)

 Parte I.

Primeiro, recomendo a visualização deste discuro de Milei:

Agora vamos à visão tradicional dos bens transacionáveis:

É tabu mexer no numerador porque se vê o numerador como um dado e não como uma variável.

Qual a lei da vida nos negócios? Recordar de 2010 The Knowledge Funnel (parte I)


Alguém vai olhar para o denominador e reduzi-lo, passando aquilo que era mistério, para um conjunto de regras heurísticas e, depois, para um algoritmo e, depois quiçá, transformando num conjunto de linhas de programação.

Além disso, mesmo não mexendo no numerador, a lei de Kano:
"Price is like gravity,it always goes down if you do nothing"
Como se reduzem os custos?
  • Reduzindo o custo dos factores de produção
  • Aumentando a eficiência
Numa economia aberta, as empresas que não mexem no numerador estão sempre sob a ameaça de "cair no abismo" quando os clientes as trocam por alguém mais barato:

Voltando ao esquema da parte I:


Sem mexer no que se produz, pode-se mexer no que chamei de "contexto" na figura acima para acrescentar valor através de atributos associados ao produto: rapidez, flexibilidade, ... (não coloco aqui a "marca" deliberadamente).

Mexer no "contexto" permite ser competitivo sem no entanto ser muito mais produtivo:

Foi isto que não vi quando escrevi "Mas claro, eu só sou um anónimo engenheiro da província". No entanto, continuo a não concordar com os economistas citados no postal: Aumentar a produtividade à custa de aumentos de volume e escala não é suficiente. Reparar na lição asiática, o que nos traz ao presente não nos pode levar ao futuro:


Voltando agora ao vídeo de Milei. Simpatizo com a teoria, mas o desafio é criar as condições para que a evolução horizontal na figura acima possa ocorrer a uma velocidade tal que não torne a transição muito dura. Contudo, os governos fazem exactamente o oposto. Em vez de apoiarem o novo, apoiam os incumbentes, fica-se numa terra de ninguém tão bem descrita por Spender e Taleb.

quarta-feira, janeiro 03, 2024

Não é impunemente ...


No JdN li "Uma das maiores fortunas de Portugal vai fechar Kinda e avançar com despedimento coletivo" de onde sublinhei:
"Em outubro de 2019, um ano depois de ter chegado a Portugal, o grupo Nuvi concluía que o seu negócio de mobiliário e decoração em território nacional não estava a correr bem, tendo contratado John Leitão para liderar a Kinda.
Filho de pai português e mãe inglesa, John Leitão nasceu em Londres em fevereiro de 1981, cresceu em Portugal e formou-se em Engenharia Informática pela Universidade Nova de Lisboa, mas trocou os computadores por uma carreira na consultoria.
Tirou um MBA na Harvard Business School e iniciou a sua vida profissional na Boston Consulting Group (BCG), ao serviço do qual trabalhou em diversas geografias e indústrias, sobretudo no retalho e no marketing.
Chegou a estar um ano no escritório da BCG em Sidney, na Austrália, tendo saído da consultoria em maio de 2013 para o cargo de CEO da marca de alta joalharia e relojoaria suíça de luxo Grisogono, onde se manteve mais de cinco anos.
Voltou à BCG em 2019, tendo em novembro desse ano assumido o cargo de CEO da Kinda, de onde saiu há pouco mais de dois meses.
Agora já sem Leitão, a empresa comunicou aos seus trabalhadores que a Kinda vai fechar e avançar com um despedimento coletivo."

Já escrevi várias vezes sobre este tipo de erro. Recordo o salto de Ron Johnson das lojas da Apple para CEO da JC Penney, e recordo de Julho de 2023, acerca do futuro da Mercedes, Uma pena ...:

"O que quer dizer, acerca do futuro da Mercedes-Benz, que o próximo CEO seja alguém educado no mundo das commodities químicas?

Esse alguém aprendeu uma série de truques, de mnemónicas, de respostas instintivas numa indústria de bolas azuis.

Quer dizer que o futuro estratégico da Mercedes-Benz passa por um mundo de bolas azuis?

Quer dizer que o board da Mercedes-Benz acredita que a empresa tem de operar num mundo de bolas azuis?"

Não é impunemente que se vivem e se acumulam experiências de gestão. 

terça-feira, janeiro 02, 2024

"Al is here to work with us"

No Financial Times de 27 de Janeiro último encontrei o artigo, "Patient monitoring - Al fridges cut readmissions to hospital in NHS pilot":

"A pilot scheme using artificial intelligence in kettles and fridges to monitor discharged hospital patients in England has reduced unplanned readmissions by 77 per cent, its creators have said.

The Onward Care scheme, developed in partnership with Buckinghamshire Healthcare NHS Trust in south-east England, is the first of its kind to be used in the health service.

"Al is here to work with us," said Jenny Ricketts, deputy chief operating officer for the trust. "Not to do the job for us. People, especially the elderly, like human contact. The Al just makes it easier for us to do that."

The system operates by linking AI electronic sensors on kettles and fridges to detect changes in drinking and eating patterns. Variances are then flagged with a member of the Onward Care programme who can arrange help.

...

Adrian McCourt, managing director of the Onward Care service, said the pilot had supported about 140 people at home for 12 weeks after they were discharged from hospital.

He estimated that on average 40 per cent of "frail" patients who may not have fully recovered are readmitted to hospital within six months of being discharged. Under the pilot, he said, this figure has been reduced by 77 per cent. A box similar to Amazon's Alexa voice assistant is put in people's homes. Data is fed into a central dashboard.

"If a patient's behaviour is changing we get a notification which prompts us to investigate," McCourt said. "We also have sensors on fridges and kettles, which we use to understand whether hydration and nutrition is changing."

domingo, dezembro 31, 2023

Curiosidade do dia

Capa do DN de hoje:


Capa do JN de hoje:



Por causa de uns pastéis de nata

Há dias o @romeu publicou este tweet: 

Pastéis de nata à venda em Nova Iorque a 4 dólares a unidade. E o comentário dele "os pastéis de nata também têm de pagar a renda".

Este tweet é, para citar FCF, paradigmático. 

No mesmo dia deste tweet a capa do JdN trazia:

Só aumentos de produtividade importantes podem garantir o aumento dos salários sem aumento do desemprego. Contudo, penso que esses aumentos de produtividade importantes não poderão ser feitos sem aumento da turbulência empresarial.

Voltemos aos pastéis de nata.

Comecemos pela nossa velha conhecida equação sobre a produtividade e o Evangelho do Valor:

Vivemos num país onde quando se fala de aumentar a produtividade fala-se em reduzir o denominador da equação acima porque se considera que o numerador é um dado e não uma variável. Por isso, no resto do postal vamos ignorar as mexidas no denominador. Recordo:
No resto do postal vou usar um significado para a palavra "Valor" diferente do que costumo usar aqui no blogue. Vou usar a palavra "Valor" como "Preço que uma empresa consegue praticar".

Vamos primeiro aos bens não transaccionáveis. Como aumentar a produtividade de uma empresa que produz bens não transaccionáveis?
  • Se os concorrentes nacionais alinharem, a forma mais simples é ... aumentar os preços.
Por isso, um motorista de autocarro deixa de trabalhar em Portugal e na semana seguinte está a trabalhar na Dinamarca a ganhar 6 vezes mais (os políticos portugueses acham que é por causa da formação).

Por isso, os pastéis de nata em Nova Iorque podem ser vendidos a 4 dólares a unidade.

Vejamos no próximo postal o caso dos bens transaccionáveis e a relação com alguns videos de Milei que circulam no Twitter.