quarta-feira, janeiro 10, 2024

Esta pergunta é genuína, mesmo. (parte II)

Comunico que me informaram da razão para a dificuldade de atracção referida na parte I


Agora fica tudo mais claro. A navalha de Occam funciona mesmo, a explicação mais simples é a preferível.

O marketing é extraordinário.


terça-feira, janeiro 09, 2024

Uma via difícil e os escolhedores de vencedores

 E volto a "A Growth Strategy for the Greek Economy":

"Global competition in all sectors of the economy, and particularly in manufacturing, demands a reduction in production costs through the introduction of advanced technologies, and the development of innovative high-quality products. Success in these areas requires R&D activities. However, R&D spending in Greece is low compared to other European countries. For example, in 2018, the R&D spending of Greek firms accounted for 0.57% of GDP, compared to 1.41% on average in the EU (Figure 5-13, Section 5.4)."

O texto sublinhado implica que à medida que os custos de produção baixam, o sistema produtivo tem de ser capaz de produzir e vender muito mais unidades para poder pagar o capital investido. Uma via difícil. 

Outra vez, os autores não colocam a hipótese da economia se mover na horizontal.

A propósito, no JdN de ontem li:

"Se quando venceu as diretas o discurso foi criticado pela falta de preparação, no encerramento do 24.° congresso do PS Pedro Nuno Santos fez questão de dizer ao que vinha: pretende implementar um novo modelo "com mais dinheiro para menos setores" da economia,

...

A grande mudança, anunciou, será feita - se vencer - na forma como os apoios passarão a ser atribuídos, selecionando "um número mais limitado de áreas estratégicas onde concentrar os apoios durante uma década". Defendeu que "é tempo de ser claro e de fazer escolhas [na atribuição de incentivos|". "Só conseguiremos transformara economia com mais dinheiro para menos setores.""

Quem segue este blogue sabe que eu cada vez mais torço o nariz ao efeito nefasto dos subsídios na economia. No entanto, o que acho interessante nesta proposta é saber quais são as áreas estratégicas. Quais os critérios para a sua definição? BTW, "picking winners" sempre deu asneira, daí a minha proposta de longa data "deixem as empresas morrer".

BTW, ainda acerca de Pedro Nuno Santos e este pormaior:

"Isto porque, explicou, "a economia está em profunda transformação", onde "a automatização, a robotização e a inteligência artificial têm um enorme potencial para aumentar a produtividade, mas trazem desafios". "Neste processo, muitos setores altamente lucrativos mas com poucos trabalhadores, deixam de contribuir para o sistema de segurançasocial tanto quanto poderiam e deveriam", enfatizou."

Que mais treta vai inventar ao melhor estilo do jogador de bilhar amador, tão focado na próxima jogada, na jogada imediata, que não se pensa nas consequências dessa jogada. Um clássico deste blogue: Nós não estudámos até ao fim todas as consequências das medidas que sugerimos.

Sempre preocupados em sacar e não em criar riqueza. Aquele "setores altamente lucrativos", faz-me logo pensar no Portugal actual, se ganhas mais de 1800 euros por mês já és rico pela bitola socialista.

Já nem a UE nos consegue salvar deste monstro fiscal.

segunda-feira, janeiro 08, 2024

Come on, aumentar a produtividade à custa de apoiar salários?!

Primeiro, pelo que vou lendo, tenho uma opinião positiva sobre a evolução da economia grega. Recordo, por exemplo este postal do início do passado mês de Dezembro, "A receita irlandesa na Grécia (parte II)", ou este outro publicado no início do passado mês de Outubro, "A receita irlandesa na Grécia".

Segundo, há dias escrevi este postal "Por causa de uns pastéis de nata (parte II)" que termina com um comentário a um video de Milei:

"Voltando agora ao vídeo de Milei. Simpatizo com a teoria, mas o desafio é criar as condições para que a evolução horizontal na figura acima possa ocorrer a uma velocidade tal que não torne a transição muito dura. Contudo, os governos fazem exactamente o oposto. Em vez de apoiarem o novo, apoiam os incumbentes, fica-se numa terra de ninguém tão bem descrita por Spender e Taleb."

Na passado Sexta-feira mão amiga mandou-me este artigo, "A Growth Strategy for the Greek Economy" que me levou ao original.

Escolhi começar pelo capítulo 3, "Vision and goals for the Greek economy" e o que li ... não me agradou:

"Employment in manufacturing has fallen internationally, but in Greece it has declined excessively. This is attributable to distortions that have led to too many self-employed individuals and small businesses that are dominant in the specific environment. In more technologically mature EU member states (the so-called EU15 group), the share of labour in the manufacturing sector was 20% in 2000, and just 14% in 2019. The reasons behind this reduction are new technologies and globalisation, in particular China's emergence and its impact on international trade. In Greece, 14% of the labour force was employed in manufacturing in 2000 and 8.2% in 2019. Based on Greece's technological lag compared to the EU15 countries and its relatively closed economy, one would expect that the share of employment in manufacturing would be larger than in the EU15. Indicatively, in Portugal, which is at the same technological level as Greece, 22.7% of the labour force was employed in manufacturing in 2000 and 17.6% in 2019.

It is important to contain the reduction of employment in Greece's manufacturing sector and to achieve a convergence to the EU average. Currently, Greece exhibits one of the lowest shares of manufacturing activity in the EU, comparable only with the Netherlands and the Nordic countries - economies with much higher per capita income and greater industrial maturity. Policy proposals for enhancing Greece's manufacturing sector, and the remaining sectors examined in this section, are examined in detail in Chapter 6. This section summarises the main directions.

The support of salaried employment is critical to the growth of the manufacturing sector in Greece. Greek manufacturing firms are generally small, in part due to the particularly high number of self-employed in the services sector. When measures to support salaried employment are adopted, these businesses will have a greater comparative advantage in the international markets and will grow."

E recuo a 2006 e à ideia de Blanchard sobre a redução de salários para aumentar a produtividade que comentei em "Redução dos salários em Portugal" (Blanchard retratou-se em 2017). E recordo Reinert e o caso do Uganda e o quadrante do empobrecimento.

O que os autores propõem no artigo citado acima é aumentar a competitividade das empresas apoiando-as no pagamento dos salários dos seus trabalhadores. Weird!!!

O que estes autores não perceberam ainda foi a necessidade do que escrevi acima "mas o desafio é criar as condições para que a evolução horizontal na figura acima possa ocorrer a uma velocidade tal que não torne a transição muito dura". Não conseguem ganhar produtividade a proteger o passado.

domingo, janeiro 07, 2024

Esta pergunta é genuína, mesmo.

 No Dinheiro Vivo de Ontem em "Luís Onofre "Ajudámos os bancos na altura da troika, é tempo dos bancos ajudarem as empresas"" sublinhei:

"A falta de mão-de-obra ainda é um problema?

A especializada, sim. Eu tenho um défice de quase uma dúzia de pessoas na minha empresa e não consigo arranjá-las. E para a conseguirmos especializar um trabalhador é muito complicado, as pessoas acabam por desistir e preferem ir para restauração e o turismo."

Tão estranho... a empresa de Luís Onofre não será das mais pobres do sector e, mesmo assim, não consegue ser mais atraente que a restauração e o turismo? Por que será? 

Esta pergunta é genuína, mesmo.

sábado, janeiro 06, 2024

Não é impunemente ...

 No JN de 4 de Janeiro passado li "Sonae encerra supermercados Go Natural até final do mês". 

Recordei logo o fim da Berg em Onde a vai expôr?

Recordei Sem estar com as mãos na massa...

Recordei Vou apenas especular.

Quando fogem do negócio do preço ... sofrem do que referimos há poucos dias Não é impunemente ...

sexta-feira, janeiro 05, 2024

Confirmation bias

 "The tricky thing about the confirmation bias is that it can look very scientific. After all, we're collecting data. Dan Lovallo, the professor and decision-making researcher cited in the introduction, said, "Confirmation bias is probably the single biggest problem in business, because even the most sophisticated people get it wrong. People go out and they're collecting the data, and they don't realize they're cooking the books." At work and in life, we often pretend that we want truth when we're really seeking reassurance: "Do these jeans make me look fat?" "What did you think of my poem?" These questions do not crave honest answers.

...

The odds of a meltdown are one in 10,000 years.

—Vitali Sklyarov, minister of power and electrification in the Ukraine, two months before the Chernobyl accident

Who the hell wants to hear actors talk?

—Harry Warner, Warner Bros. Studios, 1927

What use could this company make of an electrical toy?

—William Orton, president of the Western Union Telegraph Company, in 1876, rejecting an opportunity to purchase Alexander Graham Bell's patent on the telephone

...

A study showed that when doctors reckoned themselves "completely certain" about a diagnosis, they were wrong 40% of the time. When a group of students made estimates that they believed had only a 1% chance of being wrong, they were actually wrong 27% of the time. We have too much confidence in our own predictions. When we make guesses about the future, we shine our spotlights on information that's close at hand, and then we draw conclusions from that information.

...

The problem is that we don't know what we don't know. ...

The future has an uncanny ability to surprise. We can't shine a spotlight on areas when we don't know they exist."

Trechos retirados de "Decisive - How to Make Better Choices in Life and Work" de Chip and Dan Heath.

quinta-feira, janeiro 04, 2024

Curiosidade do dia

 "Dutch supermarket chain Jumbo said that shoplifting exceeded its annual profits last year, highlighting how the cost of living crisis has driven up crime and is hurting businesses.

The group said yesterday that theft cost it more than €100mn in 2023, against forecast annual post-tax profit of around €80mn.

Retailers worldwide have reported an increase in shoplifting as soaring inflation raised prices faster than wages."

Trecho retirado do FT de hoje, "Dutch supermarket chain Jumbo reels after shoplifting losses exceed annual post-tax profit" 

Por causa de uns pastéis de nata (parte II)

 Parte I.

Primeiro, recomendo a visualização deste discuro de Milei:

Agora vamos à visão tradicional dos bens transacionáveis:

É tabu mexer no numerador porque se vê o numerador como um dado e não como uma variável.

Qual a lei da vida nos negócios? Recordar de 2010 The Knowledge Funnel (parte I)


Alguém vai olhar para o denominador e reduzi-lo, passando aquilo que era mistério, para um conjunto de regras heurísticas e, depois, para um algoritmo e, depois quiçá, transformando num conjunto de linhas de programação.

Além disso, mesmo não mexendo no numerador, a lei de Kano:
"Price is like gravity,it always goes down if you do nothing"
Como se reduzem os custos?
  • Reduzindo o custo dos factores de produção
  • Aumentando a eficiência
Numa economia aberta, as empresas que não mexem no numerador estão sempre sob a ameaça de "cair no abismo" quando os clientes as trocam por alguém mais barato:

Voltando ao esquema da parte I:


Sem mexer no que se produz, pode-se mexer no que chamei de "contexto" na figura acima para acrescentar valor através de atributos associados ao produto: rapidez, flexibilidade, ... (não coloco aqui a "marca" deliberadamente).

Mexer no "contexto" permite ser competitivo sem no entanto ser muito mais produtivo:

Foi isto que não vi quando escrevi "Mas claro, eu só sou um anónimo engenheiro da província". No entanto, continuo a não concordar com os economistas citados no postal: Aumentar a produtividade à custa de aumentos de volume e escala não é suficiente. Reparar na lição asiática, o que nos traz ao presente não nos pode levar ao futuro:


Voltando agora ao vídeo de Milei. Simpatizo com a teoria, mas o desafio é criar as condições para que a evolução horizontal na figura acima possa ocorrer a uma velocidade tal que não torne a transição muito dura. Contudo, os governos fazem exactamente o oposto. Em vez de apoiarem o novo, apoiam os incumbentes, fica-se numa terra de ninguém tão bem descrita por Spender e Taleb.

quarta-feira, janeiro 03, 2024

Não é impunemente ...


No JdN li "Uma das maiores fortunas de Portugal vai fechar Kinda e avançar com despedimento coletivo" de onde sublinhei:
"Em outubro de 2019, um ano depois de ter chegado a Portugal, o grupo Nuvi concluía que o seu negócio de mobiliário e decoração em território nacional não estava a correr bem, tendo contratado John Leitão para liderar a Kinda.
Filho de pai português e mãe inglesa, John Leitão nasceu em Londres em fevereiro de 1981, cresceu em Portugal e formou-se em Engenharia Informática pela Universidade Nova de Lisboa, mas trocou os computadores por uma carreira na consultoria.
Tirou um MBA na Harvard Business School e iniciou a sua vida profissional na Boston Consulting Group (BCG), ao serviço do qual trabalhou em diversas geografias e indústrias, sobretudo no retalho e no marketing.
Chegou a estar um ano no escritório da BCG em Sidney, na Austrália, tendo saído da consultoria em maio de 2013 para o cargo de CEO da marca de alta joalharia e relojoaria suíça de luxo Grisogono, onde se manteve mais de cinco anos.
Voltou à BCG em 2019, tendo em novembro desse ano assumido o cargo de CEO da Kinda, de onde saiu há pouco mais de dois meses.
Agora já sem Leitão, a empresa comunicou aos seus trabalhadores que a Kinda vai fechar e avançar com um despedimento coletivo."

Já escrevi várias vezes sobre este tipo de erro. Recordo o salto de Ron Johnson das lojas da Apple para CEO da JC Penney, e recordo de Julho de 2023, acerca do futuro da Mercedes, Uma pena ...:

"O que quer dizer, acerca do futuro da Mercedes-Benz, que o próximo CEO seja alguém educado no mundo das commodities químicas?

Esse alguém aprendeu uma série de truques, de mnemónicas, de respostas instintivas numa indústria de bolas azuis.

Quer dizer que o futuro estratégico da Mercedes-Benz passa por um mundo de bolas azuis?

Quer dizer que o board da Mercedes-Benz acredita que a empresa tem de operar num mundo de bolas azuis?"

Não é impunemente que se vivem e se acumulam experiências de gestão. 

terça-feira, janeiro 02, 2024

"Al is here to work with us"

No Financial Times de 27 de Janeiro último encontrei o artigo, "Patient monitoring - Al fridges cut readmissions to hospital in NHS pilot":

"A pilot scheme using artificial intelligence in kettles and fridges to monitor discharged hospital patients in England has reduced unplanned readmissions by 77 per cent, its creators have said.

The Onward Care scheme, developed in partnership with Buckinghamshire Healthcare NHS Trust in south-east England, is the first of its kind to be used in the health service.

"Al is here to work with us," said Jenny Ricketts, deputy chief operating officer for the trust. "Not to do the job for us. People, especially the elderly, like human contact. The Al just makes it easier for us to do that."

The system operates by linking AI electronic sensors on kettles and fridges to detect changes in drinking and eating patterns. Variances are then flagged with a member of the Onward Care programme who can arrange help.

...

Adrian McCourt, managing director of the Onward Care service, said the pilot had supported about 140 people at home for 12 weeks after they were discharged from hospital.

He estimated that on average 40 per cent of "frail" patients who may not have fully recovered are readmitted to hospital within six months of being discharged. Under the pilot, he said, this figure has been reduced by 77 per cent. A box similar to Amazon's Alexa voice assistant is put in people's homes. Data is fed into a central dashboard.

"If a patient's behaviour is changing we get a notification which prompts us to investigate," McCourt said. "We also have sensors on fridges and kettles, which we use to understand whether hydration and nutrition is changing."

domingo, dezembro 31, 2023

Curiosidade do dia

Capa do DN de hoje:


Capa do JN de hoje:



Por causa de uns pastéis de nata

Há dias o @romeu publicou este tweet: 

Pastéis de nata à venda em Nova Iorque a 4 dólares a unidade. E o comentário dele "os pastéis de nata também têm de pagar a renda".

Este tweet é, para citar FCF, paradigmático. 

No mesmo dia deste tweet a capa do JdN trazia:

Só aumentos de produtividade importantes podem garantir o aumento dos salários sem aumento do desemprego. Contudo, penso que esses aumentos de produtividade importantes não poderão ser feitos sem aumento da turbulência empresarial.

Voltemos aos pastéis de nata.

Comecemos pela nossa velha conhecida equação sobre a produtividade e o Evangelho do Valor:

Vivemos num país onde quando se fala de aumentar a produtividade fala-se em reduzir o denominador da equação acima porque se considera que o numerador é um dado e não uma variável. Por isso, no resto do postal vamos ignorar as mexidas no denominador. Recordo:
No resto do postal vou usar um significado para a palavra "Valor" diferente do que costumo usar aqui no blogue. Vou usar a palavra "Valor" como "Preço que uma empresa consegue praticar".

Vamos primeiro aos bens não transaccionáveis. Como aumentar a produtividade de uma empresa que produz bens não transaccionáveis?
  • Se os concorrentes nacionais alinharem, a forma mais simples é ... aumentar os preços.
Por isso, um motorista de autocarro deixa de trabalhar em Portugal e na semana seguinte está a trabalhar na Dinamarca a ganhar 6 vezes mais (os políticos portugueses acham que é por causa da formação).

Por isso, os pastéis de nata em Nova Iorque podem ser vendidos a 4 dólares a unidade.

Vejamos no próximo postal o caso dos bens transaccionáveis e a relação com alguns videos de Milei que circulam no Twitter.

sábado, dezembro 30, 2023

Não é uma previsão, é algo que já está a acontecer.

 No DN de 27.12.2023 encontrei este artigo de opinião, "O retumbante sucesso do friendshoring americano":

"Na sequência de uma ordem executiva de 2021 do presidente dos EUA, instruindo a sua Administração a realizar uma revisão das principais cadeias de abastecimento dos EUA, a secretária do Tesouro dos EUA, falando no Atlantic Council, em abril de 2022, anunciou uma nova abordagem da Administração Biden para navegar numa economia global mais adversa a interesses americanos, chamando-a de friendshoring.

...

Esta nova política estado-unidense de busca de cadeias de abastecimento mais resilientes entre parceiros de confiança, através de friendshoring, tem um principal destinatário - a China e as empresas chinesas - e tem-se traduzido em iniciativas como a adoção do CHIPS and Science Act, que têm sido complementadas por outras como o US-EU Trade and Technology Council (TTC), o Minerals Security Partnership (MSP), o Indo-Pacific Economic Framework for Prosperity (IPEF), e a America's Partnership for Economic Prosperity, para "interagir com parceiros confiáveis" e "reduzir as dependências de fontes não-confiáveis de fornecimento estratégico".

...

No plano do comércio externo, o friendshoring aparenta ser um retumbante sucesso. Em menos de dois anos, o México e o Canadá (friendshoring+ nearshoring) ultrapassaram a China como principais fornecedores de bens dos EUA em cadeias de abastecimento diversificadas. As importações dos EUA da China caem 25% no primeiro semestre de 2023; desde 2019, o superavit comercial bilateral do México com os EUA aumentou 40%. A China é agora apenas o terceiro maior fornecedor dos EUA. De acordo com alguns, o aumento das importações dos países vizinhos e parceiros na NAFTA reflete mudanças na procura dos consumidores e na diversificação da cadeia de abastecimento liderada pela pandemia.

As estatísticas mostram também que as exportações chinesas para países que estão a subir no ranking de fontes de importação dos EUA estão a aumentar. O fenómeno não é inédito. Temos vindo a assistir ao desvio comercial de produtos ocidentais para a Rússia através da Ásia Central. A extraordinária coincidência de aumento de fluxos de exportações da China para o México e o Canadá e destes dois países para os EUA leva um articulista da Bloomberga sugerir que as empresas chinesas estão a redirecionar boa parte das suas exportações. Quando ficar claro em Washington que o brilhante plano de friendshoring gera redirecionamento de produtos exportados por empresas chinesas para os EUA via México (e Canadá), é bem possível que tal gere uma nova onda de reação protecionista americana."

Há exactamente uma semana, a diretora comercial de uma empresa de fabrico de máquinas, todas destinadas à exportação, contactou-me para discutir o seu excelente ano. Ela partilhou o sucesso crescente no mercado norte-americano. Recordando que os conheci quando exploravam a América Latina e Sul, inquiri sobre as vendas e presença em países como Chile, El Salvador e México. Ela revelou que um cliente mexicano lhe mencionou a intenção de abrir uma fábrica nos EUA, visando contornar a legislação americana que visa limitar importações do México, devido à recente instalação de empresas chinesas aproveitando a política mencionada no artigo.

Não é uma previsão, é algo que já está a acontecer.

sexta-feira, dezembro 29, 2023

Manipular variáveis: arte e ciência

Há tempos iniciei um projecto com uma empresa que passa por:
  • sistematizar e partilhar conhecimento interno tácito;
  • alimentar uma base de dados para que a decisão de implementar uma acção correctiva seja mais bem fundamentada; e
  • reduzir o tempo de produção não conforme e, assim aumentar a produtividade.
Numa sessão com operários:
  • desenhou-se um modelo do funcionamento da produção;
  • elencaram-se as variáveis que podem afectar a qualidade e a produtividade;
Depois, seleccionaram-se os três principais motivos para produção de defeitos ou de baixa produtividade, e criaram-se fluxogramas onde se encadeiam:
  • o que funciona como alerta de que algo está mal;
  • o que deve ser investigado e em que ordem; e
  • o que deve ser feito em função de diferentes resultados da investigação.
Lembrei-me de tudo isto ao ler na HBR de Janeiro-Fevereiro de 2024 o artigo "The CEO of Gérard Bertrand Group on Turning a Family Wine Business into a Global Brand"

"Many things go into making wine—elements you can’t do much to change, such as the land and the climate, and those you can, such as the grape varieties you plant, how you tend them, when you harvest, how you turn them into wine, and the blend you make. First you must choose the right vines. About 1,500 varieties are available in France. That’s why we have the appellation system: It specifies the varieties that should be used in each region so that the wine produced is recognizably from there. Within those constraints, however, viticulturists have considerable freedom to make choices, such as cutting back on Syrah to add more Grenache, which grows better in the volcanic soils of our region and helps achieve the potential of a terroir with greater minerality. How growers tend the vines is also up to them. They may choose biodynamics to prioritize the health of the plants and the quality of the taste over productivity and consistency. The choice of when to harvest depends on 1,001 different judgments about the weather and how the grapes have ripened. Decisions regarding fermentation and storage can sometimes be precisely determined and other times depend on intuition and experience.

Finally comes blending—my favorite part. Intuition is critical here, because in any given vineyard we may be tasting 50 varieties of grapes grown on different plots. Potential combinations number in the millions, and we can’t calculate our way to the best one. My father was a master blender. He taught me that as the grapes ripen over the critical two-month harvesting period, you must do many tastings each day so that when you need to decide which grapes to blend in which proportions from which plots, you really understand what’s going into the bottle."

quinta-feira, dezembro 28, 2023

Análise de contexto?


Na revista MIT Sloan Management Review do Inverno de 2024 encontrei o artigo "The Looming Challenge of Chemical Disclosures" de Lori Bestervelt, Colleen McLoughlin, e Jillian Stacy.

O artigo discute a crescente pressão regulatória sobre as marcas para compreender e divulgar a composição química dos seus produtos ao longo dos seus ciclos de vida. Isso inclui impactes desde a produção até ao destino final. O desafio reside na falta de conhecimento detalhado sobre os produtos químicos nas cadeias de abastecimento, uma vez que as actuais fichas de dados de segurança estão frequentemente incompletas. As marcas enfrentam dificuldades na obtenção de formulações químicas detalhadas dos fornecedores e precisam de investir em avaliações abrangentes dos perigos químicos. O artigo enfatiza a importância da transparência, da colaboração com fornecedores e da integração de avaliações de riscos químicos nos processos empresariais para uma abordagem mais sustentável.

Recordo experiência no sector do calçado em que vários fabricantes de produtos usados no processo de fabrico do calçado, como tintas e palmilhas, se recusavam a cumprir a lei no âmbito dos regulamentos comunitários abrangidos pelo REACH ((Registration, Evaluation, Authorisation and Restriction of Chemicals). Portanto, enquanto uns vêem riscos, outros podem ver oportunidades para o negócio: A transparência e a colaboração entre marcas e fornecedores são essenciais para mitigar riscos e aproveitar essas oportunidades. 

Agora são os Estados Unidos. 

"New sustainability rules make consumer brands accountable for the composition of their products, but most companies are in the dark.

New and emerging rules in the U.S. responsible for the environmental impacts of products through their entire life cycles are forcing brands to confront a striking knowledge gap: their often inadequate understanding of the chemicals found in their supply chains.

The European Green Deal's Circular Economy Action Plan, which was adopted in March 2020; newly proposed eco-design rules affecting fashion and textiles; and the proposed Corporate Sustainability Due Diligence Directive will require companies to disclose any risks to human rights and the environment. They apply throughout the product life cycle, from the formulation of ingredients and materials to product manufacturing, packaging and distribution, and recycling and disposal. In the U.S., four states — California, Colorado, Maine, and Oregon — have adopted extended producer responsibility laws aimed at packaging materials, and the issue will be a focal point of the U.S. Securities and Exchange Commission's eventual Scope 3 supply chain requirements. On top of such legislation, a host of new regulatory actions focused on materials sourcing and disposal, safety in global supply chains, and the protection of employee safety and human rights are rolling out in jurisdictions around the world. These rules pose a challenge for many of the brands that manufacture, market, and sell the clothes we wear, the cosmetics we apply, and the toys our kids play with, because their companies have very little visibility into the detailed chemical composition of their products.

In the face of regulatory developments, fashion brands have had to reconsider their use of materials, dyes, and a host of chemicals that have been linked to deforestation and pollution. They also need to be able to trace these compounds through every link in the supply chain.

...

Most brands have relied on safety data sheets (SDSs) provided by their suppliers for information on product chemical composition. However, these documents are designed primarily to disclose information on chemicals and chemical compounds that could harm workers or others in the supply chain. They don't provide detailed information on the chemical composition of every material used in a product or offer any meaningful insight into its impact on recycling and disposal.

In our work conducting chemical hazard assessments and product toxicology analyses for some of the world's largest brands, approximately one-third of the SDSs we reviewed contained incomplete or inaccurate information on the chemical makeup of the products and materials they covered. Whether that is a result of suppliers intentionally omitting information or a reflection of the limitations of the SDS as a disclosure tool, the end result is that the brands responsible for these products are often in the dark about what's inside them.

Filling in the gap between the basic information provided in SDSs and the detailed disclosures that will soon be required by global authorities has become a source of conflict and confusion for many brands. Some suppliers are reluctant to share detailed chemical formulations to protect trade secrets, and many brands have been unwilling (or unable) to invest in costly chemistry assessments.

We expect that this problem will be addressed in two ways. First, the market will likely shift to suppliers that can attest to the safety of their products and processes. 

...

Second, companies will have to invest in detailed chemical screening to provide more comprehensive hazard assessments and full formulation disclosures. This approach has also been gaining in popularity as brands seek certainty and an objective means of evaluating their suppliers.

...

The critical first step in the process of removing toxic substances from a supply chain is systematically identifying them. For example, we recently worked on a project with a global footwear brand that had a companywide mission to make its rubber supply chain more environmentally sustainable. It began by building a comprehensive database of its current chemical inventory and checking all entries against a list of known toxins and regulated chemicals in each jurisdiction in which it operates. Only then could it start the process of transitioning to safer chemicals.

As they make progress, brands need to build this institutional knowledge into their sourcing and product development processes to mitigate or eliminate the harmful chemical impacts of future products throughout their life cycles.

In the long run, these initiatives will result in safer, more sustainable consumer products. In the near term, however, expect to see a great deal of disruption and reshuffling of supply chains as more brands start to recognize that the tried-and-true methods of manufacturing and distribution are no longer sufficient in today's sustainability-oriented economy."

A verdade é que cada vez mais nas minhas relações encontro pessoas que fazem escolhas com base nestes pressupostos. Por exemplo, na comida:

  • uma embalagem de canela da marca Continente;
  • amêndoas da Califórnia;
  • sementes de girassol da China.
Há anos comprei um mini-rato de computador numa loja chinesa em Estarreja, ao fim de 15 dias tinha "escamas" na mão direita.

Quantas empresas vão colocar este tema na sua próxima análise de contexto?

Recordar os rinocerontes cinzentos!!!


quarta-feira, dezembro 27, 2023

Saltar para a solução (parte II)

Parte I.

A imagem que se segue ilustra uma falha corrente na definição dos planos de acção para atingir um objectivo:

Quer-se reduzir o consumo de papel em 10% em 12 meses.

O que tem de se fazer para atingir essa meta?
  • Consciencializar os colaboradores para a redução do consumo de papel
  • Incentivar o reaproveitamento de papel nas atividades da empresa

A sério?

Que contas fizeram? Que investigação fizeram? Têm a certeza que estas duas actividades permitem reduzir o consumo de papel em 10%?

Muitas vezes não há qualquer fundamento para justificar que as acções são necessárias e suficientes.

Se repararem, as acções previstas quase não requerem capital... esse costuma ser o alerta que me chama a atenção: planos de acção que não requerem capital são, normalmente, planos da treta. Saltos para a solução. Helicópteros! Muito barulho e energia cinética, mas nenhum movimento em frente.



terça-feira, dezembro 26, 2023

Saltar para a solução

"Research shows that companies devote too little effort to examining problems before trying to solve them. By jumping immediately into problem-solving, teams limit their ability to design innovative solutions.
...
As teams use the methodology, they must understand that problem-framing in today’s intricate business landscape is rarely a linear process. While we’re attempting to provide a structured path, we also recognize the dynamic nature of problems and the need for adaptability."

Saltar diretamente para a resolução de problemas, sem uma análise aprofundada, pode levar a diagnósticos superficiais e, consequentemente, a soluções que não atendem às necessidades reais ou que falham em abordar a raiz do problema.

segunda-feira, dezembro 25, 2023

Dia de Natal!

 


Nasceu o Salvador!!!

"The Child born on earth, in lowliness, in the crib, before the shepherds, is born this day in heaven in glory, in magnificence, in majesty: and the day in which He is born is eternity. He is born forever, All-Power, All-Wisdom, begotten before the day-star: He is the beginning and the end, everlastingly born of the Father, the Infinite God: and He Himself is the same God, God of God, Light of Light, True God of True God. God born of Himself, forever: Himself His own second Person: One, yet born of Himself forever. He it is also that is born each instant in our hearts: for this unending birth, this everlasting beginning, without end, this everlasting, perfect newness of God begotten of Himself, issuing from Himself without leaving Himself or altering His one-ness, this is the life that is in us. But see: He is suddenly born again, also, on this altar, upon that cloth and corporal as white as snow beneath the burning lights, and raised up above us in the hush of the consecration! Christ, the Child of God, the Son, made Flesh, with His Allpower. What will You say to me, this Christmas, O Jesus? What is it that You have prepared for me at Your Nativity?"

Trecho retirado de "The Seven Storey Mountain" de Thomas Merton.