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segunda-feira, março 04, 2024

Leite, tomate e ... turismo, negócios não sustentáveis

Leite, tomate e ... turismo.

No caso do leite e do tomate percebo o que acontece e percebo o efeito pernicioso da intervenção governamental.



Dois negócios que competem pelo preço mais baixo quando não têm vantagem competitiva, ou seja, violam a primeira lei das Teoria dos Jogos: "Do not play a strictly dominated strategy"

Entretanto, no último número do Caderno de Economia do semanário Expresso apanho este título, "Aumento de custos preocupa hotelaria". 

Weird! Aumentam a facturação como nunca, aumentam os preços e as margens como nunca (e ainda bem) mas não conseguem acompanhar os custos?! 

Para mim é um sinal de que o modelo de negócio não é sustentável. Por que não encaram o problema de frente? Por que pedem aos contribuintes que financiem os seus projectos deficientemente suportados pelos seus clientes?


domingo, maio 01, 2022

Assim se perpetuam modelos de negócio ultrapassados

"a Nautiber anda há 30 anos a construir e restaurar embarcações à medida da vontade do cliente. Os Alfaiates dos barcos, como são conhecidos, sedeados em Vila Real de Santo António, são especialistas na construção de pequenos navios (entre os 9 e os 30m fora a fora, ou de comprimento, para os leigos) em fibra de vidro e praticamente não fabricam dois espécimes iguais a não ser encomendas em série para o mesmo cliente. Nos últimos anos, 90% dos que saem dos seus estaleiros para o mercado da atividade marítimo-turística têm sido construídos com o apoio de fundos europeus, como os subjacentes ao Programa Operacional CRESC ALGARVE 2020.
"Cerca de 90% das embarcações que construímos para o mercado nacional têm por trás produtos financeiros de subvenções nos diferentes quadros comunitários", revelou Rui Roque, engenheiro naval e CEO da Nautiber, em entrevista
...
"Para nós isso é fundamental", continuou Rui Roque, referindo-se a esse financiamento precioso. "Sem essa alavancagem seria muito dificil nós mantermo-nos no mercado e mantermos a nossa atividade ou, pelo menos, crescermos da maneira como crescemos.""

Demasiadas vezes sinto que os apoios europeus são usados para compensar custos ... como não recordar o trabalho de Spender nos anos 80 do século passado.

O negócio desta empresa não é o preço mais baixo, é a customização. Por isso, são conhecidos como os "Alfaiates dos barcos". Desconfio que a empresa não consegue passar um preço que traduza o valor criado para os clientes. Ou o valor criado para os clientes não é relevante (baixa originação de valor), ou é, mas a empresa não consegue capturar esse valor (captura de valor) - recordar a pirâmide de Larreche:

Os apoios neste caso, especulo, não deviam ir para as encomendas de produtos concretos, mas para o desenvolvimento da função comercial. A empresa devia transferir o seu mercado para clientes que realmente valorizam o valor da customização, e devia aprender a vender esse valor com outros argumentos para lá do preço.

Imagino que um apoio comunitário devia ser como as pinhas que usamos para começar um churrasco nas brasas, mas depois ganha vida própria e não são mais precisas. No entanto, o que acontece muitas vezes é a tal situação de assar sardinhas com fósforos:


Tão triste esta resignação:
"Sem essa alavancagem seria muito dificil nós mantermo-nos no mercado e mantermos a nossa atividade"





quinta-feira, fevereiro 04, 2021

Assar sardinhas com fósforos

 

Em cada vez mais sectores de actividade produzir é o mais fácil. Ao longo dos anos fui escrevendo:

Ontem encontrei um delirio de quem não torra dinheiro seu:

"Na reabertura da oficina de Guifões, em janeiro de 2020, o primeiro-ministro e o ministro das Infraestruturas estiveram de acordo no sonho de pôr Portugal no clube dos produtores de comboios no futuro, à imagem do que fez o país com a indústria automóvel nas últimas décadas. [Moi ici: Acham que a indústria automóvel assenta em empresas portuguesas? Pensamento infantil!]
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A ambição de António Costa e de Pedro Nuno Santos pode ganhar um novo impulso nos próximos anos graças à bazuca europeia, desejou esta terça-feira o presidente da CP, Nuno Freitas, durante um debate remoto da conferência da Plataforma Ferroviária Portuguesa. [Moi ici: Portanto, dinheiro da bazuca para torrar num sonho... um sonho que durará o tempo que durar o dinheiro. Assar sardinhas com fósforos]
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"Portugal tem todas as capacidades para fabricar comboios. Há negócio e temos mão-de-obra mais barata do que na Europa Central", salientou o gestor ferroviário. [Moi ici: Com que então fabricar comboios é mão-de-obra barata. Fabricar comboios é produzir... E organização? E eficiência? E competitividade? E ganhar concursos internacionais para fornecer a CP? Acham que o dinheiro da bazuca serve para produzir para uma reserva protegida da concorrência exterior? Acham que reconstruir carruagens com 80 ou 50 anos é o mesmo que fabricar comboios?]
...
O argumento financeiro também pode jogar a favor de uma fábrica de comboios portuguesa. Portugal precisa de comprar mais de 250 comboios nos próximos 20 anos "só para manter a oferta atual". Isto corresponde a mais de 1000 carruagens. [Moi ici: Acham que na União Europeia a compra de comboios pode ser feita impedindo concorrentes profissonais de concorrer?]
...
"A grande dificuldade é integrar este investimento nas atuais regras comunitárias, que são muito limitadas a nível da concorrência, e que limitam o investimento público e privado."" [Moi ici: Pois... Se não fosse tão grave este delírio com a torrefacção de dinheiro a assar sardinhas com fósforos até me ria. Gente que torra dinheiro sem skin-in-the-game é perigosa. Imaginam o que está por trás daquele... "que são muito limitadas a nível da concorrência"]
Lembram-se dos 2,5 milhões de euros despejados na CEiia para desenvolver um ventilador? Tão espertos, nem sabiam que os dispositivos médicos têm de ser certificados!!! Engonharam qualquer coisa, confiaram em qualquer coisa!!! Desviaram para canto!!!


segunda-feira, maio 22, 2017

Curiosidade do dia

O amigo Cortes colocou num comentário uma hiperligação para um artigo do FT, "Moody’s turns optimistic on Portugal’s quiet recovery".

Amigo Cortes o governo está de parabéns!!!

Está de parabéns por ter aderido à bondade intrínseca de défices baixos:

E quando lemos coisas como esta, "Parque Escolar recebeu a maior fatia dos fundos da União Europeia", e recordamos gastos como os feitos em Bragança a renovar escolas que agora estão fechadas por falta de alunos, ou como os feitos em xxxxx a transformar escola em bunker ultra-consumidor de energia, ou as escolas com os candeeiros de Siza... ficamos confortados que ao menos o governo tenha optado por um plano B em 2016 e tenha cortado o so-called investimento público, mas que não passa em grande parte de assar sardinhas com lume de fósforos, para o nível mais baixo de sempre.

Claro que esta saudação sincera não invalida que este governa tenha feito e esteja a fazer opções fragilista que nos dão pouca margem de manobra se algo correr mal.

Contado ninguém acredita até:


quinta-feira, fevereiro 09, 2017

domingo, janeiro 29, 2017

terça-feira, janeiro 24, 2017

Tudo feito por gente com skin-in-the-game

Há dias, de manhã bem cedo, ao passar em frente à estação de S. Bento no Porto, não pude deixar de apreciar o impacte do turismo e do arrendamento local na cara da cidade. Reparem nestas fachadas:
Renovadas, limpas, bonitas.

Tudo feito por gente com skin-in-the-game.

Assim, no ano em que o Estado torrou menos dinheiro no so-called "investimento público", e que na maior parte das vezes não tem nada de investimento e, não passa de assar sardinhas com o lume dos fósforos, o desemprego no sector da Construção teve este desempenho:
Notável e muito mais saudável.


domingo, janeiro 15, 2017

"they’ll create more and better jobs by not focusing on creating jobs"

Posso ser um anónimo da província.

Posso nem ter formação académica em Economia.


Quanto mais passam os anos e mais aprendo a pensar por mim do que a seguir sebentas e a opinião da tríade, (gente em torres de marfim qual Sarumans que há muito perderam a ligação à economia real, se é que alguma vez a tiveram), vou formulando hipóteses de interpretação da realidade cada vez mais afastadas do mainstream preguiçoso.

Por exemplo, quantos políticos elegem o emprego como o objectivo do seu mandato? "António Costa: “Emprego, emprego, emprego” é o objetivo"

O que digo acerca do emprego ou do lucro como objectivo? Está errado. O emprego é um resultado, é uma consequência não um objectivo directo. Quando elegemos o emprego ou o lucro como o objectivo directo, imediato, temos as auto-estradas paralelas que se constroem para criar emprego provisório (assar sardinhas com a chama de fósforos) ou as Enrons.

Daí:

Agora encontro "Power Sheet":
"Business leaders and their p.r. advisers are holding a festival of spin on the subject of jobs,
...
There’s no harm in any of this, except in one way: Repetition of the theme could lead to a widely accepted view that the economy’s purpose is to create jobs. It isn’t. That sounds heartless, but jobs are a byproduct of economic growth, not the end product, and remembering that reality is, ironically, crucial to more people having better jobs.
...
Let’s hope that, in proclaiming their growing U.S. employment, they can avoid suggesting it’s the reason for their existence. The paradoxical reality is that they’ll create more and better jobs by not focusing on creating jobs."
Como não recordar Viktor Frankl: as pessoas mais felizes são as que não elegem a felicidade como um objectivo. A felicidade decorre naturalmente como consequência de um outro propósito.

terça-feira, setembro 22, 2015

Curiosidade do dia

Ontem perguntei se alguém tinha pedido para transportar carvão a 300 km/h.
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Hoje, recordando estes números:
Questiono-me: qual o sentido, qual a lógica de criar 210 mil empregos no sector da construção à custa de assar sardinhas com o lume de fósforos?
"Construção quer "choque de investimento" de 40 mil milhões de euros"
Gente que não estuda, não analisa e inventa números.
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210 mil empregos... deve ser a contar já com mais de 100 mil sírios nas obras. Será?

quarta-feira, abril 08, 2015

Mais um panfleto

Ontem à noite no Twitter o João Miranda comentou esta notícia "FMI aconselha a investir em infraestruturas":
Juro que desconfiei logo quem seria o autor do texto, depois, segui a hiperligação para o confirmar. Depois, avisei:
Esta manhã fui à procura da fontes e julgo que a encontrei:
O que diz o texto sobre o conselho de investir em infraestruturas?
"To raise economic speed limits, policies need to encourage innovation, promote investment in productive capital, and counteract the negative impetus from aging. Although the right mix of policies will differ by country, some broad prescriptions can be made:
  • Innovation can be encouraged
...
  • Worker productivity can be increased by improving education quality and boosting secondary- and tertiary-level attainment.
  • Bottlenecks that are holding back production in some emerging market economies can be eliminated through higher infrastructure spending.
  • There is scope for better business conditions and improved functioning of product markets in some countries.
  • Labor-force participation must be promoted, particularly among female workers in some countries, and aging workers in others
...
  • Demand support through monetary and, where feasible, fiscal policy remains important in several economies to boost investment and capital growth."
Analisemos o texto de Nuno Aguiar: a única medida referida é o investimento em infraestruturas!
Analisemos o texto de Nuno Aguiar: nenhuma referência a "emerging market economies"
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Enfim, mais um panfleto a favor de torrar dinheiros dos contribuintes futuros a troco de fogo-de-artifício, a favor de assar sardinhas com a chama dos fósforos.







quarta-feira, junho 18, 2014

As PMEs anónimas e os outros

Este título "Alemães da Enercon pedem ao Governo português mais espaço para crescer":
"A alemã Enercon, que tem em Viana do Castelo um "cluster" eólico com mais de 1.600 trabalhadores, quer que o Governo português estude soluções para ampliar a capacidade que as suas fábricas têm de continuar a vender torres eólicas para o mercado interno português, de forma a não ficar totalmente dependente das exportações."
Ou seja, uma nova versão das auto-estradas para dar trabalho às construtoras. Assar sardinhas com o lume dos fósforos... a lata desta gente... Gente com o direito adquirido a ter queijo todos os dias.
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Outro título "Sete investimentos de 391 milhões criam 406 novos empregos":
"Paulo Portas anunciou esta terça-feira sete novos projectos de investimento, que totalizam 391,2 milhões de euros e garantem um total de 1.784 postos de trabalho (sendo 406 novos)."
Basta fazer as contas. 391,2 milhões de euros a dividir por 406 novos empregos dá ... cerca de 963 mil euros por posto de trabalho criado... quanto desse dinheiro virá da impostagem aos contribuintes?
"O momento foi ainda aproveitado para fazer um balanço dos três anos de Governo PSD/CDS no que ao investimento diz respeito. O valor captado neste período foi de 1.607 milhões de euros, que receberam incentivos fiscais no valor de 158 milhões, ou seja, cerca de 10% do total.
No último triénio foram criados 2.351 postos de trabalho no âmbito destes projectos. Os investidores estrangeiros tiveram maior preponderância, representando 56% do valor dos investimentos."
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Comparar estas tretas com o desempenho das PMEs anónimas que fazem pela vida sem as benesses do poder...
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Como se pode ler aqui:
"As exportações geram o desenvolvimento virtuoso do consumo e da economia. Em mercados onde o que conta é a capacidade de inovar. De competir. De lutar de forma aberta. Onde Keynes não está. Mas onde estão os empreendedores. Empresários e trabalhadores. Indivíduos. Com visão. E com futuro. E ganha o país."

sábado, junho 14, 2014

Vai ser uma leitura interessante

Actualmente, aproveito as minhas caminhadas para ler "Why Nations Fail - The Origins of Power, Prosperity and Poverty" de Daron Acemoglu e James Robinson.
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Um primeiro tópico é a colonização da América Latina:

  • Muito interessante a descrição do colonialismo espanhol e inglês na América do Norte sob uma perspectiva que nunca tinha visto, a dos modelos de negócio e, porque é que o que resultou numa não resultou na outra;
  • Fiquei a pensar no que poderá acontecer aos terrestres se alienígenas-espanhóis, ou portugueses, entrarem em contacto connosco...
  • Nunca me esqueço que o triunfo português, espanhol e de outros na colonização, é uma história alternativa do filme Avatar, aquela em que os humanos tomam efectivamente o controlo de Pandora como os seus donos.
Um segundo tópico, enquanto leio as notícias do BES, enquanto recordo os postais que aqui costumo escrever sobre assar sardinhas com o fogo dos fósforos, enquanto recordo os defensores dos "campeões nacionais", enquanto recordo Daniel Bessa a defender há oito dias que alguns sectores deviam ser protegidos (de quem e para quem? Ele que fale com as empresas que, sem apoios, tiveram de aguentar a concorrência da Aerosoles, apoiada em dinheiro impostado aos contribuintes emprestado ao Estado e que agora está a ser impostado aos contribuintes para o pagar com juros), é este trecho:

"When the elite invested, the economy would grow a little, but such economic growth was always going to be disappointing"
É uma descrição de toda a primeira década do século XXI em Portugal
Por elite entenda-se dinheiro emprestado ao Estado e "despejado" por este em projectos ruinosos para o país mas bom para as elites. E começo logo a pensar na motivação para regular o crowdfunding... como a protecção dos bancos...
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Vai ser uma leitura interessante...
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Entretanto, a meio da caminhada, a minha mente começou a processar a diferença entre a economia americana e mexicana do século XIX e, aquilo que ainda hoje se vê por cá e imagino um programa tipicamente português. Em vez de Shark Tank, o Tanque dos Robalos (nome proposto pelo Tiago Pascoal no Twitter). Em vez de lucros obtidos no mercado servindo clientes, no Tanque dos Robalos, os entrepreneurs seriam substituídos por rentistas que procurariam financiar projectos onde fosse possível sacar mais rendas ao Estado. Imagino banqueiros, políticos da oposição e da situação, jornalistas, economistas, académicos...

segunda-feira, março 24, 2014

Quantas cenas?

""Sempre estimulei o crescimento económico", contrapôs à ideia "perigosa" da austeridade "que conduz ao descontrolo da dívida". "Por que é que um Governo que se concentra apenas na austeridade tem estes resultados?", atacou, descrevendo que a dívida e o défice continuaram a aumentar."
Quantas "cenas" conseguem detectar neste trecho?
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É uma delícia!!!
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Primeiro a cena do Homo Estimulus, como se o crescimento económico assente em "assar sardinhas com o lume de fósforos", torrando dinheiro dos contribuintes futuros, fosse algo a colocar em qualquer CV.
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Depois, a austeridade conduzir ao descontrolo da dívida... que descaramento.
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Depois, a dívida e o défice continuarem a aumentar... não me digam que os 76 mil milhões não estavam no MoU. Ou será que segue a Ana Sá Lopes School of Economics e quer que a dívida baixe ao mesmo tempo que quer que o défice suba?
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Trecho retirado de "Sócrates irrita-se: "Não vinha preparado para isto""

sábado, março 08, 2014

Jogadores da mesma selecção socialista

Ao ler textos deste tipo "António Costa defende programa de crescimento para países sob assistência financeira", sejam eles com as opiniões de socialistas do PS, ou socialistas do PSD ou socialistas do CDS, uma curiosidade fica sempre na minha mente:
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- Por que é nunca dão exemplos concretos do tipo de actividades, de projectos, que deveriam, ou poderiam fazer parte de um "programa de crescimento"?
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Andamos mais de uma década a torrar dinheiro em "programas de crescimento" para suportar de forma insustentável crescimentos raquíticos do PIB e suster a subida do desemprego.
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Fico sempre com a ideia de que se trata de gente a pedir para assar sardinhas com o lume dos fósforos.
"António Costa defendeu que "depois do programa de ajustamento é preciso um programa sério de fisioterapia que desenvolva o músculo", ou seja, de recuperação e de apoio ao crescimento, que signifique um "choque vitamínico" para que estes países possam "recuperar a capacidade" de beneficiar do euro."
Como eu gostava de ver preto no branco, como se eu fosse muito burro, o significado de "desenvolver músculo"...
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Quer isto dizer que:
  • o sucesso do calçado;
  • o sucesso do têxtil;
  • o sucesso do mobiliário;
  • o sucesso da metalomecânica;
  • o sucesso do agro-alimentar;
  • o sucesso da cerâmica;
  • o sucesso da química;
  • o sucesso dos componentes;
  • o sucesso de ...
não é músculo?
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Estaremos a falar de mais barragens? Estaremos a falar de mais auto-estradas? Estaremos a falar de reabilitação urbana? Estaremos a falar de chouriços de formação? Estaremos a falar de quê? Estaremos a falar de TGVs para expedir mercadorias a preços exorbitantes que nenhum industrial pagará e que terá de ser financiado pelos contribuintes?
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Enfim, António Costa, Pires de Lima, Paulo Campos e Sérgio Monteiro, jogadores da mesma selecção socialista, apesar de, aparentemente, parecerem de clubes diferentes.
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Recordar Nassim Taleb:
"Stress is information"
Aliás, é precisamente o contrário, os "programas de crescimento" é que fazem os músculos definhar:
"Just as spending a month in bed leads to muscle atrophy, complex systems are weakened or even killed when deprived of stressors.
...
The economic class doesn't realize an economy lives by stressors rather than by top-down control."

sexta-feira, setembro 27, 2013

Acerca das notícias

Ontem no Jornal de Negócios, no editorial de Helena Garrido, "Os "econs", as notícias e os humanos", pode ler-se:
"há neste momento uma enorme variedade de estudos que apontam para efeitos de sobrevalorização da informação com características negativas nos processos de decisão."
Recordei logo:
"Pessimistic prophecies are self-fulfilling." 
No final remata:
"Os cidadãos anónimos que apelam a menos más notícias, tal como o Presidente, dizem-nos o que devíamos de facto fazer, evitar as más notícias. Mas as boas notícias têm de ser alimentadas por todo um ambiente e uma realidade favorável para que os "humanos" acreditem nelas." 
Não sou adepto de se evitarem as más notícias, é preciso receber essa informação, se não a recebermos ficamos com uma imagem torcida da realidade. E nasce-me uma dúvida, o que é uma má notícia?
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Na década em que andamos a assar sardinhas com o lume dos fósforos (empréstimos), isso foi visto como uma má notícia?
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Durante a segunda vinda do FMI quantas "más notícias", na opinião dos média da altura, fazem hoje parte de uma narrativa positiva sobre a capacidade que o país teve de dar a volta?
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Não concordo que se escondam as más notícias, tenho é dúvidas sobre o que é uma má notícia. E, se calhar, por tabela, sobre o que é considerado uma boa notícia. O que é preciso não é esconder as más notícias mas dar tempo de antena igual ou superior às boas notícias.
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Por exemplo, o Jornal de Negócios podia, em vez de remeter para a última página de ontem, no canto inferior direito, esta notícia "Número de insolvências diminui e constituições de empresas aumentam", podia ter-lhe dado mais destaque e colocado numa outra página.
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Apesar do clima de pessimismo, há gente anónima que, por esperança, por desesperança, porque não sabe fazer mais nada, porque quer, arrisca constituir uma empresa neste contexto de sociedade socialista, com um Estado pedo-mafioso que tudo quer sugar. Uns verdadeiros heróis anónimos, uns verdadeiros "lamed waf"
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Boas notícias não são conversas de encantar, são exemplos factuais, são o exemplo dos pares, não PR dos ministérios ou dos bancos.

sábado, maio 25, 2013

Curiosidade do dia

E volto à figura sobre a distribuição da qualidade de gestão nas empresas portuguesas:
E volto à pergunta:
Por que é que a cauda está tão povoada?
Porque o Estado apoia as empresas, porque o Estado não as deixa morrer.
"É por isso que "hoje é necessário apoiarmos as empresas, para que elas continuem a trabalhar, para preservar os seus postos de trabalhos e criar, se possível, mais emprego"."
Assar sardinhas com o lume dos fósforos... sempre a mesma treta.
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Por isto é que a troika nunca vai sair de cá.

quarta-feira, maio 15, 2013

Não creio que seja uma resposta linear imediata.

Ontem no JdN em "Exportações, emprego e emigração" sublinhei:
"Na última década a economia portuguesa sofreu uma série de choques externos que acentuaram os seus desequilíbrios. O alargamento e a maior abertura da UE à China colocaram em cheque a nossa especialização tradicional, comprometendo o crescimento económico. A maior crise desde 1929 deu uma facada adicional. O fraco crescimento que daqui resultou, em paralelo com o acesso a crédito barato, estiveram na origem do desequilíbrio externo e do desequilíbrio orçamental.
...
Os dados de Março também revelaram que as exportações, que deviam estar a aumentar, estão a cair. (Moi ici: O que está a cair são as exportações de viaturas, não por falta de competitividade do sector em Portugal mas por falta de procura no mercado europeu)
...
O principal problema que o país enfrenta neste momento não é a instabilidade dentro do Governo, nem a lentidão a que se está a processar a consolidação, é o facto de as medidas socialmente muito duras que estão a ser impostas não estarem a gerar o ajustamento da economia no sentido necessário. Portugal precisa de investir mais, produzir mais e exportar mais. E nada disto está a acontecer."
O último parágrafo fez-me voltar aos tempos de escola e ao meu Stephanopolous sobre Dinâmica de Sistemas.
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E quem é que disse que a economia sustentável que tem de ser criada e desenvolvida tem um comportamento linear?
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Se o governo torrasse mais uns milhões a "assar sardinhas com fósforos", apoiando a economia insustentável, a resposta seria muito mais rápida porque seria mais próximo da linearidade. Seria apoiar o uso insustentável de recursos já existentes. Recursos que estavam imobilizados e prontos para utilização.
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A economia sustentável que tem de ser criada e desenvolvida não aparece do pé para a mão, para além de depender muito da procura externa, os recursos não existem prontos para serem utilizados.
"Stressors are information"
Primeiro a "dor" vai ter de gerar informação.
Depois, a informação vai gerar acção.
Só a acção vai gerar hipóteses de mobilização de recursos.
Dessas hipóteses, algumas vão descobrir um retorno positivo e vão desenvolver-se, outras vão ter um retorno negativo inicial. Em resposta a esse retorno negativo inicial, algumas vão "pivotar" em busca de melhor ajuste com o mercado e outras vão morrer.
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Não creio que seja uma resposta linear imediata.

quinta-feira, fevereiro 07, 2013

Ainda não mudamos

"Capital Europeia da Cultura criou 25 mil empregos"
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Quantos duraram mais do que o tempo em que o fósforo esteve a arder?
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Andamos mais de uma década a pensar assim e ainda continuamos.
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Imaginem a quantidade de empregos criados pelo euro-2004... só que o dinheiro que se gasta numas coisas não se gasta noutras... quantos desempregados futuros gerou, por não ter sido aplicado em investimento reprodutivo?

"Assar sardinhas só com a chama de fósforos"

sábado, janeiro 05, 2013

Estimulogia e a espiral recessiva

De onde virá a recuperação económica?
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De onde virá a retoma da economia portuguesa?
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Não vai ser do consumo interno.
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Não vai ser da restauração, não vai ser da promoção imobiliária, não vai ser do desenho e construção de edifícios, não vai ser do comércio a retalho e por grosso, não vai ser do comércio automóvel. Por isso, estes números "Falências de empresas cresceram 39% em 2012" são o "cão que morde o homem".
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Pena que não mostrem a evolução das falências nos sectores de onde virá a recuperação económica.
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Pena que não mostrem a evolução ocorrida.
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Há um ano, a radiografia das falências era esta:
"Falências diminuem mais de 30% na têxtil, vestuário e calçado"
Oh, wait!  De onde virá a recuperação económica?
Que sectores cresceram e até criaram emprego líquido durante 2012?
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As empresas de bens transaccionáveis viradas para a exportação ultrapassaram o choque de 2009. As falências em 2012 foram de outro tipo, basta olhar lá para cima para perceber o que as sustentava: crédito fácil e a "festa" financiada pelo Estado (ontem, circulei pela primeira vez na A32. Um luxo com 3 faixas em cada sentido e quase sem trânsito)
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O presidente da república, no discurso de Ano Novo disse:
"Temos urgentemente de pôr cobro a esta espiral recessiva, em que a redução drástica da procura leva ao encerramento de empresas e ao agravamento do desemprego"

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O que será que o presidente da república quererá dizer com "espiral recessiva"?
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Na próxima segunda, o programa do regime, o Prós e Contras vai falar sobre crescimento. Agora imaginem que o Estado resolve "promover o crescimento", à custa de dinheiro dos contribuintes futuros", para baixar o desemprego.
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Onde é que esse crescimento vai ser estimulado?
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Naqueles sectores mencionados lá em cima? (promoção imobiliária, desenho e construção de edifícios, comércio a retalho e por grosso, comércio automóvel). E voltaremos a "assar sardinhas com o lume de fósforos"
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Noutros sectores? E esses outros, precisam?
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Até parece que não estudam os números do desemprego (parte I, parte II e parte III)

quinta-feira, agosto 09, 2012

Recuperar uma economia viciada há décadas em estímulos, sem aumento do desemprego, é lirismo

"O Banco Central Europeu (BCE) defende que os salários dos portugueses deveriam ter começado a cair mais cedo, de forma a evitar uma subida tão pronunciada da taxa de desemprego."
Uns figurões importantes, sem conhecimento detalhado da realidade específica de um país, dedicam-se, de vez em quando,  a lançar umas afirmações gerais para explicar uma qualquer estatística.
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Se Portugal estivesse a atravessar uma recessão interna pontual, se Portugal estivesse a viver uma crise económica conjuntural, a afirmação do senhor Draghi até poderia ser compreendida e até podia fazer sentido. Contudo, o que estamos a atravessar não tem nada de conjuntural, o que estamos a assistir é a um violento e necessário ajuste estrutural de uma economia disfuncional, para se tornar numa realidade económica muito mais saudável.
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Se os salários dos portugueses tivessem começado a cair mais cedo, quantas empresas, sem o mercado inflacionado pelo dinheiro do Estado e pelo crédito fácil e barato, conseguiriam resistir e não fechar? Quantas, das 29 empresas de construção que fecham por dia, por exemplo, escapariam se os custos salariais fossem mais baixos?
Quantos stands de automóveis evitariam o encerramento? Quantas lojas evitariam o despedimento? Quantas imobiliárias sobreviveriam?
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Se os salários dos portugueses tivessem começado a cair mais cedo, quantos professores e recibos verdes do Estado seriam poupados?
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Nada poderia ter evitado este salto no nível do desemprego, a menos que continuássemos alegremente, a "assar sardinhas com o lume dos fósforos" (parte 2010, parte 2011 e parte 2012). Recuperar uma economia viciada há décadas em estímulos não é a mesma coisa que curar uma constipação passageira.
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Recordar o drill-down do desemprego.
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Trecho retirado daqui.