quarta-feira, março 02, 2022

O risco de voltar a trabalhar com a China

Mesmo depois do Covid acabar e acabarem as intermináveis quarentenas para quem se desloca à China, quem pensar em voltar à China para encomendar produção terá de equacionar a possibilidade da China invadir Taiwan, e seguirem-se sanções como aconteceu agora com a Rússia.




terça-feira, março 01, 2022

Empresas e ambiente

Uma boa reflexão, "How Corporate Purpose Can ‘Signal Virtue’ But Distract The Management", sobre as empresas que gastam a atenção da administração em "signaling virtue" e, depois, não há atenção para os desafios da gestão. Ou será que o "signal virtue" é uma desculpa para esconder a falta de soluções para os desafios da gestão?

Interessante, se em vez de empresas pensarmos em governos ... sim, Políticos e ambiente.

"“Public display of climate and social credentials comes at cost to the business,” says fund manager, Terry Smith of Fundsmith Equity Fund. “The maker of Dove soap, Hellmann’s mayonnaise and Magnum ice cream has set out ambitious climate and social targets and is trying to prove that sustainable business does drive superior financial performance.” However, in the absence of that superior financial performance, broader social goals themselves inevitably come into question.

“Unilever seems to be laboring,” Smith wrote, “under the weight of a management which is obsessed with publicly displaying sustainability credentials at the expense of focusing on the fundamentals of the business.”

It is not that life-purpose training programs for staff and gig workers are not worthwhile. But their priority within Unilever needs to be viewed in the context of all the other issues facing the firm. When overall performance falls short, broad social goals can become suspects in causing the shortfalls.

...

Training gig workers and helping them find their own purpose in life isn’t wrong. It could be part of the solution at Unilever. It’s just that Unilever has to commit itself first and foremost to adding value to customers’ lives, not just waving a public-virtue flag and declaring victory."

 

segunda-feira, fevereiro 28, 2022

Live and let live

No sector de bens transaccionáveis as PMEs portuguesas exportadoras praticam preços mais elevados para o mercado interno ou para o mercado externo?

Os consumidores do mercado interno são iguais aos do mercado externo? Não! Têm poder de compra diferente.

ME - mercado externo
MI - Mercado interno

Muitas PMEs exportadoras ou não trabalham para o mercado interno, ou produzem produtos diferentes, mais baratos para ele. 
Muitas PMEs exportadoras nunca sobreviveriam a trabalhar só para o mercado interno. O mercado interno é pequeno e não aguenta margens elevadas.
Muitas PMEs exportadoras nem perdem tempo a trabalhar para o mercado interno. 

O que defendo aqui neste espaço desde o início deste blogue em 2004?
  • As empresas devem ter uma estratégia! 
  • Ter uma estratégia passa por escolher os clientes-alvo, os clientes que podem ser servidos com vantagem competitiva.
  • O objectivo das empresas é o lucro, não a quota de mercado.

Alguns exemplos:
Por isto, o que penso sobre a ideia de focar as PMEs exportadoras na redução das importações, em vez de continuarem a fazer o trabalhar de ganhar mercado no exterior, está bem descrito em Produtividade e tretas académicas.

Tudo isto por causa de mais uma exibição de falta de pensamento estratégico em "Madeira e mobiliário com vendas recorde ao exterior de 2587 milhões" no DN de ontem:
"Apesar da pandemia, 2021 foi um bom ano para as exportações da fileira nacional da madeira e mobiliário, que atingiram os 2587 milhões de euros, ultrapassando em 1,6 milhões o máximo histórico que havia sido alcançado em 2019. O presidente da Associação das Indústrias da Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP) mostra-se "muito satisfeito" com esta performance, mas alerta para o crescimento de 21% nas importações, que levaram a uma "queda abrupta" do saldo da balança comercial, para 440 milhões de euros. [Moi ici: O artigo começa com uma descrição positiva]
...
Mas nem tudo são boas notícias, já que as importações da fileira de madeira e mobiliário, que haviam abrandado em 2018 e 2019 e caído em 2020, cresceram 21% em 2021, ou seja, a uma taxa superior à das exportações, arrastando o superávite do setor para 440 milhões de euros, valor que equivale aos níveis de 2011. "Um absoluto desastre", diz o presidente da AIMMP. "O país precisa de aumentar as exportações, sem agravar as importações, caso contrário não teremos crescimento económico, mas apenas um empobrecimento gradual e coletivo", defende, sublinhando que "na situação económica e empresarial em que nos encontramos, os incentivos ao consumo não constituem fonte de crescimento, mas de agravamento do endividamento externo"."

Querem aumentar a produtividade e os salários ao mesmo tempo que se dedicam a produzir baratos, com margens baixas e em pequenas quantidades? 

Live and let live.

domingo, fevereiro 27, 2022

"Gell-Mann Amnesia" effect

Recordo muitas vezes a lição de vida que aprendi há muitos anos quando um grupo de advogados, juristas e políticos debatia na RTP acerca de Camarate com argumentos que suportavam a transmutação da alquimia (201720162009).

Sexta-feira passada em "Unsettled - What Climate Science Tells Us. What it Doesn't, and Why it Matters" de Steven E. Koonin" encontro:
You open the newspaper to an article on some subject you know well.
In Murray's case, physics. In mine, show business . . .
In any case, you read with exasperation or amusement the multiple errors in a story, and then turn the page to national or international affairs, and read as if the rest of the newspaper was somehow more accurate about Palestine than the baloney you just read. You turn the page, and forget what you know."

sábado, fevereiro 26, 2022

Quantas vezes somos vítimas deliberadas das especulações em torno destas "mudanças"?

Neste postal de 2012, Conversa de humano, escrevo sobre análise estatística e depois aplico-a à taxa de mortalidade infantil.

Isto fez-me recordar uma das estórias mais interessantes no livro de Tim Harford, "The Data Detective":
"It was a vital question. Across the UK, mortality rates for newborn babies varied substantially for no obvious reason. Could doctors and nurses be doing anything different to save these children?
...
The explanation for the disparity in mortality rates was quite different.
When a pregnancy ends at, say, twelve or thirteen weeks, everyone would call that a miscarriage. When a baby is born prematurely at twenty-four weeks or later, UK law requires this to be recorded as a birth. But when a pregnancy ends just before this cutoff point—say, at twenty-two or twenty-three weeks—how it should be described is more ambiguous. A fetus born at this stage is tiny, about the size of an adult’s hand. It is unlikely to survive. Many doctors call this heartbreaking situation a “late miscarriage” or a “late fetal loss,” even if the tiny child briefly had a heartbeat or took a few breaths. Dr. Smith tells me that parents who have been through this experience often feel strongly that the word “miscarriage” is inadequate. Perhaps in the hope of helping these parents to process their grief, the community of neonatal doctors in the Midlands had developed the custom of describing the same tragedy in a different way: the baby was born alive, but died shortly after.
Mercifully few pregnancies end at twenty-two or twenty-three weeks. But after doing some simple arithmetic, Lucy Smith realized that the difference in how these births were treated statistically was enough to explain the overall gap in newborn mortality between the two hospital groups. Newborns were no more likely to survive in London after all. It wasn’t a difference in reality, but a difference in how that reality was being recorded.
The same difference affects comparisons between countries. The United States has a notoriously high infant mortality rate for a rich country— 6.1 deaths per thousand live births in 2010. In Finland, by comparison, it is just 2.3. But it turns out that physicians in America, like those in the UK’s Midlands, seem to be far more likely to record a pregnancy that ends at twenty-two weeks as a live birth, followed by an early death, than as a late miscarriage."

Quantas vezes somos vítimas deliberadas das especulações em torno destas "mudanças"? 

Políticos e ambiente

Em Novembro passado aqui no blogue escrevi:
"Há muito que penso que os políticos começaram a falar cada vez mais do ambiente porque era algo que não lhes vinha cobrar. Por exemplo, um político pode propor políticas para reduzir défice, para reduzir filas de espera na Saúde, para aumentar salários, ... e todas essas políticas têm o inconveniente de, mais tarde ou mais cedo, virem cobrar através da comparação entre os resultados propostos versus os resultados obtidos. Já com o ambiente era diferente. Os políticos podiam falar do ambiente à boca cheia sem recear que ainda durante a mesma legislatura alguém lhes viesse pedir contas."

Agora, em "Unsettled - What Climate Science Tells Us. What it Doesn't, and Why it Matters" de Steven E. Koonin" encontro:

"The threat of climate catastrophe-whether storms, droughts, rising seas, failed crops, or economic collapse-resonates with everyone. And this threat can be portrayed as both urgent (by invoking a recent deadly weather event, for instance) and yet distant enough so that a politician's dire predictions will be tested only decades after they've left office."

sexta-feira, fevereiro 25, 2022

Coisas que dificultam a subida na escala de valor

Ontem em "The Real Secret to Retaining Talent" sublinhei:

"Over the past several decades managers have had to adapt to a stark reality: Individuals with unique talent can profoundly affect the value—and even the nature—of the work their organizations produce. A film studio can make a movie with or without Julia Roberts, but it won’t be the same movie. The Green Bay Packers can play football without quarterback Aaron Rodgers—but they will have to run a different offense. If a pharmaceutical company loses its star scientist, it will have to change its research program. If a hedge fund loses its investment guru, it will need to alter its approach to investing."

No dia anterior em "The Handbook of Competency Mapping" tinha sublinhado:

"the management of a boat-building firm specializing in high-quality craftsmanship decided to expand into mass production of low-cost speedboats. It proved impossible to adapt worker attitudes away from their historical commitment to quality and craftsmanship. Management was obliged to relocate the speedboat production and recruit a separate workforce. The new venture failed because the history and culture of the organization did not match with the new task. Thus a distinctive competence in one area-quality craftsmanship-may amount to a distinctive incompetence in another sector which adequately has low-cost production. Strategy formulation and opportunity surveillance are useless exercises unless the company has the internal abilities to execute its decision, or at least possesses the chance of developing the required capabilities. Competence, both generic and specific, plays an important role in the success of an organization."

São estas coisas que dificultam a transição entre modelos de negócio. São estas coisas que dificultam a subida na escala de valor.

O que nos trouxe até aqui, dificilmente será o que nos pode levar mais acima.

quinta-feira, fevereiro 24, 2022

Argumentos visuais

[Florence Nightingale]“That makes her perhaps the first person to grasp that busy, influential people would pay far more attention to a vivid diagram than to a table of numbers.

...

As Nightingale quipped when sending one of her analytical books to the Queen, “She may look at it because it has pictures.”

It’s a cynical, almost contemptuous, thing to write. But it is true. A chart has a special power. Our visual sense is potent, perhaps too potent. The word “see” is often used as a direct synonym for “understand”—“I see what you mean.” Yet sometimes we see but we don’t understand; worse, we see, then “understand” something that isn’t true at all. Done well, a picture of data is worth the proverbial thousand words. It is more than persuasive; it shows us things we could not have seen before, revealing patterns amid chaos. However, much depends on the intent of the chart’s creator, and the wisdom of the reader.

...

Much of the data visualization that bombards us today is decoration at best, and distraction or even disinformation at worst. The decorative function is surprisingly common, perhaps because the data visualization teams of many media organizations are part of the art departments. They are led by people whose skills and experience are not in statistics but in illustration or graphic design. The emphasis is on the visualization, not on the data. It is, above all, a picture.

...

So information is beautiful—but misinformation can be beautiful, too. And producing beautiful misinformation is becoming easier than ever.

...

A good chart isn’t an illustration but a visual argument ... If a good chart is a visual argument, a bad chart may be a confusing mess—or it may also be a visual argument, but a deceptive and seductive one. Either way, by organizing and presenting the data, we are inviting people to draw certain conclusions. And just as a verbal argument can be logical or emotional, sharp or woolly, clear or baffling, honest or misleading, so too can the argument made by a chart.

I should note here that not all good charts are visual arguments. Some data visualization is not intended to be persuasive, but exploratory. If you’re handling a complex dataset, you’ll learn a lot by turning it into a few different graphs to see what they show. Trends and patterns will often leap out immediately if plotted in the right way."

Por exemplo, no livro que ando a ler "Unsettled - What Climate Science Tells Us. What it Doesn't, and Why it Matters" de Steven E. Koonin", estou farto de encontrar exemplos como este:


Fontes oficiais apresentam gráficos manipulados, para levar a uma conclusão forçada.

Trechos retirados de "The Data Detective" de Tim Harford.

quarta-feira, fevereiro 23, 2022

Porque é um nicho pouco sexy!

"Por que é que as empresas portuguesas não são competitivas com o exterior?"

A pergunta com que começou o Think Tank de ontem. Aqui vai a minha contribuição. 


As empresas portuguesas são competitivas com o exterior!!!


Não é essa a vossa percepção? Basta olhar para as estatísticas do INE.


Então, que se passa? Por que não é essa a vossa percepção?


Vamos à biologia buscar um exemplo. 

Os crocodilos apareceram primeiro que os dinossauros. Os dinossauros apareceram e desapareceram... os crocodilos continuam.

As empresas portuguesas são competitivas nos nichos onde maioritariamente têm competido. E continuarão a sê-lo até que o contexto abiótico o permita, e/ou até que concorrentes igualmente bem sucedidos tomem conta do nicho. Por que é que tanta gente tem a percepção que não são competitivas? Porque é um nicho pouco sexy! O valor acrescentado não é muito elevado, mas é um nicho que se tem mantido estável. Como os humanos são satisficers, não maximizers,  a maioria fica abrigada no nicho. Recordar o relatório publicado recentemente: "Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”"

Um factor abiótico que pode pôr em causa este status-quo vem relatado no JdN de ontem em "Falta de pessoal e efeito dominó nas contratações sobem salários". Se não fosse a importação de mão-de-obra barata para a indústria, ao estilo de Odemira, esta seria uma das melhores notícias para a economia portuguesa no longo prazo, não para os empresários portugueses. Imaginem que não há "Odemiras" (não há bofetadas).

Os custos salariais sobem porque aumenta a concorrência pelas pessoas e pelo talento existente. Recordo que somos uma população a esvaír-se numa hemorragia demográfica (pirãmide etária e emigração. Recordar o que escrevi sobre os Figos). Maiores custos implicam que as empresas têm de ser capazes de os suportar. Por isso, ou sobem na escala de valor, ou aumentam a eficiência (sobem na escala do volume)... ou morrem. O que acontece a uma economia em que estas empresas morrem?

""It is widely believed that restructuring has boosted productivity by displacing low-skilled workers and creating jobs for the high skilled."Mas, e como isto é profundo:"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants." Por favor voltar a trás e reler esta última afirmação."

Claro que esta é uma evolução perigosa para o poder, sempre mancomunado com incumbentes.

Claro que esta é uma postura perigosa para um consultor num mundo de instalados que ficam ofendidos com uma opinião excêntrica. 

terça-feira, fevereiro 22, 2022

Qual a relação entre custos e preços?

A propósito deste texto, "Corporate pricing is boosting inflation — but we’re still buying", que grande confusão aqui vai:

"But some economists and politicians say that corporations are using inflation as an excuse to jack up prices beyond what’s necessary to account for their increased costs. More than just passing those costs onto consumers, they say, corporations are taking advantage of the unprecedented global economic circumstances to increase their profits, simply because they can."

Qual a relação entre custos e preços?


Então, qual é a relação entre custos e preços?


Não há!!!

As empresas aumentam os preços quando podem, quando não podem aguentam, ou fecham, ou pedem ajuda ao papá-Estado.

segunda-feira, fevereiro 21, 2022

"A produtividade tem de ser uma exigência nacional!"

"A produtividade tem de ser uma exigência nacional! Se formos mais produtivos por unidade de trabalho incorporado, podemos aumentar a receita fiscal "sem dor", exigir uma melhor distribuição do fator trabalho, com ênfase para a qualificação (o que promove o aumento do salário médio), e evitamos a debandada dos portugueses mais talentosos.

Para percebermos porque é que Portugal é sucessivamente ultrapassado pelos novos países que se juntaram mais recentemente à União Europeia devemos olhar para os dados da produtividade do fator trabalho. Peguei nos dados da evolução da produtividade do trabalho por hora trabalhada em euros, para os últimos anos, para vários países que recentemente se juntaram à União Europeia, a que acrescentei Espanha e a Grécia.

E até excluí os anos de 2020 e 2021, por serem anos atípicos.

O resultado para Portugal é devastador. De 2015 a 2019, a produtividade na Roménia aumentou 37,1%, enquanto em Portugal apenas aumentou 9,6%, tendo ficado na média da UE a 27, onde a produtividade aumentou 9,6%, mas onde os restantes países com quem nos comparamos arrasaram: a Estónia 31,3%, a Bulgária 30,9%, a Lituânia 27,2%, a Letónia 26,2%, a República Checa 24,6%, a Eslovénia 18,4%, a Croácia 12,7% e a Eslováquia 12,3%!

É por estas e por outras que estamos como estamos e acabámos de perder um período de crescimento europeu notável porque não soubemos fazer o que devíamos: não mudámos o tecido empresarial, não amortizámos a dívida, não investimos..."

Recordar, acerca da Roménia:

Espero que João Duque já tenha abandonado a ideia de Julho de 2020 de substituir importações, Produtividade e tretas académicas.

Trechos retirados de "O orçamento pode esperar" de João Duque no Caderno de Economia do semanário Expresso do último Sábado. 

Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’” (parte II)

Ontem publiquei Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”  (a parte I) ... comparem com Ultrapassados pelo Leste escrito em  Julho de 2021... é isto.


Precisam que vos faça um desenho?


 

domingo, fevereiro 20, 2022

Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”

BTW, o tema deste postal deve ser uma preocupação da sociedade não dos empresários. A preocupação dos empresários é a sua empresa. Empresários são humanos, praticam o "satisficing", não o "maximizing of". Recordar o que eu digo aos agricultores, a sua missão não é alimentar o mundo. O mundo está-se marimbando para eles. A sua missão é proporcionarem vida à sua família.

"Portugal não irá crescer se continuar a “exportar ‘mais do mesmo’”, dependendo a retoma económica de uma “nova vaga de investimento” em bens, serviços e conceitos “diversificados e inovadores”, conclui um estudo da Fundação Calouste Gulbenkian, divulgado esta sexta-feira.

“No horizonte 2030, o país não pode crescer mantendo o seu foco exclusivamente no que já se exporta – exportar “mais do mesmo”, mesmo quando o ‘mesmo’ é melhorado – nem manter uma preferência por mercados europeus que, no conjunto, poderão vir a crescer muito pouco nas próximas décadas”, lê-se no trabalho, intitulado ‘Foresight Portugal2030’.

...

Para ser sustentada, a retoma do crescimento – tendo em atenção o perfil demográfico previsível – tem de assentar num investimento que permita um aumento substancial da produtividade dos fatores (conhecimento/tecnologia, trabalho qualificado, capital e terra)”, refere.

Ou seja, acrescenta, “para que haja crescimento da economia, é fundamental que as atividades mais presentes nos mercados externos sejam das que maior valor acrescentado geram”: “Essa é que é verdadeiramente a medida da competitividade. E a que estamos ainda longe de atingir”, considera."

Ontem, neste postal "deixem as empresas evoluir ou morrer, ponto!!!", referi este postal de Março do ano passado, "The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!" onde aparece o modelo "flying geese". O Japão não chegou onde chegou porque fabrica cada vez melhor vestuário ...

Percebem o que isso implica para os incumbentes e para as redes de influência instaladas em torno das fumarolas do poder? O país precisa de saltos no valor acrescentado, mas "os macacos não voam, trepam às árvores". Logo, temos de apostar na receita irlandesa, mas sem demografia e com um estado-vampiro.

Trechos retirados de "Portugal não irá crescer se continuar a "exportar mais do mesmo", diz estudo da Gulbenkian".

sábado, fevereiro 19, 2022

deixem as empresas evoluir ou morrer, ponto!!!

Vou recuar só até 2018 e escolher alguns postais sobre o tema comum "deixem as empresas morrer":

"Se uma sociedade valoriza e premeia o risco económico do empreendedor da economia real gera-se toda uma dinâmica de crescimento, mortalidade e retorno. Se uma sociedade tem medo do risco económico e das suas consequências, começa a pôr em causa o motor ao não permitir que os melhores projectos ganhem os louros e o retorno adequado (recordar Spender e as fundições inglesas nos anos 80 "Apesar das boas intenções") [Moi ici: LER, por favor!!!]
.
Se o negócio do leite corre mal para uma parte dos produtores lá aparece um apoio ou um subsídio do governo de turno.
Se o negócio do porco corre mal para uma parte dos produtores ...
Se o negócio do têxtil corre mal para uma parte dos fabricantes ...
Se o negócio da construção corre mal para uma parte dos construtores ...


O texto citado de Spender é muito bom, os apoios podem ajudar a comprar máquinas mas não mudam a mente dos gestores. [Moi ici: Meditem nisto e no texto abaixo] Logo, é dinheiro perdido enquanto se empata a economia com zombies que vão estragar o mercado recorrendo a fórmulas antigas e competindo pelo preço sem racionalidade económica.
.
"Vive e deixa morrer" devia ser um lema a seguir por muitos governos."

Ontem, li "Why The Key Management Problem Is Often At The Top": 

"That is precisely the point. It’s actually a key to solving the management puzzle. The relatively weaker performance of the other firms is often the result of what is going on at the top of the firm. [Moi ici: Recordar o clássico aqui no blogue "Há mais variedade de produtividade intrasectoriamente do que intersectorialmente]

That in turn is good news for relatively poorly performing firms: they may be able to improve their performance without massive changes throughout the whole firm. What they need is to fix what's happening at the top.

At the same time, this also explains why the management problems of the weaker performers are so intractable: the top managers have difficulty in solving the problem because it is they who are often the problem. They are reluctant to look at their own behavior in the mirror. It is thus the role of management analysts to hold up the mirror for them and help them begin to discuss the undiscussable."

Este racional, que partilho, é o mesmo que me leva a discordar deste texto:

"Pero el problema de España es que tiene una gran parte de la fuerza laboral poco cualificada e incapaz de aportar valor añadido a la empresa por encima de un determinado nivel de retribución." 

Essa mesma força de trabalho pouco qualificada, emigra para a Alemanha ou França e dá saltos no valor acrescentado. O problema é a incapacidade das decisões da gestão de topo acompanhar o ritmo de subida dos custos de contexto.

Qual a solução? Nacionalizar as empresas? Roubar as empresas? Prender os empresários? Não, os empresários já dão o melhor que sabem e podem. A melhor solução é... deixem as empresas evoluir ou morrer, ponto!!! Claro que o ritmo do aumento dos custos de contexto pode ser tal que poucos conseguem evoluir a tempo, e a taxa de reposição de novos projectos não ser suficiente para renovar a economia. No problema! As pessoas emigram.

 

sexta-feira, fevereiro 18, 2022

Seremos todos Odemira

Há dia publiquei este postal "Algumas questões" sobre a falta de trabalhadores para trabalhar na indústria automóvel em Castelo Branco (interior profundo, vítima de hemorragia demográfica e envelhecimento)

Ontem, no Jornal de Notícias, "Viana do Castelo desespera por centenas de trabalhadores"

"A empresa do setor automóvel BorgWarner dá emprego a 1200 pessoas de nove nacionalidades" nas suas duas unidades em Viana e tem vagas em aberto. "Pretendemos crescer com mais 200 postos de trabalho este ano. Temos conseguido encontrar talentos, mas começamos a notar alguma dificuldade [de recrutamento] nos perfis técnicos, como manutenção, automação, robótica e programação", adiantou Ana Silva, diretora de recursos humanos da Borg Warner
...
as dificuldades de recrutamento crescentes em setores como construção civil, indústria automóvel, hotelaria, carpintaria e metalomecânica. E que já levaram até à perda de novos potenciais investimentos."

Ando eu a escrever o quão importante é o investimento directo estrangeiro em Portugal, para subir na escala de valor, por exemplo, Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas. E começo a recear que mesmo que se arranje esse investimento já não há gente para trabalhar nele.

A armadilha de que falava Nogueira Leite, A armadilha, ainda é mais funda do que parece à primeira vista.

Nesta cena da demografia caminhamos a passos largos para uma disrupção violenta.

quinta-feira, fevereiro 17, 2022

"a refusal to acknowledge that the world had changed"

 

"This book has argued that it is possible to gather and to analyze numbers in ways that help us understand the world. But it has also argued that very often we make mistakes not because the data aren’t available, but because we refuse to accept what they are telling us. For Irving Fisher, and for many others, the refusal to accept the data was rooted in a refusal to acknowledge that the world had changed. [Moi ici: Recordo logo Drop your tools!!! Ou porque não era o verdadeiro socialismo]

...

One of Fisher’s rivals, an entrepreneurial forecaster named Roger Babson, explained (not without sympathy) that while Fisher was “one of the greatest economists in the world today and a most useful and unselfish citizen,” he had failed as a forecaster because “he thinks the world is ruled by figures instead of feelings.” [Moi ici: Recordo logo "Nós fazemos as contas ao contrário"]

I hope that this book has persuaded you that it is ruled by both." [Moi ici: Recordo logo Acerca do optimismo não documentado]

Trechos retirados de "The Data Detective" de Tim Harford.

Portugueses, what else?

 

Impressionante:

"Em 2020, 61% dos portugueses não leu qualquer livro. É um dos dados que salta à vista no Inquérito às Práticas Culturais dos Portugueses 2020 realizado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian que é divulgado esta quarta-feira." 

Adeptos da pílula azul... 

quarta-feira, fevereiro 16, 2022

A armadilha

 

"países como Portugal terão caído na "armadilha do crescimento intermédio" no sentido vulgarizado por Philippe Aghion entre outros: países que perderam a sua vantagem competitiva na exportação de bens manufaturados assente em salários baixos e que por isso são, em muitos setores das suas economias, incapazes de acompanhar as economias mais desenvolvidas nos mercados de bens e serviços de alto valor acrescentado. ... Portugal precisa de sair desta armadilha e não parece ser por via da canalização do investimento para infraestruturas públicas ou privadas."

Ontem enquanto descia de Bragança ouvia o Think Tank, por causa de uma questão de um ouvinte, Jorge Marrão voltou a um exemplo de restaurantes para falar de produtividade. Só que mais uma vez encalhou em "mais produtividade = mais eficiência". O restaurante A era mais produtivo do que o B porque servia o mesmo número de refeições com menos empregados. O truque que precisamos não é este, este são peaners. Precisamos de restaurantes capazes de venderem pratos mais caros com o consentimento e a satisfação dos clientes. Isso, normalmente, passa por novos protagonistas ...

Trecho retirado de "A marcar passo". 

Enxutos ou listas de compras?

Este artigo, "Sharpen your strategy document", chama a atenção para um ponto de vista que partilho, mas que é minoritário.

Recomendo documentos estratégicos curtos, enxutos, directos ao assunto. No entanto, a maioria prefere longas listas pormenorizadas.
"strategy statements are often tasked with taking on super-heavy loads. Too many of them now include the mission statement, the purpose statement, a list of enduring cultural values and commitments to various stakeholders, and even the core goals for the business.
...
It’s time to declutter strategy documents. And my suggestion for doing that is to create two lists: what is going to change and what’s not going to change.
...
Let’s start with what won’t change. Those items shouldn’t be in the strategy document. This category includes all the immutable truths that are part of an organization’s narrative about itself: the purpose and mission statements, its commitment to certain values and priorities, its promises to various stakeholders.
...
Ideally, the new document includes the four elements of a simple and effective framework Dinesh Paliwal, the former CEO of audio entertainment company Harman International Industries, shared with me:
  • a concrete summary statement of the outcome you are trying to achieve
  • the three or four levers you must pull to achieve that goal
  • the headwinds that have to be overcome to achieve that goal
  • a scoreboard for measuring progress."

terça-feira, fevereiro 15, 2022

Algumas questões...

Este artigo, "Empresa muda linhas de produção para a Turquia por falta de mão de obra", publicado no Jornal de Notícias de ontem deixou-me algumas questões:

"A falta de trabalhadores é a razão invocada pela APTIV, multinacional alemã que produz cablagem para a indústria automóvel, em Castelo Branco, para a deslocalização de duas linhas de produção para outra unidade do grupo na Turquia até junho. As duas linhas de produção fabricam cablagem (cabos elétricos para veiculos) para os motores a combustão da Maserati e da Ferrari. Esta supressão coloca um ponto final a uma longa ligação que tinha condições para crescer na APTIV, não fosse a dificuldade de contratar.

...

"A fábrica de Castelo Branco recebeu o projeto para testagens que muitas empresas pelo Mundo ambicionavam fazer quanto aos cabos para os carros elétricos da Maserati e da Ferrari. Fizeram-se ainda protótipos para o jipe Ineos. É uma grande prova de confiança", frisa a fonte.

As pessoas ou não passam na entrevista ou não querem trabahar por turnos ou não se adaptam e vão-se embora", adianta Francisco Matias, representante dos trabalhadores da APTIV e dirigente do Sindicato Nacional da Indústria e Energia. "Fizemos o que estava ao nosso alcance para ajudar as condições de atratividade, conseguindo que os salários se fixassem acima da média da indústria automóvel e que a contratação passasse de seis para 12 meses, o que dá segurança laboral inicial", completa o sindicalista."

Será que a situação ainda é mais grave do que eu pensava?

Será que a desertificação do interior ainda é mais grave do que pensámos?

Se nem a pagar salários acima da média da indústria automóvel ...

Entretanto, ao final da manhã quando contei a notícia a umas colegas consultoras, uma falou-me de uma empresa grande e conceituada do ramo automóvel na zona de Famalicão que já terá contingente de Filipinos, também me falaram de empresa de calçado com contingente de indianos, e também me falaram de uma outra empresa com contingente de paquistaneses, com um marroquino lá pelo meio. Aliás terá sido através do marroquino que a empresa terá descoberto quanto é que realmente a empresa de mão de obra pagava aos trabalhadores.


Somos já Odemira