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sexta-feira, junho 09, 2023

A evolução da produtividade (parte III)

Parte II e Parte I.

 

Vamos mais uma vez adiar as participações de Seth Godin e Porter nesta série, porque entretanto apareceu-me este artigo “Indústria do vidro na Marinha Grande sem mão-de-obra: "Não conseguimos contratar um único português, nem sequer temos candidaturas"”.

 

Há dias numa rede social alguém publicava uma série de fotos de árvores em contexto urbano mutiladas por podas exageradas, e depois referia que um jardineiro em Portugal ganha uma miséria à hora, mas que no Luxemburgo é bem remunerado. Veio-me logo à mente aquela frase “It takes a village” transfigurada em “It takes the whole country”.

 

Aqui no blogue e no Twitter costumo referir o que aprendi com Reinert exemplificando com os motoristas e com os barbeiros:

·     Existem tarefas que podem ser transferidas para o exterior da zona onde vivemos, por exemplo, produzir peças de vidro na Marinha Grande. E existem tarefas que não podem ser transferidas para o exterior da zona onde vivemos, por exemplo, cortar o cabelo, transportar pessoas, arranjar o jardim da nossa cidade.

No caso das tarefas que podem ser transferidas para o exterior da zona onde vivemos os salários são limitados por três factores:

  • A capacidade de criar valor percepcionado pelo cliente; 
  • Os preços praticados por quem produz no exterior da zona onde vivemos;  
  • O poder de compra da generalidade dos consumidores na zona onde vivemos e no exterior

No caso das tarefas que não podem ser transferidas para o exterior da zona onde vivemos os salários são limitados por três factores:

  • A capacidade de criar valor percepcionado pelo cliente; 
  • Os preços praticados por outros produtores da zona onde vivemos; 
  • O poder de compra da generalidade dos consumidores na zona onde vivemos;

Vamos analisar o que acontece com os produtos ou serviços que não criam um grande valor percepcionado pelos clientes, (commodities, portanto) admitindo que existe competição entre os fabricantes de produtos ou prestadores de serviço.

 

No caso dos produtos ou serviços transaccionáveis com forte competição externa e sem marca forte, ou alguma distinção: 

  • O preço de venda ditado por quem consegue produzir mais baixo limita o numerador da equação da produtividade, por isso as empresas neste contexto fixam-se no eficientismo.

No caso dos produtos ou serviços não-transaccionáveis com forte competição e sem marca forte, ou alguma distinção:

  • O preço de venda é limitado pelo poder de compra da generalidade dos consumidores na zona onde vivemos, o que limita o numerador da equação da produtividade, por isso as empresas neste contexto fixam-se no eficientismo.

No modelo seguido no Japão e outros países asiáticos, no caso dos produtos ou serviços transaccionáveis com forte competição externa funciona o tal modelo dos Flying Geese. Este modelo obriga a que as actividades com cada vez menos valor acrescentado sejam abandonadas e os recursos transferidos para outras actividades com mais valor acrescentado, o que permite pagar melhores salários e aumenta a produtividade.

 

No modelo que estamos a seguir em Portugal as actividades com cada vez menos valor acrescentado em vez de serem fechadas, recorrem a estratégias de abaixamento dos custos da mão de obra (actuação no numerador da equação da produtividade). Por isso, estas empresas crescem pouco ou não crescem mesmo, geram pouco valor acrescentado e pagam baixos salários. Assim, a sua contribuição para a melhoria dos salários das outras profissões é negativa, porque estes assalariados contribuem para o poder de compra dos consumidores na zona onde vivemos.

 

A contribuição para o aumento da produtividade ou é negativa ou é muito baixa, porque se concentra mais na redução dos custos do que na criação de valor. Nunca esquecer Marn e Rosiello e o Evangelho do Valor “It takes the whole country” para aumentar o poder de compra,

Os salários praticados são limitados pela capacidade de criar valor para o cliente. Quanto mais valor for acrescentado pelo fabricante às matérias-primas e componentes, mais elevado pode ser o preço praticado e mais elevado pode ser o salário oferecido. Tudo o que não passe por trabalhar o numerador é insuficiente para a revolução necessária na produtividade agregada.

O que os jornalistas relatam com candura e ingenuidade é a chamada ...


... e nem se apercebem disso.

sexta-feira, abril 21, 2017

Treta!

Ontem, durante uma caminhada, ouvi este artigo "This Swedish Scientist's Transparent Wood Could Transform Architecture" .
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Depois, durante o almoço, ao consultar o Twitter, fui encaminhado para este outro artigo "Crescer acima das possibilidades" onde li:
"o mercado português, ainda que importante, é demasiado pequeno quando se quer construir valor acrescentado."
E murmurei:
- TRETA!

Então, subitamente surgiu uma relação muito clara entre os dois artigos.

Quando acabei de ouvir o primeiro artigo, ao empurrar a porta lateral do centro comercial onde ia almoçar, pensei logo: este sueco seguiu o caminho menos percorrido. As muito grandes e rentáveis empresas de papel e pasta em Portugal em vez de subirem na escala de valor para continuarem a crescer, só conhecem uma forma de crescimento: aumentar a produção, aumentar a eficiência, aumentar a velocidade de produção. Por isso, é que infestaram o país de eucaliptos. Por isso, é que avançaram para outros países para continuar a infestação. Por isso, é que manobram governos de direita e de esquerda para que continue a crescer a área plantada em Portugal.

Conseguem ver a relação com o artigo da subdirectora do DN? Para gente do século XX só se aumenta a rentabilidade com produtividades superiores baseadas no denominador, baseadas na quantidade.

Agora imaginem o potencial de valor acrescentado que pode estar associado a futuras aplicações de madeira transparente.

E já agora, nunca se interrogam como é que um país tão pequeno consegue ser líder na produção de papel e pasta? Será que nos outros países as suas papeleiras conseguiriam fazer o que por cá se fez e se continua a querer fazer a nível da floresta?


BTW, um pouco de tragicomédia - imaginem aplicar o discurso da subdirectora ao seu próprio jornal... pois.

sábado, fevereiro 07, 2015

Acerca do valor acrescentado

"It comes down to the fact that without value added, anybody can do what you do, including your competition. Value added is up to the salesperson or organization in making the difference and if it is done right, no one will ever compete with you.
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The strategic thought process question that should be asked before every meeting or client situation is:  “How can I add value to this opportunity?.There are three steps to adding value.
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Step One: Forget what business you are in.
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Understanding your business begins, paradoxically by forgetting your product/service. You’re not the product/services you represent. You sell dreams and you sell solutions; you simply deliver the product/service.
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Step Two: Move from the big picture to added value options.
Ask yourself: What actions can I take that will add value to my offerings-that will exceed by clients’ expectations? What can I do that will position me as different from and more valuable than my competition?”"
Trechos retirados de "What is all this talk about added value?"

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Havia gente que não fazia puto nas empresas!

Ontem, ao ler esta dissertação de mestrado, de Setembro de 2013, "Exportações e Competitividade: A Indústria do Calçado em Portugal" fui surpreendido por este trecho:
"Apesar da diminuição de emprego no setor em 2010, a produtividade aumentou, o que pode ser interpretado como nos anos anteriores estarem a laborar mais trabalhadores do que os necessários."
Qual o racional desta frase?
O emprego baixou e a produtividade aumentou, então, havia gente que não fazia puto nas empresas!
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Não estou de acordo com este racional.
Este racional pressupõe que o que as pessoas produziam o mesmo tipo de produtos, antes e depois.
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Pessoalmente, vejo outro filme, vejo empresas de maior dimensão que fecharam e a serem substituídas por outras, mais pequenas e com produtos de maior valor acrescentado.
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Como escrevo, por exemplo, aqui em "Acerca da produtividade, mais uma vez (parte I)" o problema é assumir-se a qualidade constante dos bens produzidos.

quarta-feira, maio 25, 2011

Que mil girassóis como este floresçam!

Ontem de manhã, quando tive oportunidade de folhear a correr o Jornal de Negócios, este foi um dos artigos que fiz questão de ler logo "Liliana e Teresa criaram um negócio que é uma jóia".
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Notas a salientar:

  • a importância da internet como prateleira universal!!! Muitas PMEs ainda não realizaram o potencial.
  • quem trata o mercado como uma variável e não como um dado, faz como as mittelstand, tem de procurar os clientes-alvo onde eles existem, em todo o mundo. E, para isso, para procurar e, sobretudo, para ser encontrado, a internet é uma maravilha!
  • fuga ao mercado massificado. Apostar no valor acrescentado.
  • a ideia de mosaico a funcionar:  "Temos um fábrica que é nossa parceira no norte do País, que está muito bem apetrechada", adiantou Teresa Von Oerne.

    Para proceder a esta escolha "tivemos em conta tudo: como está organizada, as condições de trabalho, os prazos de entrega, como é limpa, a componente ambiental que também é relevante", acrescentou.

    Tendo-se aliado, desde o primeiro dia, à FedEx, a internacionalização da Gualy aconteceu quase desde o primeiro dia. A partir do "site" já estão preparados para vender para os 27 países da União Europeia."
Parabéns! Muito trabalho!

Que mil girassóis como este floresçam!


quinta-feira, maio 12, 2011

Uau! Uma racha no edifício?!

Será verdade?
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Às vezes as pessoas dizem coisas sem pensar...
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Às vezes o nosso inconsciente consegue iludir o estado consciente e fazer passar mensagens não processadas...
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"as empresas portuguesas "precisam de exportar mais e com mais valor acrescentado""
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Trecho retirado daqui.

quarta-feira, outubro 13, 2010

Um mundo de oportunidades

Este blogue procura trazer exemplos de que aposta no valor acrescentado, de quem foge do negócio do preço mais baixo, ainda que essa seja uma proposta de valor legítima.
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"Pomarfin, a smallish family-owned shoe maker based in Pomarkku, Finland. Even though the company manufactured its shoes in nearby Estonia, where costs are lower, Pomarfin found itself competing with Asian companies with a manufacturing cost base around one-fifth that of Estonia. Squeezed for profits, Pomarfin had a decision to make: it could outsource the manufacturing of its shoes to Asia and simply become a brand, or it could find a new way to differentiate the business while keeping its production in Europe."
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"Not wanting to walk away from its manufacturing roots, Pomarfin decided to compete in the emerging world of mass customization by making made-to-measure shoes for well-off men who hate shopping for shoes and want a perfect fit. Pomarfin envisioned installing a foot scanner in retail stores that sold its shoes. Clerks would scan the customer’s foot, and the image would be uploaded to a server in Pomarfin’s manufacturing plant, which would create and ship the customer a pair of shoes for his unique feet."
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A história completa pode ser encontrada aqui: "Finnish shoe firm pays lifetime royalties"
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Apostar no valor acrescentado, apostar na flexibilidade, apostar na personalização, apostar no nicho... conjugar produção industrial com internet, com novos modelos de comercialização... e não é preciso ser grande ou ser multinacional, basta estar atento e encontrar um nicho adequado.

sexta-feira, agosto 20, 2010

O caminho a seguir

Ao ler este artigo "“Só sobrevive nos têxteis quem trabalha para o topo”", no DE de hoje, parece que estamos a ler este blogue:
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"A moda portuguesa tem futuro. Pelo menos, algumas indústrias e marcas. Os fabricantes têm que se direccionar para os produtos de qualidade, para o valor acrescentado, para os nichos de mercado. Os retalhistas têm que fazer um ‘mix' entre a qualidade ‘made in Portugal' e o preço ‘made in Ásia'.
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"Não é possível trabalhar para um mercado onde o preço seja fundamental", diz João Pedro Xavier. Alguma indústria têxtil portuguesa "só vai conseguir sobreviver porque trabalha para o mercado de top" e temos exemplos como a "Somelos, a Riopele, o Paulo Oliveira, da Covilhã", adianta. "Algumas já exportam para os chineses, que também compram matéria-prima na Europa". Mas são empresas que têm produtos diferenciados, design inovador, porque a "indústria mais pequena terá dificuldades", frisa. (Moi ici: Esta afirmação merecia ser mais bem explicada. Se a tomar pelo valor facial não a compreendo. No meu modelo mental, para empresas que não competem pelo preço a dimensão não é relevante.)

sexta-feira, setembro 18, 2009

Preço versus Valor!!!

Como são definidos os preços:
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Assim?
Produto -> Custo -> Preço -> Valor -> Clientes
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"Notice you start with the product (or service), determine its cost, mark up that cost with a desired profit to set the price, and then pray the customer values the output at a level higher than the price they are being asked to pay.
Notice where the customer is in this chain of events—at the end!"
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Ou assim?
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"Pricing On Purpose inverts this chain to correspond with the economic realities of the marketplace."
Clientes -> Valor -> Preço -> Custo -> Produto
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"This value chain recognizes that value is like beauty, it is in the eye of the beholder. It is in total alignment with the subjective theory of value to the customer. Customers do not care about your internal costs, nor your profit desires. They demand value higher than the price they are paying, and they want to make that comparison before they buy, not after.
This inversion reveals a further fact of economic life: Your costs do not determine your price; rather, your price determines your costs. This is anathema to a cost accountant, but self-evident to a pricer."
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Trechos retirados de Pricing on Purpose de Ronald Baker

sexta-feira, julho 31, 2009

Por que teimam em cometer hara-kiri?

Sei que me repito...
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Mas os estímulos para o tema continuam a ser emitidos regularmente...
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Os economistas têm de começar a mudar o seu paradigma económico relativamente a Portugal. Portugal já não é o país do escudo, essa moeda barata, fraca e maleável, Portugal é um país com uma das moedas mais fortes do mundo.
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Para um país com uma moeda forte apostar nos custos baixos para exportar é como cometer hara-kiri.
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Impressiona que mesmo os economistas marxistas ou ex-marxistas continuem a apostar no tal capitalismo de pés de barro, o capitalismo dos salários baixos.
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"Os 7% que nos faltam para equilibrar as contas aparecem reflectidos no comércio externo, através da diferença entre exportações (33%) e importações (40%). Este défice tem de ser anulado e o bom senso sugere que o façamos através aumento das exportações. Aqui as frentes de ataque são duas: é preciso reduzir os custos, para melhorar a oferta - um problema nosso; e é preciso eliminar a crise, para aumentar a procura - um problema dos deuses da economia."
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Por que não falam, por que não escrevem sobre o aumento do valor? Por que continuam encalhados na competição pelo preço mais baixo? Temos vantagens competitivas nesse campo? É esse o futuro que nos assegurará crescentes níveis de vida sustentáveis?
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Aprende-se, apreende-se, experiencia-se uma realidade numa fase inicial da vida e com essa base criam-se modelos mentais que teimosamente passam a fazer parte de nós e não conseguimos abandonar.
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Trecho retirado do artigo "O crescimento" de Daniel Amaral no Diário Económico.