Mostrar mensagens com a etiqueta economia portuguesa. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta economia portuguesa. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, novembro 15, 2021

The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!

No início deste ano ao ler "Windows of Opportunity: How Nations Make Wealth" vi este esquema que reproduzi neste postal:

Há dias, ao continuar a leitura de "How Rich Countries Got Rich and Why Poor Countries Stay Poor" de Erik S. Reinert voltei a encontrar a mesma imagem.

Tudo começa com:

"Figure 8 shows productivity development for a standard pair of men's shoes in the United States between 1850 and 1936. In 1850 15.5 work hours were required to produce a pair of standard men's shoes. Then a productivity explosion took place in shoe production, and rapid mechanization made it possible to employ only 1.7 labour hours to produce an identical pair of shoes fifty years later, in 1900. St Louis, Missouri, in this period became one of the wealthiest cities in the USA, based on production of shoes and beer: `First in shoes and beer, last in baseball' was the saying about the city that showed the world its wealth when hosting both the Olympic Games and a world fair in 1904. After 1900 the learning curve for shoes flattened out. In 1923 1.1 working hours were needed to produce the same pair of men's shoes. In 1936 0.9 hours were needed. As the learning curves flattened out, pressure on wages increased, and gradually shoe production was moved to poorer regions. The USA was an exporter of shoes for a long time, now the country imports practically all its shoes. This phenomenon - that rich countries export where there is great technological development, and import where there is little technological development - is related to what in the 1970s was dubbed the product life cycle in international trade by two Harvard business school professors who described the phenomenon, Raymond Vernon (1913-99) and Louis T. Wells.

...

When a poor country gradually takes over shoe production, it will be close to impossible to increase the standard of living. This production is left to the poor countries, essentially because there is no more learning to be squeezed from the production process.

...

Only when the learning curves and the experience curves flatten out and knowledge gets into the public domain can poor countries compete, and then competition is based on their low wages and relative poverty.

...

Situations exist, however, where the dynamics described in the learning curves can be used for making poor countries rich, by upgrading them technologically in sequence. This model was named flying geese by the Japanese economist Kaname Akamatsu in the 1930s (see Figure 9) [Moi ici: A figura lá de cima]. Another Japanese economist and later Minister of Foreign Affairs in the 1980s, Saburo Okita, followed the `flying geese' model and theorized that a poor country is able to upgrade its technology by jumping from one product to another with increasing knowledge content. The first flying goose, in this case Japan, breaks the air resistance for the next ones, so gradually all of them can sequentially benefit from the same technological change. For example, many years ago Japan produced inexpensive garments, [Moi ici: Recordo sempre um filme de 1944, "A pricesa e o pirata" com Bob Hope. O filme passa-se no século XVIII, Bob Hope era um pirata a lutar contra outros piratas. Defendia-se com um gancho. Um pirata com um simples toque da espada deu cabo do gancho. A cena como que pára, Bob Hope olha para o gancho e lê "Made in Japan". Então exclama algo como, "não se pode confiar nestes produtos"] achieving productivity increases which boosted the standard of living ('collusive mode') so much that a relatively unsophisticated product like a garment could no longer be produced profitably there. [Mo ici: Percebem o significado deste último sublinhado? E volto ao Maliranta, a Taleb e ao exemplo do Jorge Marrão e à entrevista de Paulo Rangel referida aqui. Acham que um político de direita ou de esquerda tem a coragem de enunciar o meu conselho de Dezembro de 2018, "Deixem as empresas morrer!". Acreditar que a empresa média consegue dar o salto na escala de produtividade... só uma minoria o faz, a maioria aproveita os apoios para prolongar o modelo de negócio actual. Como não recordar Spender] Production was taken over by South Korea, while Japan gradually upgraded its manufacturing to something more sophisticated, like TV production. When South Korea upgraded, garments were then for a while produced in Taiwan, until the same thing happened there; production costs grew too high. Production then moved to Thailand and Malaysia, and history repeated itself. Finally, production of garments was moved to Vietnam. In the meantime, however, a whole row of countries had used garment production to raise their standard of living; they had all surfed sequentially down the same learning curve, and all had become richer. Of course, this game requires that the head goose continuously gets involved in new technologies."

É o velho tema do primeiro princípio de Deming, "Constância de propósito" e volto a 2009 e a Maio passado. Hoje, no JdN Francisco Assis discorre naturalmente sobre a necessidade de aumentar o salário mínimo e de ... apoiar as empresas que não o possam pagar. Acham isto normal?

segunda-feira, novembro 08, 2021

A boa árvore conhece-se pelos frutos...

Vamos admitir como válidos estes números coligidos por Eugénio Rosa:

"A remuneração média nacional aumentará 10,1% entre 2015 e 2022

Agora comparem com a Lituânia:

"The monthly average gross wage rose 12.7 percent in the fourth quarter of 2020 from a year before to 1,467 euros, and the average net pay rose 13.3 percent to 935 euros, SoDra said on Tuesday." (fonte)

 A boa árvore conhece-se pelos frutos... Lucas 6, 44 ou Mateus 7, 17

domingo, novembro 07, 2021

Percebem porque vão faltar cada vez mais trabalhadores?

Let this sink in:

"Em 2020, 50% das vendas de moda e vestuário na Europa foram feitas com desconto de preço e a indústria têxtil portuguesa surge como um dos suportes destas campanhas agressivas, uma vez que pratica os preços mais baixos do continente, segundo um estudo da Fashion Value intitulado ‘Pricing Report’. Do outro lado da tabela está a Itália.

Independentemente de outos segmentos do mercado, onde a indústria portuguesa também dá cartas, e tomando como ponto de partida o vestuário mais básico – uma t-shirt em algodão e umas calças jeans – o estudo indica que “na Europa Ocidental, Portugal é um dos países mais baratos, com menos de sete euros para uma t-shirt e pouco mais de 19 euros para umas calças jeans”. A Itália encabeça a lista dos mais caros, “com quase 40 euros para umas calças jeans e 15 euros para uma t-shirt básica em algodão”."(fonte)

O título do artigo é "PORTUGAL NO TOPO DA INDÚSTRIA LOW COST EUROPEIA". 

No topo porquê? Temos os salários mais baixos? Nope!


Temos empresas grandes capazes de ganhos de escala? Nope!
Temos empresas automatizadas e muito organizadas? Nope!

Nenhum país enriquece a vender commodities, a menos que seja o campeão da concorrência perfeita. Parece que em vez de treparmos as árvores estamos a descer na escala de valor.

Os apoios e subsídios são usados para isto... isto faz-me lembrar a interpretação de Jordan Petersson acerca de Mateus 6, 24-34. O que casa bem com a tal citação que referi há dias: 
"nature evolves away from constraints, not toward goals"
Quando não se tem uma direcção responde-se a estímulos, foge-se dos obstáculos, não se projecta um futuro, vive-se, mas não se afirma.


Não critico quem o faz. Quem faz, faz o que pode e sabe. Quem faz, faz muito mais que intelectuais que não levantam o rabo do sofá.

Critico quem não percebe a importância de criar condições para que capital estrangeiro venha infectar o país com o spill-over de projectos que apostem na concorrência imperfeita



sábado, novembro 06, 2021

"colonies are nations specializing in bad trade"

Ontem referi isto:

[Moi ici: Escreverei mais tarde sobre como isto se relaciona com a notícia recente das 14 concessões para exploração mineira, e com o objectivo da Galp de ser responsável pela produção de 30% do hidróxido de lítio na Europa]

 Presumo que muitos milhões de euros dos contribuintes entrarão nestas negociatas feitas às escondidas.  Não se fiquem só pela exploração mineira, acrescentem-lhe a ideia de produzir hidrogénio para o vender na Holanda. Esta semana tive a oportunidade de ler:

"The American Civil War is a prototype conflict between free traders and raw materials exporters (the South) on the one hand and the industrializing class (the North) on the other. Today's poor countries are the nations where the South' has won the political conflicts and civil wars. Opening up too early for free trade makes the South' the political winners."

Trecho retirado de "How Rich Countries Got Rich and Why Poor Countries Stay Poor" de Erik S. Reinert.

Do mesmo livro sublinho:

"It became increasingly clear to me that the mechanisms of wealth and poverty had, during several historical periods, been much better understood than they are today. My 1980 Ph.D. thesis attempted to check the validity of Antonio Serra's seventeenth-century theory of development and underdevelopment. Serra is a very important person in this account because he was the first economist to produce a theory of uneven economic development in 1613, his Breve trattato or `Brief treatise'. Very little is known of Serra's life apart from the fact that he was a jurist who wrote a book when he was in jail in Naples. He sought to explain why his home town of Naples remained so poor in spite of its bountiful natural resources, while Venice, precariously built on a swamp, was at the very centre of the world's economy. The key, he argued, was that Venetians, barred from cultivating the land like the Neapolitans, had been forced to rely on their industry to make a living, harnessing the increasing returns to scale offered by manufacturing activities. In Serra's view the key to economic development was to have a large number of different economic activities, all subject to the falling costs of increasing returns. Paradoxically, being poor in natural resources could be a key to becoming wealthy.

...

In the early 1700s a rule of thumb developed for economic policy in bilateral trade, a rule that rapidly spread throughout Europe. When a country exported raw materials and imported industrial goods, this was considered bad trade. When the same country imported raw materials and exported industrial goods, this was considered good trade

...

colonies are nations specializing in bad trade, in exporting raw materials and importing high technology goods, whether these are industrial goods or from a knowledge-intensive service sector."

Depois não se queixem de não sairmos da cepa torta. 

sexta-feira, novembro 05, 2021

"apenas teremos alternância, não alternativa"

"Ireland had joined the European Community in 1973, and massive EC funds had floated into its agricultural sector. However, this had created over-capacity and highly indebted farmers in a very difficult market. [Moi ici: Escreverei mais tarde sobre como isto se relaciona com a notícia recente das 14 concessões para exploração mineira, e com o objectivo da Galp de ser responsável pela produção de 30% do hidróxido de lítio na Europa]

...

[Moi ici: A 9 de Janeiro de 1980 o primeiro-ministro irlandês, Charles Haughey, proferiu à nação o discurso que se segue ...] I wish to talk to you this evening about the state of the nation's affairs and the picture I have to paint is not, unfortunately, a very cheerful one. The figures which are just now becoming available to us show one thing very clearly. As a community we are living way beyond our means ... we have been living at a rate which is simply not justifiable by the amount of goods and services we are producing. To make up the difference we have been borrowing enormous amounts of money, borrowing at a rate which just cannot continue. A few simple figures will make this very clear ... we will just have to reorganize government spending so that we can only undertake those things we can afford."

Como não recordar Peres Metelo e o seu:

"vivemos abaixo das necessidades da economia"

Conhecem algum político português no activo capaz de fazer um discurso similar a esta nação endividada e estagnada numa rotunda há cerca de 20 anos? Nogueira Leite no JdN de ontem citou:

"a economia portuguesa está hoje 75 por cento abaixo do nível que registaria caso tivesse continuado a crescer desde 2002 de acordo com a tendência prévia a esse momento"

Ganhe esquerda, ou ganhe direita, apenas teremos alternância, não alternativa. Alternativa implica olhar olhos nos olhos e dizer coisas que os eleitores não vão gostar de ouvir.

Trechos retirados de "How Rich Countries Got Rich and Why Poor Countries Stay Poor" de Erik S. Reinert.

quinta-feira, novembro 04, 2021

"pedir dinheiro emprestado para importar "

À atenção dos que acham que pedir dinheiro emprestado para importar é um modo de vida sustentável:

"Spain as a frightening example of what not to do

From the mid-1500s the theatre of Europe provided further elucidation in economic theory and policy, setting an example of what a country should not do. Spain had long been an important industrial state. `In Europe, to describe the best silk one once said "the quality of Granada". To describe the best textiles one once said "the quality of Segovia",' wrote a Portuguese economist in the 1700s. By then Spanish manufacturing industry was history and the mechanisms that had diminished its manufacturing capacity and its wealth in tandem were eagerly studied across Europe. Their conclusions on what had happened were virtually unanimous.

The discovery of the Americas led to immense quantities of gold and silver flowing into Spain. These huge fortunes were not invested in productive systems but actually led to the de-industrialization of the country. The landowners primarily profited from the `funnel of gold' from the Americas, as they had a monopoly on the export of oil and wine to the growing markets of the New World. The supply of such goods is highly inelastic, and subject to diminishing rather than increasing returns. To increase production, particularly to make new olive trees yield as old ones, takes a long time. This expansion would produce the opposite of increasing returns, that is, diminishing returns which cause the cost of production per unit to rise rather than fall. The result of the increased demand was consequently a sharp increase in the price of agricultural products. At the same time, nobility owning land were exempt from paying most taxes, so the tax burden fell increasingly on the artisans and manufacturers. Their competitiveness was, on the other hand, already being squeezed by the rapid rise of prices of agricultural goods in Spain. This undid the synergies and division of labour in Spanish cities, causing a de-industrialization from which Spain only finally recovered in the nineteenth century. Successful states protected manufacturing industry, unsuccessful Spain protected agriculture to the extent that it killed manufacturing.

...

We find the following observation in Giovanni Botero's work on what causes the wealth of cities: `Such is the power of industry that no mine of silver or gold in New Spain or Peru can compare with it, and the duties from the merchandise of Milan are worth more to the Catholic King than the mines of Potosi and Jalisco." Italy is a country in which ... there is no important gold or silver mine, and so is France: yet both countries are rich in money and treasure thanks to industry.'

In various forms, the statement that manufacturing was the real gold mine is found all over Europe from the late 1500s through the 1700s. After Botero we find this expressed by Tommaso Campanella (1602) and Antonio Genovesi (in the 1750s) in Italy, by Geronimo de Uztariz in Spain (1724/1751) and by Anders Berch (1747), the first economics professor outside Germany, in Sweden: `The real gold mines are the manufacturing industries'."

Trecho retirado de "How Rich Countries Got Rich and Why Poor Countries Stay Poor" de Erik S. Reinert.

quarta-feira, novembro 03, 2021

Falta de trabalhadores? E salários? Back to Cavaco, Setembro de 1992

No JdN de ontem um artigo de 2 páginas intitulado “Mobiliário desespera à procura de 5 mil trabalhadores”.

Um tema relacionado com alguns postais publicados aqui no blog na última semana:
Sublinhei algumas passagens do artigo e criei o mapa que se segue:




O que é que um cenário destes está a pedir:
  • Aumento dos preços, o aumento da procura por mobiliário nacional é um sintoma de que a relação qualidade/preço está desequilibrada;
  • Aumento dos salários para atrair mais gente para o sector.
Ali ao lado na coluna das citações há uma que gosto muito:

"nature evolves away from constraints, not toward goals"
O meu lado ingénuo e optimista escreveu aqui no blogue:
“Quando a falta de trabalhadores obriga os salários a subirem mais do que a produtividade, as empresas começam a trilhar um caminho perigoso. A minha visão optimista apontou logo a alternativa, subir na escala de valor para que a produtividade aumente mais depressa do que os salários. Ainda recentemente escrevi "Mudar e anichar"”
O título do postal onde escrevi este trecho foi “Uma bofetada que recebo como um aviso”.

Porquê bofetada? Por causa da minha ingenuidade, por causa das raposas trazidas para caçar coelhos australianos. Qual a forma de resolver o cenário lá de cima sem subir na escala de valor e sem aumentar salários? Importar trabalhadores da Ásia.

Assim, abro a porta a outras citações do texto do JdN:



Julgo que estas últimas citações vêm tornar a situação menos linear. E para complicar as coisas acrescento outra que me faz espécie:
Vamos pegar nos dados apresentados no artigo. Por exemplo, Grupo Laskasas, com 435 trabalhadores e a facturar 24 milhões de euros. O que dá cerca de 55 mil euros por trabalhador. Comparemos com a facturação média do sector do calçado em 2018 dividida pelo número de trabalhadores do sector em 2018, cerca de 50 mil euros. Conclusão: custa-me a crer que o sector do mobiliário possa pagar salários elevados.

Pena que o JdN não tenha entrevistado trabalhadores para ter uma visão mais abrangente do contexto.

Custa-me a crer que não haja interessados em entrar numa profissão que pode vir a pagar 2 mil euros por mês limpos. Reparem na resposta à pergunta. O jornalista mostra surpresa por a esse preço não se conseguirem contratar pessoas. E na resposta o presidente da associação do sector explica que não se encontram porque o sector paga bem... há aqui qualquer coisa que não consigo processar. Parece ao nível do antigo presidente da câmara de Guimarães em 2008.

Sinto-me invadido por um pessimismo ao estilo de Cavaco a 25 de Setembro de 1992.

terça-feira, novembro 02, 2021

A propósio da bazuca

Anda muita gente preocupada com o risco do dinheiro da bazuca não poder ser aplicado.
Anda muita gente iludida com os dinheiros europeus, não critico quem a eles recorre, surpreende-me é  haver tanta gente que acha que fazem a diferença.

Em Novembro de 2015 escrevi este texto, "Apesar das boas intenções", sobre o uso de subsidios e apoios em empresas inglesas nos anos 80. O meu consciente já se tinha esquecido do texto. Contudo, o meu inconsciente volta e meia faz emergir no palco da minha mente a ideia de que muitos destes apoios são contraproducentes:
"By and large, the inability to distinguish the A and B groups rendered these grants socially counter-productive. The funds flowed selectively into the least viable part of the industry, preventing change, and subsidized competition with the A-group, so slowing its growth."

Na sequência da minha última conversa oxigenadora escrevi aqui no blog:

"Ontem, o meu parceiro das conversas oxigenadoras disse-me que esta história do PRR e do dinheiro da UE para projectos é uma espécie de economia de planos quinquenais. São apresentados projectos feitos em nome das empresas e depois, quem escolhe o que passa e não passa não é o mercado, é uma comissão que avalia os projectos. Quantos empresários, se tivessem o capital consigo, aplicariam o dinheiro nos projectos que apresentam? Quase nenhum, remata ele!"

Vamos lá ver o que acontece ao dinheiro dos subsídios:

Se a empresa tem uma estratégia incorrecta, duas coisas podem acontecer, ou não tem capital ou tem subsídio:

  • Se não tem capital, queima o capital dos sócios e depois fecha,
  • Se recebe o subsídio torra o dinheiro e, ou fecha, ou espera pelo novo subsídio (outra espécie de Ponzi)
Se a empresa tem uma estratégia incorrecta e não a altera, porquê meter lá dinheiro? A estratégia anterior demonstrou a sua falência. A sério, parte importante do subsídio é para ser usado para apoiar a empresa a competir pelo preço de forma artificial.

Se a empresa tem uma estratégia correcta, duas coisas podem acontecer, ou não tem capital ou tem subsídio:

  • Se não tem capital, continua a fazer o seu caminho de forma lenta e segura,
  • Se recebe o subsídio tem hipótese de tirar vantagem do contexto e acelerar o seu crescimento. 

O que dizia o meu parceiro das conversas oxigenadoras na última conversa? Repito:

"Ontem, o meu parceiro das conversas oxigenadoras disse-me que esta história do PRR e do dinheiro da UE para projectos é uma espécie de economia de planos quinquenais. São apresentados projectos feitos em nome das empresas e depois, quem escolhe o que passa e não passa não é o mercado, é uma comissão que avalia os projectos."

Estão a pensar que a comissão que escolhe os projectos é corrupta? E na Inglaterra dos anos 80, também foi isso que aconteceu?  

quinta-feira, outubro 21, 2021

Let that sink in deep

Que comentários?


 



sexta-feira, outubro 15, 2021

Quando o povo estiver maduro os diques e comportas serão abertos

Aprendi com Joaquim Aguiar uma frase que não largo: "O povo tem sempre razão, mesmo quando não a tem"

Entretanto esta semana li e guardei esta frase: "But politicians can only convince us of things we already want to believe."

Há dias li um tweet simples, mas poderoso. só factos:

  • Pagamos 40% de impostos na habitação
  • Pagamos 50% de impostos nos salários
  • Pagamos 60% de impostos nos combustíveis

Socialismo!

Cavaco veio recordar o facto de estarmos a ser ultrapassados pelos países da Europa de Leste (somos a Sildávia do Ocidente) 

Já aqui referi que sou um pessimista-optimista. Quando o povo estiver maduro, mudamos de referencial. Não vale a pena desesperar, há que esperar e ir empobrecendo até que o povo fique maduro. 

Não sou bruxo mas já sei o que aí virá.

Lembram-de da primeira maioria absoluta de Cavaco? No dia seguinte, uma segunda-feira, 20 de Julho de 2017, fui à minha primeira entrevista de trabalho. Uma conversa com um alemão que trabalhava na Chocolates Imperial. A certa altura alguém abre a porta, interrompe a conversa e pergunta ao meu interlocutor se ele viu as imagens das peixeiras em Caxinas a agitar as bandeiras do PSD. Lembram-se desse tempo? Lembram-se do que é que Cavaco fez? Libertou a economia e a sociedade das amarras que o PREC revolucionário tinha criado e impediam o país de crescer. Sou desse tempo. Os bancos só podiam ser públicos, só havia a televisão pública, jornais e empresas estavam nacionalizados, ...  

Estes anos de geringonça são uma espécie PREC institucionalizado, onde ano após ano a capacidade de criar riqueza é esganada em nome da ideologia. 


Quando o povo estiver maduro há-de aparecer alguém que proporá abrir as comportas, libertar os diques e o país voltará a crescer.

Até lá trocar de líderes partidários para melhorar combates de retórica e oratória será mais do mesmo. Mesmo que cheguem ao poleiro, o goa'uld socialista entra dentro deles e fazem o mesmo, só que com a comunicação social assanhada.

Ontem, o meu parceiro das conversas oxigenadoras disse-me que esta história do PRR e do dinheiro da UE para projectos é uma espécie de economia de planos quinquenais. São apresentados projectos feitos em nome das empresas e depois, quem escolhe o que passa e não passa não é o mercado, é uma comissão que avalia os projectos. Quantos empresários, se tivessem o capital consigo, aplicariam o dinheiro nos projectos que apresentam? Quase nenhum, remata ele!

E eu fiquei a pensar na solução grega, aproveitar a bazuka para financiar o estado e baixar os impostos... ou seja, dar ao mercado a capacidade de escolher.

sexta-feira, maio 28, 2021

Mudar? Come on

Todos sabemos que Passos Coelho chamou a troika.*

Todos sabemos que aplicou a austeridade porque quis.*

Todos sabemos que havia outra alternativa.**

Quando um país chega à situação de pré-bancarrota e precisa de mais dinheiro tem de acordar as condições em que quem empresta aceita conceder mais um empréstimo.

O governo de Sócrates negociou as condições e chegou-se a um acordo.

Houve eleições, outro governo foi constituído e teve de aplicar o acordado.

Com o país à beira do abismo seria de esperar que o país mudasse de vida. E enquanto a troika andou por cá assim foi, ou antes assim parecia. À primeira oportunidade, assim que surgiu um alívio, voltámos às velhas práticas indiferentes ao destino onde nos voltarão a levar. Não é uma questão de se, mas de quando.

Interessante como no caso grego o acordo e a mudança foi feita pela extrema-esquerda e uma vez finda a legislatura o novo governo continuou o mesmo projecto. E agora, pasme-se, parte importante do dinheiro da bazuca para a Grécia será para ... compensar a baixa de impostos. Já estão no bom caminho e vão voltar a ultrapassar Portugal.

Nós por cá já estamos, no que depende de nós, pior do que em 2011. Confesso que não sei como será quando aquilo que não depende de nós, política do BCE e taxas de juro, tiverem de mudar forçados pelas circunstâncias.

Tudo isto a propósito da conversa com João César das Neves ontem. Alguém que ao fim de 30 anos percebeu que não mudamos ponto. Por isso, não perde tempo à espera que mudemos. Talvez por aquilo a que Nuno Garoupa chama de “displicência de Bruxelas”.

Entretanto, esta manhã na minha caminhada matinal leio este texto e percebo que tudo se encaixa em mais uma mensagem do Cosmos para me educar acerca da natureza humana.

"In his book Change or Die, Alan Deutschman reports a truly amazing statistic: After undergoing coronary artery bypass grafting, most people—not surprisingly—attempt to improve their health by undertaking radical changes to their lifestyle, for example eating a healthier diet or quitting smoking or exercising more. However, people slowly start to drift back to old habits and—here is the amazing thing—90 percent end up with the same lifestyle as before within two years of their operation. Take a moment to absorb this information. There are two insights that immediately pop out. First, change is hard. It is so hard that even fear of death is not enough to convince people to change for good.”

Trecho retirado de “Organizing for the New Normal” de Constantinos Markides


* Para os mais distraídos, estou a ser irónico.

** O "amigo" bicicletas já virou adepto da TINA (there is no alternative), o tal que durante a troika dizia que a solução era o crescimento.

quarta-feira, maio 26, 2021

A economia das carpetes e dos biombos no Observador a vivo e a cores

A propósito deste tweet:

Lembrei-me da relação estranha que o nome Espírito Santo tem com a concorrência. Por isso, a minha mente recuou a 2007 e a este postal "Big Man economy em todo o seus esplendor".

A certa atura nesse postal escrevi:
"Esta argumentação é tão ridícula, tão ridícula... escolhem os negócios protegidos da concorrência internacional, apostam nas indústrias de bens não transaccionáveis, e depois quando a maré muda, não sabem o que é competir num mundo de excesso de oferta, virando-se logo para o papá estado!!! 

Bem vindos ao mundo quotidiano do senhor Manel merceeiro, da dona Elvira operária, do senhor Andrade pescador, dos agricultores, dos industriais que não jantam com o poder, dos empresários sem contactos telefónicos nos governos."

Este último sublinhado tem presença assídua no blogue quando refiro a economia das carpetes e dos biombos (2021), ou em 2009

Esta manhã no programa "Explicador" da rádio Observador oiço Correia de Campos ao minuto 13:27 descrever como é fácil a um grande empresário (quem segue este blogue que para mim grande empresário, ou grande empresa, não é a mesma coisa que empresário grande, ou empresa grande. Por exemplo, para mim um verdadeiro grande empresário - adjectivo não substantivo - não telefona a ministros ponto) telefonar a um ministro da Economia, ou da Segurança Social para resolver os seus assuntos. E Correia de Campos disse isto com a maior naturalidade...

sábado, maio 22, 2021

Preservação versus destruição


Via Dinheiro Vivo, numa coluna de opinião assinada pelo presidente da CIP, descubro que a CAP, a CCP, a CIP, a CPCI e a CITP criaram o Conselho Nacional das Confederações Patronais.

Leio que "as duas preocupações são, no imediato, a preservação do tecido produtivo existente e, numa visão de médio e longo prazo, enfrentar os problemas que travam a produtividade, a competitividade e o crescimento das empresas."

A preservação do tecido produtivo existente ... onde isto nos pode levar. Levantar barreiras à entrada, como o apoio do governo de turno? Apoios e subsídios?

Depois, relaciono "que travam a produtividade" e "preservação do tecido produtivo existente" e penso que é, em certa medida um oxímoro, se eu confiar nas ideias de Taleb e de Maliranta. Depois, relaciono "preservação do tecido produtivo existente" com o meu grito "DEIXEM AS EMPRESAS MORRER!" como condição indispensável para aumentar a produtividade. Relaciono também a preservação com o dilema entre resistir ou abraçar a mudança.

Podem pensar: 
"Essa é só a sua opinião. Você é um anónimo da província. Quer saber mais do que quem comanda estas associações?"

Aceito o reparo com humildade, e vejo que ele me leva para outra parte do texto:
"As causas comuns que nos unem são claras:
- O primado da iniciativa privada e da economia de mercado;
- A defesa das empresas e a promoção do empreendedorismo;
- A dignificação dos empresários e a valorização dos seus colaboradores;
- O crescimento da economia e a partilha da riqueza criada.
Os desafios transversais que as empresas têm pela frente estão, também, identificados:
- Recuperar clientes e mercados;
- Aumentar a competitividade à escala internacional;
- Captar e reter recursos humanos com as competências adequadas;
- Alcançar estruturas financeiras mais sólidas;
- Adequar os novos investimentos aos novos desafios, acelerando a introdução de novas tecnologias."
Sei que nestas coisas é mais forte do que eu, sou um cínico. Sem ver objectivos específicos mensuráveis e uma janela tempral para os atingir começo logo a pensar que é tudo treta... que objectivos assumem para avaliar o resultado da nova instituição?

No dia em que assumirem objectivos, metas e janelas temporais podemos avaliar quem tem razão, até lá é retórica e oratória.

Até lá continuo a preferir a destruição criativa.

quarta-feira, maio 19, 2021

A Resistência


Ontem de manhã, a conduzir para Felgueiras, ouvi este trecho no sistema audio do carro:
"Frames not only guide us to our goals, they shape our broader worldview. Seeing the world through a particular cognitive lens may gradually turn into a more general dimension of one’s reasoning. In a 2010 experiment in Ethiopia, researchers changed people’s perspectives so that they could see they had control over their future. The result was that those people saved more and invested in their children’s education, suggesting tangible benefits from altering the way one frames things. It also highlights how mental models can have a powerful impact on economic development."
Mal cheguei a casa à noite fui à procura no livro se havia alguma referência bibliográfica para o estudo... estupidamente não!

Quando ouvi o trecho acima a minha mente começou logo a juntar peças de um puzzle... 
  • portugueses não poupam...
  • cultura portuguesa é adepta do estúpido "só se pode fazer o que está na lei. Se não está na lei, não se pode fazer
  • ter visto num programa no canal História, na noite anterior, como é que a maioria dos judeus reagia nos anos 30 na Alemanha nazi à progressiva publicação de leis contra eles - resignação e apatia
Eu acredito que a maioria das pessoas neste país se vê como impotentes folhas levadas na corrente... os que fogem à regra emigram, ou são estúpidos como eu e preferem viver na Resistência.


sábado, maio 08, 2021

A economia das carpetes e biombos

Ontem de manhã cedo apanhei este tweet:

Algo em linha com o que penso há muitos anos e que costumo traduzir pela diferença entre os que conhecem as carpetes e os biombos do poder e os que não têm acesso a esses espaços.

Esta postura "friends of business" ilustra-se be assim:

"A igualdade socialista nota-se nestes pequenos pormenores. De um lado, o pequeno empresário, ou agricultor, agoniza na fila da Câmara Municipal pelo requerimento que lhe permite pagar a licença e aprovar o pedido de informação prévia à CMO, à REN, à RAN, ao PNSACV, ao ICNF, à DRAPAL, para, com sorte, passados 5, 6 ou 7 anos, isto no caso de ainda não ter ido à falência, conseguir levantar o carimbo que lhe tolera a submissão do projecto definitivo, com o qual, de calças e carteira na mão, terá que percorrer de novo todas as capelinhas burocráticas, sempre pagando as respectivas taxinhas, guiado pelo sonho de um dia começar a obra, isto enquanto o calvário persegue e se esconde à espreita a cada esquina processual. Do outro lado, o dono e investidor do Zmar, um lisboeta a quem não fixei o nome, chegou, viu e construiu. Porquê? Porque vinha munido de autorização especial governamental, o tal PIN, com direito a apoio e via verde burocrática. Para esse, tudo; para os outros, os enteados, aqueles que não conhecem nem ministro nem secretário de estado, a esses sobrou então testemunhar a edificação em tempo recorde do sacrilégio urbanístico que ali se foi semear."

Trecho retirado de "Aos amigos tudo, aos inimigos a lei

 

sexta-feira, maio 07, 2021

No reino do absurdo


Houve um tempo em que os políticos defendiam um jogo do gato e do rato entre os aumentos dos salários e o aumento da produtividade.

Depois, começaram a surgir vozes a defender que os salários deviam ser aumentados independentemente do aumento da produtividade. O racional era, se as empresas não conseguem aumentar a sua produtividade acime de um valor X que fechem! Posso não concordar com este racional, mas é um racional defensável.

Agora chegamos ao domínio do absurdo. Os políticos aumentam o salário mínimo e, depois, com medo das consequências criam subsídios para ajudar as empresas que não o podem pagar. Pensam que estou a inventar? Estou a falar a sério! Isto é do mais absurdo que já encontrei em toda a minha vida - "Pedro Siza Vieira. Compensação pelo aumento do salário mínimo vale "84,5 euros por posto de trabalho".

Faz-me recuar a 2009 e à inconsistência estratégica, uma violação do primeiro principio de Deming.

Alguns textos sobre o tema da produtividade e salários:

sexta-feira, agosto 28, 2020

Gamers' paradise

"The economy, then, can best be viewed as a rapidly evolving and potentially unstable natural social system, in which intelligent players transact for their personal gain according to rules and processes that they design to facilitate those transactions—through laws, regulations, and the application of technologies. This creates the possibility that adaptive behavior turns into gaming, as individuals transact in the system in ways that suit their own immediate ends but subvert the system as a whole. And as we’ll see in the pages that follow, the smart people always figure out how to game the system and any attempts we make to change the rules in order to prevent the small number of smart players from walking off with all the rewards are doomed to end in failure.
...
In addition to the size of the prize, gamers are attracted by the duration of the payoffs: that is, the number of years the gaming effort will be effective before the system adapts again to eliminate it. The longer this period, the more likely it is that gamers will invest in gaming.
...
When it comes to probability of success, upward and downward spirals take shape quickly. If a system shows itself susceptible to gaming, more gaming investments will be made, because the heightened expectation of success makes those investments more attractive. If early gaming efforts fail, the assumed probability of success falls, curtailing gaming investments."
Ler isto ontem para hoje de manhã me chamarem a tenção para isto "Pagamentos indevidos de prestações sociais superam 1,5 mil milhões".

Outro exemplo? Aqui vai: "Portugal trouxe mais de mil milhões da Europa para a investigação". Holofotes focados nas entradas. Quantos números, quantas perguntas, quanta curiosidade se foca nas saídas? O que é que esse dinheiro gera de retorno sustentável 3 anos após o fim de cada projecto?

Trechos retirados de “When More Is Not Better” de Roger Martin.

Reputações

"When it comes to probability of success, upward and downward spirals take shape quickly. If a system shows itself susceptible to gaming, more gaming investments will be made, because the heightened expectation of success makes those investments more attractive. If early gaming efforts fail, the assumed probability of success falls, curtailing gaming investments. This is the reason why, historically, the island nations of Singapore and Hong Kong have worked hard to gain reputations for low probabilities of gaming success in their jurisdictions in comparison with the jurisdictions around them. Spending there to influence government policy decisions has been considered a poor investment, because the probability of payoff is just too low.
Relacionar com "Consultora coloca Portugal como o 5.º país mais corrupto do mundo"

Trechos retirados de “When More Is Not Better” de Roger Martin.

quinta-feira, fevereiro 13, 2020

Uma espécie de esquema Ponzi


Às vezes fico a pensar que um número demasiado elevado de empresas vive à custa de um esquema Ponzi.

Fazem negócio com um cliente apesar de perderem dinheiro. Depois, quando chega a hora de pagar as contas é com o dinheiro recebido do cliente seguinte, e assim sucessivamente. Quando, por qualquer motivo, o próximo cliente ou o outro a seguir não aparecem... não há qualquer almofada que ampare o choque. O choque é brutal e mortal. O choque é tanto mais violento quanto mais longo o período anterior de bonança.

Imagino o ministro dos Negócios Estrangeiros, Santos Silva, a sorrir e a dizer Q.E.D.

Como se o governo fosse diferente do "magma" de onde emerge:
"Portugal fechou o ano de 2019 com uma dívida pública de 249,74 mil milhões de euros, montante que representa um agravamento real de 600 milhões de euros relativamente ao valor contabilizado no final de 2018, informou o Banco de Portugal em nota de informação estatística divulgada segunda-feira em Lisboa."