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terça-feira, outubro 28, 2008

Resiliência

Segundo o Diário Económico "Belmiro de Azevedo preferia investimentos mais pequenos às obras públicas"
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"O chairman da Sonae, Belmiro de Azevedo, preferia "300 investimentos mais pequenos de 100 ou 200 milhões de euros", do que "dois ou três que levem muitos mil milhões" e que obriguem à importação de mão-de-obra, referindo-se ao programa de obras públicas do Governo."
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A isto chama-se não por todos os ovos no mesmo cesto. Mais uma vez:
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Em tempos de elevada incerteza o truque é emular a Vida, a Natureza na Terra: promover a biodiversidade, promover várias experiências.

sábado, outubro 25, 2008

A crença no Gande Planeador

A propósito disto "Este é o momento para o Estado agir" e da fixação no programão de obras públicas (ou, como designa Medina Carreira, pacotão do betão).
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Era interessante que alguém contasse ao primeiro ministro o exercício de humildade intelectual que Kepler nos deixou. Kepler acreditava no Grande Geometra, no Grande Planeador... por fim, perante as evidências, abandonou essa crença.
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""A recession is intrinsically a time of uncertainty so the government cannot know for certain that any of the big projects it orders will actually be necessary or useful a few years down the line; ministers do not know which parts the economy will sink or flourish."
John Greenwood, chief economist at Invesco Perpetual, said: "Japan tried to spend its way out of recession in the 1990s and the result was nothing except huge debt. Private firms will not be able to improve their own balance sheet if the government gets to the table first." " (aqui)
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Era importante que alguém segredasse ao primeiro-ministro que o yene barato e a 0% de taxa de juro acabou... (alguém que lhe faça um desenho sobre as consequências do fim do cash carry trade).
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Em tempos de incerteza a melhor opção é emular a Vida. A Vida no planeta é extremamente resiliente pois assenta numa fabulosa biodiversidade. Assim, por cada 100 opções que falham, há n outras opções que florescem. As palavras não são minhas são de Gary Hamel e Liisa Valikangas no artigo "The quest for resilience" na Harvard Business Review em Setembro de 2003:
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"Life is the most resilient thing on the planet. I has survived meteor showers, seismic upheavals, and radical climate shifts. And yet it does not plan, it does not forecast, and, except when manifested in human beings, it possesses no foresight. So what is the essential thing that life teaches us about resilience?
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Just this: Variety matters. Genetic variety, within and across species, is nature's insurance policy against the unexpected. A high degree of biological diversity ensures that no matter what particular future unfolds, there will be at least some organisms that are well-suited to the new circumstances."
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Se apostamos tudo em meia dúzia de tiros de alto calibre estamos a correr um risco desnecessário como comunidade.

sábado, agosto 02, 2008

A ler

Dedicado a todos aqueles que acreditam no Grande Planeador, no Grande Geometra:
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"A DIRECÇÃO COMERCIAL", por João Miranda no DN de hoje.

quarta-feira, julho 02, 2008

Diversidade, diversidade, diversidade

Os partidários de Kepler (pré-Brahe), os crentes no Grande Planeador, os defensores do Grande Geometra, acreditam que um governo tem a capacidade para saber quais são os sectores do futuro, tem a clarividência e o acesso a informação total e completa sobre o futuro.
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Já aqui citei várias vezes Hamel e Valikangas no artigo "The quest for resilience" na Harvard Business Review em Setembro de 2003:
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"Life is the most resilient thing on the planet. I has survived meteor showers, seismic upheavals, and radical climate shifts. And yet it does not plan, it does not forecast, and, except when manifested in human beings, it possesses no foresight. So what is the essential thing that life teaches us about resilience?
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Just this: Variety matters. Genetic variety, within and across species, is nature's insurance policy against the unexpected. A high degree of biological diversity ensures that no matter what particular future unfolds, there will be at least some organisms that are well-suited to the new circumstances."
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Nesta linha encontrei o artigo "Economic Diversification":
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"GDP should be distributed across economic sectors"
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"Poor economic diversity is linked to low productivity and competitiveness.
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High economic concentration leads to volatile growth and fluctuating economic cycles.
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Volatility in concentrated economies may spawn structural unemployment issues and engender systemic risks."
External trade (exports of goods and services) helps reduce economic volatility.

sexta-feira, maio 09, 2008

Muitas ideias - não uma crença única

Um dos meus livros preferidos (caro Raul) é da autoria de Karl Popper e chama-se “Em busca de um mundo melhor”.
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Lembrei-me desse livro, por causa do artigo do Jornal de Negócios que referi neste postal “A tentação (nacional)-socialista”.
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O décimo-quinto capítulo intitula-se “Em que acredita o Ocidente?”, seguem-se alguns trechos:
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“Em que acredita o Ocidente?”
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“Se nos interrogarmos com seriedade sobre aquilo em que acreditamos e procurarmos responder com honestidade, a maioria de nós terá de admitir que não sabe exactamente em que deve acreditar. A maioria de nós passou pela experiência de ter acreditado nuns ou outros falsos profetas, e por influência desses profetas, nuns ou noutros falsos deuses. Todos nós vimos as nossas crenças abaladas, e aqueles poucos cuja fé atravessou incólume todas as perturbações, terão de admitir que não é fácil, hoje, saber em que acreditamos no Ocidente.
Esta minha observação de que não é fácil saber em que acredita o Ocidente talvez soe demasiado negativamente. Conheço muito boa gente que considera uma fraqueza do Ocidente não termos nenhuma ideia-mestra, comum, nenhuma crença única que possamos contrapor, orgulhosamente, à religião comunista de leste (este texto é retirado de uma conferência proferida em 1958 em Zurique).
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Esta opinião generalizada é absolutamente compreensível. Mas considero-a estruturalmente falsa. Deveriamos orgulhar-nos sim por não termos uma ideia, mas muitas ideias, boas e más; por não termos uma crença, uma religião, mas várias, boas e más. É um símbolo da vitalidade superior do Ocidente o facto de podermos permitir-nos isto. A unificação do Ocidente assente numa ideia, numa crença, numa religião representaria o fim do Ocidente, a nossa capitulação, a nossa submissão incondicional a uma ideia totalitária.

É sobretudo a ideia de uma ideia única, a crença numa crença única e exclusiva. Uma vez que me defini como um racionalista, é meu dever chamar a atenção para o facto de o terror do racionalismo, da religião da razão, ser, se possível, mais grave ainda do que o fanatismo cristão, maometano ou judeu. Uma ordem social puramente racionalista é tão inviável quanto uma ordem social puramente cristã, e a tentativa de realizar o impossível conduz, neste caso, a monstruosidades pelo menos tão graves. O melhor que se pode dizer do terror de Robespierre é que foi relativamente efémero.
Esses entusiastas bem intencionados que sentem o desejo e a necessidade de unificar o Ocidente sob a liderança de uma ideia inspiradora, não sabem o que fazem. Ignoram que estão a brincar com o fogo – que é a ideia totalitária que os atrai.
Não, não é da unicidade de ideias, mas da sua multiplicidade, do pluralismo, que nos devemos orgulhar, no Ocidente. E à pergunta “Em que acredita o Ocidente?” podemos dar agora uma primeira resposta, provisória. É que podemos afirmar orgulhosamente que no Ocidente acreditamos em muitas e diversas coisas, em muitas coisas verdadeiras e em muitas coisas falsas. Em coisas boas e em coisas más.

quinta-feira, maio 08, 2008

A tentação (nacional)-socialista

Por que é que as pessoas confundem um país com uma empresa?
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Uma empresa pode ter e deve "ter tem um plano estratégico definido, baseado numa visão do seu negócio e das suas capacidades e fraquezas, que determina os objectivos a serem alcançados e a forma de os alcançar", agora um país com um plano?
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Isso é socialismo científico puro e duro!!!
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Um país precisa é da diversidade de milhares, de milhões, de planos individuais, não da monocultura soviética do plano quinquenal. Enfim, a tentação nacional-socialista do Grande Plano, que tem sempre por trás um Grande Planeador, continua viçosa por cá (desde o tempo do Marquês de Pombal).
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A propósito do artigo de opinião "A violência e a falta de visão estratégica", assinado por Bruno Bobone no Jornal de Negócios de ontem, inscreve-se numa cultura kepleriana pré-contas e observações de Tycho Brae, a crença no Grande Planeador e no Grande Geometra.
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Por mim, prefiro a humildade de governantes como Bloomberg: "It's hard to be a mayor. You don't get to be in charge, really. You can help set the table, and then get out of the way and let the village/city function the best you can." (Acabaram de ler este texto sublinhado? Estão a ouvir um barulho? Sim? Moi aussi! É o Marquês de Pombal a dar voltas no caixão.

domingo, fevereiro 10, 2008

Esqueçam o governo, este e os outros que lhe sucederão!

A frase é erradamente atribuída a Ronald Reagan, porque fazia parte do refrão de uma canção muito popular, entre os judeus do guetto de Varsóvia, durante o cerco alemão.
Durante séculos os judeus foram tolerados na Europa Central, nos intervalos entre os "progroms", desde que respeitassem várias condições, uma delas era a de não usar armas.
Quando os alemães atacaram o guetto, os judeus recorreram às armas. O refrão era:

Se não formos nós, quem?
Se não for agora, quem?

Se não fossem eles a lutar pela sua própria vida, quem o faria por eles?
E se não fosse naquele momento excepcional... então quando é que tal se justificaria?

Tudo isto a propósito do artigo "Uma crise sem fim numa região marcada pelo desemprego" assinado por Natália Faria, no Público de hoje.

"O Vale do Ave tem mais de 500 mil habitantes e uma taxa de desemprego de quase 14 por cento, o dobro da média nacional

Fábricas a encerrar, salários em atraso, jovens qualificados sem trabalho, mulheres acima dos 45 anos que já perderam direito ao subsídio de desemprego, homens a emigrar para a Galiza em busca de trabalho. O diagnóstico no Vale do Ave pouco mudou nos últimos anos."

Qual a SOLUÇÃO?

Há gente que ainda acredita no Grande Planeador, no Grande Geometra, no papá estado!!!

"acusa o Governo de José Sócrates de ter votado a região ao esquecimento. "Por várias vezes desafiámos o primeiro-ministro a vir visitar a região, mas ele nunca veio. Há três anos que andamos a pedir coisas e não acontece nada. Esta região precisa de medidas urgentes que ajudem a minorar os efeitos da crise", alerta Castro Fernandes, incitando José Sócrates a carrear "grandes investimentos públicos" capazes de dinamizar uma região que soma mais de 500 mil habitantes."

E ainda:

"Para Castro Fernandes, o Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) é o momento para que José Sócrates mostre que quer "dar a mão" ao Vale do Ave."Atendendo a que a Região Norte conta receber oito mil milhões de euros, segundo as mesmas regras de proporcionalidade, o Ave tem direito a pelo menos mil milhões", lança, em tom de alerta, convicto de que a região "conseguirá ser concorrencial e apresentar projectos válidos". " (Quem será esta região?)

"À margem disso, na óptica de Castro Fernandes, a regionalização surge como a derradeira esperança para a região." e ""A formação é fundamental e, além disso, a rede nacional de estradas precisa muito de apoios, assim como a área da saúde", especifica. "

34 anos depois de 1974 e they still don't get it!!!!

Gente sem ideias, gente sem pistas, gente que continua a acreditar que o papá estado é que tem de tomar conta dos portugueses.

Nunca saíremos da cepa torta enquanto acreditarmos que o planeamento central, ou regional, ou municipal é que vai ser capaz de criar uma economia competitiva... to hell with that. Como é que gente que não se sabe governar e que acumula défices atrás de defices, e que só se aguenta à custa do saque arrancado aos pobres saxões impostados, tem engenho e arte para criar uma economia competitiva?

Já estou a imaginar os mil milhões reivindicados para o vale do Ave a serem utilizados na construção de rotundas, na organização de festas, romarias e espectáculos culturais, na formação profissional que enche pneus, na criação de empresas municipais, e tudo melhora até que... acabam os mil milhões, e como a coisa não é sustentável, volta tudo à estaca zero, ou abaixo de zero, pois agora as expectativas são maiores. Estes subsídios são venenosos, são letais, porque impedem que a necessidade aguce o engenho.

Na página seguinte, o presidente da câmara municipal de Guimarães não é mais feliz:

"O Governo terá que ponderar seriamente o que fazer às pessoas que não encontram alternativa. ...
Por isso, há-de haver aqui qualquer coisa que permita conceder um apoio a essas famílias, em troca de um trabalho para a comunidade, por exemplo...
Mas penso que àqueles desempregados aos quais não é possível dar mais formação - porque a formação de base é tão baixa que não dá para dar um salto qualitativo mínimo para outro lado - o Governo poderá dar uma contribuição em troca de um trabalho compatível ao nível do interesse público: quatro horas por dia nas câmaras, nas escolas, nos tribunais, nas juntas e freguesia... Outro problema igualmente complexo é o dos jovens que têm formação e não encontram trabalho no mercado. Infelizmente, neste momento, não há na região trabalho qualificado para acolher essa mão-de-obra...
Nós precisamos de um centro de formação profissional e tenho confiança que o vamos conseguir, para dar um sinal às pessoas que é possível, em função das capacidades que têm, orientarem a sua formação em função da empregabilidade que existe."

Como é possível ter um discurso destes nos tempos que correm? O homem sabe de onde vem o dinheiro? O homem sabe que o dinheiro não é elástico? O homem sabe como se cria riqueza? O homem alguma vez teve de queimar as pestanas para assegurar o seu salário no final do mês?

O homem não vê que na mesma frase diz que o problema é a falta de formação, e logo a seguir diz que quem tem formação também tem um problema?
...
Basta ir à internet, ela diz tudo....
O presidente da camara de Guimarães nasceu em 1944, licenciado em História, foi professor!
Aos 32 anos foi para a assembleia da republica como deputado.
Aos 43 anos deixou de ser deputado, para aos 45 anos ser eleito presidente da camara de Guimarães - lugar que ocupa até à data.

Por que é que esta gente, que só sabe gerir dinheiro que não tem de ganhar, não reconhece humildemente que o seu negócio não é gerar riqueza. Por que é que esta gente não se concentra em: primeiro qual o tipo de empresas que queremos ter nossa região? Segundo (não dar subsídios descriminadores a ninguém mas) perguntar ao mercado que condições precisamos de criar na região para que ela seja atraente, para que empresas criadoras de riqueza sustentada se instalem na região. Como diz este artigo que não me canso de recomendar a leitura: "In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."
Como o Público refere, a primeira parte está em curso, agora falta a segunda parte, e essa só pode ser feita por agentes económicos privados, mas privados a sério, não dos que vivem de rendas de negócios concedidos pelo estado

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Se não serve para uma padaria... como serve para um país?

Do livro “Retailization – Brand Survival in the Age of Retailer Power” mais um prego no caixão de quem acredita no Grande Geometra, no Grande Planeador:

“A couple of months ago we attended a conference on integrated communication, where one of the speakers posed the following question to the audience: “What is the most important success factor for a bakery shop?” After a couple of clearly wrong answers, he stated that of course the person behind the counter was the factor: that is, the company’s employees. We beg to differ! Haven’t we moved beyond strategic one-liners? Aren´t we all now aware that there is no such thing as a single-focused reason for a company’s success? What about the bakery shop’s location? What about the proximity of the nearest competitor? What about the baker’s shoppers? What are they looking for? What kind of bakery shopping experience are they craving? Or what about the bread and the cakes on the shelves? Are they of high quality? Are they value for money? Are they the right kind? Are there long lines when you need to buy? Do they sell out quickly? And so on. Any business is a complex and dynamic one. There is no single solution, only constantly changing challenges and priorities. The only constant is change! However, there is one overriding objective you should always focus on: creating sale(s). Because everything you do stems from this one simple objective.”

Se para uma simples padaria há que considerar todos estes factores e variáveis… como compreender que ainda exista gente que acredita numa solução mágica, numa solução única, para um país!!!

domingo, dezembro 02, 2007

Ainda a propósito de quem crê na solução mágica única.



Algures, no início da década de noventa do século passado, ainda antes dos meus trinta anos, passei por uma experiência que me perturbou. Durante uma reunião com várias pessoas, de repente, dei conta de que não conseguia deixar de olhar para um dos participantes como mais um ser humano.
Olhava para ele e via-o como se estivesse a olhar para um extra-terrestre pela primeira vez, olhava para a forma e localização dos olhos, olhava para a forma e dimensão daqueles canais a que os humanos chamam nariz, olhava para o tamanho e forma das orelhas, para a dimensão, textura e movimento das sobrancelhas …E foi esta a sensação que voltei a sentir quando olhei para o pormenor deste
vídeo
, ver um ser em detalhe, como se fosse a primeira vez.

Durante os anos que se seguiram, não voltei a lembrar-me dessa experiência, nem a revivê-la. Em 2003, estava acampado num parque de campismo, nos arredores de Barcelona, e voltei a passar por uma experiência “visual” parecida. Estava no balneário a pentear-me, depois de um duche de final de tarde, quando, ao olhar para os pés de alguém que a essa hora fazia a barba, reparei na forma dos seus pés, na dimensão e posição relativa dos dedos … não tinha nada a ver com a forma dos meus pés, era como se pertencêssemos a espécies diferentes …
Naquele período de férias, tempo de maior liberdade, o meu consciente começou a processar a informação e, … tive um momento de epifania!!!

O nosso cérebro, o meu cérebro, não é preguiçoso, é mas é um tarado, um paranóico concentrado na eficiência. Como a largura de banda do nosso estado consciente é limitada, para que o nosso “Eu” consciente não dê “tilt (como nas velhas máquinas de jogos dos anos setenta do século passado), para que o nosso “Eu” consciente não empanque (como um computador antigo, por excesso de dados, “data overflow” como acontecia num filme que vi na televisão, ainda a preto e branco), o meu cérebro trabalha com padrões (com modelos, com arquétipos, com simplificações da realidade) e “engana-me” (sem querer, sem maldade).
Assim, quando olho para a cara de alguém, o meu cérebro vai buscar uma imagem, uma base de dados genérica de pré-conceitos e sobre ela implanta, embebe, aquilo que à primeira vista distingue uma pessoa de outra. Ou seja, vejo mas não vejo, vejo a cara de A e sou capaz de reconhecê-la de entre uma multidão, mas o meu cérebro consciente não perde tempo com pormenores a que no momento não dá importância … por exemplo, falar com alguém cara-a-cara e não perceber que a pessoa, de um dia para o outro, cortou o cabelo.

Provavelmente, aquilo a que convencionalmente se chama um artista, é alguém que tem apurada a capacidade de não se deixar enganar tão facilmente pela sua base de dados de imagens genéricas e que implanta mais informação concreta sobre o seu pré-conceito, quando olha para as coisas. Lembro-me de estar à espera da minha namorada e, para ajudar a passar o tempo, olhar para uma montra de quadros, de uma daquelas lojas incaracterísticas e humildes que povoavam (povoam?) a cidade do Porto, e dar de caras com um quadro que me surpreende: o artista tinha retratado um gato nas suas tarefas diárias de higiene pessoal. O artista tinha retratado um gato, era um gato mas não era um gato. O autor não se tinha preocupado com o pormenor retratista, o autor tinha procurado colocar na tela a essência de ser gato, coisas em que no dia-a-dia eu já não reparava, mas que quando as vi, ali plasmadas na tela, me impressionaram até ao dia de hoje (já lá vão mais de vinte anos): aquilo era “UM GATO”.

Provavelmente, aquilo que se passa com o meu cérebro passa-se com o cérebro das outras pessoas, e se imaginarmos um “cérebro social”, como o pensamento, a forma de ver o mundo que emerge de uma comunidade de seres humanos, também esse “cérebro social” pode ser enganado, de boa-fé(?), por ideias pré-concebidas.

Quando reconhecemos onde estamos, como sociedade, o Hoje, e comparamos com o onde queríamos estar, ou o onde imaginamos que deveríamos estar, ou o onde pensamos que teríamos o direito a estar, o Futuro, constatamos que existe uma lacuna, um hiato:
Depois, porque somos humanos, pensamos logo em soluções para colmatar esse hiato.
Mas porque não temos experiência no terreno, mas porque vivemos de preconceitos, mas porque não estamos habituados a investigar e a conjugar factos e teorias em tandem, mas porque temos de apresentar soluções politicamente correctas, mas porque temos um pensamento muito linear e não somos capazes de abarcar o todo, acreditamos que a vida é um puzzle, ou seja, um problema, um desafio com uma solução existente à partida, uma solução que não conhecemos mas que existe, e não um desafio tipo “mess” (à inglesa), uma verdadeira confusão onde “anything goes” …
… por isso, temos tendência a refugiarmo-nos nas Grandes Explicações (se calhar este texto é mais uma delas), nas Grandes Soluções. E como o cérebro social funciona e também nos engana, nas Grandes Simplificações, nos Grandes Mitos:Escondemos e simplificamos a realidade complexa com os mitos. Assim, a culpa dos nossos males é do Outro: seja ele chinês, vietnamita, indiano, romeno, marroquino, o Outro. A culpa dos nossos males é da legislação laboral, dos empresários, dos impostos, dos trabalhadores, do governo, …

Ando a frequentar uma acção de formação sobre Inteligência Emocional. Daniel Goleman define: “Inteligência Emocional significa conhecer as nossas emoções, gerir os nossos sentimentos, motivarmo-nos a nós próprios, reconhecer as emoções dos outros e gerir relacionamentos …”

Por que não somos capazes de reconhecer no Outro aquilo que já fomos? Nós também, algures nos anos setenta e oitenta do século passado, já fomos o Outro dos trabalhadores têxteis alemães, dos trabalhadores do calçado franceses!
Por que nos refugiamos em mitos: o Plano Tecnológico; a Formação Profissional; a Invasão Chinesa?

Há vinte e cinco anos, como refere Tom Peters no início deste podcast, os americanos temiam o poder económico japonês. Em vez de se fecharem, em vez de copiarem, mudaram as regras do jogo, “anything goes"!!!

Aspiro a viver num país - e procuro contribuir para isso - onde se oiçam menos as vozes de
chorões mimados e mais as vozes dos sonhadores que criam mundos novos, que criam novas oportunidades, que desenham, como os artistas, pequenas soluções, milhões de soluções. Destas, umas falham, outras têm sucesso e outras TÊM UM GRANDE SUCESSO. Só que o sucesso nunca é eterno, é sempre transitório, e cada vez mais transitório (HYPERCOMPETITIVE PERFORMANCE: ARE THE BEST OF TIMES GETTING SHORTER? de Robert R. Wiggins).
A culpa não é de ninguém, é a vida, dizia Guterres e escrevia Shakespeare…

Como dizia Mao(?) “Que milhões de flores desabrochem!”
Que milhões de tentativas surjam, que milhões de pequenos planos apareçam, muitos hão-de perecer, alguns hão-de ter sucesso e ainda outros hão-de ter muito sucesso. Pequenos planos são mais flexíveis, são mais ajustáveis, são mais realistas e mais próximos da realidade.

A crença mítica NUMA
estratégia mágica, numa estratégia mítica, numa estratégia única, está tão desactualizada… é tão “krushoviana”,!!!
“Hello!” Acordem!!!

A minha leitura das férias de Verão, “The Origin of Wealth” the Eric Beinhocker, conta as experiências de Lindgren e o seu “The Game of Life” combinado com o “The Prisioner’s Dilemma”, as conclusões são … eloquentes, esmagadoramente óbvias “after the fact”:

So who was the winner? What was the best strategy in the end? What Lindgren found was that this is a nonsensical question. In an evolutionary system such as Lindgren’s model, there is no single winner, no optimal, no best strategy. Rather, anyone who is alive at a particular point in time, is in effect a winner, because everyone else is dead. To be alive at all, an agent must have a strategy with something going for it, some way of making a living, defending against competitors, and dealing with the vagaries of its environment.”

O trecho que se segue, faz-nos pensar no choradinho dos coitadinhos, que protestam contra os concorrentes, por serem chineses, por serem espanhóis, por serem …, por existirem.
“Likewise, we cannot say any single strategy in the Prisioner’s Dilemma ecology was a winner. Lindgren’s model showed that once in a while, a particular strategy would rise up, dominate the game for a while, have its day in the sun, and then inevitably be brought down by some innovative competitor. Sometimes, several strategies shared the limelight, battling for “market share” control of the game board, and then an outsider would come in and bring them all down. During other periods, two strategies working as a symbiotic pair would rise up together – but then if one got into trouble, both collapsed.”

And now, the grande finale:
“We discovered that there is no one best strategy; rather, the evolutionary process creates an ecosystem of strategies – an ecosystem that changes over time in Schumpeterian gales of creative destruction.”
Estratégia única foi a perdição de Roma em Canas, estratégia única é aquilo a que a vida tem horror.
""Life is the most resilient thing on the planet. It has survived meteor showers, seismic upheavals, and radical climate shifts. And yet it does not plan, it does not forecast, and, except when manifested in human beings, it possesses no foresight. So what is the essential thing that life teaches us about resilience?
Just this: Variety matters. Genetic variety, within and across species, is nature's insurance policy against the unexpected. A high degree of biological diversity ensures that no matter what particular future unfolds, there will be at least some organisms that are well-suited to the new circumstances."
Poema de Gary Hamel e Liisa Valikangas em "The quest for resilience", Harvard Business Review, Setembro de 2003"


Depois de terminar este texto, em que abordo o uso do pré-conceito, deparo com este postal de Pedro Arroja sobre os preconceitos. Acredito que os preconceitos são perigosos, quando as condições em que eles se formaram, desapareceram, porque induzem comportamentos que já não estão adequados à nova realidade.

“Os preconceitos são regras de acção automáticas que as gerações anteriores nos legaram e que nos permitem economizar muito tempo e outros recursos.” Cá está a questão da eficiência na utilização da largura de banda do “Eu” consciente.
“Tendo-se confrontado com problemas semelhantes aos nossos no passado, as gerações dos nossos antepassados tiveram de encontrar soluções para eles.” OK, Arroja fala na vertente social, eu falo na vertente económica, e nessa vertente está tudo em mudança constante.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Ainda há quem acredite no Grande Geómetra, no Grande Planeador

"A ideia do Plano Tecnológico tem todo o sentido. É fundamental criar uma marca que sinalize as prioridades de um caminho que tem que ser feito."
...
"Precisamos que o Plano Tecnológico passe a ser o ponto de partida e de chegada de uma atitude social que os indivíduos em Portugal deverão querer protagonizar para assumir duma vez por todas um Modelo de Desenvolvimento diferente e com razão de ser."
...
"O Plano Tecnológico tem que passar a ser o Plano Estratégico dos Portugueses. São cada vez mais necessários protagonistas operacionais capazes de induzir dinâmicas de diferenciação qualitativa nos territórios e capazes de conciliar uma necessária boa coordenação das opções centrais com as capacidades de criatividade local. Capazes de dar sentido à “vantagem competitiva” de Portugal, numa sociedade que se pretende em rede."

Escreve, num artigo de opinião, Francisco Jaime Quesado, no Jornal de Negócios de ontem.

Já há algum tempo que não lia um artigo tão kepleriano (antes do seu momento de epifania), tanta crença num caminho único, num grande planeador, num grande geómetra...

Como se houvesse um caminho único! Como se houvesse uma entidade inteligente capaz de saber qual é a resposta... como se a vida de um país fosse como um puzzle!!!
Um puzzle tem uma única solução, e o Grande Planeador conhece-a!!!

A vida de um país não é um puzzle! Não há solução, há soluções, milhares, milhões de soluções, todas temporárias, umas mais duradouras que outras.

Viva a liberdade, vivam os caminhos alternativos, vivam os divergentes, vivam os que teimam em ser diferentes, vivam os que não acreditam nos monolitismos de qualquer espécie...

terça-feira, julho 10, 2007

"nature evolves away from constraints, not toward goals"

Há cerca de dois meses. ao ler um livro, reparei numa frase e sublinhei-a:


"nature evolves away from constraints, not toward goals"


Desde então, tem-me andado a fazer cócegas. Volta e meia regressa, para me interrogar...


A frase faz-me relacionar este poema:


"Life is the most resilient thing on the planet. I has survived meteor showers, seismic upheavals, and radical climate shifts. And yet it does not plan, it does not forecast, and, except when manifested in human beings, it possesses no foresight. So what is the essential thing that life teaches us about resilience?

Just this: Variety matters. Genetic variety, within and across species, is nature's insurance policy against the unexpected. A high degree of biological diversity ensures that no matter what particular future unfolds, there will be at least some organisms that are well-suited to the new circumstances.


"Poema de Gary Hamel e Liisa Valikangas em "The quest for resilience", Harvard Business Review, Setembro de 2003 (aqui).


Com esta maneira de pensar aqui.


Preciso de espaço para reflectir nas consequências, nas implicações da frase... pressinto que encerra algo de importante...

domingo, junho 03, 2007

O melhor de George Bush (filho)

Os dois primeiros parágrafos desta notícia do DN de hoje "Investimento em inovação vai ser 3,5% da riqueza"... pensando bem, não sei se não é a notícia toda, fizeram-me lembrar desta citação de George Bush (filho).

"Government likes to begin things—to declare grand new programs and causes and national objectives. But good beginnings are not the measure of success. What matters in the end is completion. Performance. Results. Not just making promises, but making good on promises."
(aqui na página 5).


Quantas vezes já ouvimos isto que se segue?

"Government should be results-oriented -guided not by process but guided by performance. There comes a time when every program must be judged either a success or a failure. Where we find success, we should repeat it, share it, and make it the standard. And where we find failure, we must call it by its name. Government action that fails in its purpose must be reformed or ended."

De quantos programas já vimos feito o balanço?
Desde o endereço de e-mail para todos os portugueses até à formação de desempregados para re-integração na vida activa?

Agora mais a sério, depois da leitura do segundo parágrafo não conseguem imaginar os discursos de circunstância? As bandeiras a drapejar, a banda a tocar, os foguetes a estalar, a guarda republicana montada a cavalo, ... oops conseguiram-me fazer recuar a 1968 ou 1969, onde fui arrebanhado com outros inocentes, para uma manhã inteira na Avenida da Republica, em Vila Nova de Gaia, de bandeirinha na mão, para saudar a passagem do presidente Américo Tomás (penso eu de que).

sexta-feira, junho 01, 2007

O grande Planeador

Ainda do livro “Economia Portuguesa – Melhor É Possível” de António Mendonça Pinto (página 124):

“Tradicionalmente considera-se que a taxa de crescimento económico correcta é determinada pelo mercado, nomeadamente pelas decisões de consumo e de poupanças das famílias e de produção e de investimento das empresas, e que essa taxa, por ser gerada pelo mercado, é a taxa óptima ou a melhor possível. Porém, havendo uma externalidade social e política positiva, então a taxa de crescimento óptima para a sociedade é maior do que a taxa de crescimento somente determinada pelo mercado e justifica-se que as políticas públicas estimulem o crescimento económico.”

E como é que os governos sabem onde deve ocorrer o crescimento económico? E como é que se evitam as distorções do mercado? (Há uns anos, os agricultores da aldeia onde nasceu o meu pai viraram-se para uma cultura nova, a do girassol, abandonando a cultura do milho, por exemplo, simplesmente porque havia um subsídio da política agricola comum para a não-colheita. Ou na pesca, uns anos há subsidios para abater barcos... nos outros há subsidios para novos barcos).
E como é que se evitam as situações caricaturadas no livro “Obelix e Companhia”, em que à conta da distorção do mercado, provocada pelos romanos, toda a aldeia gaulesa se dedica à produção de menires?

terça-feira, maio 22, 2007

O Grande Planeador, o Grande Geómetra, já era!

E no entanto, algumas pessoas ainda não o descobriram, algumas pessoas ainda não fizeram a sua revolução mental... como Kepler fez a sua.

No jornal Público de ontem, encontrámos um texto assinado pelo Gestor do Programa Operacional Sociedade do Conhecimento, do que retirámos alguns trechos:

"Portugal tem pela frente a batalha da mudança estrutural."

"Tudo tem que ser diferente. A aposta nos factores dinâmicos de competitividade, numa lógica territorialmente equilibrada e com opções estratégicas claramente assumidas, é um contributo central para a correcção das graves assimetrias sociais e regionais. Falta por isso em Portugal um verdadeiro "choque operacional" capaz de produzir efeitos sistémicos ao nível do funcionamento das organizações empresariais."

Ao encontrar um texto que diz que precisamos de um plano, de um programa, ou de um choque, fico logo com pele de galinha... Lembro-me de imediato deste texto poético:

"Life is the most resilient thing on the planet. I has survived meteor showers, seismic upheavals, and radical climate shifts. And yet it does not plan, it does not forecast, and, except when manifested in human beings, it possesses no foresight. So what is the essential thing that life teaches us about resilience?
Just this: Variety matters. Genetic variety, within and across species, is nature's insurance policy against the unexpected. A high degree of biological diversity ensures that no matter what particular future unfolds, there will be at least some organisms that are well-suited to the new circumstances."

Poema de Gary Hamel e Liisa Valikangas em "The quest for resilience", Harvard Business Review, Setembro de 2003

Não precisamos de um programa, de um choque, de um plano... elaborado, certamente, por um Grande Planeador imbuído de boa-fé.
Precisamos de centenas, de milhares, de pequenos e grandes planos elaborados por gente concreta, gente anónima, que aposta o seu dinheiro, no seu interesse próprio, para maximizar o seu retorno. E esperar que a taxa de sucesso compense a de insucesso, para o bem da nossa comunidade. Ninguém, nenhum papá nos pode dizer onde o País tem de apostar.

"O relatório Porter colocava de forma clara a tónica em duas grandes áreas de intervenção - profunda renovação organizativa e estrutural dos sectores (sobretudo) industriais e aposta integrada na utilização da Inovação como factor de alavancagem de criação de valor."

A dúvida pessoal que partilho aqui é que depois desta leitura:

"But after some deep soul-searching, we decide we could still make money in both ends if we separated our business models for the two ends of the market. Dividing the sales force is one example of what I mean when I talk about different business models.” … “The same sales force usually can’t handle both of those roles.” " Texto completo aqui.

The same sales force usually can’t handle both of those roles... será que a maioria das organizações não é capaz de fazer a evolução de um negócio de preço, para um de inovação, ou de serviço? Será uma questão de incapacidade, para deitar fora um investimento emocional feito num modelo de negócio? Será que estatisticamente não temos de assistir primeiro a uma extinção maciça, para depois surgir um novo ecossistema de empresas mais adaptado a um novo mundo?

Ainda há tempos, fiz uma visita a uma organização onde se vivia esta "guerra": a Produção, habituada a gerir para a eficiência, para o mercado do preço-baixo, em conflito com a Comercial que "agarrou" clientes que pagam serviço, que pagam flexibilidade e que precisam é de eficácia, não de eficiência. Nesta empresa, a Gerência já deu a volta mental... mas em quantas, isso não acontece?

quinta-feira, janeiro 11, 2007

O discurso do presidente, a exigência de resultados e, a humildade de Kepler, ou a opção indiana de 1991

Trabalho como um missionário, no âmbito da micro economia, porque as empresas e as pessoas, podem deslocalizar-se. Os países, esses ficam!
Assim, procuro apoiar as empresas a tornarem-se máquinas mais competitivas. Empresas mais competitivas, são mais atraentes para os seus colaboradores e para o país, essa é a minha guerra.

Em termos macro económicos, tenho muitas dúvidas que as reformas que o governo está a implementar, sejam suficientes.
Contudo, não estou de acordo com Domingos Amaral, no Diário Económico de ontemHá cinco anos que Portugal patina, e tem apenas um objectivo na sua vida político-económica: diminuir o ‘deficit’.
Na verdade, isto é a destruição da política, pois aparentemente não há alternativa a esse caminho
.”
Se chegados ao final do ano de 2007, ou 2008, ou 2009, e continuarmos a não sair deste buraco, deste vortex que nos empobrece a todos, talvez seja altura dos políticos, todos, seguirem o exemplo de humildade de Kepler, e operarem um corte epistemológico à Manmoham Singh.

Kepler tinha uma explicação para o funcionamento do mundo, dos planetas. Uma teoria que relacionava órbitas planetárias com sólidos pitagóricos. Uma teoria que seduzia Kepler, e que concordava com a sua visão de Deus Divino Geómetra.
Durante anos e anos, Kepler procurou “casar”, conciliar, as suas ideias, a sua teoria a que chamou “Mistério Cósmico”, com as observações herdadas de Tycho Brahe. Por fim, teve a humildade de as abandonar, perante o choque da realidade, as suas ideias não explicavam as observações.

A verdade da natureza, que rejeitei e escorracei, voltou às escondidas pela porta do fundo, disfarçada para ser aceite.” (exclamação retirada de “Cosmos”, de Carl Sagan, no capítulo “A Harmonia dos mundos”.

Em 1991, quando a Índia deixou de ter uma moeda forte, Manmoham Singh, na altura, Ministro das Finanças (actual Primeiro-Ministro), decidiu que o país tinha de abrir a sua economia. “ o “nosso muro de Berlim caiu”, disse Tarun Das “e foi como soltar um tigre enjaulado. As barreiras comerciais foram abolidas. Registávamos uma taxa de crescimento constante de apenas três por cento, a tão falada taxa de crescimento hindu – lenta, cautelosa e conservadora. Para obter melhores rendimentos, tínhamos de ir para a América. Três anos mais tarde (depois das reformas iniciadas em 1991), a taxa de crescimento era já de sete por cento. Adeus pobreza! Hoje em dia, para ser bem sucedido pode ir para a Índia e tornar-se numa das pessoas mais ricas do mundo com direito a figurar no ranking dos mais ricos da revista Forbes… Os anos de socialismo arrastaram a economia de tal forma para o fundo que chegámos ao ponto de as nossas reservas em divisas externas serem somente de mil milhões de dólares. Actualmente, ascendem a 118 mil milhões… Numa década, passámos de uma fase de autoconfiança frágil para uma ambição desmedida”. (retirado de “O mundo é plano” de Thomas Friedman.

Assim, quando os políticos reconhecerem a derrota do Estado "Grande Planeador" ou "Divino Geometra", talvez chegue a hora de voltar à ideia inicial que Durão Barroso teve medo de implementar, o "Choque Fiscal".