domingo, janeiro 01, 2017

Uma das minhas missões


Uma das minhas missões profissionais passa por pregar o Evangelho do Valor aos líderes das empresas.

A figura mostra o quanto essa missão é necessária e urgente.

Como se mede a produtividade?
Nota: A figura é de 2006 e hoje usaria outra linguagem. Uma empresa não produz valor. Uma empresa produz valor potencial. Valor é criado pelos clientes quando experienciam progresso na sua vida.

As respostas denunciam uma visão incompleta da produtividade. A produtividade de que os economistas e os engenheiros falam é uma herdada da Revolução Industrial e atingiu o seu apogeu no século XX, com a produção em massa, com a vantagem baseada na escala e crença na eficiência acima de tudo.

Nessa visão a produtividade resume-se a isto:

E como é que se aumenta a produtividade, como é que se aumenta a eficiência (nesta visão as palavras são sinónimas)?

  • reduzindo a burocracia e a ineficiência, simplificando procedimentos e processos. E voltamos aos anos 90 e à reengenharia e voltamos à Redsigma;
  • automatizando, para reduzir trabalhadores e/ou reduzir o tempo de ciclo;
Quando as empresas reconhecem que não têm competências internas para desenvolver as duas medidas anteriores, muitas recorrem à terceira:
  • investir em formação em liderança e gestão
Qual o risco deste investimento? O dessa formação ser dada por membros da tríade, gente com a cabeça no século XX. Basta recordar os profetas da desgraça que diziam em 2011 que as PME portuguesas só poderiam aumentar a sua competitividade se os salários baixassem. Outra designação que dou a essa gente é a de Muggles, gente que só conhece o poder das folhas de cálculo e que sonha com custos e não sabe nem pressente que existe a magia do valor. Gente que está tão concentrada naquele denominador da equação que nem percebe que a solução é o numerador:
Gente que não percebe que o truque, quando não se conseguem vender sapatos a 20€ por serem muito caros, é produzir outro tipo de sapatos e vendê-los a 230€ para outro tipo de clientes noutros tipos de canais ou com outros modelos de negócio.

Reparem se o modelo de aumento da produtividade for concentrado nos custos, no denominador, cada euro poupado terá de ser regateado para aumento de salários. No entanto, se o modelo de aumento da produtividade for concentrado no valor, no numerador, e tendo em conta o Evangelho do Valor, deixa de haver essa guerra do gato e do rato entre produtividade e salários.

Assim, respostas que me satisfariam passariam por exemplo por:
  • aumentar preços por subida na escala do valor;
  • desenvolver novos produtos/serviços;
  • desenvolver novos modelos de negócio;
  • aumentar a diferenciação;
  • ...
As respostas do artigo do jornal passam por manter constantes as saídas e alterar a forma de as produzir. A minha pregação convida os líderes a alterarem as saídas ou a mudarem a proposta de valor vendendo o mesmo produto noutros mercados.




Imagem retirada de "O que dizem os líderes sobre a economia, o Governo e as suas empresas"

7 comentários:

Andreambrosio disse...

"Este espaço resiste ao AO." O que é AO?

CCz disse...

Um blogue que defende a concorrência imperfeita e que tantas vezes usa a metáfora da Torre de Babel está contra o Acordo Ortográfico que pretende uniformizar grafias entre Brasil, Portugal, Angola, Moçambique, Guiné e Cabo Verde.

Cada país deve desenvolver o seu português livremente.

Andreambrosio disse...

Eu também sou contra o Acordo Ortográfico. Eu me lembro que eu era obrigado a colocar acento no "O" de "toda vida", ou seja, deveria escrever "tôda vida", porque em Portugal havia uma ave chamada toda, pronunciada tóda. Passei a escrever com v palavras que antigamente tinham trema: conseqvência, freqvência, tranqvilo. Que era como minha mãe as pronunciava.

CCz disse...

ehehe, apesar de birdwatcher nunca ouvi falar dessa tal de tóda.

Exacto. E por cá temos o "por favor" e o "pôr a comida na mesa" que querem que seja "por" para os dois.

Celebremos a biodiversidade linguística, biológica e ecológica

Andreambrosio disse...

Deveríamos estar discutindo o evangelho do valor e acabamos enveredando pelos meandros do Acordo Ortográfico. Por quê?

CCz disse...

Então, nada nos impede de o fazer.

Posso começar com uma provocação?

Na minha opinião, um grande obstáculo para o Brasil é o proteccionismo. Quando Portugal se abriu para a então Comunidade Económica Europeia, teve um choque. Muitas empresas fecharam, mas uma nova geração de empresas surgiu e subiu na escala de valor

Andreambrosio disse...

Não é crime adotar uma política protecionista para assegurar a um segmento da atividade econômica o desenvolvimento da capacidade de andar com os próprios recursos e enfrentar a competição com empresas já estabelecidas em outros lugares do mundo. Os Estados Unidos da América já nos primórdios de sua vida como país independente e o Japão do pós-segunda guerra adotaram essa política, com os resultados que aí estão. O crime está em usar medidas protecionistas para dar a uma empresa ou grupo reduzido de empresas o MONOPÓLIO de exploração econômica de uma atividade. Os monopólios tendem à ineficiência e, quando sob a proteção do Estado, transformam-se rapidamente em instrumentos de corrupção. O sistema de previdência social está aí para provar o que acabei de dizer. Quem quiser saber mais sobre isso queira por favor consultar Hayek, "Os fundamentos da liberdade", cap. XIX: