domingo, novembro 27, 2011

OMG... e vão viver de quê? (parte IX) ou Mt 11, 25

Parte VIII.
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Há tempos ouvi Manuel Caldeira Cabral na televisão, talvez na SICN(?), e a meio da sua intervenção escrevi no twitter qualquer coisa como "Olha, até que enfim que oiço na televisão alguém que dá a entender que conhece o país real das PMEs"
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O país que passa nas TVs e nas rádios é o país lisboeta que não faz ideia da revolução que tem acontecido nas PMEs nortenhas.
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Basta recordar este trecho do Le Monde que inclui neste postal "Act 9, 3-7"
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Reparem neste gráfico:
Em valor absoluto a Irlanda exporta mais do que Portugal, mas reparem na evolução das taxas de crescimento das exportações portuguesas.
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Segundo os números apresentados por Caldeira Cabral, Portugal foi o 3º país da UE a 15 em que as exportações mais cresceram no período 2005-2010:
Not so fast!
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Por favor, voltar a olhar bem para aquele quadro...
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Da próxima vez que ouvir um lisboeta protestar e gritar "OMG... e vão viver de quê?" lembre-se deste quadro, please!!!
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Eheheh, no texto do Le Monde, Carvalho da Silva a dizer que a indústria têxtil acabou... no melhor ano do têxtil na década... esta gente vive agarrada a mitos da infância.
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Caldeira Cabral escreveu esta semana no JdN "Défice externo, empobrecimento e baixa de salários". Alguns recortes:
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"O persistente défice da balança corrente e de capitais é para muitos o sinal inequívoco de que Portugal é uma país sem capacidade competitiva. O contraste com a Alemanha, que apresenta saldos positivos das contas externas é notório. Nesse país, teria sido a política de moderação salarial a tornar a economia mais competitiva.(Moi ici: Interessante este gráfico que se segue, retirado daqui.
Interessante também, por que ajuda a desmistificar a história da moderação salarial alemã, aqueles 6 primeiros países do lado esquerdo é que contaminam as conclusões... reparem quem é que faz companhia à Alemanha do lado direito e do lado esquerdo... isto tem cada vez menos a ver com salários, com custos. Daí apreciar aquele "teria" na frase de Caldeira Cabral)
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Baixar o défice externo português obriga a aumentar as exportações e diminuir as importações, o que para muitos só é possível conseguir baixando os salários e empobrecendo os consumidores portugueses. (Moi ici: E para alguns, cada vez em maior número, isto consegue-se com a saída do euro. Teríamos uma moeda da treta, e matar-se-iam 3 coelhos de uma cajadada: reduziriam-se os custos, empobreceriam-se os consumidores e enganariam-se os tolos com aumentos salariais brutais. Este racional é o dos encalhados que continuam na guerra dos custos quando, hoje, o truque é co-criar valor, não o concentrar tudo na redução de custos)
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Face ao argumento apresentado sobre a evolução da produtividade e salários na Alemanha e em Portugal, seria razoável admitir que o problema de competitividade português está ligado a uma fraca evolução das nossas exportações. Esse foi o caso até 2005. Mas, não nos últimos seis anos.
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Desde 2005, as exportações portuguesas cresceram a um ritmo superior à média europeia. Comparando com os 15 países da União Europeia (pré-alargamento), a performance das exportações portuguesas nos últimos 6 anos é apenas superada pela Alemanha e Holanda. Portugal é o terceiro país com maior crescimento das exportações neste grupo, posição que deve manter se juntarmos os dados de 2011.

(Moi ici: Segue-se uma afirmação muito interessante, por isso, lisboetas, leiam-na bemEsta performance foi conseguida com os salários e a produtividade existentes em Portugal. Foi conseguida num contexto de evolução dos custos unitários de trabalho (CUT) desfavorável face aos outros países europeus – pelo menos entre 2000 e 2008, e de manutenção de forte concorrência de países de baixos salários como a China e a Índia.
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(Moi ici: Os macro-economistas, os paineleiros e os políticos, constituem aquilo a que chamo a tríade, os lisboetas que pululam nos media tradicionais e que transmitem uma imagem de um país sem futuro. Saiam de Lisboa, saiam dos gabinetes, saiam das carpetes e venham ver este país realA melhoria da competitividade portuguesa nos últimos anos deu-se muito pela capacidade das empresas expandirem a produção em novos sectores, reformularem a qualidade da produção dos sectores tradicionais e conseguirem entrar em novos mercados, reagindo à maior concorrência dos países asiáticos com salários muito mais baixos. É bom que não se descure estes factores de competitividade e que se mantenham os esforços de redução de custos de contexto, de simplificação administrativa, ou de apoio à capacitação das empresas para inovarem, para se internacionalizarem, e para melhorarem a produtividade pelo aumento do valor dos produtos e melhoria dos processos de produção (o que reduz os CUT de uma forma mais interessante). (Moi ici: Eheh, esta afirmação parece retirada deste blogue... acho que nunca li num jornal português, espero estar errado, acho que nunca li nun jornal português alguém a falar sobre a magia... sobre a magia de Marn e Rosiello, sobre o poder de alavancagem que o aumento do valor tem sobre a produtividade face aos custos. Histórico!!!)
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É importante reflectir sobre os factores que ajudaram a que as empresas exportadoras portuguesas conseguissem, nos últimos seis anos, voltar a ter uma performance melhor que a dos outros países da UE15. .
Conseguiram-no num contexto em que a evolução dos CUT não foi a mais favorável, conseguiram-no reagindo ao choque do aumento da concorrência asiática e dos países de leste. Conseguiram-no num contexto de uma política activa de simplificação administrativa, e de apoio à inovação e à investigação. Conseguiram-no numa sociedade que se está a tornar mais qualificada e melhor apetrechada tecnologicamente. Conseguiram com apoio à abertura de novos mercados e à orientação das empresas para a exportação. Mas conseguiram-no principalmente por elas próprias, desenvolvendo projectos, arriscando entrar em novos mercados, investindo na modernização de equipamentos e na inovação."
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Mão amiga que embrulhe o artigo de Caldeira Cabral e o faça chegar a Daniel Bessa e Ferreira do Amaral... e já agora, a Vítor Bento, a Medina Carreira, a João Duque, ao dinossauro Ferraz da Costa, ao histérico Daniel Amaral, e muitos outros que não conhecem o Evangelho do Valor, talvez Caldeira Cabral possa ser o seu Ananias.

11 comentários:

AAlves disse...

em resumo: viva Sócrates. afinal foi no tempo dele que tudo isso aconteceu.

a dívida pública não é o único e principal problema. a dívida privada, que é 80% do total da dívida, faz com que esses ganhos com as exportações não sejam suficientes.

André disse...

"em resumo: viva Sócrates. afinal foi no tempo dele que tudo isso aconteceu."

Mas não foi graças a ele. Se o nosso sector exportador está tão bem é porque não anda "protegido" pelo Estado, como ainda o sustenta!

Estaria curioso de ver publicado um estudo soube o que seria a economia portuguesa hoje, e em particular a nossa balança corrente, se não haviamos assistido ao esbanjamento do Estado nos últimos anos. Porque se as exportações crescem as importações crescem também de depressa. Ora advinhai quem são os sectores mais responsáveis pelas importações? Lá está... os protegidos do regime (banca, construção...).

Não tivesse sido o Sócrates e a sua preocupação "social" ou "modernista" teriamos um saldo corrente positivo há muito e nem teria entrado o FMI!

(Enfim, verdade seja dita que o esbanjamento já é velho)

CCz disse...

Acho que o melhor é dizer que isto aconteceu apesar da classe política que temos, em especial de Sócrates.
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Não esquecer o que Tim Harford em "Adapt" escreve sobre os apoios governamentais:
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"The problem seems to be that governments love to back losers: think about the big banks or car companies. The ideal candidate to receive government support seems to be a company that is very big and very unsuccessful. This is the perfect formula for sustained failure."
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Qimondas, Aerosoles, PPPs, ...

AAlves disse...

Sócrates teve pelo menos o mérito de não estorvar. Também não foi ele que acumulou 300 mil milhões de dívida privada.

CCz disse...

http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=2151393

AAlves disse...

e? tem isso alguma coisa a ver com o facto de mais de 80% da dívida portuguesa ser responsabilidade das empresas não financeiras (31%), financeiras (30%) e das famílias (23%)?

AAlves disse...

a culpa é do árbitro;
a culpa é dos chineses;
a culpa é dos estrangeiros;
a culpa é dos judeus;
a culpa é dos palestinianos;
...

a culpa é do estado. ;-)

André disse...

Hein? Mas o quê que a dívida privada tem a ver com a história?

A dívida privada é o problema do privado. Se têm problemas para a pagar o problema é deles (a não ser que o Estado ande a nacionalizar a torto e a direito). Agora se o problema é do Estado o problema é de todos nós! Além disso o endividamento estatal desvia recursos para ele próprio o que obriga os privados a se endividarem a níveis superiores (o que aumenta a dívida deles). Também há outras razões a elevado endividamento privado mas não tenho tempo para expor tudo.

"Sócrates teve pelo menos o mérito de não estorvar."
Claro que estorvou! Atráves do endividamento público que tirou crédito às empresas exportadoras, atráves da protecção de certos grupos económicos. Ele é o maior responsável do desastre nacional! Ele acumulho mais dívida em 6 anos que em 31 anos de democracia!

A culpa é do Estado quando ele estorva as pessoas e anda a brincar aos protectores.

AAlves disse...

exactamente, a dívida do privado é problema do privado. e é um problema grande: umas duas vezes o PIB. solução: emagrecer o estado, transformando-o em exíguo para libertar capital. resultado: o estado exíguo é incapaz de sustentar um tecido social minimamente coeso. nem sequer a soberania. vai ser bonito o caos, ó se vai.

André disse...

"estado exíguo é incapaz de sustentar um tecido social minimamente coeso."
Apetece-me lhe preguntar como é que fez quando teve de sair da casa dos pais. Ficou traumatisado. Não se adaptou ao mundo... Ou será que saiu?

Desculpe-me estou a ser mal-criado, por isso pomos as coisas em ordem:
O Estado têm de reduzir o seu peso porque estrangula o privado! Duas vezes: uma atravês de impostos, outra através da despesa pública, que passa mais tempo a proteger minorias parasitas, que de garantir o bom "funcionamento" do país (regulação, garantia da liberdade individual...).

Depois claro à reduzir bem e reduzir mal. Por exemplo, será que para melhorar as contas públicas temos de parar de gastar dinheiro na Educação? Claro que não, mas podemos reduzir o numero de funcionários por escola, podemos pôr em prática o cheque-ensino, para escolas mais baratas que o público etc.

(PS: parte importante do endividamento privado é da culpa do Estado: exemplo, privados que se endividaram para as PPP, para participar nas privatizações, para emprestar directamente dinheiro ao Estado...)

AAlves disse...

tretas. os privados (bancos) apostaram todos os trunfos nas obras públicas através das PPP's que são uma verdadeira mina de ouro. dizer que a culpa é do estado é o mesmo que dizer que o dealer coitado é uma marionete nas mãos do drogado.