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quarta-feira, janeiro 18, 2017

Um exemplo do que é o jornalismo económico

Um exemplo do que é o jornalismo económico em Portugal nos dias que correm.

Manhã cedo, acedo ao Jornal de Negócio e, tendo em conta o que penso dos eucaliptos, por um lado, e o quanto valorizo os nichos, por outro, sou atraído por "Celbi troca mercados maduros por nichos de valor".

Mal começo a ler o lead do texto desisto. Percebo que o que aí vem é propaganda. Bastou-me ler esta sequência:
"Celbi troca mercados maduros por nichos de valor
Carlos Van Zeller, administrador da Celbi, explica como o grupo vai conseguir aumentar a eficiência produtiva."
Se há uma aposta em nichos de valor... como é que se começa logo a falar em eficiência produtiva?

Uma aposta em nichos de valor desvaloriza a importância da eficiência produtiva e vice-versa.

sábado, março 05, 2016

Números ... megafones ou ignorantes?

Tanta gente que seguiu Humanidades no 10º ano de escolaridade para fugir à Matemática e que, depois, acaba sempre a fazer truques com os números e a não perceber que algo não bate certo.
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Hoje leio "Carris e Metro perderam 65 milhões de passageiros entre 2009 e 2013".
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Não me esqueço de ter lido em 2013 "2012. Carris e Metro perdem 75 milhões de passageiros".
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Algo não bate certo.
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Ninguém investiga, ninguém tem base de dados, ninguém faz contraditório, ninguém se prepara... megafones apenas ou desconhecimento básico das quatro operações da Matemática?
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quinta-feira, dezembro 31, 2015

A salvação tem de começar por dentro

A propósito deste texto "Para não acabar de vez com os jornais (e a democracia)", vejamos como um consultor anónimo da província abordaria o desafio:

  • vendas em baixa;
  • leitores em baixa;
  • custos demasiado elevados.
Lançaria questões:
  • Fará sentido um produto em papel? Ver "Montreal-based La Presse ends 131 years of daily printed news"
  • Qual será o ecossistema da procura? Quem serão os clientes-alvo desse produto? Quem estará disposto a pagar por informação? Que valor terá o acesso a cada tipo de leitor que paga por informação, para outros agentes? Qual a viabilidade de um produto gratuito pago pelo acesso aos leitores? Pago vs grátis implica diferenças de conteúdo, diferenças de leitores-alvo, diferenças de valor por leitor, diferentes vias de monetização.
  • Haverá lugar para publicações salami slicers?
A maior preocupação que o texto citado no início me deixa é:
"Isto não deve ser confundido com a fantasia dos “cidadãos-jornalistas”. Há cidadãos e há jornalistas, os jornalistas serão cidadãos, mas o contrário não é verdadeiro. Os cidadãos só são jornalistas se o forem. Os leitores não devem substituir os jornalistas, que para o bem de todos, e como acontece com bombeiros ou médicos, devem ser preparados para o que fazem e honrar um código de conduta." 
E voltando à citação dos salami slicers:
"Get brutally self-aware of your business. To do that, seek feedback from current, previous and potential members and analyse usage, financial, competitive and business data to understand the strengths, weaknesses and opportunities for your business."
Conheço tanta gente que deixou de comprar o Público não por causa do dinheiro mas por causa do conteúdo. E não encontro no texto uma referência a uma única auto-crítica relativamente a esse ponto. Um pouco de locus de controlo no interior mudaria a perspectiva, a salvação não tem de vir de fora, a salvação tem de começar por dentro.

sexta-feira, agosto 28, 2015

Internet e o rendimento, número, diversidade e qualidade de artistas

É um artigo muito longo "The Creative Apocalypse That Wasn’t" mas vale a pena ler todo.
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Um artigo que apresenta números sobre  impacte da internet no rendimento, no número e na diversidade de artistas (músicos, actores, escritores).
"In 1999, the national economy supported 1.5 million jobs in that category; by 2014, the number had grown to nearly 1.8 million. This means the creative class modestly outperformed the rest of the economy, making up 1.2 percent of the job market in 2001 compared with 1.3 percent in 2014. Annual income for Group 27-0000 grew by 40 percent, slightly more than the O.E.S. average of 38 percent. From that macro viewpoint, it hardly seems as though the creative economy is in dust-bowl territory.
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From 2002 to 2012, the number of businesses that identify as or employ ‘‘independent artists, writers and performers’’ (which also includes some athletes) grew by almost 40 percent, while the total revenue generated by this group grew by 60 percent, far exceeding the rate of inflation.
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What do these data sets have to tell us about musicians in particular? According to the O.E.S., in 1999 there were nearly 53,000 Americans who considered their primary occupation to be that of a musician, a music director or a composer; in 2014, more than 60,000 people were employed writing, singing or playing music. That’s a rise of 15 percent, compared with overall job-­market growth during that period of about 6 percent. The number of self-­employed musicians grew at an even faster rate: There were 45 percent more independent musicians in 2014 than in 2001. (Self-­employed writers, by contrast, grew by 20 percent over that period.)
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Somehow the turbulence of the last 15 years seems to have created an economy in which more people than ever are writing and performing songs for a living.
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In the post-­Napster era, there seems to have been a swing back in a more egalitarian direction. According to one source, the top 100 tours of 2000 captured 90 percent of all revenue, while today the top 100 capture only 43 percent."
Não me vou alongar mais, porque o artigo está cheio de estatísticas sobre os escritores e actores de filmes e televisão, bem como sobre a sua qualidade.
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Mais outro exemplo que ilustra a facilidade com que o choradinho da SPA por cá, poderia ter sido desmentido se ps media fizessem o seu trabalho de investigar, de mediar e não de servir de megafone.
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Mão amiga que o faça chegar a JBX, à SPA só se for para os envergonhar.

domingo, outubro 21, 2012

Quem é a audiência? (parte I)

A propósito de "Em crise, os jornalistas devem pensar no negócio", se olharmos para um jornal como mais um tipo de empresa que está a passar dificuldades, qual o primeiro desafio, qual a primeira pedra para uma estratégia acerca de um futuro sustentável?
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Basta atentar neste título, ou este, ou este, ou mesmo este.
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Sim, essa é a primeira pergunta, sempre. Por isso, faz todo o sentido a reflexão:
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"Always Consider The Audience First 
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a better way of thinking about the business you're in is through the lens of a theory that we call jobs-to-be-done. The basic idea is that people don't go around looking for products to buy. Instead, they take life as it comes and when they encounter a problem, they look for a solution - and at that point, they'll hire a product or service. The key insight from thinking about your business this way is that it is the job, and not the customer or the product, that should be the fundamental unit of analysis. This applies to news as much as it does to any other service.
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What is the job audiences want done?
What kinds of employees and structure does the company need so it can fulfill that job-to-be-done?
What is the best way to deliver that information to audiences?
One way to figure out what jobs the audience wants to be done is to look at what successful competitors have accomplished and then ask what people were trying to do when they hired the competitor.
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Successful companies understand the jobs that arise in people's lives and develop products that do the jobs perfectly. And if a company does this, customers will instinctively "pull" the product into their lives whenever that job arises.
The jobs are consistent - it's the products that change What's very interesting about the jobs that consumers want done is that they are consistent over time. As industries are disrupted, different products emerge that are better able to complete the job - but the job stays the same.
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it's critical to avoid falling into the trap of believing that you can charge for content just because it costs money to produce. (Moi ici: Trabalho não é valor para o cliente. Trabalho é custo! Valor é uma percepção que resulta de uma experiência, ou série de experiências) Instead, the content must be so compelling that users will pay for it. This requires targeting the right jobs.
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Once managers establish what jobs consumers want done, a series of new questions arises for managers: How can they improve their existing products so they perform the job better than any other competitor? What existing products are no longer competitively viable in serving customers' jobs-to-be-done and should be cut? And finally: What new products could be introduced that address a different job-to-be-done for their audience—or perhaps a new audience altogether?"
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Tirando o Jornal de Negócios (que compro mais por tributo do que por outra coisa) já quase não compro jornais. A rádio e a internet dão-me quase o mesmo que os jornais, ou que aquilo que realmente encontro com valor para mim num jornal. Por exemplo, recentemente, encontrei esta notícia sobre um tema que me interessa, a economia a sério das PMEs num texto publicado numa rádio local e tive oportunidade de a comparar com um texto do Público...
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Quando vou ao quiosque onde durante anos comprei os semanários ao Sábado não vejo crise na oferta. Reparem bem na explosão de publicações em papel que ocorreu nos últimos anos.
Muitas delas são é muito focalizadas.
Muitas delas são é dirigidas a um público muito específico.
E sim, se calhar algumas delas não vão sobreviver ao próximo ano.
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Algo que acho fascinante é a resposta do sector dos media à crise dos jornais. Como baixa a procura, baixa a receita. Como baixa a receita, cortam nos custos. Assim, têm jornais cada vez mais generalistas, mais superficiais, mais cheios de erros, mais cheios de opinião. Resultado, à baixa da procura por causa dos que encontram a alternativa na internet, soma-se a baixa da procura por causa dos que se recusam a comprar baixa qualidade.
Se calhar, a alternativa passaria por publicações mais caras, mais pequenas, mais específicas.
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O meu conselho para as PMEs que produzem bens transaccionáveis é: não tentem competir com a China nos custos.
O meu conselho para os jornais será: não tentem competir com a Internet (China) nos custos.

BTW, ontem ao jantar o meu filho mais novo, ao relatar um episódio de sexta-feira, mencionou os pedidos insistentes de uma colega ao pai para lhe comprar a revista Bravo.
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Trechos retirados de "Breaking News Mastering the art of disruptive innovation in journalism" de Clayton M. Christensen, David Skok, e James Allworth

domingo, janeiro 04, 2009

As costas largas da crise internacional

Se os jornalistas investigassem um pouco mais, poderiam aperceber-se que muitas empresas sonantes que fecharam para férias na última quinzena de Dezembro, argumentando com a crise internacional, costumam fazer isso mesmo todos os anos. Exemplo típico disso é a indústria que fornece a indústria automóvel.
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Trabalho com várias empresas que há mais de cinco anos adoptaram essa prática de fecharem para férias algures na semana anterior ao Natal.
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É claro que quem espera o seu bailout pode sempre tentar tornar o panorama ainda mais negro do que ele na realidade é.
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Algures em 2001 o mercado da construção em Portugal virou (esta é a minha impressão, embora a estatística localize o ponto de viragem em 2002, ver a página 426 deste Anuário Estatístico de Portugal - 2007 ), e passámos de um boom para trimestres sucessivos de crescimento negativo (em 2001 e não na sequência da Lehman Brothers ou do subprime). Hoje há sub-sectores que fabricam materiais para a indústria da construção que têm um excesso de capacidade instalada que pode chegar a 6/7 vezes a dimensão do mercado nacional.
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Assim, a crise internacional não explica tudo "Crise obriga a suspender fabrico de telhas e tijolos", artigo no DN de hoje assinado por Júlio Almeida.
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Se os jornalistas investigarem bem descobrirão que nos últimos anos as empresas de cerâmica, face à depressão instalada e aos preços super-baixos encontraram uma salvação ... não produzir e ganhar dinheiro vendendos os créditos associados à produção de CO2.