quinta-feira, agosto 26, 2010

Play only with what you can afford to lose

Não basta ter um bom produto!
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Não basta ter clientes satisfeitos!
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É preciso ganhar dinheiro!
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"Segundo dados que vou conhecendo através dos jornais a marca portuguesa de vestuário cheyenne entrou em insolvência. Sabe-se que tinha marca própria e, de acordo com o feed back de alguns clientes, estavam satisfeitos com a qualidade dos produtos.

Qual a razão de ter falhado?" (trecho retirado de um comentário a um postal anterior).
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Não sei as razões da falha, não conheço o caso em concreto. Gostaria de recordar este postal "Lugar do Senhor dos Perdões (parte I)" e, sobretudo, este texto do Público "Fim da Cheyenne deixa 300 pessoas no desemprego" onde se pode ler:
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"redução na procura, uma política de expansão da rede de lojas incompatível com a capacidade financeira, uma estrutura organizacional pesada, a falência de alguns clientes estrangeiros são alguns dos factores que, segundo o administrador de insolvência, conduziram às dificuldades que levaram à “total falta de liquidez”.

O relatório de insolvência realça ainda a “confusão nas relações entre as empresas do grupo, nas quais se destacam a Paulo Serra & Irmãos [declarada insolvente em Maio] e a Imobiliária das Pateiras” bem como “o conflito com o antigo sócio e gerente José Alexandre Serra Rodrigues”"
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BTW, ainda este mês me arrepiei, ao folhear as páginas da revista Exame, ao tomar consciência do endividamento, para alimentar a expansão, da empresa por detrás da marca Salsa. E qual foi um dos motivos por detrás da falência do projecto Aerosoles?
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Recordo a primeira regra que Tony Hsieh aprendeu com o poker relativamente à parte financeira "Always be prepared for the worst possible scenario."
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Não basta ter um bom produto!
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Não basta ter clientes satisfeitos!
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É preciso ganhar dinheiro!
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No template para descrever um modelo de negócio usado por Osterwalder é fácil de ver:
Existem duas partes no modelo: a da esquerda, relacionada com a parte externa da organização (clientes, relação com clientes, canais de distribuição e fluxo de entrada de dinheiro) e; a da direita, relacionada com a parte interna da organização (parceiros, actividades-chave, infraestruturas-chave e ... estrutura de custos). Não basta uma das partes estar OK, as duas têm de estar OK e equilibradas.
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Recordo Julho de 2008 em que discuti aqui aquilo que seria a crescente pressão para aumentar a rentabilidade dos negócios assentes em endividamento: mais endividamento, mais risco, taxas de juro reais superiores, necessidade de maior rentabilidade para as suportar, necessidade de estratégias mais puras para obter mais rentabilidade e maior o risco do negócio falhar...
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Recordo Charan e a sua frase para os tempos de crise... e como muito boa gente evitaria problemas se o escutasse, alguns até assistiram à sua conferência recente em Lisboa mas ... parece que só vão para o social...
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"Your focus must shift from the income statement to the balance sheet. Protecting cash flow is the most important challenge almost all companies face today whether they realize it or not.
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Pursuit of revenue growth must give way to understanding the cash implications of everything your company does.
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Because lack of liquidity will be an ever-present lethal threat, you will have to manage conservatively, lowering your cash breakeven point as rapidly as possible for the worst-case scenario.
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After spending their careers in a single-minded pursuit of growth, business leaders have to adjust their mentality. Some CEOs are telling their people that they should go for market share against competitors whose conditios could be unraveling. You should pursue that kind of growth only if it is profitable and cash-efficient."

6 comentários:

Jonh disse...

Obrigado Carlos pela post,

Pois, na realidade não é suficiente ter um bom produto e clientes satisfeitos. É preciso que a estratégia esteja alicerçada em termos financeiros. Talvez estivesse a crescer depressa demais.

A estratégia seguida pela empresa em termos comerciais também não deve ter sido a mais adequada, pois tinha lojas próprias mas, ao mesmo tempo, dispunha os seus produtos em lojas multimarca, quebrando um pouco o seu posicionamento.
A acrescer à estratégia arriscada em termos financeiros, o posicionamento da empresa não estava bem definido.

Jose Silva disse...

Carlos há muita idolatrização dos empresários, gestores e da liderança das empresas em si.

Só quando se conhece a devastação pessoal que o sucesso empresarial provoca é que percebe que não vale a pena.

Se calhar os comentadores, leitores, bloggers, jornalistas, estudantes, deviam deixar de dar tanta importância ao sucesso.

Jose Silva disse...

o melhor caminho é mesmo ser tartaruga e só chegar ao sucesso 20 ou 30 anos depois de se ter iniciado uma caminhada.

Provavelmente não são apenas os «business leaders have to adjust their mentality». São todos os restantes. Provavelmente o back to basics da desalavancagem no mundo ocidental também deverá levar a um ajustamento das expectativas na evolução/desenpenho dos negócios e não apenas a sua sustentabilidade.

Recorda-se do caso dos suicídios na France Telecom ?

Pelo vale do Ave já me relataram um caso de uma grávida que disfarçava a gravidez para não ser despedida. O filho nasceu defeciente.

Vale a pena tudo isto ?

É que se por lado corremos o risco de criar uma geração de técnicos de eutanásia, também podemos correr o risco de gerar uma geração de verdadeiros anti-capitalistas racionais. Dos irracionais já existem há muito.

CCz disse...

"o melhor caminho é mesmo ser tartaruga e só chegar ao sucesso 20 ou 30 anos depois de se ter iniciado uma caminhada."
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Muitas vezes dou comigo a pensar, sem ir até ao fundo confesso, que se calhar aquela expressão "aldeia global" é mais do que um chavão. Se agora vivemos todos numa aldeia, se nos podemos contactar todos, se podemos trocar impressões com todos, talvez haja alguma coisa a aprender com a gestão orgânica das aldeias.
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Cervantes escreveu que a caminhada é mais aliciante que a chegada e eu tenho de concordar com ele, há que apreciar a viagem.

lookingforjohn disse...

Estes últimos comentários davam cá um debate!... (mas existencialista, não limitado à gestão...)
Ao lê-los senti a brisa da esperança em dias melhores, sem desprezo pela sorte que já temos mas que raramente reconhecemos (todos ou quase todos).
Lembra-me o "melhor post de todos os tempos": http://balancedscorecard.blogspot.com/2010/05/abencoado-cheiro-bosta.html (e também, já agora... (http://lookingforjohn.blogspot.com/2010/05/outro-post-margem.html)

lookingforjohn disse...

(Ou então fui eu que fiz uma leitura revertida da coisa...)