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Pelos vistos, Rui Ramos escreveu no Expresso um texto que pode servir de introdução a esta segunda parte:
"Não é, portanto, pela limitação do que precisamos, nem pela abdicação do que queremos, que podemos ultrapassar esta crise. É encontrando maneiras de satisfazer as nossas necessidades e as nossas aspirações de um modo efectivo e sustentado, sem ilusões nem desequilíbrios. Como? Eis a questão."Este trecho fez-me recordar o tempo em que o grande objectivo dos governos era a convergência do nível de vida em Portugal para o nível de vida médio da União Europeia (não cabe nesta série o desenvolvimento de um tema - Lisboa e Madeira já têm um nível de vida superior à média da União Europeia, como é que isso é possível?).
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Depois, quando as coisas começaram a apertar, os políticos começaram a associar aumentos de salários a aumentos de produtividade, aquilo a que chamo o jogo do gato e do rato: se a produtividade sobe, então, podem-se aumentar os salários. Mas se os salários sobem, aumentam os custos, logo baixa a produtividade... bem talvez se tenha de esperar mais um tempo, antes de aumentar salários, se não perdemos o ganho de produtividade - nunca esquecerei as palavras de Vieira da Silva na Autoeuropa.
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De há uns anos para cá está em cima da mesa a redução de salários para "aumentar a competitividade" das empresas portuguesas. A ideia é: é preciso baixar salários para sermos mais competitivos e ganharmos quota de mercado. Esta mensagem é reforçada quando, periodicamente, aparecem os números da evolução dos Custos Unitários do Trabalho (CUT).
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A mensagem é a seguinte:
- reparem na evolução dos CUT, se os CUT são elevados nós não somos competitivos;
- reparem como a Alemanha tem uns CUT mais baixos do que o nosso;
- temos de baixar os CUT!!!
- até a classe jornalística é levada neste racional, basta ler os títulos que escrevem.
- Os portugueses que trabalham no sector de bens transaccionáveis em geral ganham pouco quando se comparam com o que ganham os habitantes dos outros países da Europa Ocidental;
- No entanto, quando se analisa o peso dos salários no PIB, verifica-se que é em Portugal que a maior fatia do PIB serve para pagar salários;
- Conclusão - não é o salário dos portugueses que é alto, o que é baixo, é a riqueza que os portugueses criam a trabalhar. Não é a correr mais depressa ou a trabalhar mais horas, é a produzir bens com maior valor acrescentado potencial.
- Bens com maior acrescentado potencial podem ser vendidos a um preço mais elevado (PIB sobe, produtividade (PIB por hora trabalhada) sobe, lucro cresce muito mais do que quando se reduz custos (como recordaremos na parte III desta série), salários podem subir sem pôr em causa a produtividade e tendo um efeito amortecido nos CUT)
- Os portugueses ganham muito quando se comparam com o que ganham os trabalhadores de países asiáticos;
- Ou seja, enveredar por reduzir salários é desistir da subida da produtividade à custa do aumento do valor acrescentado potencial do que se produz, para tentar aumentar a produtividade reduzindo os custos - aí, estaremos sempre no campeonato dos países asiáticos e não teremos sorte... e Deus nos livre de ter sorte. Ganhar esse campeonato com base em salários baixos baixos é uma vitória de Pirro.
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