sábado, dezembro 18, 2010

Menos Estado socialista e menos drenagem central

A propósito deste artigo de Vítor Bento "O que está em causa":
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" Pelo que restará aos países "do Sul" convergir para o rigor alemão. Ou desistir de partilhar a mesma moeda."
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OK, a ideia começa a chegar ao mainstream... leva 2 anos de atraso em relação a este blogue. A série "Somos todos alemães" começou em Janeiro de 2009.
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A partir daqui começam as divergências:
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"Se os países "do Sul" estiverem dispostos a convergir precisam de três coisas:" (Moi ici: Penso que só precisamos de uma medida simples e revolucionária: que o Estado saia da frente - obrigado Camilo Lourenço)
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"Mas no curto prazo - e precisamos, urgentemente, de crescimento a curto prazo para estancar o desemprego - a competitividade só se conseguirá ganhar pela redução de custos." (Moi ici: E quanto é que Vítor Bento tem em mente? 10%? 20%? Ou 30%?)
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Ao ler/ver as notícias sobre as medidas que a CP, que a Transtejo, que a TAP, que ... estão a tomar para reduzir os seus custos, recordo o ano de 1989 em que estava a trabalhar numa empresa da indústria química que competia no mercado internacional com uma commodity, há 21 anos essa empresa teve de fazer o que só agora as empresas públicas estão a fazer. Se o não se tivesse feito hoje já não existia. Mas reparem em 1989 com 260 pessoas a empresa produzia 80 mil toneladas ano, hoje com 120 pessoas produz 140 mil toneladas ano. E os trabalhadores não ganham menos nem correm mais.
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Quando Vítor Bento fala em reduzir os custos... mas o que é que as empresas que competem nos mercados internacionais têm feito desde a adesão ao euro? Basta recordar o exemplo do calçado olhando para os 4 primeiros gráficos deste postal.
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Quando Vítor Bento fala em reduzir os custos para aumentar a competitividade das exportações, pensa em reduzir para que nível?
Quando Vítor Bento fala em reduzir custos para aumentar a competitividade das exportações, como é que ele explica o comportamento das nossas exportações este ano? E o das exportações espanholas?
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Arrisco afirmar, e esta é a tese que cada vez vejo mais confirmada, quando olho para os valores da percentagem da produção de uma fábrica que é exportada: nós não precisamos que as nossas empresas exportadoras aumentem a percentagem da sua produção que é exportada (Veja-se o caso do calçado que exporta 95% do que produz, veja-se o caso de empresas como a Endutex que exporta 72% do que produz).
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O que nós precisamos é de mais empresas! 
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O que nós precisamos é de mais empreendedores!
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O que nós precisamos é de facilitar a vida a quem quiser empreender! E a única forma é reduzir o peso do Estado socialista que nos saca tudo, que torna o retorno do risco do empreendedor muito mais baixo, logo muito menos atraente. E nós que estamos com um entorno que nos obriga a ter rentabilidades dos projectos de investimento cada vez mais elevadas para compensar o preço do dinheiro cada vez mais caro e a precisar de estratégias cada vez mais elaboradas, não é complexas, para valer a pena:

11 comentários:

Jonh disse...

Sim, mas para atrair mais investidores e empreendedores temos de lhes proporcionar melhores condições do que os nossos concorrentes (outros países). Mas veja que a maior parte dos nossos políticos ainda não pensou nisto: nós estamos numa economia de mercado (alguns deles até a utiliza para ganhar votos) e temos de ser mais atractivos do que os outros países para os empreendedores.

Para isso, deve-se agilizar a criação de negócios (há muitas licenças que ainda demoram meses e anos a serem aprovadas), tributar muito menos os lucros das empresas e das pessoas, etc. Mas este Estado mínimo (menos receitas) retira regalias e perde votos.

Ricciardi disse...

Caro ccz,

É bem verdade que necessitamos de mais empreendedorismo. Mas não de qualquer um.

Veja bem, observo que fala bastante acerca da ind. do calçado, como exemplo de actividade que terá conseguido ultrapassar alguns constrangimentos que a concorrência externa (emergentes)provocou. E de facto, depois de uma grandes turbulencias o calçado ressurgiu em força.

Ao que sei, o textil seguiu outro caminho e deslocalizou-se para paises como marrocos aonde a mão de obra é bastante inferior.

O que lhe quero dizer é simples. O calçado é uma industria instavel, porque é imitavel em qualquer paises emergente... e vai funcionando em Portugal enquanto as empresas não ganham dimensão suficiente para se deslocalizarem. Uma especie de ciclo... ganham robustez, saem.

A criação da marca é/foi um passo bom. No entanto o investimento na 'marca' e design não é sinonimo de não deslocalização. Pode até fomentar mais rapidademente a deslocalização de empresas para outros paises com vantagens a nivel de custos do trabalho.

Nisto não há nada a fazer. A produção sairá, mais cedo ou mais tarde, de Portugal, gerando desemprego massivo.

O que é essencial a esse nivel é que o estado garanta o repatriamento dos lucros criando vantagens comparativas fiscais para efeito em Portugal. Nada disso tem sido feito.

Por outro lado, eu vejo actualmente o mundo da (micro)economia por duas opticas:
1- Empresas Deslocalizaveis (D)
2- Empresas Não Deslocalizaveis (ND)

E é no 2º caso, as ND, que os governos de Portugal tem de fomentar atraves de politicas várias. Devemos concentrar as energias em fomentar o empreendorismo naquilo que manterá estabilidade ao país. Aproveitar as florestas, o mar, as minas, o turismo, a agricultura e agro-industria etc.

Empresas ND são todas aquelas que derivam das vantagens comparativas que Portugal oferece em realção a todos os outros paises.

Empresas D são aquelas que existem temporariamente, enquanto a dimensão for pequena ou média ou aquelas que tem uma vantagem pontual em produzir em Portugal.

Ambas são importantes manter, mas a aposta nas ND deve ser previligiada.

Mas podemos 'fintar' esta lógica, apostando claramente em industrias ND... aquelas que derivam do conhecimento, da I&D... com destino à industria.

Educação dirigida e especifica e cientifica é essencial para podermos ter no futuro uma industria ND.

Este tipo de industria necessita de cerebros e as industrias tec estão aonde estão os cerebros.

Israel, uma pais com pop. semelante a portugal, é disso um exemplo. Vão investir no proximo ano cerca de 8 mil milhoes usd na produção de micro satelites. Eles inventaram, patentearam e vão produzir em Israel.É uma industria não deslocalizavel porque depende do conhecimento especifico, ao contrario do calçado.

PS. Bom, isto já vai longo, mas não queria deixar de dizer-lhe que aprecio bastante os seus posts.

Ricciardi (RB)

Gonçalo Rocheta disse...

Obrigado, CCz, por este post!!

É isso mesmo, necessitamos de mais inovação. Por isso necessitamos de mais empresas, logo de mais empreendedores..

"Grassroot entrepreneurs"

Mas onde é que eles estão?
Já alguém se lançou no projecto para os birdwatchers endinheirados?
Porque é que eles não aparecem?
De que é que eles têm medo?
O que é que podemos mudar?

CCz disse...

Caro RB obrigado pelo seu comentário:
Não tenha medo da deslocalização... muitas empresas de calçado têm marca, mas a marca representa, para a maioria delas, uma pequena parte das vendas. A maioria continua a destinar parte da produção para o trabalho para outras marcas (o chamado private-label). E estão a ganhar mercado também no private-label, os clientes que fugiram para a China estão a regressar. A grande vantagem de Portugal é ter um cluster forte e estar a dois dias de entrega dos armazéns dos clientes europeus, algo com que a Ásia não pode competir. Não há perigo nem vontade dos empresários em deslocalizar.
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O maior empresário do sector, como uma marca própria muito forte está a construir uma fábrica nova. 3/4 empresários de PMEs estão todos a investir na expansão na capacidade produtiva... o factor limitativo neste momento é a falta de mão-de-obra. Se alguns optarem por Marrocos será por falta de mão-de-obra.
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Fazendo o paralelismo com os têxteis há tempos no blogue mencionei o trabalho de David Birnbaum que diz que um dia as cadeias de vestuário vão acordar e perceber que o custo da mão de obra é cerca de 6 a 18% do custo total do ciclo de vida de uma peça de vestuário. E o custo dos saldos e promoções para escoar o que não se vende ronda os 40%. O futuro é a proximidade por causa da explosão da variedade e da incerteza sobre o que é que vai vender... algo que não joga com encomendas colocadas a mais de 100 dias de distância e com contentores cheios e impossibilidade de fazer reposições.
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Quando a "os governos de Portugal tem de fomentar atraves de politicas várias" tenho de discordar de si, isso é socialismo que não funciona:
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"As every manager knows, reallocating resources is an intensely political process.
...
on average, markets are better than hierarchies at getting the right resources behind the right opportunities at the right time.
...
A hierarchy may be an effective mechanism for applying resources, but it is an imperfect device for allocating resources."
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Trecho retirado de "The Quest for Resilience" que cito num dos postais de hoje

CCz disse...

Caro Gonçalo obrigado pelo comentário:
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"Porque é que eles não aparecem?
De que é que eles têm medo?
O que é que podemos mudar?"
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A resposta está na mensagem do postal: menos socialismo, mais retorno para quem arrisca.
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Não deixa de ser interessante que quanto mais tempo se passa na escola menos vontade tem de se ser empreendedor. Esperemos que esta mude.

CCz disse...

Caro John:

"Mas este Estado mínimo (menos receitas) retira regalias e perde votos."
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Por isso é que há vantagens na entrada do FMI. O FMI não vai a votos!

Gonçalo Rocheta disse...

Estou perfeitamente de acordo consigo, que é necessário menos socialismo (menos estado) e por um maior retorno a quem arrisca.

A questão que me incomoda tem a ver com a postura real do estado face aos empreendedores. Este creio que é hoje um dos maiores riscos para quem decide ser empreendedor.

Se pensarmos que a ideologia política vigente, se baseia numa pertença redistribuirão do capital de forma mais justa e tem levado ao crescimento do estado à dimensão que hoje conhecemos, não será fácil de a mudar no curto prazo. Especialmente porque ela ainda reflecte o sentimento da nossa sociedade.

Esta ideologia, que vem de uma época em que as empresas pertenciam ao Capital e o Trabalho era a classe explorada que havia que defender, já não é tão representativa dos tempos actuais. Hoje os Empreendedores já não necessitam de ser respaldados pelo Capital, sendo que a inovação pode e deve vir de "Lean Startups", como sugere Eric Ries. O que torna o acesso à inovação e ao empreendedorismo, neste "mundo mongo", muito mais democratico. Mas à diferença do Empreendedor Capitalista, o novo Empreendedor Trabalhador não tem tanto encaixe para lidar com o risco que representa o Estado.

Um primeiro passo para criar um ambiente mais favorável ao empreendedorismo creio que passaria por rever a Legislação Comercial. Quando criamos uma sociedade limitada, ela é limitada para tudo excepto contra o Estado. Um empreendedor que decida começar um negocio para os birdwatchers endinheirados corre um serio risco de o Estado lhe penhorar a casa. Eu não creio que actualmente o risco valha a pena.

CCz disse...

Não é só o Gonçalo que crê que actualmente o risco não vale a pena.
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Interessante que tenha mencionado Eric Ries, lembrei-me logo de Steve Blank e deste postal memorável

http://steveblank.com/2010/11/24/when-its-darkest-men-see-the-stars/

Já tinha esta convicção que Blank veio reforçar, a caminho de um universo competitivo super-complexo não haverá uma estratégia única, não haverá uma sociedade homogénea, será uma rugged fitness landscape com K=N-1.

Se os socialistas do CDS ao BE percebessem isto...

Miyuki Creative Studio disse...

Gosto e no final tudo se resume a: e o que vamos fazer em relação a isso?

Quanto temos um "sistema" politico que torna impossível a eleição de um governo sem pertencer a um partido, e que quem vai a votos é normalmente cabeça de partido ( e que chega a tal a dever mais favores que qualquer um possa imaginar)não vejo um caminho fácil de traçar.

Mais vale "caminhar caminhando" do que ficar à espera do estado, porque afinal, "the game is rigged"

CCz disse...

Talvez faça sentido recordar este postal http://balancedscorecard.blogspot.com/search?q=bhaskar

Gonçalo Rocheta disse...

Li os dois artigos sugeridos.
Point taken!

Parabéns pelo blog, é de leitura obrigatória!!