Parte I,
parte II,
parte III e
parte IV.
A revisão pela gestão é, em teoria, um dos momentos mais importantes do sistema de gestão: o processo em que a organização pára para pensar, interpretar o que aconteceu, aprender e ajustar o rumo.
Na prática, porém, demasiadas revisões transformam-se num ritual burocrático, saturado de tabelas, valores soltos e
apresentações intermináveis — precisamente aquilo que não ajuda uma equipa de gestão a decidir.
Uma revisão eficaz depende, acima de tudo, da qualidade da informação que se prepara e inclui no relatório.
E a qualidade da informação melhora drasticamente quando se fazem duas coisas bem: trazer narrativas e usar dados visuais que revelam tendências.
A maioria das revisões falha porque as pessoas chegam à reunião "armadas" com as tabelas incluídas no relatório.
Mas números sozinhos são mudos: mostram sintomas, não causas.
A gestão precisa de explicações, não apenas de valores.
Uma narrativa bem construída responde a quatro perguntas simples:
- O que aconteceu realmente?
- Por que aconteceu?
- O que aprendemos?
- O que vamos fazer diferente? É preciso fazer diferente?
Os gráficos mostram que o indicador subiu ou desceu; a narrativa explica porquê — e é essa explicação que sustenta decisões responsáveis.
Narrativas transformam a revisão de um exercício de contabilidade num momento de aprendizagem organizacional. Os números informam; as narrativas esclarecem.
Um livro que muito me influenciou nos anos 90 foi “Keeping Score - using the right metrics to drive world-class performance” de Mark G. Brown. Nesse livro, nunca mais esqueci, o autor lista três erros fatais na apresentação de resultados:
- usar tabelas em vez de gráficos;
- mostrar apenas o último valor; e
- ignorar metas ou referenciais.
Os três erros têm um denominador comum: apagam o contexto.
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As tabelas podem ser precisas, mas são péssimas para revelar padrões.
Em contrapartida, um gráfico bem construído mostra em segundos aquilo que uma tabela nos esconde em minutos:
- tendência;
- sazonalidade;
- variação;
- estabilidade ou instabilidade do sistema; e
- relação entre indicadores.
Os indicadores são apresentados num dashboard. E um dashboard eficaz deve caber num único olhar — nunca num interminável scrolling, como
Stephen Few explica de forma magistral. O recurso a sparklines permite mostrar o essencial — tendência, ponto actual, variação — numa linha discreta, elegante e compacta. Esta técnica permite ver o conjunto completo de indicadores num único ecrã ou numa folha A4. É aqui que se cumpre o ideal de Few: simultaneidade de visão, o momento em que começamos a ver relações, não apenas valores.
O que deve conter cada indicador apresentado na revisão?
- 12-24 meses de histórico.
- Limites, metas ou referencias.
- Linha de tendência.
- Relações com outros indicadores.
- Simplicidade visual: menos cor, mais sinal.
Este ponto é crítico: demasiadas cores transformam-se em ruído. A famosa "árvore de Natal" não ilumina decisões — apenas cansa a vista.
Substituir os semáforos verdes/vermelhos por uma paleta mais neutra (pastel?) aumenta a legibilidade e reduz distracções.
Sem tendência, não há entendimento; sem entendimento, não há boas decisões.
A última síntese visual indispensável para uma revisão de qualidade é a carta de controlo — a ferramenta que impede a organização de cair na “bipolaridade militante” (herói/enforcado).
As cartas de controlo individuais (I-charts) revelam três informações essenciais:
- Se a variação é aleatória ou estrutural.
- Se o processo está estável ou instável.
- Se vale a pena agir… ou se devemos deixar o sistema trabalhar.
Mas a carta diz-nos a verdade que muitos gestores não querem ouvir: “O processo só consegue dar isto. O resto é fantasia.”
- agir sobre o ruído destrói a estabilidade;
- agir sobre o sinal é a essência da melhoria.
Nenhuma organização melhora só porque viu números.
Melhora quando compreende o comportamento do seu sistema. Quando isto acontece, a revisão deixa de ser um conjunto de "slides para cumprir a norma" e passa a ser um momento estratégico de verdade.
E só então, nesse instante em que o sistema fala e a gestão escuta, começam as decisões que constroem o futuro.
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