sábado, abril 30, 2011

Números e opiniões

Os dados publicados em Abril pela APICCAPS:

1. O número de empresas a baixar desde 1999 até que em 2009 parece ter estabilizado.
2. O número de pares de sapatos produzidos tem vindo a baixar desde 1999. Entre 1999 e 2010 a queda no número de pares produzidos ronda os 56%
3. O número de trabalhadores a baixar desde 1999 até que em 2009 parece ter estabilizado. O n+úmero médio de trabalhadores por empresa caiu desde os 32 para os cerca de 24. 
4. A facturação do sector atingiu um pico por volta do ano 2000, caiu a pique até 2005 e desde lá para cá tem crescido ligeiramente.
5. A facturação por trabalhador tem subido bastante, em 2005 rondava os 34,5 milhares de euros por trabalhador. Entre 2009 e 2010 rondou os 43 milhares de euros por trabalhador. Assim é que se aumenta a produtividade, não é com o jogo do gato e do rato.
6. O preço à saída da fábrica tem subido desde 1999. Começou nos cerca de 16 euros por par e já vai nos cerca de 22 euros por par.
Li há bocado no semanário Sol um artigo de Miguel Frasquilho que conclui que para ganhar competitividade é preciso, e sublinha que a ordem de apresentação é arbitrária:

  • "Qualificação dos recursos humanos (Moi ici: Pois, por isso é que todos os dias gente qualificada sai de Portugal para emigrar. Treta! Frasquilho que leia Galbraith)
  • Funcionamento da Justiça (Moi ici: Pois, para quem exporta faz-se o melhor que há a fazer neste país de incumbentes colados ao Estado pedo-mafioso: By-pass ao país. Se se faz by-pass ao país a Justiça do mesmo não é assim tão importante.)
  • Burocracia na Administração Pública  (Moi ici: Fazendo o by-pass ao país isto deixa de ser assim tão importante)
  • Mobilidade territorial 
  • Ambiente concorrencial em determinados sectores de actividade
  • Legislação laboral  (Moi ici: A nossa grande vantagem é a flexibilidade, mas não é a flexibilidade legal, é a flexibilidade mental e a nossa localização a 2 dias de camião dos grandes centros de consumo europeus. Estas pequenas empresas de calçado sabem trabalhar com bancos de horas, com horas extras... a grande dificuldade é encontrar pessoas dispostas a trabalhar, não é despedir. Parece irrealista mas só quem anda no terreno é que sabe, nestes sectores exportadores há muitos casos em que os empresários têm é medo que as pessoas se despeçam, dada a dificuldade em recrutar gente. E o salário mínimo é outra treta. Visitem as fábricas e vejam os prémios que as pessoas recebem em cima do salário mensal: produtividade, assiduidade, ....)
  • Política fiscal  (Moi ici: Para mim este era o primeiro ponto. As empresas têm de ganhar dinheiro, as empresas têm de ter rentabilidades atractivas senão não vale a pena investir. E o futuro não é de empresas grandes. As empresas grandes não se darão bem em Mongo. No gráfico lá em cima retrata-se o que defendo há muito neste blogue. Pequenas empresas focalizadas, ágeis e muito rentáveis. Para criar empregos, para suprir as necessidades dos consumidores, para acicatar a competência saudável não pelo preço mas pelo valor originado, precisamos é de muitas mais pequenas empresas. E só se criam mais empresas se for atraente como investimento)
RESSALVA: Muito do que escrevi não é muito aplicável para sectores em acelerada decadência pela retracção da economia, por exemplo retalho ou sectores ligados aos bens não-transaccionáveis.

5 comentários:

Jonh disse...

Boa tarde Carlos,

Percebo o raciocínio do Carlos, também acho que o que a maioria dos nossos economistas dizem não serve para nada nem se aplica à nossa actualidade - muito deles apenas defendem o que aprenderam, não se actualizaram, não conhecem a realidade.

Na minha opinião, e penso que o Carlos aqui concorda comigo, é necessário atrair mais investimento, mais empresas. Mas Carlos, neste ponto, apesar de não o mais importante, não me diga que uma justiça como a Portuguesa não repele o investimento. Neste sentido, a justiça também serve para atrir investimento. A educação (nao esta educação) que qualifique pessoas para cada uma das áreas de actividade é necessária, não esta educação, como o Carlos tem dito e muito bem, que é igual para todos.

A própria educação deveria ter um importante papel de dar valor ao mérito. O Carlos fala no seu post que muitos empresários "têm medo" que os funcionários se despeçam porque não conseguem arranjar outros. Mas aqui a educação não deveria incutir nos jovens o valor do trabalho, do mérito em vez de lhes criar facilitismos? Tudo isto, penso eu, ajudaria as empresas, os empresários, os investimentos.

Há uma coisa que concordo inteiramente consigo: a legislação fiscal (os impostos) deveriam ser o primeiro ponto a ser pensado pelos nossos governantes; um instrumento muito importante na atracção de investimento. (Peço desculpa por este comentário tão longo).

José Meireles Graça disse...

Funcionamento da Justiça:
Imaginemos uma empresa exportadora cujo edifício fabril arde completamente. A companhia de seguros arrasta os pés com peritagens e tretas (é o que fazem sempre - a legislação, a tradição e a experiência permitem-no). O empresário vai para tribunal e lá está há seis anos. Caso real, a multiplicar certamente por muitos.
Burocracia na Administração Pública:
Imaginemos uma empresa exportadora que quer fazer um investimento e pretende hipotecar o seu edifício fabril, porque não arranja financiamento sem garantias reais. O edifício está pago, perfeitamente legalizado e tem todas as licenças necessárias. O empresário descobre que não pode hipotecá-lo porque adquiriu três lotes num Parque Industrial à câmara municipal da área mas esta, no processo de loteamento respectivo, não previa a construção contígua em mais do que um lote, o que também não era permitido pelo Plano Director, que só pode ser revisto dali a uns quantos anos. Não obstante, a Câmara licenciou a obra, e outro tanto fizeram todas as outras - numerosas - entidades que também tiveram que se pronunciar. Caso real, no mesmo Parque há vários edifícios na mesma situação.
São só exemplos, estou certo que se os pequenos empresários e ex-empresários quisessem pronunciar-se sobre isto, haveria milhares de histórias para contar. Não se pode ouvir o discurso dos empresários de sucesso (que aliás não se distinguem, compreensìvelmente, por uma excessiva modéstia) e partir daí para tirar conclusões generalizáveis. Não é que não se aprenda muito com as boas experiências; é que se aprende outro tanto com as más.

CCz disse...

Hoje durante o meu jogging, ao reflectir sobre esta história da educação, pensei que o que há que desenvolver, mais do que as qualificações, são os clusters naturais de know-how. Que não se aprendem na escola mas nas experiências que as empresas fazem para servir clientes.
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Agora vou ser duro e injusto para alguma gente. Como é que quer que a escola seja exigente se hoje o ensino está nas mãos de um geração nascida depois do 25 de Abril? Uma geração em que muita gente caiu no ensino porque era a alternativa mais fácil e mais cómoda.
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No ano passado a minha filha tinha uma professora que dava aulas de Matemática projectando acetatos... faz algum sentido? Alguém pode retirar a senhora do ensino? Não, deve ser anti-constitucional.
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Pessoalmente divido-me, na forma como peço aos meus filhos para verem a escola: quero que eles a respeitem, mas quero que eles aprendam a subalternizá-la. Se a bitola deles for a da escola... estão tramados quanto ao futuro.
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Quanto à Justiça tenho dúvida... não consigo deixar de pensar que é o lobby a movimentar-se para manter o peso que tem na vida do país.
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Os comentários de quem vem a este blogue nunca, mas nunca são longos.

CCz disse...

Caro JMG o seu relato fez-me recordar um caso contado por um empresário na quinta-feira passada:
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Um funcionário violou uma regra da empresa, teve um acidente, esteve de baixa vários meses. A empresa levantou-lhe um processo disciplinar.
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Conclusão 1: Se a empresa despedir com justa causa o trabalhador, a companhia de seguros tem matéria para não pagar o internamento e o tratamento e tem de ser a empresa a pagar.
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Conclusão 2: Fica tudo na mesma.

Jonh disse...

Caros,

O que escreveram acima traduz e vai de encontro ao que defendo: a justiça e o ensino influenciam, neste caso negativamente,a atracção de investimento, incentivam o desinvestimento...

Não digo que a escola esteja repleta de bons professores, é verdade que não é a mais adequada. Mas não vale a pena tomar medidas sérias para pôr a escola na linha?


A justiça, na minha opinião, é o elo mais fraco desta democracia. Um empresário não confia na justiça. Um empresário vê em dois ou três anos as leis a alterarem 7 ou 8 vezes; um empresário tem dificuldades, por causa da legislação, de avançar com um investimento; um empresário tem dificuldade em concluir uma injunção com um devedor.....

Claro, os impostos são completamente controversos e geradores de desinvestimento....