quinta-feira, outubro 29, 2009

It takes a village

"It takes a village to raise a child" é a versão inglesa de um provérbio africano que Hillary Clinton me deu a conhecer há uns anos.
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Para criar e educar uma criança não basta a família é precisa toda uma comunidade.
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Neste blogue escrevemos regularmente sobre o conceito de estratégia, para iniciar a sua operacionalização, a sua tradução em acções concretas a desenvolver por pessoas concretas numa janela temporal concreta, parto dos conceitos de clientes-alvo e de proposta de valor.
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Para simplificar a abordagem à definição de uma proposta de valor, parto de 3 extremos "puros":
  • proposta de valor assente na oferta do preço mais baixo;
  • proposta de valor assente na oferta de um serviço feito à medida; e
  • proposta de valor assente na oferta de um produto líder em inovação.
Muitas empresas, demasiadas até, apostam inconscientemente na oferta do preço mais baixo. Contudo, só uma é que pode ter o preço mais baixo. Assim, a proposta de valor do preço mais baixo não é para quem quer mas para quem pode.
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Por isto, e apesar de realçar que a proposta de valor do preço mais baixo é uma proposta honesta e legítima, normalmente procuro missionar no sentido de despertar mais e mais empresas para apostarem nas outras duas propostas de valor: serviço à medida ou inovação.
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Ontem de manhã, a caminho de Felgueiras, ouvi no rádio que estava reunida em Madrid a COTEC Europa, e ouvi um breve discurso do presidente Cavaco Silva sobre a importância de apostar na inovação.
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Quem conhece este blogue sabe o quanto o seu autor desconfia de estratégias únicas definidas pelo Estado, decididamente não confio na capacidade do Grande Planeador ou Geometra.
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É fácil dizer, apostem na inovação!
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Só que para criar empresas inovadoras e fomentar uma nova cultura empresarial é preciso mais do que palavras, é preciso também a contribuição do Estado naquilo que só a ele compete.
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I takes a village to raise uma massa crítica de empresas que apostam na inovação. É preciso toda uma arquitectura, todo um ecossistema que suporte, apoie, respalde a aposta na inovação.
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Quando Portugal era um país que não apostava na inovação, era também um país que apostava na cópia, por isso a legislação que protegia a propriedade industrial era muito básica... não fazia sentido ter legislação portuguesa que prejudicava só as empresas portuguesas.
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Entretanto, a legislação alterou-se e hoje em dia, sobretudo por causa da má fama internacional, o crime de contrafacção é muito combatido. Por isso, é comum vermos as imagens na televisão das brigadas da ASAE a recolherem produto contrafeito.
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Agora, uma empresa investe, aposta na inovação, gasta e gasta dinheiro a conseguir um design, ou uma fórmula, ou ... na esperança de que quando acertar será recompensada pelo mercado, exactamente o mesmo que fazem as farmacêuticas que desenvolvem medicamentos inovadores e esperam que durante a vigência da patente possam obter o retorno desse investimento.
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Por exemplo, desenvolvem um produto com um design e registam a propriedade intelectual.
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Algum tempo depois descobrem que o seu design foi copiado por uma outra empresa e comercializado com a marca dessa empresa. Não se trata, portanto, de contrafacção.
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A empresa inovadora recolhe provas e faz uma queixa à ASAE.
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E espera, e espera, e espera, e espera, e espera, e espera, e espera, e espera, e espera, e espera, e espera, e espera, .....
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Quando finalmente a ASAE actua... já a empresa copiadora vendeu o que tinha a vender e se a coisa chegar a tribunal há-de demorar uns anos a resolver.
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Numa empresa onde estive ontem, só ela tem uns 8/9 processos em curso e desespera com a lentidão com que se actua. Por vezes, o empresário, em momentos de maior desânimo, chega mesmo a equacionar a possibilidade de fechar a empresa por que só quer trabalhar com produtos inovadores, tem a estrutura montada, descobriu o truque para ter sucesso na inovação, tem uma boa equipa, mas os piratas são protegidos, de facto, pela legislação.
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Assim, em vez de discursos e convites que podem ser considerados "envenenados" era bom que os políticos começassem por fazer o seu papel e tratassem dos alicerces de uma sociedade que promove, alimenta e protege a inovação, agilizando a actuação das brigadas da ASAE.
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Lembro-me agora deste caso "Não vai dar em nada..."

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