domingo, dezembro 07, 2025

Chocolate - Inovar é mudar de quadrante, não só de produto (parte III)

Nos últimos dias li três histórias que, apesar de vindas de mundos diferentes, contam exactamente a mesma transformação profunda: o chocolate artesanal da Amazónia, o azeite premium e o café de especialidade em Paris.

Três produtos banais — cacau, azeitona, café — que deixam de competir pelo centro e passam a competir pelos nichos. É Mongo em estado puro.

O New York Times do passado dia 3 de Dezembro publicou o artigo "Helping the Amazon With Chocolate" que descreve o novo movimento de chocolate “bean-to-bar” dentro da floresta. Pequenos produtores deixam de vender cacau barato para exportação e passam a transformá-lo em chocolates premium, com frutos, sementes e técnicas locais.

O cacau não mudou. Mudou o significado.

Mudou o quadrante. É passar do quadrante 1 para o quadrante 4: novo produto, novo mercado, nova narrativa — e margens muito superiores.

Tal como escrevi sobre o burel:

“O tecido não mudou. Mas o que se fazia com ele, sim.”

O cacau também não mudou. Mas agora transforma-se em:

  • barras com frutos amazónicos,
  • chocolates com cumaru,
  • lotes com terroir de comunidades indígenas,
  • narrativas de biodiversidade, cultura e responsabilidade.

É exactamente o espírito Mongo: não competir pelo centro, mas criar picos próprios — sabores únicos, histórias únicas, processos únicos.

No azeite premium acontece o mesmo. Não é produzir mais; é produzir diferente. Identidade, narrativa, embalagem, edições limitadas, infusionados, storytelling — tudo aquilo que transforma azeite numa experiência.

O que Paris fez ao café é uma lição de Mongo: não há “o melhor café”. Há mil pequenos picos, cada um com o seu terroir, o seu método, a sua tribo de gosto. O consumidor já não quer um café — quer o seu café.

Em todos estes casos, o valor aparece quando se abandona o centro. Quando se escolhe um nicho, uma história, um sabor, uma identidade.

Mongo não é moda; é a nova estrutura dos mercados onde há abundância.

Quanto mais indiferenciados os produtos, mais valioso se torna o acto de os diferenciar.

A Amazónia, Paris e Trás-os-Montes têm mais em comum do que parece: descobrir que o futuro não está na massificação, mas na especialização. Não é produzir mais barato.

É produzir com significado, é produzir diferente, com história, com identidade, com coragem de escolher um pico e aprofundá-lo.

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