- "a minha incompreensão sobre o por que a esquerda não percebeu isto e abandonou os trabalhadores"
- "Não percebo como a esquerda se aliou ao patronato" (fonte)
"O PCP votou contra. António Filipe diz que se pretende "alimentar um setor de atividade à custa de mão de obra barata"."
Lembram-se do ponto em que Cavaco percebeu o problema? Claro que era mais fácil para os empresários continuar a navegar à bolina da desvalorização progressiva do escudo do que aumentar a produtividade com subida na escala de valor. A mão-de-obra barata é outra artimanha que evita o esforço incerto da subida na escala de valor.
Ainda há dias o director-geral da CIP dizia:
"Outra dificuldade, diz, é a escassez de mão-de-obra que afeta a generalidade dos setores, assim como o "agravamento dos custos laborais unitários resultante de aumentos salariais significativamente acima dos ganhos de produtividade, no contexto da referida escassez de mão-de-obra"."
Destapei-lhe a careca neste postal "Quando destapam a careca"
Agora reparem neste pais bipolar em que vivemos: "Escassez de mão-de-obra" diz o patronato.
Hoje no JN em "Desemprego a crescer mais junto às áreas metropolitanas" onde se conclui:
- Cerca de 333.665 pessoas estavam desempregadas no final de 2024, representando um aumento de 5,7% em relação ao final de 2023.
- A maior parte das perdas de emprego ocorreu nas áreas metropolitanas, com destaque para Lisboa, Vale do Tejo, e outras regiões urbanas.
- Os sectores mais afectados: Os sectores de serviços e indústria foram os mais impactados, especialmente actividades imobiliárias, administrativas e o sector secundário (indústria transformadora).
"João Cerejeira admite que podem vir a ser necessárias medidas de mitigação, como um "lay-off temporário extraordinário para alguns dos setores mais afetados pela conjuntura internacional"."
Portanto, enquanto se criam lay-offs extraordinários, continua-se com o pedido de mais paletes de imigrantes porque é preciso manter os salários baixos.
No mesmo artigo, a AEP vem puxar a brasa à sua sardinha e:
"Para a AEP, é preciso apostar na "especialização e formação", na "eliminação da burocracia e de barreiras aos ganhos de escala das empresas" e criar "incentivos à internacionalização e diversificação de mercados""
Como se qualquer uma dessas medidas ajudasse as empresas a subir na escala de valor ...
Como olhar para tudo isto sem ser cínico?
Não acham fascinante! Enquanto as manchetes ecoam o aumento do desemprego, com 333.665 pessoas sem trabalho e sectores inteiros a enfrentar cortes drásticos, o patronato continua a gritar aos quatro ventos que "não há mão-de-obra disponível" e que "precisamos de mais imigrantes". É verdadeiramente curioso: como é que um país que regista quase 6,7% de taxa de desemprego (e áreas urbanas particularmente afectadas) pode ser simultaneamente um deserto de trabalhadores?
Talvez o problema não seja a falta de mão de obra, mas sim a abundância de salários baixos e condições precárias que pouco atraem quem já cá está. Afinal, quem quer trabalhar 40 horas por semana para mal pagar as contas, enquanto se vê apelidado de "desmotivado"? E claro, trazer imigrantes parece a solução mágica para dar mais uns segundos de vida ao afogado, contando que entretanto a maré mude.
Por isso, vamos celebrar esta realidade surreal: um mercado de trabalho onde o desemprego cresce, mas o problema é a falta de trabalhadores. Talvez o próximo passo seja culpar os desempregados por não quererem aceitar empregos que não cobrem o custo de vida. Isso sim seria uma narrativa coerente!
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