sexta-feira, março 09, 2012

A verdade que não nos é contada, acerca do leite

O monstro pode não ir embora, mas podemos flanqueá-lo.
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O leite é a commodity alimentar por excelência.
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A classificação não é minha e já a usei várias vezes neste espaço (por exemplo aqui e aqui).
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Tratando-se de uma commodity, qual é a alternativa que um produtor leiteiro tem?
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Ou assume que está a trabalhar com uma commodity e aposta na eficiência e na escala, ou procura fugir desse campeonato e busca outras alternativas.
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O que me entristece é que estas verdades não permeiam o discurso dos produtores e dos políticos.
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Por várias vezes já referi aqui, por exemplo, o crescimento do efectivo pecuário na Europa ao longo dos anos, consequência natural para um negócio de preço mais baixo. Agora, leiam este artigo e os seus números "Even Dairy Farming Has a 1 Percent".
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É tão claro, é tão linear o fluxo dos acontecimentos, é matemática pura a funcionar. Imaginem o que vai acontecer com o fim das quotas leiteiras...
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Quem é que está a preparar-se para o fim das quotas leiteiras? Quem se está a preparar para o depois de amanhã?
"This, despite the fact that dairy farming has become shockingly more productive. When Bob was a kid, during the Depression, he and his 10 siblings milked the family’s 15 cows by hand and produced 350 pounds’ worth of milk per day. By the time Robert was a teenager, in the 1970s, the farm had grown to 90 cows — all of which were milked automatically through vacuum technology — and sold around 4,000 pounds of milk per day. Now the Fulpers own 135 cows, which produce more than 8,000 pounds of milk."
 E pensam que 135 cabeças é muito? Basta recordar estes valores sobre a dimensão média das explorações em termos de cabeças:
"Milk went from a local industry to a national one, and then it became international. The technological advances that made the Fulpers more productive also helped every other dairy farm too, which led to ever more intense competition."
Depois, os comentários têm informações preciosas que ajudam a compor o cenário:
"I have cousins in the Albany area that are still in dairy, but their operation is enormous by our grandparents' standards. In both western NY (my current home), and northern NY, in Lewis County, the most successful dairy operations have at least 1000 head."
"One farm in Indiana has 30,000 cows, and is a tourist attraction, with its own off-ramp on the interstate."
Interessante este comentário de um neo-zelandês, de um país sem subsídios mas que é um grande exportador agrícola e leiteiro:
"Speaking from the perspective of a New Zealander - When my father took over the family dairy farm 30 years ago he was milking 60 cows and making a living. My first job was working on a farm that milked 180 cows. Today you don't have a dairy farm unless you are milking 1000 cows and that is not a big herd.
Os comentários também referem algumas alternativas a esta espiral típica do Red Queen effect:
"I'm lucky to have a great dairy nearby in Pittsford, NY, where they sell their own milk in glass bottles. I believe they make most of their revenue from their value-added products (e.g., ice cream), and the other food items they sell in their shop. Not so much from the milk, unfortunately (although it's of very high quality)."

"the rise of small farms is possible with sales direct to consumers (raw milk certification), direct processed either by working with small local cheesemakers or small yogurt facilities, or creating on farm processing, agritourism, and young farmer incentives."
Qual é o argumento que nos dão, e que os jornalistas nem questionam, para explicar o leite muito barato que entra em Portugal? Fraca qualidade. Desconfio que é a única justificação que conseguem encontrar para explicar a disparidade de preços.
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Nos comentários, pode-se perceber que há uma corrente de belgas e holandeses que estão a vender as suas explorações leiteiras na Europa e a emigrarem para os Estados Unidos onde compram terrenos e instalam novas unidades, ou seja, já estão a fazer a concentração eficientista nesses países europeus e a prepararem-se para o pós-quotas leiteiras.
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Como é que queremos lidar com o monstro se fechamos os olhos?
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Alternativas aqui e aqui, por exemplo.
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Sem estratégia, sem reflexão, sem inovação, o monstro não vai embora.

1 comentário:

CCz disse...

http://www.elmundo.es/elmundo/2012/11/30/economia/1354273997.html