sexta-feira, março 09, 2012

Ultrapassado e sem contraditório

Como se pode ficar encurralado?
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"Com a procura interna a cair a pique, é hoje consensual entre os analistas que a saída para a crise passa pela procura externa, através do aumento das exportações líquidas.(Moi ici: É fundamental aumentar as exportações líquidas. Contudo, dado que não estamos a viver uma crise conjuntural, é também fundamental repensar o futuro da maioria das empresas, as que operam só no mercado interno. No mercado interno, com a quebra no poder de compra, o tempo está maduro para disrupções)
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Mas, para exportar mais, precisamos também de produzir mais, o que significa melhorar a produtividade. (Moi ici: Um sintoma da mentalidade do século XX, "produzir mais" = "melhorar produtividade". Se Daniel Amaral deixasse o mundo da macro-economia e descesse à realidade, se visitasse empresas que não vendem commodities e que estão a aumentar exportações, se analisasse os exemplos das "bright spots" veria tantos exemplos em que se exporta mais ganhando mais e produzindo menos. Como? Vendendo produtos com maior valor acrescentado) E, assegurada a produção, teremos também de vendê-la, melhorando a competitividade, em qualidade e o preço, nos mercados internacionais. Como é que se faz tudo isto?
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Se o nosso objectivo é exportar mais, só temos uma saída: é ser competitivos em qualidade e em preço. E, assumindo que a nossa qualidade é pelo menos igual à dos outros, (Moi ici: De que fala Daniel Amaral quando fala em qualidade? Se fala em qualidade como sendo ausência de defeitos, concordo com ele. Contudo, se atribuirmos à palavra qualidade o significado de ter mais atributos, de ser mais evoluída, já não posso concordar. E este é o grande calcanhar de Aquiles desta corrente de pensamento, quando calculam, quando comparam produtividades, assumem que as saídas, os outputs produzidos, são iguais... e podem não o ser. Se falamos em pasta de papel é uma coisa, se falamos em PVC para produzir tubagens é a mesma coisa, mas se falamos em sapatos, em cerâmica, em vestuário, em mobiliário, em ..., não é a mesma coisa) os preços só podem ser reduzidos de duas maneiras: com uma melhor organização das empresas e com salários mais baixos dos trabalhadores. Lamento dizê-lo, mas prevejo um ataque impiedoso aos custos salariais unitários de produção.
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É aqui que tudo se complica. Como se sabe, os salários nominais não podem ser reduzidos. No limite, podem ser congelados, o que significa uma queda real igual à inflação." (Moi ici: Como se calculam os custos unitários de produção? Como se comparam esses custos unitários? Quando se comparam custos unitários do trabalho tem de se trabalhar com unidades comparáveis. Se Daniel Amaral fizer contas, e quiser comparar os custos unitários do trabalho de empresas que estão no mesmo sector de actividade mas que produzem produtos para segmentos de clientes diferentes... vai ter uma surpresa.)
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Este discurso é perigoso porque encurrala e empurra os empresários para o campeonato que não nos interessa. Não podemos competir pelo preço para o segmento baixo!!! Daniel Amaral que analise a tabela:
 As empresas que exportam, ou que querem exportar, têm mais oportunidades se em vez de competirem com a China e a Bulgária pelo segmento mais baixo do mercado, apostarem em melhorar a qualidade dos seus produtos (atributos, marca, rapidez, flexibilidade, design, tecnologia, inovação, ...) 
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Daniel Amaral escreveu estas coisas no artigo "A crise ao espelho" no Diário Económico... infelizmente, não há vozes discordantes, não há contraditório. Esta corrente de pensamento tão século XX... está ultrapassada, não é a única alternativa.

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