No FT do passado dia 9 de Dezembro encontrei um artigo muito interessante, "Smartphone maker Nothing takes aim at Apples dominance".
O artigo de John Gapper (8 em cada 10 artigos de John Gapper são um must) analisa a Nothing, empresa fundada por Carl Pei (ex-OnePlus), que procura posicionar-se como uma alternativa relevante num mercado dominado pela Apple e pela Samsung.
Apesar de ter pequena dimensão e recursos limitados, a Nothing tem crescido com produtos diferenciados, design arrojado e foco em atributos que os utilizadores realmente valorizam. O seu modelo combina identidade de marca forte, preços mais acessíveis e sensibilidade europeia no design, enquanto a produção é realizada na Índia e na China.
O artigo destaca que, embora o mercado global esteja maduro e a vantagem de Apple seja enorme, a Nothing encontrou nichos em que consegue competir: gama média, estética distinta, marketing eficaz e comunidades jovens em busca de alternativas. Porém, a limitação de escala, as margens reduzidas e as pressões regulatórias continuam a ser obstáculos sérios para a empresa.
Estratégia é sobre escolhas — e Nothing faz escolhas claras. Pei não tenta competir com a Apple em tudo, mas apenas onde consegue ganhar:
- gama média,
- estética distinta,
- comunidade jovem,
- design europeu,
- funcionalidades "visíveis".
É a aplicação directa do princípio de Roger Martin: ganhar é escolher um campo de batalha onde se pode ganhar, não onde o rival é mais forte.
A Nothing sabe que não pode competir com Apple no ecossistema fechado e premium, nem com Samsung na escala de produção.
Logo, evita competir pelo preço (estratégia impossível face à China), e compete pela identidade da marca e pela experiência sensorial (Glyph UI).
Num mercado saturado, vence quem cria valor distinto, não quem tenta ser "igual, mas mais barato".
A competição relevante não é perfeita:
- os consumidores não escolhem apenas specs, escolhem histórias, estética, tribo.
- as empresas pequenas podem dominar um segmento mesmo num mercado dominado por gigantes.
A Nothing está a usar o nicho "anti-Apple" jovem e visual, como forma de explorar imperfeições de mercado.
Pei reconhece que tem:
- menos dinheiro,
- menos recursos,
- menos talento disponível.
Mas as limitações fazem parte da estratégia — não são obstáculos à estratégia. Nada disto impede que a Nothing desenvolva um território próprio.
Material para reflexão nas PMEs:
"Our weakness is that we have less resources, but we do have speed and hopefully taste."
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