quinta-feira, dezembro 11, 2025

As limitações fazem parte da estratégia — não são obstáculos à estratégia


No FT do passado dia 9 de Dezembro encontrei um artigo muito interessante, "Smartphone maker Nothing takes aim at Apples dominance".

O artigo de John Gapper (8 em cada 10 artigos de John Gapper são um must) analisa a Nothing, empresa fundada por Carl Pei (ex-OnePlus), que procura posicionar-se como uma alternativa relevante num mercado dominado pela Apple e pela Samsung. 

Apesar de ter pequena dimensão e recursos limitados, a Nothing tem crescido com produtos diferenciados, design arrojado e foco em atributos que os utilizadores realmente valorizam. O seu modelo combina identidade de marca forte, preços mais acessíveis e sensibilidade europeia no design, enquanto a produção é realizada na Índia e na China.

O artigo destaca que, embora o mercado global esteja maduro e a vantagem de Apple seja enorme, a Nothing encontrou nichos em que consegue competir: gama média, estética distinta, marketing eficaz e comunidades jovens em busca de alternativas. Porém, a limitação de escala, as margens reduzidas e as pressões regulatórias continuam a ser obstáculos sérios para a empresa.

Estratégia é sobre escolhas — e Nothing faz escolhas claras. Pei não tenta competir com a Apple em tudo, mas apenas onde consegue ganhar:
  • gama média,
  • estética distinta,
  • comunidade jovem,
  • design europeu,
  • funcionalidades "visíveis".
É a aplicação directa do princípio de Roger Martin: ganhar é escolher um campo de batalha onde se pode ganhar, não onde o rival é mais forte.

A Nothing sabe que não pode competir com Apple no ecossistema fechado e premium, nem com Samsung na escala de produção.

Logo, evita competir pelo preço (estratégia impossível face à China), e compete pela identidade da marca e pela experiência sensorial (Glyph UI).

Num mercado saturado, vence quem cria valor distinto, não quem tenta ser "igual, mas mais barato".

A competição relevante não é perfeita:
  • os consumidores não escolhem apenas specs, escolhem histórias, estética, tribo.
  • as empresas pequenas podem dominar um segmento mesmo num mercado dominado por gigantes.
A Nothing está a usar o nicho "anti-Apple" jovem e visual, como forma de explorar imperfeições de mercado.

Pei reconhece que tem:
  • menos dinheiro,
  • menos recursos,
  • menos talento disponível.
Mas as limitações fazem parte da estratégia — não são obstáculos à estratégia. Nada disto impede que a Nothing desenvolva um território próprio.

Material para reflexão nas PMEs:
"Our weakness is that we have less resources, but we do have speed and hopefully taste."

 






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