terça-feira, novembro 29, 2022

VAB, salários e "magia"

Na semana passada várias vezes e ontem mais uma vez, várias conversas centraram-se sobre a falta de trabalhadores. Várias empresas de vários sectores de actividade desesperam para encontrar trabalhadores. 

Na passada sexta-feira neste espaço de diálogo alguém referia a ganância dos empresários pelo lucro como motivo para os baixos salários. Não concordo!

Comecemos por considerar o valor acrescentado bruto:

(Vendas - Custo das mercadorias vendidas e das matérias consumidas  - Fornecimentos e serviços externos). O VAB representa a riqueza criada.

Depois, olhemos para números sobre o valor acrescentado por trabalhador em vários sectores de actividade:

Por mais mãos largas que um empresário do mobiliário ou têxtil queira ser, o valor acrescentado bruto limita a possibilidade de praticar salários altos. O valor acrescentado bruto não o permite!

E esta é a razão para a imagem da teoria dos flying geese:

A seguir à II Guerra Mundial o Japão aposta no têxtil e vestuário, depois o sucesso do sector metalomecânico começa a "roubar" trabalhadores ao têxtil e vestuário porque pode pagar melhor, porque tem valor acrescentado por trabalhador superior e assim por diante. Como continua a haver procura por artigos têxteis a solução é deslocalizar a produção para países com salários mais baixos, como Hong Kong, e assim se desencadeia a evolução ...

Como Portugal está estagnado há cerca de vinte anos ou mais não há progressão na horizontal da esquerda para a direita. Por isso, os salários estagnam, porque o valor acrescentado sobe pouco. Só depende do crescimento intrasectorial, é pouco influenciado pela progressão para sectores intrinsecamente mais produtivos. O que fazem as pessoas? Emigram ou migram para outros sectores de actividade. Por exemplo, recentemente ouvi o caso concreto de um motorista numa empresa de prestação de serviços na área da electricidade que se despediu e passou a ganhar mais do dobro ao optar por emprego numa empresa de transportes internacionais.

O problema não é a empresa-tipo. O problema é a distribuição das empresas-tipo por sector.

Agora a isto acrescentem:
  • fronteiras abertas - atracção de melhores salários no estrangeiro
  • demografia - país a envelhecer (além do progressivo aumento dos que vão para a reforma, chegam menos pessoas à idade de trabalhar)
  • má gestão - lembram-se da vacinação covid quando era "gerida" por um militante do partido do governo? Lembram-se da vacinação covid depois que começou a ser "gerida" pela equipa do militar? O militar, esse, como me recordou o parceiro das conversas oxigenadoras, andava no terreno a ver, a recolher informação em primeira-mão. A má gestão nas empresas gera desorientação, gera "jobs that lack autonomy, variety, or opportunities to grow; jobs that pay poorly and don't reward performance fairly; jobs that aren't clearly defined and structured; jobs that lack guardrails that prevent chronic overload and frustration." (daqui
  • impostagem elevada para pagar um estado que não funciona.
Qual o caminho para as empresas existentes?

Qual o caminho para o país?

Para o país, seguir a receita irlandesa (interessante ver o peso do sector quimico e farmacêutico na Irlanda e comparar com o ranking de valor acrescentado lá em cima no postal).

Para as empresas existentes, dentro de um mesmo sector de actividade, há uma receita para subir na escala de valor acrescentado: anichar!

Anichar permite praticar melhores preços enquanto se precisa de menos gente, mas mais competente e mais polivalente. Qual a grande resistência a anichar? Ainda ontem citámos uns trechos sobre isso: o medo de anichar.

Os preguiçosos olham para os resultados, não olham para o "processo" que leva aos resultados. Por isso, optam pela "magia", pela fezada:

  • "Se trabalharmos menos horas, vamos ser mais produtivos"
  • "Se aumentarmos administrativamente os salários vamos dar uma lição a esses empresários gananciosos"
  • "Se ... 
Continuemos a festa ...

Nada do que acontece ao país é obra do acaso. É um produto perfeitamente normal das nossas decisões como povo. E estando este povo envelhecido e dependente:

"It is difficult to get a man to understand something, when his salary depends upon his not understanding it"

E estando este povo envelhecido e dependente quer continuar a ser enganado. Avós que vivem à custa dos netos, e dos bisnetos que nunca nascerão, pelo menos por cá. 

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