O meu parceiro das conversas oxigenadoras é da opinião de que o tema da semana dos 4 dias é bom para introduzir o tema da produtividade.
Os empresários quando chamados a falar sobre a semana dos 4 dias chutam para canto, fica mal, parece mal dizer que ela é impossível. O presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Vítor Bento, numa entrevista no Expresso Economia do passado dia 11 de Novembro faz o mesmo, chuta para canto. No entanto, Vítor Bento aproveita a deixa para introduzir o tema da produtividade:
“A redução do tempo de trabalho é “uma tendência natural da vida”, como já tem acontecido historicamente e também por via do desenvolvimento tecnológico, mas Vítor Bento considera que a semana de quatro dias não devia ser testada primeiro em Portugal. "Tenho dúvidas se Portugal, sendo um país com um problema sério de produtividade, deva ser pioneiro nessa evolução. Temos um défice de produtividade”, diz "Qual o interesse de Portugal em querer ser pioneiro?”, questiona o presidente da APB, tendo já uma resposta sobre qual deva ser a prioridade: “Uma verdadeira estratégia nacional devia ser aumentar a produtividade do país, para que o nível de vida das pessoas pudesse melhorar e serem mais felizes."...O presidente da APB aponta muitos fatores para o défice de produtividade: “Os custos de contexto, muito pesados em Portugal, o peso muito grande de sectores que são pouco produtivos; e a tese que perfilho quanto à nossa estrutura industrial, isto é um peso excessivo de Pequenas e Média Empresas (PME)."
Penso que Vítor Bento comete um erro quando culpa as empresas existentes pela baixa produtividade:
“o peso muito grande de sectores que são pouco produtivos; ... peso excessivo de Pequenas e Média Empresas"
Não concordo! Já por várias vezes escrevi aqui no blogue acerca do mastim dos Baskerville.
- De Outubro de 2022 - A amostra errada
- De Junho de 2022 - Depois do hype: O mastim dos Baskerville!
- De Janeiro de 2022 - Empresários e escolaridade ou signaling
- De Outubro de 2021 - Tamanho e produtividade (BTW, acerca do tema do tamanho das empresas recordo o postal de ontem sobre a Fábrica de Mindelo e a evolução do tamanho das empresas têxteis em Portugal - Acredita no jornalismo da SIC?)
- De Setembro de 2020 - A receita irlandesa
"In essence, creative destruction means that low productivity plants are displaced by high productivity plants."
Nem o que significa - The "flying geese" model, ou deixem as empresas morrer!!!
O que diria Vítor Bento se em 1992, a gestão da Fábrica de Mindelo decidisse encolher drasticamente para salvar a empresa e aumentar a produtividade?
Não sei se são custos de contexto, mas para mim o desafio de dar um salto na produtividade passa por aplicar a receita irlandesa - Tamanho, produtividade e a receita irlandesa porque - Não são elas que precisam de Portugal, Portugal é que precisa delas.
O tema da semana dos 4 dias tem a virtude de nos despertar para a realidade dos sapos que vão sendo cozinhados lentamente quando se percebe a impossibilidade de a praticar no nosso mundo dos bens transaccionáveis.
E por que não a podemos praticar?
- Porque não temos a mesma criação de valor acrescentado (esta é a mais importante)
- Depois, para complicar ainda mais a situação, porque gerimos mal os nossos recursos e não somos eficientes.
4 comentários:
Destaco, do que escreveu, o seguinte:
"A responsabilidade não é de quem está, esses dão o melhor que podem e sabem. O desafio é perceber quem não está e porquê. Porque é que não surgem entre nós empresas com níveis de produtividade semelhantes às da Europa mais rica?".
Aponto a principal razão: cultura do povo, que é avesso ao risco e por isso não exige outras medidas dos governantes. Caso houvesse uma cultura diferente, de disponibilidade para arriscar e de respeito por quem arrisca, as opções tomadas pelos políticos no passado (mais e menos recente) teriam ido noutra direção: legislação laboral mais flexível e adaptada às necessidades das empresas; legislação fiscal mais simples; menos impostos; incentivo à concorrência; estabilidade legislativa; procedimentos mais simples - menos burocracia;
Daí a lição irlandesa.
O aumento não veio do povo irlandês nem das empresas irlandesas. Veio de known-how e métodos de gestão externos.
As ditas empresas grandes mais produtivas, nas quais as PME anseiam ser um dia ser iguais, já pagam mais que as tais PME menos produtivas?
Ninguém apresenta números, só fezadas - https://www.npr.org/sections/money/2022/11/15/1136039542/these-companies-ran-an-experiment-pay-workers-their-full-salary-to-work-fewer-da?utm_source=pocket_saves
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