Este é o meu mote para o trabalho que desenvolvo na área da gestão com PMEs.
Ontem, ouvi o podcast do programa "Tempestade perfeita", na rádio Observador do passado dia 22 e sorri ao ouvir o início da intervenção de Vera Gouveia Barros. E recordei um livro de economia de César das Neves onde ele incluía um subcapítulo sobre a beleza da concorrência perfeita.
Pois bem, este anónimo engenheiro da província continua a assumir-se como um promotor da concorrência imperfeita, dos monopólios informais e das rendas pornográficas.
Pois bem, este anónimo engenheiro da província continua a assumir-se como alguém que vê como algo interessante o fim das patentes.
Defendem-se as patentes com o argumento de que sem elas não haveria inovação em muitos campos. Pois eu penso exactamente o contrário. Sem patentes, o ritmo da inovação seria maior.
Voltemos às palavras de Vera Gouveia Barros: "Em Economia Industrial nós mostramos como a solução mais próxima da concorrência perfeita é aquela que traz mais bem estar no seu total"
E ponho-me a pensar:
- quem são os alunos formatados por Vera Gouveia Barros? Qual vai ser o seu destino?
- o que é isto de "bem estar no seu total"?
Quem trabalha para uma PME em Portugal deve ter cuidado com este tipo de conversa. Uma PME que compita num mercado com concorrência perfeita não tem qualquer hipótese de sobrevivência num espaço aberto onde outros; à custa de um mercado doméstico de maior dimensão, à custa de mais capital, à custa de menores constrangimentos das partes interessadas, terão sempre vantagem!!!
Quem trabalha para uma PME tem de se comportar como um pequeno mamífero no tempo dos dinossauros, tem de ser ágil e fugir para espaços onde possa criar algum tipo de concorrência imperfeita a seu favor.
Num mundo de concorrência perfeita:
Num mundo de concorrência imperfeita:
8 comentários:
Esta questão das patentes é um bom tema para discussão: tenho dúvidas que a abolição das patentes proporcionasse mais investimento, principalmente, nas áreas, como a farmacêutica, em que é necessário investimentos muito grande para descobrir um só medicamento... e, na maior parte das vezes, sem qualquer resultado.
Noutros setores, talvez concorde consigo. Já agora, conhece algum país ou zona livre de patentes?
Caro João, também tenho dúvidas, mas penso que a necessidade de aumentar rentabilidade impor-se-ia.
Reconheço que há muitas interferências dos estados, o que talvez não permitisse tirar partido da ausência de patentes.
Quanto a zona livre de patentes, penso que mesmo quando praticado de facto, não é mencionado ou defendido, a Organização Mundial do Comércio faria desse país ou região um pária.
Claramente, se tivesse sido meu aluno, provavelmente não teria passado. Não é que eu formate os discentes, é só porque precisamente não os formato que lhes exijo coerência.
O seu post cita-me dizendo que "Em Economia Industrial nós mostramos como a solução mais próxima da concorrência perfeita é aquela que traz mais bem estar no seu total". Mas antes também observou que no programa defendemos a manutenção das patentes. Ora, seria absurdo da minha parte ter usado o argumento da concorrência perfeita para advogar a manutenção das patentes. Porque uma patente é um óbvio entrave à concorrência perfeita. É mesmo a criação de um monopólio. Aconselho, por isso, que volte a ouvir o programa com mais atenção, para perceber aquilo que foi dito.
Obrigado por ter comentado.
Sem querer ser maldoso diria que se eu tivesse sido aluno nunca teria descoberto a beleza da concorrência imperfeita.
No texto faço a citação porque é comum entre economistas não calçar os sapatos da PME, uma PME tuga não consegue competir de igual para igual, uma PME tuga tem de fugir da concorrência perfeita. No meu moto, "promotor da concorrência imperfeita, dos monopólios informais e das rendas pornográficas", uso propositadamente a palavra informal. Informal, também por causa das patentes. Uma patente é um entrave à concorrência perfeita, mas não é a minha concorrência imperfeita.
O ponto é que "Em Economia Industrial nós mostramos como a solução mais próxima da concorrência perfeita é aquela que traz mais bem estar no seu total", num mundo de fronteiras abertas, é condenar a indústria portuguesa a desaparecer. Por isso, traz bem estar no seu total para quem? Para os consumidores? Economia Industrial é para os consumidores? E para as empresas?
«Sem querer ser maldoso diria que se eu tivesse sido aluno nunca teria descoberto a beleza da concorrência imperfeita.»
Sem querer ser maldosa, eu diria que isso depende do tipo de aluno que fosse, porque há aqueles que vão às aulas e não ouvem bem aquilo que é dito. Nas minhas aulas de Economia Industrial, havia um ponto do programa chamado "Política Industrial e de Concorrência e Regulação", onde se aprendia (quer dizer, onde eu ensinava, porque depois o que se aprende depende essencialmente de cada um) precisamente que, apesar da concorrência perfeita ser (a par do monopólio com discriminação de preços de primeiro grau) ser a solução maximizadora do bem-estar - e o bem-estar traduz-se pela soma dos excedentes de consumidor e de produtor, portanto, não, não é para os consumidores - há diversas situações que justificam que a política industrial não se importe com o facto de a concorrência não ser perfeita. A situação das patentes é um exemplo clássico disso, havendo outros.
Ora, o problema da forma como me cita é que o faz cortando aquilo que eu disse ao meio de um modo que altera a ideia. Vamos lá ver o que foi o meu discurso:
«É um clássico da Economia Industrial, de facto, porque em Economia Industrial nós mostramos como a solução mais próxima da concorrência perfeita é aquela que traz mais bem-estar no seu total e, portanto, a preocupação com a eliminação de todas as falhas de mercado que conduzam a situações mais distantes da concorrência perfeita; naturalmente, uma patente é uma dessas barreiras, cria claramente um monopólio. Mas também aprendemos que há um benefício na existência de patentes, porque as patentes estão associadas à inovação, à criação de novos produtos - neste caso, de vacinas - que exigem um grande investimento em investigação e, portanto, tem de haver depois uma compensação por esse esforço, por esses recursos utilizados.»
Sublinho a adversativa, "mas", que é fundamental. Cortar a oração subordinada que ela vai introduzir distorce a ideia da frase. Logo, acho que o seu pensamento sobre quem são os alunos por mim formatados e sobre o seu destino não tem muita razão de ser. Até porque alunos desatentos que apanham frases pela metade, que constroem raciocínios incoerentes em que acusam uma pessoa que defendeu a manutenção de patentes de ser cegamente pela concorrência perfeita sem contemplar excepções, comigo normalmente chumbam.
“não teria passado”
“comigo normalmente chumbam”
Tão cheia de certezas ...
Do alto da torre de Saruman, aka Academia, continuam a ver o mundo sob essas Leis? Mesmo depois de Kahneman?
Na vida real, longe de Lesboa e da Academia, não acreditamos nessas leis, ou achamos que são uma espécie de Economia Newtoniana num mundo pós século XX, explicam casos isolados nada mais. Longe da Academia acreditamos no fuçar, acreditamos na experimentação para encontrar uma solução temporária. Sim, temporária, Pimenta Machado tinha razão, o que é verdade hoje amanhã é mentira. Longe da Academia, acreditamos que alunos que interiorizaram a noção de concorrência perfeita estão em desvantagem perante outros actores económicos porque estão limitados, a sua actuação racional e sem dolo leva-os a concluir que o melhor, o mais rentável é externalizar tudo e transformar uma empresa industrial num negócio de importação/venda, aquilo a que normalmente chamo de doença anglo-saxónica - https://balancedscorecard.blogspot.com/2019/08/acerca-da-doenca-anglo-saxonica.html
“apesar da concorrência perfeita ser (...) ser a solução maximizadora do bem-estar - e o bem-estar traduz-se pela soma dos excedentes de consumidor e de produtor, portanto, não, não é para os consumidores”
Portanto, a Academia ainda acredita na superioridade da concorrência perfeita. Ainda acredita que os compradores são todos iguais, têm todos a mesma motivação? No meu mundo acreditamos na concorrência imperfeita, porque é bom para as empresas pequenas e porque acreditamos que os consumidores são cada vez mais diferentes e distantes do modelo do século XX, do Normalistão, estamos a embrenhar-nos no Estranhistão, ou como lhe chamo Mongo, um mundo em que somos todos diferentes - https://balancedscorecard.blogspot.com/2011/12/estranhistao-weirdistao.html
Acredita que há incoerência entre ser contra as patentes e ser promotor da concorrência imperfeita? Convido-a a mergulhar mais fundo, a retirar mais camadas antes de tirar essa conclusão. Há que cavar mais fundo - https://balancedscorecard.blogspot.com/2019/09/num-mundo-sem-patentes.html
Continue com as suas certezas e as suas Leis, eu continuo a minha expedição em Terra Incógnita, ciente de que a qualquer momento o que era verdade ontem, hoje já é mentira e vice-versa.
É engraçado dizer que eu é que estou cheia de certezas, quando é um engenheiro a tentar a dizer a uma economista o que é que a Economia Industrial diz ou deixa de dizer e o que é que se ensina nela.
«Acredita que há incoerência entre ser contra as patentes e ser promotor da concorrência imperfeita?»
Está a ver? Não percebeu o que eu disse... Volto a explicar. O seu texto critica-me por ter dito que a concorrência perfeita é a solução de mercado maximizadora do bem-estar, sem sequer perceber (vamos dizer que não percebeu, que a alternativa seria ter ignorado deliberadamente) que o meu discurso fez essa afirmação seguido de um "mas". Ou seja, apesar de, em geral, o bem-estar (que contempla consumidores e produtores) ser máximo em concorrência perfeita, há várias situações que justificam um afastamento dela, isto é, que se esteja em concorrência imperfeita. As patentes são disso um exemplo, mas não o único (leia o livro de Economia Industrial do Luís Cabral, que ele explica muito bem). E era delas que se estava a falar.
Logo, alguém que defende que a concorrência perfeita é sempre a solução desejável sem "mas" não pode, com coerência, advogar a manutenção de patentes. Consequentemente, por dedução lógica, se alguém defendeu as patentes (eu fi-lo), esse alguém não pode ser uma pessoa que não contempla que em determinados casos a concorrência imperfeita se justifica - que foi aquilo que disse sobre mim. Ou seja, todo o seu discurso sobre a formatação que eu faço aos alunos, que, coitadinhos, depois de terem sido ensinados por mim ficam impreparados para o mundo cai por terra.
Mas mais. Quando A implica B não se pode deduzir que não A implica não B. Ou seja, o facto de defender patentes implicar que alguém admite a concorrência imperfeita não é equivalente a dizer que, então, se alguém não defende as patentes, é porque é incondicionalmente a favor da concorrência perfeita e que, se assim não for, estará a ser incoerente. Portanto, esse é um erro de Lógica que eu não cometeria.
«Ainda acredita que os compradores são todos iguais, têm todos a mesma motivação?»
Pois, lá está, nunca acreditou (aliás, a Economia não é um sistema de crenças). Até se aprende precocemente (mas não tão cedo que seja coisa a integrar os programas das cadeiras de Introdução à Economia que se leccionam noutros cursos) preferências. Que não se assumem ser iguais para toda a gente. Claro que em Economia trabalhamos com modelos e os modelos são sempre versões simplificadas da realidade ou seriam inúteis.
Ah, e, já agora, continua a truncar as minhas citações. "provavelmente não teria passado" foi o que eu escrevi. O advérbio é fundamental, quando a seguir se vai dizer que eu estou cheia de certezas.
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