terça-feira, março 05, 2019

Como aumentar a facturação quando não se pode aumentar a produção por falta de pessoas? (parte IV)

Parte I, parte II e parte III.

Regressemos ao título "Como aumentar a facturação quando não se pode aumentar a produção por falta de pessoas?"

Falta de pessoas...

No último fim-de-semana no Caderno de Economia do semanário Expresso, roubado em casa da minha mãe, encontrei o artigo "10 profissões tradicionais onde há falta de gente".

Sobre as costureiras pode ler-se:
"Salários ainda pouco valorizados (ligeiramente acima do mínimo nacional) e a exigência das funções fabris estão na base das dificuldades de contratação. Atrair talento para esta indústria — e são precisos cerca de 15 mil profissionais, diz Paulo Vaz, diretor-geral da Associação Têxtil de Portugal —, terá de passar pela valorização destas profissões."
Sobre os carpinteiros pode ler-se:
"grande parte dos profissionais que dominam este ofício trabalha por conta própria, mostrando pouca disponibilidade para aceitar desafios por conta de outrem que embora estejam hoje mais valorizados monetariamente, continuam a não ser suficientemente aliciantes." 
Sobre os soldadores e serralheiros pode ler-se:
"E apesar dos aumentos dos últimos anos, os salários actuais - em média €1200 para candidatos com um patamar médio de experiência laboral - e a dureza do quotidiano profissional continuam a não ser atractivos para os mais jovens."
Sobre os montadores e modeladores de calçado:
"Os salários têm aumentado mas esta continua a ser uma questão crítica no sector ... o calçado continuará com falta de mão de obra porque os salários são baixos"
Sobre os pintores de automóveis e bate-chapas, sobre os técnicos de manutenção industrial, sobre os padeiros e pasteleiros, sobre os chefes de cozinha, sobre os electricistas e electromecânicos e sobre os alfaiates.

Lembram-se de "Espero que não vos tremam as pernas quando as empresas começarem a cair como tordos"?

Perante a falta de pessoas as empresas vão ter de aumentar os salários, ponto. O @nticomuna chamou-lhe populismo, eu chamo-lhe desespero.

O que acontece a uma empresa que aumenta os salários acima do aumento da produtividade? Ou a empresa fica menos competitiva, e/ou os sócios terão de ter menores rentabilidades. Empresas menos competitivas fecham, capitalistas com menos retorno dão outra aplicação ao seu dinheiro... a menos que seja emprestado e, nesse caso, ficam tramados.

Em "Gachiche (parte III)" escrevi:
"ou a demografia obriga a subir salários, e os salários mais elevados matam as que não se adaptarem, ou os engenheiros sociais obrigam os salários a subir e matam as que não se adaptarem"
Portanto, a demografia vai obrigar-nos a fazer o mesmo que os europeus do centro da Europa fizeram na década de 60 do século passado:
Ou as empresas dos sectores ditos tradicionais se adaptam e dão um salto na produtividade, ou terão de se deslocalizar, ou terão de fechar para que o dinheiro seja melhor aplicado noutro sítio com mais rentabilidade. Acredito que esta adaptação vai ser difícil e muito dolorosa. Explico.

Ontem de manhã, enquanto fazia uma caminhada matinal de 6 km e lia uns trechos de "Key Research Priorities for Factories of the Future—Part I: Missions" de Tullio Tolio, Giacomo Copani e Walter Terkaj, publicado em "Factories of the Future The Italian Flagship Initiative", só me vinha à mente a frase:
- Não tentem marcar o 2º golo antes de marcarem o 1º!
Vais ser uma adaptação difícil e dolorosa porque os empresários são gente pragmática que estão preocupados em marcar primeiro o 1º golo, em vez de pensarem na nota artística na marcação do 2º golo. Por isso, vão, como qualquer incumbente vítima da disrupção, serem os últimos a descobrir que têm de mudar, que terão quase de certeza de encolher as suas empresas e subir na escala de valor. Só uma forte subida na escala de valor permitirá pagar aos artistas de Mongo.

BTW, naquela lista acima de profissões tradicionais é relevante a quantidade de vezes que se refere:
"Por outro lado, grande parte dos profissionais que dominam este ofício trabalha por conta própria, mostrando pouca disponibilidade para aceitar desafios por conta de outrem que embora estejam hoje mais valorizados monetariamente, continuam a não ser suficientemente aliciantes."
Isto vai-me servir de base para a parte V desta série.

4 comentários:

Unknown disse...

E os electricistas de redes de distribuição de energia! Esta é uma área de negócio em que a falta de mão de obra vai obrigar as empresas "a saírem da vala"

CCz disse...

"a saírem da vala"

Quanto custa uma equipa por hora?
Quanto é que uma equipa tem de produzir por hora para se pagar e à estrutura?
Como se pode aumentar a produtividade de uma equipa?

O meu lado mais cínico, que fala contra a eficácia dos consultores ... faz-me recordar Nassim Taleb e Maliranta:
https://balancedscorecard.blogspot.com/2018/11/especulacao-perigosa.html

As empresas não mudam, morrem. As novas empresas é que já têm uma prática diferente

Paulo Peres disse...

Grande texto :)

CCz disse...

Obrigado Paulo