segunda-feira, outubro 02, 2017

Capítulo 1. Primeiro existir e tomar consciência

Há exactamente um mês que ando com este papel dobrado,  metido na minha agenda:
Sábado ao fim da tarde tive uma reunião com alguém que trazia o meu livro sobre o BSC, publicado em 2006 e que terá começado a ser escrito talvez em 2005.

Desde 2005 o mundo mudou e eu também mudei. E acrescento, e eu mudei muito mais do que o mundo. Por isso, há algum muito tempo que sinto que preciso de actualizar o livro.

Vamos lá ver se pelo facto de escrever isto aqui consigo arranjar algum tempo para começar a organizar as coisas e a escrever.

Penso iniciar o livro com a descrição de um caso que vivi em 2004 e mudou a minha vida profissional para sempre, um caso em que a equipa do projecto de que fazia parte, sem qualquer conhecimento sobre o tema, perante um desafio concreto, fuçou e fuçou e o que emergiu foi aquilo a que hoje chamo de ecossistema da procura (engraçado, Ramírez & Mannervik usarem oferta em vez de procura) e que depois reconheci na escola nórdica de marketing e na service-dominant logic.

Capítulo 1. Primeiro existir e tomar consciência
O que tenho em mente é partir de uma reflexão de Ortega y Gasset sobre o facto de primeiro existirmos e, só depois de existirmos é que tomamos consciência que existimos.

O que quero dizer com isto?

Quero dizer que muitas empresas simplesmente existem. A vida a algumas até lhes corre bem, outras vivem aquilo que Thoreau descreveu como "lives of quiet desperation". Muito trabalho e pouca margem, muito esforço e pouco retorno.

A dor do fracasso faz com que uma minoria, páre, reflicta sobre o que lhe está a acontecer, e procure subir na escala de abstracção para arranjar uma alternativa que melhore os resultados, que aumente o retorno do esforço. Outros, têm empresas que estão a resultar, que até estão a ter bons resultados, mas conseguem que dentro deles emirja a questão: Por estamos a ter sucesso? A estes chamo de 'batoteiros'. Os 'batoteiros' são os que reconhecem que até têm uma receita que está a resultar mas não percebem porquê. E, porque querem sentir o controlo sobre a coisa, porque querem fazer aumentar o rendimento do que fazem, procuram tomar consciência do que é que está a resultar.

Acredito que muitas empresas não tem consciência de qual é, ou qual deve ser a sua 'receita' para o sucesso. Não há que ter vergonha dessa tomada de consciência. Afinal não é o que acontece connosco como seres humanos? Primeiro existimos e só depois tomamos consciência que existimos.

Talvez o caso de 2004 seja mais adequado para uma introdução ao capítulo 2. Talvez como introdução geral deva incluir um relato sobre a evolução dos sectores do calçado e do têxtil e uma breve referência a um exemplo que gosto muito: a empresa que não conseguia sobreviver a vender sapatos que se vendem na loja a 30 euros e passou a vender sapatos que se vendem na loja a 300 euros.

Vamos lá ver se no dia 2 de Novembro tenho coragem para vir aqui reflectir sobre o ponto de partida para o capítulo 2.

4 comentários:

Miguel Pires disse...

Alguma inspiração para este capítulo:

"L'existence précede l'essence"
https://en.wikipedia.org/wiki/Existence_precedes_essence

De notar também que as crises existencialistas (ou seja quando subitamente ganhamos consciência da nossa existência) são normalmente despoletadas por "near-death" experiences quando nos damos conta da finitude da vida.
Do mesmo modo para as empresas...

Tema muito interessante, havia muito a dizer... que inveja!!
Boa sorte!

CCz disse...

Excelente!!!

Obrigado.


Não me tinha recodado antes de ler isto de algo que vi Jordan Peterson dizer no mesmo sentido, é preciso agir para depois poder pensar

Miguel Pires disse...

Sim, é verdade, eu vi o video do Jordan Peterson que colocou no Twitter mas confesso que tenho alguma dificuldade em seguir o homem, tem um discurso tão sinuoso e cheio de apartes...

O que ele diz (no video que vi) é uma referência a Kant no sentido que é impossível compreender o mundo sem antes ter uma "teoria a priori" sobre o mundo e dá o exemplo dos robots e da inteligência artificial nos anos 60 em se descobriu que para as máquinas "pensarem" antes precisavam de ter um corpo!

E daqui posso fazer um salto para Kuhn e a noção de paradigma/revolução científica.. muitos dos "blind spots" das empresas estão ligados ao paradigma através do qual percepcionam o mundo e intrepretam os "sense data" do mercado... a tal "teoria apriori" de que Peterson falava.

E daqui uma ligação à teoria de disrupção de Christensen em como os imcumbentes parecem "cegos" e "amorfos" aos novos entrantes no mercado devido ao um paradigma "self-reinforcing" que os impede de sacrificar um membro para salvar o corpo...

Enfim, podia estar o dia todo nisto...

CCz disse...

É isso aí caro Miguel, bom resumo e boas ligações