segunda-feira, agosto 18, 2014

Qual é o verdadeiro produto que a nossa agricultura pode oferecer? (parte II)

Parte I.
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Tenho idade suficiente para me recordar de um tempo em que não havia legumes congelados à venda. Só se comiam ervilhas e favas por altura da Páscoa (ainda hoje, tento comprar ervilhas frescas na altura da Páscoa porque têm um sabor diferente e muito mais saboroso).
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Sou do tempo em que só se comiam maçãs no tempo das maçãs e uvas no tempo das uvas, só se comiam frutos tropicais (manga e papaia) quando os meus avós de Angola vinham à Metrópole. Sou do tempo em que um texto sobre uma criança em estado terminal num hospital, ter desejado comer morangos (?) fora da época, e a cooperação que isso gerou para que o desejo fosse satisfeito; descobrir um país onde fosse época de morangos e transportá-los numa espécie de estafeta aérea até ao hospital, fazia parte do livro da disciplina de Português em 1977 ou 78.
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Hoje, temos fruta todo o ano, se agora não é a época das uvas na Europa, podem vir do Chile. E se não podem vir do Chile, talvez seja altura delas na Austrália ou na África do Sul.
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Li recentemente um artigo de Tim Worstall que no jornal encontra este relato, digno de um Portas da lavoura:
"A shopper was dismayed to discover his local Tesco selling 22 different varieties of apples but not one of them was British.
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Leo Deen checked 22 different varieties of the fruit at Tesco on Hibel Road in Macclesfield for a native apple – before walking away empty handed.
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Instead he found fruit which had been transported thousands of miles from Chile, the U.S., New Zealand and South Africa.
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‘Supermarkets should be buying local or at least from the same country and supporting British farmers, not flying in apples from the other side of the world during peak apple season in this country.’"
No jornal, correndo o risco de passar despercebido, este pequeno pormenor relatado pela Tesco:
"The traditional British apple season runs from September to July and our first new season British apple was in store this weekend.'"
Qual é o mês em que estamos?
Qual é o mês em que não há produção de maçãs em Inglaterra?
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Tim, no seu blogue, refere este calendário.
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Escrevo isto motivado por este artigo "Fruta exportada é mais cara do que a importada".
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Porque nos habituámos a comer fruta fresca durante todo o ano, independentemente da época de produção em Portugal, haverá sempre necessidade de importar fruta. Agora o que realmente me interessa salientar é:
"Tendo em conta os primeiros cinco meses deste ano, e de acordo com os dados do Eurostat, Portugal exportou pêras, laranjas, maçãs e kiwis, em valor por tonelada muito superior às importações."
Alguém está a fazer um bom trabalho de valorização e diferenciação.
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Apetece recordar aquela citação acerca do spa que venda tratamentos de pele feitos por lesmas, ver parte I desta série:
"So before you copy the spa’s method and do something that doesn’t scale, (Moi ici: No artigo pode ler-se "No entanto, salienta, tem algumas fragilidades, como a falta de organização e o baixo nível de concentração da oferta"understand what is the real product and what is just there to sell the real product." 
Se calhar são essas fragilidades que também contribuem para a marca Portugal e permitem a diferença de preço... autenticidade, menos associação a vómito agro-industrial.

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