sábado, julho 05, 2014

"A Alemanha tem muito mais protecção laboral e social do que Portugal"

Rápido, pensem numa mercearia de bairro que conheçam e que ainda esteja a operar. Acham que essa mercearia compete de igual para igual com o Continente da SONAE?
.
Rápido, pensem numa companhia aérea low-cost bem sucedida ao longo de vários anos de operação. Acham que compete de igual para igual com a TAP ou outra companhia de bandeira?
.
Claro que umas não competem no mesmo campeonato das outras. Por isso, seguem estratégias diferentes e valorizam diferentes factores competitivos.
.
O mesmo currículo escondido deste postal é o que está por detrás destes rankings de competitividade como o "The Global Competitiveness Report 2013-2014".
.
Primeira falha, os países não competem entre si, quem compete entre si são as empresas.
Segunda falha, os factores que ditam a competitividade não são iguais para todos.
.
Há dias, o presidente do governo regional dos Açores, vítima do currículo escondido, argumentou:
"O presidente do Governo dos Açores considera que os direitos, liberdades e garantias, no quadro de um despedimento colectivo, são "completamente compatíveis" com a competitividade empresarial, exemplificando com as realidades de países como a Alemanha, Suécia ou França."
Como se as empresas portuguesas-tipo estejam a competir nos mesmos mercados, pelos mesmos clientes-alvo com empresas-tipo da Alemanha, Suécia ou França.
.
Agora, no Twitter, a propósito de "A portuguesa que manda nos alemães: "A Alemanha tem muito mais proteção laboral e social que Portugal"" o @vicente79 sublinhou:
""A Alemanha é, do ponto de vista das leis, muito mais proteccionista da força de trabalho, porque a empresa é entendida como uma entidade social, até comunitária, que pertence não só aos donos como aos trabalhadores. Há o entendimento social de que os trabalhadores são tão importantes como os patrões. O poder de comissões de trabalhadores e de sindicatos, de facto e no espírito da lei, é muito maior do que em Portugal.
...
A Alemanha tem muito mais protecção laboral e social do que Portugal.""
 Vamos pegar num quadro que costumo usar para mostrar em que é que as empresas se devem concentrar, para terem uma estrutura produtiva coerente com a sua estratégia:

Será que os factores competitivos relevantes para a produção artesanal são os mesmos que os factores competitivos para a produção em linha?
.
As empresas-tipo portuguesas não competem com as alemãs, francesas ou suecas, portanto, é  irrelevante comparar Portugal com a Alemanha, a França ou a Suécia. Aquilo que facilita o estabelecimento e sucesso das empresas num país, pode ser perfeitamente irrelevante noutro país, e vice-versa.
.
E se Portugal adoptasse um salário mínimo semelhante ao do Luxemburgo, era bom não era? Como evoluiria o desemprego?
.
E se os trabalhadores de Beja, ou Bragança, tivessem um salário mínimo menor que o de Lisboa, haveria menos emprego? E se os trabalhadores de Lisboa tivessem um salário mínimo superior aos do resto do país?

5 comentários:

Carlos Albuquerque disse...

"a empresa é entendida como uma entidade social, até comunitária, que pertence não só aos donos como aos trabalhadores. Há o entendimento social de que os trabalhadores são tão importantes como os patrões"

Parece que é possível que um país tenha este entendimento da organização económica e ainda assim seja altamente competitivo.

Se temos que mudar algo em Portugal, porque vamos copiar os piores modelos do mundo em vez de copiar os melhores?

CCz disse...

Boa, saúda-se o seu voluntarismo. Aguardamos ansiosamente que abandone o quentinho do Estado e nos venha ensinar a nós empresários como se faz.
.
Muito obrigado.

João Pinto disse...

CCZ,

A Irlanda, como sabe, conseguiu atrair muitas multinacionais através de impostos baixos (a taxa de IRC é a mais baxa da UE) e da desburocratização.

Os países também competem entre si na atração de investimento, principalmente quando estamos a falar de multinacionais que prestam serviços em que a localização acaba por ser irrelevante, pelo que as empresas escolhem os países que mais vantagens lhes trazem..

CCz disse...

Touché em parte,
.
Embora esse tipo de empresas tenha direito a tratamento especial, atrás dos biombos e no conforto dos sofás e carpetes dos ministérios. Essa tipo de empresas consegue, no nosso país, benefícios, apoios e isenções que fariam corar como uma Vestal alguns velhos empresários de PMEs.

João Pinto disse...

Não sei se têm tratamento especial ou não. O meu comentário tem como princípio a não existência de tratamento especial.