"A lã, ainda suja, é lavada num lavadouro local, e depois volta para as instalações da CHIcoração para ser cardada e penteada. Torna a sair para ser fiada e tingida, e entra já em fio para ser trabalhada nos teares ou nas máquinas de tricot.Claro que esta escala assusta a tríade, a tríade gosta de exércitos gorkianos que obedecem e constroem as Metropolis e as Magnitogorsk que vomitam escala e volume ao preço mais baixo.
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Uma das coisas que me interessa neste caso é a escala a que se trabalha aqui. Não é artesanal. Não é industrial. Está ali naquele intermédio de que tanto gosto. Usa teares e máquinas de tricot semi-industriais dos anos 60, que oferecem tanto a possibilidade de se ir desenvolvendo peças lentamente, como se trabalhássemos em peças manuais, como permitem uma produção automática que torna o trabalho rentável após o desenvolvimento das peças. Permitem criar peças únicas, edições limitadas, desenvolver produtos novos, experimentar e, quando assim se quiser, partir para uma produção rentável.
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A outra coisa que acho interessante na Otília é a perfeita noção que ela tem do potencial deste tipo de produção. Talvez porque passa muito tempo sentada ao tear a criar padrões novos, ou a intervir na máquina de tricot, percebe a importância da proximidade com os meios de produção para se produzirem peças que, mais que a materialização de uma ideia abstracta, são também o produto de uma técnica específica. E, apesar disso, tem a perfeita noção de que tem um negócio que tem de ser sustentável.
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Na minha opinião, grande parte do valor do negócio da CHIcoração está no tipo de linha de produção que nela está a ser construído, ou a recuperado, que sendo tão focada numa produção de pequena/média escala, enquanto mantém o nível de qualidade alto, está muito alinhada com a viragem a nível global que se está a ver na área da manufactura, e que penso que se tornará cada vez mais relevante."
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E os duendes prometem mais revelações sobre estes duendes...
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Texto retirado de "CHICORAÇÃO (PT1)"
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