sábado, novembro 19, 2011

Democracias Tuteladas?


"They conclude: “Italy saw phases of rapid economic growth while the currency was either undervalued or in equilibrium. On the other hand, undervaluation did not necessarily bring about sustained GDP growth. Overall, these results are consistent with the hypothesis that an undervalued currency is rather a facilitating condition, but not an engine, for economic growth.”
.
It’s interesting to think about the benefits of an undervalued currency as a “facilitating condition” for growth. Some people argue that even if a country like Greece could leave the euro zone, it wouldn’t be able to benefit from a cheaper currency because its export industries are so poorly developed. But perhaps a currency that stays undervalued for long enough would encourage the development of new industries that didn’t exist before."
.
Devo ser eu que sou muito lento a perceber as coisas ... um país com uma economia de mercado, com uma moeda fraca e com empresários bem sucedidos nesse meio abiótico que tipo de indústrias cria?
.
As que mais partido tiram dessa condição de moeda fraca. Qual o gatilho, qual o mecanismo que iniciará uma revolução com massa crítica, para que esses empresários avancem para novas indústrias? Estão bem, para quê mudar... a não ser que sejam ameaçados por um outro ecossistema capaz de competir pelo mesmo nicho com vantagem competitiva... (E julgo que muitos macro-economistas não são sérios, ou suficientemente exaustivos na sua análise, quando deitam as culpas da falta de competitividade para o euro, para a moeda forte, sem nunca referir o impacte da abertura chinesa nas economias europeias. Mesmo com escudo, a economia portuguesa sofreria as consequências da China, os salários chineses eram tão baixos, tão baixos... que um país com uma moeda fraca e salários mais altos, entraria numa race-to-the-bottom desvalorizadora, a coisa é aditiva, como o crawling-peg o era e impediu as empresas de subir na escala de valor porque não precisavam, para, no fim, esmagado perceber que não tinha hipótese... nunca tentar competir com a China no custo nem com a Wal-Mart no preço)
.
Um país com uma economia de mercado, com uma moeda forte e com empresários bem sucedidos num passado de moeda fraca, como vai se comportar? Os mais  próximos do poder vão migrar para nichos onde possam estar protegidos da concorrência. Os mais longe do poder vão desaparecer ou ... como a natureza tem horror ao vazio, vão fazer tentativa e erro até que descubram como ter sucesso no novo ecossistema de moeda forte. Muitos vão perecer mas alguns vão descobrir o truque, depois, esse conhecimento novo vai propagar-se exponencialmente, primeiro dentro de um sector e, depois, timidamente começa a contaminar outros sectores. Como se começa do zero, o tipping point leva o seu tempo.
.
Se Portugal, ou a Grécia, ou a Itália, com moedas fracas nunca criaram essas indústrias, o que é que haveria agora de diferente a funcionar, para que tal sucedesse se começarem a fotocopiar bentos?
.
.
.
Nunca se interrogaram porque é que a Alemanha criou o ecossistema: Um país com uma economia de mercado, com uma moeda forte e com empresários bem sucedidos nesse meio abiótico.
.
.
Há algum tempo que nutro uma teoria maluca... porque foram um país ocupado, porque como país ocupado a democracia era tutelada por "outsiders".
.
Ainda há tempos alguém comparava a nossa economia à de um país destruído por uma guerra, como a gente não vê casas, fábricas, cidades destruídas de um dia para o outro não notamos a semelhança.
.
O que é que a troika vem cá fazer?
.
Por exemplo, quais foram as últimas palavras da troika relativamente à Madeira?
.
.
Passar naturalmente uma economia assente numa moeda fraca para uma economia assente numa moeda forte custa, há uma energia de activação a vencer. Essa energia de activação tem um custo que os demagogos que raptaram a democracia... ou se calhar é um defeito genético do sistema democrático... aproveitam para diluir, mascarar, eliminar, em troca de votos. Assim, nunca há pressão suficientemente forte para que uma massa crítica de empresas dê o salto. A não ser que a democracia esteja tutelada e, por isso, impedida de bloquear esse esforço.
.
Trecho inicial de "Growth and Italy’s Exchange Rate"

2 comentários:

Ricciardi disse...

Caro CCZ,

Porque é que temos de extremar o discurso e reflectir apenas numa dualidade entre uma moeda forte e uma moeda fraca?

Porque não uma moeda com uma cotação real, nem fraca, nem forte, e que reflicta o jogo natural de mercado?

O caro CCZ sabe bem que, uma moeda desfazada e sobrevalorizada e com taxas de juros artificiais, resultou num aumento inusitado das importações e do endividamento das familias e estado.

Não podemos apenas ver o lado positivo de termos uma moeda forte e as suas vantagens, devemos tambem observar qual foi o caminho percorrido pelos portugueses com um ambiente artificial. E não foi bom. Foi o pior de sempre.

Tam pouco me ouve a defender a impressão de moeda para fazer dumping cambial.

O que eu digo é que devemos ter uma cotação que reflita a realidade do defice externo e que pulse com taxas de juro condizentes com o nivel de preços que tem.

Pode argumentar, não sem razão que, se tivessemos o poder de imprimir bentos, os nossos politicos abusem dessa prerrogativa e passavam a emitir mais moeda do que a conta. Mas, creio, que isso pode ser resolvido com um banco central independente dos governos.

E repare, repôr a cotação da moeda com a realidade economica em nada prejudica o surgimento de um novo 'ecossistema'. Pelo contrario, sugirão negócios assentes em financiamentos com maior critério de selectividade e não este despericio de recursos que se verificou motivado por taxas de juro irreais.

Ricciardi (Rb)

CCz disse...

Caro Rb,

Agradeço o comentário e não posso deixar de estar de acordo com ele.
.
Posso estar errado, mas se um governo não mexer na cotação da sua moeda, e se a economia de um país se estiver a desenvolver, então, pelo simples facto do governo não mexer, essa moeda é considerada forte pelo mercado, pela sua estabilidade, por repousar na opinião dos actores no mercado e não depender de um apenas.