sábado, outubro 22, 2011

A farmácia do futuro (parte III)

Ontem dei uma primeira leitura a um livro acabado de sair e de chegar, de um dos meus autores preferidos, "Demand - Creating What People Love Before They Know They Want It" de Adrian Slywotzky.
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Retive a história sobre a mudança de vida que a tecnologia introduziu na vida de Babu Rajan, um pescador de Pallipuram na costa sudoeste da Índia.
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Rajan faz parte de um consórcio informal de 14 pescadores que detêm um barco que faz a faina no Mar Arábico. Até 2003 Rajan fazia o que durante milhares de anos os pescadores sempre fizeram. Iam para o mar, 12 a 14 horas seguidas, tinham mais ou menos sorte com a captura. Deslocavam-se para o porto mais próximo onde, sob um calor abrasador, negociavam com o grossista local a venda do peixe... quanto mais tempo demorava o negócio a fazer-se mais o peixe se desvalorizava, sem rede de frio, sem rede de transportes, não havia alternativa.
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Em 2003 Rajan fez o que muitos indianos começaram a fazer. Comprou um telemóvel!!!
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Agora, ainda a pesca está a decorrer, Rajan é contactado por vários grossistas de vários portos alternativos, e tem oportunidade de escolher a melhor oportunidade de negócio, só escolhendo o local de descarga depois de chegado a um acordo.
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Aposto que por cá, tal mudança seria impossível de realizar, dada a quantidade de regras e limites à livre iniciativa.
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Há anos que penso no negócio das farmácias e no seu futuro, como mero curioso:

Para mim, o futuro parece óbvio, basta pensar nos ingredientes do cenário:
  • demografia
  • progresso das doenças crónicas
  • recuo generalizado do serviço nacional de saúde
  • proletarização da profissão de médico - mais um funcionário público
  • proximidade das populações
  • rede capilar das farmácias
  • avanço dos medicamentos "personalizados"
Por isso, não me surpreendem estas evoluções "Out From Behind the Counter" que só não são mais rápidas porque não há a mesma liberdade que a que Rajan usufrui. 
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Ás vezes interrogo-me se os farmacêuticos, tão preocupados em salvar o status-quo, não estão a perder a oportunidade de subir na escala de valor e conquistar um outro papel na sociedade.

2 comentários:

Peliteiro disse...

Se para as pescas refere «a quantidade de regras e limites à livre iniciativa», imagine na Farmácia...

@boticando disse...

Por mais doloroso que possa ser, as medidas que nos são impostas pela troika como condição para o grande empréstimo que gentilmente nos fizeram, poderão ser uma oportunidade de renovação da economia. Talvez também no setor das farmácias, alguma alteração do status quo crie um novo equilíbrio em que o papel do farmacêutico como técnico e promotor da saúde saia reforçado.