sábado, junho 18, 2011

É assim tão difícil perceber este fenómeno? (parte IV)

Discutir produtividade em Portugal é um festival.
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Na parte I desta série, referi o postal de Álvaro Santos Pereira "Produtividade na OCDE". Ontem, ao voltar a esse postal, para ver se havia comentários, encontrei este que me mereceu especial atenção:
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"Eu trabalho numa multinacional da área dos serviços implantada no Mundo inteiro. Portugal está integrado numa região do Sul da Europa, que também inclui Espanha e Itália. Temos melhores indicadores, de longe, que Espanha e Itália, a todos os níveis, proporcionalmente falando. Somos, a empresa em Portugal, um exemplo para o resto da Europa. Por isso custa-me compreender esta coisa da baixa produtividade, se já trabalhamos tanto (e melhor)... Já sei, os indicadores e tal, mas dos exemplos que conheço somos melhores que eles!"
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Como é que a produtividade portuguesa é só 54% da produtividade americana? Os trabalhadores americanos trabalham com turbo?
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Como é que o gráfico do Desmitos:
se concilia com a produtividade dos portugueses no Luxemburgo e com o comentário acima transcrito?
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É fácil...
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Basta meter na cabeça que o nosso problema da produtividade portuguesa não está na forma como nós produzimos, não está na forma como nós trabalhamos! Isso é capaz de nos ajudar a subir meia-dúzia de pontos no gráfico mas não é suficiente, são peanuts!!! Isso é conversa do lean!!!
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O nosso problema da produtividade portuguesa está no que produzimos. O que produzimos tem um baixo valor potencial e, por isso, tem preços demasiado baixos.
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O teste faz-se quando empresas a trabalhar em Portugal produzem o mesmo tipo de serviços e produtos que outras empresas a trabalhar noutros países.
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Quem faz o comentário está a contar esse caso.
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Repare-se na equação:
Consideremos uma empresa em Portugal que produz os produtos ou serviços A e consegue e vendê-los ao preço B tendo os custos C.
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Comparemos com uma empresa do mesmo grupo ou concorrente, localizada noutro país, que produz os mesmos produtos ou serviços A que vende ao preço B.
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Como tem custos D superiores aos nossos, a nossa produtividade é sempre superior!
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Quando no início da década passada a Alemanha passava um mau bocado, os trabalhadores alemães da indústria automóvel tiveram de concordar com o abaixamento dos seus salários, porque competiam com os outros europeus do Sul. Os outros alemães, os que produzem o que é único e não têm concorrência a sério no resto da Europa, os campeões escondidos de Hermann Simon, não têm esse problema. Basta recordar "As anedotas".
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Aquilo que mais ajuda a perceber este fenómeno é, em minha opinião, escolher um sector de actividade de um mesmo país. Assim, isolam-se e podem ignorar-se toda uma série de factores brandidos pelos políticos e académicos (legislação laboral, horários de trabalho, formação dos trabalhadores, ...). Depois, comparem-se as produtividades dos diferentes agentes... ficarão parvos com a distribuição de produtividades que vão encontrar.
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E essa é a mensagem-chave que devia ser mostrada, comunicada, explicada... tudo o resto é treta e conversa de catequistas bem intencionados que querem melhorar o mundo, nem que para isso tenham de o destruir.

7 comentários:

Jose Silva disse...

Carlos

e´ lamentavel que o novo ministro da economia seja um macro-economista que nao sabe o que e´ a produtividade. O artigo no desmitos esta como habitual a pender para a questao dos custos.

da sua governaçao so saira equivocos, mesmo que faça algum combate contra a economia nao transaccionavel.

CCz disse...

Caro José,

Como eu gostava que estivesse errado!

CCz disse...

Caro José Silva não caiu em saco roto aquele e-mail "Empreendedorismo beautiful people" hei-de o usar em conjunto com "o empreendorismo típico de um país socialista. A primeira característica de um empreendorismo deste tipo é destinar-se a redistribuir e não a produzir, ao contrário do empreendorismo típico de uma economia livre" daqui http://oinsurgente.org/2011/05/30/uma-especie-de-5-dias-ao-ar-livre/

André disse...

Sabe, sabe o quê produtividade:

1) "O Medo do Insucesso Nacional": produtividade é i) melhor capital humano; ii) nelhores práticas organizativas (do Estado e das empresas); iii) mais capital (isto é máquina, computadores, etc.) disponível por trabalhador (...) A taxa de mortalidade das empresas é demasiado BAIXA (...) há poucos inecntivos à inovação e demasiado a empresas pouco dinâmicas são subsídiadas (a ler que este sub-capítulo é mais complicado de que à primeira vista poça parecer)

2) "Os mitos da economia portuguesa": sub-capítulo "Porquê que deviamos exportar os nossos getores e sindicatos?": Soumodip Sarkar concluiu que o nosso tecido empresarial continha demasiadas raposas e carneiros, bastantes ursos e poucos lobos (...) em média as nossas empresas têm graves deficências organizacionais, fazem pouco planeamento, têm deficiências de liderança (...) um curso universitário não é garantia de mais produtividade.

Jose Silva disse...

Andre,

As referencias que faz ao pensamento de Álvaro Santos Pereira demonstra que nem ele nem voce sabe o que e´ a produtividade.

A produtividade por trabalhador = somatorio do valor acrescentado bruto das empresas existentes numa economia a dividir pela populaçao activa ou hora trabalhada.

Da mera contabilidade, VAB algo parecido com resultados operacionais.

André disse...

As referências que eu fiz não são completas, precisam de serem lidas do princípio ao fim.

O José diz que a produtividade do trabalhador é o sumatório do VAB das empresas a dividir pela população ativa ou hora trabalhada. Concordo consigo, mas você sabe muito bem o que permite criar o valor. Ou melhor sabe que a diversas maneiras de criar, que dependem obviamente de vários factores, das empresas, do mercado em que se trabalha etc. e entre essas várias coisas é também preciso ter em conta os factores apresentados em cima.

Por exemplo como se pode explicar que um médico ganhe mais que um operário qalificado. O segundo não contribui mais a primeira vista para a criação de riqueza? Pois lá está a qualificação entre em quanto neste capítulo. Mas noutros não.

Frederico Lucas disse...

Apenas uma nota: foram os macro-economistas que identificaram há 11 anos o descalabro das contas públicas.

Aprendi a perguntar a solução a quem identifica o problema.