quarta-feira, maio 11, 2011

Sugestão para uma tese de doutoramento

Não há na academia ninguém com curiosidade?
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Enquanto que os economistas mainstream, os estabelecidos na vida, os que já não têm dúvidas, defendem que temos de baixar salários e custos para sermos competitivos. Os que ainda respeito mais são os que apesar de tudo fazem contas, mas fazem contas dentro do seu modelo mental que já está ultrapassado pela economia real.
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Et pur [a realidade] si muove... "Exportações de calçado cresceram 20 por cento no primeiro trimestre"
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Não vão acreditar, o mainstream pensa assim "“Ou baixamos a TSU ou temos de reduzir salários”", vários empresários do sector do calçado defendem... o aumento do salário mínimo!!! E justificam...
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Não acham curiosa a posição diametralmente oposta entre os empresários com resultados e os economistas da academia e ... qual a experiência de vida de Catroga? Conhece o mundo da concorrência através do valor acrescentado da moda, da diferenciação, da inovação... ou o mundo da concorrência pelo preço no negócio das commodities?
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A propósito, qual o desempenho da indústria de calçado brasileira?
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"Exportação de calçados cai em março"
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Esse é o risco de quem trabalha para o mercado americano "Cheaply made in the USA". Não, não falo só do câmbio, falo sobretudo de ser um mercado habituado a junk food, junk apparel, junk shoes, junk everywhere... essa é a nossa sorte, trabalhar para mercados requintados como os europeus.
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A sério, não há ninguém que queira dedicar 3 anos da sua vida a visitar esta realidade, a conhecer como fazem, como tem sido possível a esta gente concreta trocar as voltas e desacreditar as teorias dos senhores economistas da academia, para lançar as bases de uma nova visão sobre a competição pelo valor e não pelo preço?

8 comentários:

ematejoca disse...

Não foi a Angela Merkel que levou Portugal à ruína!!!

CCz disse...

Claro que não Teresa, essa é a desculpa de quem tem o locus de controlo no exterior.
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Somos como a Ripley na saga Aliens, o mal está dentro de nós.

CCz disse...

Estes é que vão precisar da descida da TSU http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=484049
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"Em Março, a taxa de variação homóloga do índice de volume de negócios no comércio a retalho foi -6,6%, o que compara com a diminuição de 3,6% observada em
Fevereiro.
Todos os agrupamentos registaram, em Março, taxas de variação homóloga mais negativas que as
observadas no mês anterior. O índice do agrupamento
de Produtos alimentares apresentou uma variação de -1,9% (-0,3% no mês anterior) e o de Produtos não
alimentares diminuiu 10,9% (variação homóloga de -6,4% em Fevereiro.)

CCz disse...

http://www.ine.pt/ngt_server/attachfileu.jsp?look_parentBoui=118185196&att_display=n&att_download=y

zazie disse...

Ccz,

Eu acompanho-o há muito mas há aqui algo que não entendo.

O Ccz sabe perfeitamente que a economia não serve apenas para aumentar o PI<<b. Pois bem, se é extremamente importante estas empresas criativas de dimensão familiar, isso nunca poderá ser extensível a um país inteiro.

Porque nem tudo é xpto e toda a gente precisa de trabalho. Portanto, eu entendo que o seu modelo tem de ser complemtentado com o antigo- o do marcelismo- agricultura, pescas, não ter vergonha de sermos um país agrário. A Aústria também o é.

De resto, se assim não for, v. vê-se confrontado com serviços, desemprego, RSI, défice, tudo concentrado em meia dúzia de cidades, mais défice, etc.

Ou então, serve para sonhar com a ideia maluca da "independência do norte" (o que quer que isso seja).

CCz disse...

É uma honra recebê-la neste humilde tugúrio!!!
“O Ccz sabe perfeitamente que a economia não serve apenas para aumentar o PIB” (Moi ici: O PIB é uma estatística. A economia devia ser relacionada com a felicidade das pessoas. Sem esse referencial tudo o resto é treta. A dificuldade está em conjugar essa felicidade de hoje com a felicidade das gerações futuras, uma felicidade de hoje sustentável. Já escrevi sobre isso aqui no blogue. Por isso, um dos últimos postais do Joaquim pôs-me a reflectir sobre a importância do papel do Diabo nas culturas humanas. Sem o medo do Diabo… é fácil descambar na felicidade toda hoje mesmo que a expensas das gerações futuras).
“Pois bem, se é extremamente importante estas empresas criativas de dimensão familiar, isso nunca poderá ser extensível a um país inteiro.” (Moi ici: Não têm necessariamente dimensão familiar. Sabe que as mil maiores empresas do país representam menos de 9% do emprego? Tal como numa floresta saudável, um ecossistema tem de incluir micro, pequenas, médias e grandes empresas)

Porque nem tudo é xpto e toda a gente precisa de trabalho. Portanto, eu entendo que o seu modelo tem de ser complementado com o antigo- o do marcelismo- agricultura, pescas, não ter vergonha de sermos um país agrário. A Aústria também o é. “ (Moi ici: Sim, mas como defendo no blogue há anos, não a agricultura marcelista que é a de Sócrates e a dos subsídios da EU. Sabe que as exportações de vinho estão bem? Qualidade e diferenciação. Sabe que Portugal exporta mais flores que vinho em euros? Tudo o que produzirmos e que o nosso clima dê vantagem competitiva faz sentido. Por isso, sempre defendi o anterior ministro da agricultura Jaime Silva. Ele era criticado por dizer que os cereais não eram estratégicos, mas que os diospiros, horticulas e kiwis o eram )
De resto, se assim não for, v. vê-se confrontado com serviços, desemprego, RSI, défice, tudo concentrado em meia dúzia de cidades, mais défice, etc.

Ou então, serve para sonhar com a ideia maluca da "independência do norte" (o que quer que isso seja). (Moi ici: Isso é que era Zazie… pagava para que isso acontecesse)

CCz disse...

http://www.destakes.com/redir/391192befdcbf6729a9a8da7d7382d62
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Só que este tipo de empresas (não é a dimensão, é o sector onde operam)só é suportável como cereja em cima do bolo de uma economia de bens transaccionáveis saudável. Este sector só pode ser suportado por consumidores com dinheiro... como consumir é pecado em Portugal... só com subsídios de um estado na bancarrota é que muitos sobrevivem.

zazie disse...

«mas como defendo no blogue há anos, não a agricultura marcelista que é a de Sócrates e a dos subsídios da EU.»

Ora bem. Então estamos de acordo. Inovação e qualidade que não precisa de "fordismo" e dimensão familiar, mas também trabalho e emprego aproveitando inteligentemente os recursos naturais.

Isso implica logo uma aparente contradição- entrega à sociedade civil, o que é inovação; visão nacional do que terá de ser plano.

E eu acho que isto se pode conjugar. Penso até que é a única solução. Mas duvido que exista quem a pense ou que saiba como.

Por outro lado diz: « Este sector só pode ser suportado por consumidores com dinheiro... como consumir é pecado em Portugal... só com subsídios de um estado na bancarrota é que muitos sobrevivem.»

E é aqui que a porca torce o rabo.

Tem de haver proteccionismo, embora eu saiba que v.s imaginam que não.

Tem de haver. Porque é preciso trabalho-as pessoas não vivem do PIB nacional e, como é óbvio, nem sequer a riqueza de uns os faz ricos por contaminação.

Gostei desta pequena conversa e desculpe no outro dia eu estar meio parvinha.

Quanto a historieta da independência nem sei, nem quero saber porque é uma fantasia.
Apenas posso adiantar que não me agrada a ideia de uma EUE e aí, sim, as federações do Império são inevitáveis.

Mas ninguém sabe o que isto vai dar. Estamos a viver o colapso de umas velhas utopias, ainda que com novas roupagens.