quarta-feira, setembro 15, 2010

Seis Sigma e Inovação: Para mim não cola

Ontem de manhã, o administrador de uma empresa com a qual estou a desenvolver um projecto mandou-me esta newsletter chamando a minha atenção para o artigo "Seis Sigma e Inovação: serão ambos possíveis em simultâneo?"
A mim, o artigo não convenceu.
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Além disso tem algumas afirmações muito bonitas mas perigosas.
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Por exemplo: "Objectivo: atingir um melhoramento rápido e significativo para se tornar o “best-inclass” em tudo." 
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Em tudo? 
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Em tudo?
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E é possível "em tudo?"
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Se fosse possível melhorar tudo, onde estava a necessidade de uma estratégia?
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Por exemplo, Tony Hsieh no livro "Delivering Happiness: A Path to Profits, Passion, and Purpose" escreve:
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"The most efficient way to run a warehouse is to let the orders pile up, so that when a worker walks around picking up orders, the picking density is higher and the worker has less distance to walk. But we're not trying to maximize picking efficiency.
We're trying to maximize the customer experience, which in e-commerce involves getting orders out to customers as quickly as possible." 
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Eficácia à frente da eficiência!
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O que diria o Seis Sigma disto? 
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O Seis Sigma não é eficiência?
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Outro trecho: "Uma vez mais, não é errado ser consistente se os processos estão a oferecer um valor excepcional ao consumidor" 
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Sublinho "se os processos estão a oferecer", se estão a a produzir já algo, já não é inovador, já foi inovador. Agora, uns chineses acabados de chegar do campo à Foxconn podem fabricar i-pads de forma repetitiva até ao final dos tempos.
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Outro trecho: "se a Apple produz os seus produtos" cá está, fala do presente, do processo, da massificação, não fala do projecto, não fala do protótipo.
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Não, não conseguiram convencer-me de que o Seis Sigma e a Inovação possam ser usados em conjunto.

6 comentários:

nuno disse...

O sixsigma ou lean são caminhos que, infelizmente a maior parte das nossas empresas ainda precisam percorrer. Eu vejo este passo como uma necessidade para se poder chegar ao universo que o Carlos preconiza na vertente da proposta de valor, mas antes, a maior parte das empresas precisa fazer um programa de "secar" e ordenar processos produtivos, comerciais...
Obviamente isto é trabalho no denominador, e só no denominador. O problema dos defensores do lean é que não conhecem mercado, só conhecem universos de mega conglomerados empresariais com aplicação em unidades fabris que se produz unicamente para o chefe de fila, aí sim, não têm de se preocupar com a parte verdadeiramente difícil, a conquista de mercados e satisfação de clientes.

CCz disse...

Na mouche caro Nuno.
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Logo, com mais tempo, escrevo algo sobre o seu comentário.
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Acompanhou os textos de Pedro Arroja na blogosfera?

nuno disse...

:) como disse no jantar, só sigo o seu blog e o do edward hugh. Quero ver se adiciono os dos participantes do jantar mas ainda não comecei. Quanto ao resto... infelizmente não sei quem é o Pedro Arroja

CCz disse...

Pedro arroja escreveu neste blogue http://portugalcontemporaneo.blogspot.com/ durante uns meses.
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Atalhando, lembrei-me de Pedro Arroja pois ele dizia que os povos católicos tinham uma maneira de pensar diferente da dos protestantes. A economia da massificação é a da eficiência e da racionalidade protestante.
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As empresas de países católicos com gente criada na cultura católica só terá sucesso operando nos modelos de negócio que valorizam e privilegiam o modelo católico de pensar e viver.
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Assim, não creio que tenhamos de seguir o caminho que outros seguiram, podemos fazer o by-pass e tentar ultrapassá-los.

nuno disse...

Eu sou um fã do lean, mas na perspectiva de parametrização de funcionamentos e secagem de custos. Acompanhei a implementação na unidade de cá da faurécia, e de facto em organização de trabalho, segmentação e sistematização de funcionamentos resulta muito bem.
Sinceramente não consigo ver um sistema melhor para trabalho no denominador... tudo o que passa daí para estratégia, trabalho no numerador nem sequer vale a pena pensar nisso.
Mas agora deixou-me curioso, como é que você vê a utilização do modelo católico para trabalho no denominador??? ou esquecemos o denominador??

CCz disse...

Vou tentar responder logo... mas isto era conversa para ter à frente de uma posta mirandesa ou de uma francesinha.
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Nuno, conhece o termo "polarização dos mercados":
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http://www.pmausa.com/process.htm
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Este artigo é fenomenal: https://www.mckinseyquarterly.com/The_vanishing_middle_market_1687