sábado, agosto 22, 2020

Estórias que alegram a travessia do deserto

Um dos livros que herdei da biblioteca do meu pai foi “Small Is Beautiful” de E.F. Schumacher. Acho que nunca o li, o que é estranho para alguém que escreve sobre a democratização da produção e sobre Mongo.

Esta semana comecei a ler "When More Is Not Better" de Roger Martin (claro que irei escrever mais do que uma vez sobre um livro que ataca a paranóia do eficientismo). Ao ler a longa introdução dei comigo a discordar das razões do autor para a origem da deriva de desigualdade que afecta a economia americana a partir de 1972. O empobrecimento da classe trabalhadora americana e europeia se calhar tem muito mais a ver com o enriquecimento das classes trabalhadoras no chamado Terceiro Mundo. O capital existe para apoiar empreendedores e muitos deles sofrem da doença anglo-saxónica. Se existem trabalhadores mais baratos noutra parte do mundo... porque não deslocalizar a produção para essa outra parte do mundo e obter um maior retorno?

Por isso, sonho com Mongo, sonho com a democratização da produção, sonho com a salvação pela arte.
Por isso, sonho com uma economia que não aspira ao crescimento desmesurado, mas à paixão.
Por isso, sonho com uma economia de makers recheada de ateliês e cooperativas.

Por isso, aprecio estórias como esta "Want to Make It Big in Fashion? Think Small Like, Evan Kinori":
"Evan Kinori, 32, operates a one-man clothing label. Here — or rather in an adjacent garage — he creates garments that are manufactured mostly within a one-mile radius of his workshop in small hand-numbered batches, in patterns and fabrics that change by subtle degrees from one season to the next and that, as GQ recently noted, “sell fast and never reappear.”
...
Mr. Kinori does not call himself a tailor or even a designer. Rather, he is a craftsman, somewhat in the tradition of people like the great Bay Area architect Joseph Esherick, who throughout his career concerned himself less with creating branded monuments to himself than with making harmonious, humane spaces.
...
Mr. Kinori’s clothes bring to mind those houses — careful, deliberate, free of ostentation, handmade. They are cut from patterns he devises himself and sewn with French seams on single-needle machines. They are pieced together from cloth sourced from dead stock or traditional Irish tweed makers like Molloy & Sons in County Donegal or Belgian linen manufactories or kimono cotton mills in far-off Japanese prefectures. When he works, he thinks less about the demands of the industrial fashion machine than a desire to create durable objects."
Não sou ingénuo ao ponto de pensar que operários transformam-se em criadores-fazedores com um golpe de mágica.
Não sou ingénuo ao ponto de pensar que se fica rico, mas ganha-se a vida de cabeça erguida, é-se independente e livre.

Tenho de ter a paciência de viver os 47 dias incipentes, a travessia do deserto, antes da transformação.

BTW, a direita política não aprecia Mongo porque retira poder às so-called elites rentistas. A esquerda política também não aprecia Mongo porque lhe retira peões.

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