sábado, junho 13, 2020

O futuro do país em banho-maria

Ontem passei as mãos pelas primeiras páginas de um livro, "Pirates in the Navy". Título que joga com as palavras da frase:
"Why join the navy when you can be a pirate!"
E ao ler a introdução aconteceu-me o estranho caso de ler e constantemente pensar em Portugal.

Por navy entenda-se os incumbentes instalados, as empresas grandes, o sistema político.
Por pirates entenda-se as startups, muito mais ágeis e sem tradição a tolher os movimentos.

Agora, ao escrever estas linhas, recordo que o livro "Why Nations Fail" começa com o museu Veneza, uma cidade dominada pela navy que escolheu o imobilismo só para proteger os interesses dos seus incumbentes.
"Startups can do anything.
Companies can only do what’s legal. [Moi ici: Mas que comparação é esta entre a navy e Portugal? Um país que em cerca de 45 anos já vai a caminho da 4ª injecção de capital externo para se salvar(?), deve ter algo de pôdre embutido nos caboucos da sua organização. Um país em que se pensa que só se pode fazer o que é permitido na lei é um país doente e a precisar de piratas]
Having no business model and no market reputation to defend makes startups quite dangerous as competitors. If you combine this with the fact that startups are now better funded and their incentives are aligned with their investors’ goals, large companies are competing with a formidable foe.
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Meanwhile, inside most large companies there are still leaders who question the need to innovate.  [Moi ici: Dentro dos principais partidos, carregados de socialistas de direita ou de esquerda, poucos, muito poucos são os que percebem que algo tem de mudar nesta Dinamarca. Tenho idade suficioente para me lembrar do tempo em que Cavaco defendeu e impôs, contra tudo e contra todo o establishment, a abertura da economia à iniciativa privada com as privatizações. Havemos de chegar a um novo momento do mesmo tipo, não com os actuais políticos, demasiado presos a um modelo que funcionava quando se podia desvalorizar a moeda e enganar os papalvos. Já escrevi aqui no tempo da troika, a ideia de Louçã/Ferreira do Amaral de desvalorizar moeda e de Ferraz da Costa de baixar salários é na prática a mesma. Só que ainda não chegamos lá. Ainda estamos reféns da geração dos distribuidores de riqueza a partir de thin air] To be fair, there is a discernible shift in leadership attitudes towards innovation taking place in most organisations. However, in some large companies there is still an intractable core of leaders who actively resist innovation projects as a waste of time and resources.
It is a myth that innovation is sexy. In a lot of companies, it is career suicide. So, while startups are focused on resisting enemies and competitors that are outside their company, innovators within large companies have to contend with enemies and competitors inside their own companies as well. [Moi ici: Tipicamente as pessoas mais empreendedoras acabam por sair destas organizações incumbentes. Preferem arriscar e respirar melhor do que se subjugar à promessa "Ajoelha-te perante mim e dar-te-ei todo o poder ...". E o que é a emigração portuguesa senão uma decisão de não pactuar com o status-quo?]
Corporate innovation is a paradox. Intrapreneurs – employees who work on entrepreneurial ideas inside an established company – have to innovate for the future, inside a machine designed to run the current business. It is the management of the current business that tends to get in the way of innovation. The bureaucracy and incentives of the organisation are all geared towards improving and exploiting the currently successful products and business models.
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At the same time, these large corporations have entrepreneurial employees who are constantly trying to innovate. As far as I am concerned, these people are crazy. They wake up every morning and go to work to swim against the tide. This is insane! And yet, they exist: [Moi ici: Isto faz-me lembrar uma conversa que tive ontem no Twitter com alguém, sem skin-in-the-game, acerca do salário mínimo... Estes malucos do livro são os empreendedores, os empresário em Portugal. Um país que não os respeita, que pensa o pior deles, mas que depende deles. Podem ter o 9º ano de escolaridade mas nunca mandarão o país para a bancarrota. Podem não gerar muito valor acrescentado, mas fazem a sua parte o melhor que podem e só esperam, como numa corrida de estafetas, que apareça quem faça melhor do que eles. Só que quem protesta ou é funcionário, ou tem medo de arriscar...] passionate employees who are committed to helping their company become more innovative. They can see the future coming and they are committed to ensuring that their company survives in that future."
O futuro do país estará em banho-maria até que apareça alguém capaz de libertar o país para um modelo que não esteja constantemente a depender de esmolas externas e de impostagem crescente.
 

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