sábado, outubro 26, 2019

Economista com a doença dos engenheiros

Consideremos o Evangelho do Valor e a equação:
Agora, consideremos esta abordagem:
"Mais produtividade, mais competitividade. É esta a receita do bastonário da Ordem dos Economistas, Rui Leão Martinho, para o crescimento. [Moi ici: A sério?]
...
A produtividade é determinante para ganharmos competitividade."
Leio este último sublinhado e sorrio em discordância.

Não é por sermos mais produtivos que seremos mais competitivos. Isso é a aposta no denominador daquela equação.

A aposta no numerador, pela diferenciação e escassez, leva-nos a sermos competitivos. Por que somos competitivos podemos ter preços mais elevados e daí vem a produtividade.

Economista com a doença dos engenheiros.

Trecho retirado do Jornal Económico de 25 de Outubro de 2019, “É preciso menos intervenção do Estado no licenciamento de empresas”

3 comentários:

João Pinto disse...

Uma empresa pode ser muito competitiva sem ser muito produtiva. As empresas que ganham a luta do preço mais baixo são muito competitivas (uma vez que passam á frente da concorrência), mas a relação entre o valor criado e os custos pode ser baixo.

O aumento da produtividade tanto pode estar relacionado com o numerador como com o denominador. Nesta sua análise,o Carlos parte do princípio que o bastonário se está a referir apenas ao centro

CCz disse...

Estive tentado a alongar o postal explicando um pouco mais o meu ponto.

Uma empresa que está na luta do preço mais baixo com cabeça, tronco e membros, tem sempre de ser muito produtiva. Infelizmente, a maior partes das empresas que está nesse campeonato está não por escolha deliberada, mas arrastada pelas circunstâncias. Por isso, estão sempre na corda bamba, com problemas de tesouraria e nas mãos dos clientes. Como escrevo aqui desde 2007: O negócio do preço não é para quem quer é para quem pode.

Escrevi o postal porque muitos, diria a esmagadora dos comentadores económicos, só conhece o trabalhar o numerador da produtividade. Tal como no artigo de Gronroos e Ojasalo, as pessoas olham para a equação da produtividade e esquecem-se que podem mudar o output, podem deixar de vender enxadas e começar a vender bancos de jardim.

É claro que o aumento da produtividade tanto pode estar relacionado com o numerador como com o denominador, o problema é que a empresa portuguesa-tipo, não tem mercado nem, sobretudo nem, capacidade organizativa para abraçar com cabeça tronco e membros o desafio de competir pelo preço mais baixo, as exigências de escala e volume são tremendas.

Um abraço

João Pinto disse...

Imagine uma daquelas empresas que, de repente, fecham e os funcionários advogam: não percebemos porque é que fechou, uma vez que tínhamos muito trabalho... A empresa era muito competitiva (ainda que apenas virtualmente), uma vez que era muito competitiva (ganhava negócio á concorrência), mas era pouco produtiva (os recursos gerados eram insufientes).

Eu percebo o seu ponto: se não for produtiva morre, mesmo que seja competitiva.