segunda-feira, maio 11, 2015

Assim, talvez ter inimigos entre os clientes ou ex-clientes seja bom sinal (parte II)

Parte I.
.
Vamos recuar a 2008 com esta imagem:
Quanto mais pura é uma estratégia, maior a rentabilidade.
.
Então, porque razão é que uma empresa há-de enveredar por estratégias híbridas?
.
Suspeito que por causa do "bezerro de ouro" da quota de mercado.
.
Quando uma empresa opta por uma estratégia pura, por exemplo, escolhe como clientes-alvo, para o seu projecto de turismo no Douro, os birdwatchers entusiastas e endinheirados, escolhe servir um nicho e deixa de lado muitos potenciais clientes que não se encaixam no perfil.
.
Voltemos ao teste da parte I: Se o contrário de uma estratégia não é estúpido, então, uma empresa bem sucedida terá clientes muito satisfeitos (evangelistas), os birdwatchers entusiastas e endinheirados, os clientes-alvos da estratégia. E, terá também, clientes muito insatisfeitos (potenciais terroristas), os clientes-alvo de uma estratégia oposta, os apreciadores de paisagens, ou os apreciadores de paz e sossego, ou os apreciadores de vinho do Douro, ou ...
.
Além da quota de mercado, outro factor que pode levar uma empresa a optar por estratégias híbridas é a crença na relação:
Se uma empresa medir a satisfação dos clientes recorrendo a questionários genéricos, bem intencionados mas não construídos com base na sua estratégia, fica condenada à comoditização, como tão bem explica Youngme Moon.
.
Recordar:


.
Se essa empresa medir a satisfação dos seus clientes terá um resultado não muito abonatório, pois a alta pontuação dos evangelistas será "aguada" pela baixa pontuação dos terroristas.
.
Ora, se uma empresa tem em conta a quota de mercado e a suposta relação entre satisfação e resultados financeiros, vai começar a pensar em "namorar" os clientes que não são o alvo, para as poder aumentar, para poder chegar a mais gente e ganhar mais. Por isso, vai abandonar a sua estratégia pura e vai enveredar por uma estratégia híbrida, para melhorar a opinião dos terroristas. Como consequência, os evangelistas vão deixar de ter a a empresa em tão alta consideração.
.
Resultado:
  • a quota de mercado vai aumentar;
  • a satisfação medida vai aumentar;
  • a diferenciação face a outras empresas vai baixar;
  • a empresa vai-se comoditizar;
  • a margem vai baixar.
Assim, valores elevados de satisfação, associados a elevadas quotas de mercado, acabam por se correlacionarem com margens mais apertadas.
.
Um tema muito parecido com este é desenvolvido por Ajit Rao em "Value Promise versus Value Delivery" publicado por Journal of Creating Value 1(1) -91 –100. Alguns excertos:
"If one reviews customer satisfaction questionnaires, one would find that in any sector, there are minor differences between the questionnaire of one brand of service provider and another.
This indicates that most companies today are offering and measuring ‘commodity’ customer service. The questionnaires are mostly similar, especially in the factors (themes) and attributes that are covered in the survey.
...
the customer satisfaction scores of most banks is going up. Yet, the share of the wallet is decreasing, possibly because most customers are unable to differentiate one bank from another, based on quality of service, and hence, customers end up choosing a bank/product based on charges, fees or interest rates.[Moi ici: Como não me lembrar de conversa ao almoço na semana passada em que gerente se queixava que o seu sector, muito regulado, presta um serviço de excelência e não é recompensado devidamente por isso. Falei-lhe logo no marxianismo.]
...
Over the past several years, managers have been largely preoccupied with improving operational effectiveness [Moi ici: Cá está a minha preocupação com a cristalização do movimento da Qualidade] resulting in the rise of the quality movement, the six-sigma movement, etc. A natural fallout of these improvement efforts was the overall enhancement in customer satisfaction.
.
Organizations are also benchmarking themselves with their competitors, not only within their markets but also with companies in other regions. So when a company makes a change in any of its processes other companies quickly follow those best practices. This tendency is resulting in ‘raising the bar’ when it comes to service delivery at customer ‘moments-of-truth’.
...
As a result, customer satisfaction of most organizations is going up. However, in the process, there is hardly any differentiation in the services delivered from a company in one sector to another.
...
Those organizations that view service as a competitive edge focus their energies in improving customer satisfaction. However, over time, while these companies do indeed improve customer satisfaction, they do so at the cost of poor differentiation compared to competition.
...
Hence despite improving customer satisfaction, these sectors end up competing on price and promotions.
...
Organizations cannot view service delivery or customer experience independent of the brand and only as improvements in operational excellence; organizations will need to bring strategy back into service delivery by ensuring that the brand promise is delivered at every interaction point with the organization. Indeed, the management and measurement of customer satisfaction will no longer be about just plain satisfaction but about relevant satisfaction or satisfaction in the context of truly aligning the experience with the brand promise."[Moi ici: Este sublinhado final é tremendo de importância... se bem interiorizado, cada empresa teria um questionário de satisfação em função da sua estratégia e não um genérico que o consultor trouxe]

3 comentários:

Zé Luís disse...

Fantástico. Tenho aprendido muito aqui. Cheguei por acaso, por terceiros, e visito diariamente.

Obrigado

Zé Luís

CCz disse...

Obrigado Luís.

Abraço!

Paulo Peres disse...

Sensacional Carlos!
Muito obrigado por poder ler isso!