domingo, julho 07, 2013

E o lado intangível?

2 reparos a propósito de "Why Doesn't Everybody Buy Cheap, Generic Headache Medicine?"
.
Primeiro:
"Why does anyone buy Bayer aspirin — or Tylenol, or Advil — when, almost always, there's a bottle of cheaper generic pills, with the same active ingredient, sitting right next to the brand-name pills?
.
Matthew Gentzkow, an economist at the University of Chicago's Booth school, recently tried to answer this question. Along with a few colleagues, Gentzkow set out to test a hypothesis: Maybe people buy the brand-name pills because they just don't know that the generic version is basically the same thing."
Por que é que cada vez mais empresas farmacêuticas estão a recuar e  a deixar de comprar APIs (active pharmaceutical ingredient) na China?
.
Aqui, o meu passado da química e da indústria química vem ao de cima, bem como o meu passado da qualidade e do seu combate à variabilidade.
.
O API pode ser o mesmo... e as impurezas, são as mesmas?
.
Quando a ICI (inglesa) e a Enimont (italiana) se juntaram para formar a EVC (European Vinyls Corporation) dividiram o mercado entre si. Por exemplo, em Portugal quem comprasse PVC à EVC tinha de comprar o produzido em Itália. A empresa onde eu trabalhava na altura, apesar da referência e da descrição do e-PVC ser a mesma, não conseguia ter os mesmos resultados com o e-PVC italiano que conseguia com o inglês, a reologia não era a mesma. Lembro-me do meu director técnico dizer "A água que entra no reactor é diferente!"
.
Portanto, cuidado com as simplificações, o API pode ser o mesmo mas as impurezas, que existem sempre, são diferentes. E, depois, são essas impurezas diferentes que por vezes tramam os testes de estabilidade.
.
Segundo:
"I asked several people who had a bottle of Bayer or Tylenol or Advil at home why they'd bought the brand name. One guy told me he didn't want his wife to think he was cheap. A woman told me Bayer reminded her of her grandmother. Another guy, a lawyer, said he just didn't want to spend the time to figure it out, and decided it was worth the extra couple bucks to buy the brand.
.
In general, we often buy brands when we lack information — (Moi ici: Isto é o que os industriais do sector do bacalhau ainda não perceberam) when, like that lawyer, we decide it's easier to spend the extra money rather than try to figure out what's what.
.
Jesse Shapiro, one of the co-authors of the headache paper, told me he buys Heinz ketchup rather than the generic brand. He likes Heinz. He thinks it's better than the generic, but he's not sure. "I couldn't promise that, if you blindfolded me, I could tell them apart," he says."
O texto só dá valor ao lado tangível. E o lado intangível? E aquilo que não se pode pôr numa folha de cálculo?

8 comentários:

Azrael disse...

Relativamente à pureza, os seus limites são iguais para genéricos e de marca.

Todos os ensaios de qualidade são, por exigência legal e dos reguladores, iguais quer para genéricos como para de marca

Neste caso é só mesmo na cabeça das pessoas há diferença.

CCz disse...

Houve um tempo em que eu pensava assim. Até que percebi as diferenças de rigor no controlo da qualidade.

Azrael disse...

Que diferenças são essas?

CCz disse...

http://www.ijdrt.com/ijdrt_May-June_2012_article6.pdf

Será que a McDonald's tem o mesmo potencial de perda de negócio que um estabelecimento isolado, por causa de problemas de higiene relatados nas capas dos jornais?

Azrael disse...

Compreendo o racional disso. No entanto será talvez verdade para o McDonald's mas não para os medicamentos pois tratam-se de mercados muito diferentes com diferentes níveis de escrutínio, regulamentação e graus de exigência completamente incomparáveis.

Também a variabilidade na obtenção de matérias primas para medicamentos é provavelmente muito inferior a, por exemplo, obter matérias primas para hambúrguers.

O que esse artigo diz é que o controlo das impurezas é importante para os medicamentos. Plenamente de acordo.

Concluir daí que os produtores de medicamentos de marca fazem esse controlo melhor do que os produtores de genéricos só porque têm uma maior medo de aparecerem nas capas de jornais já é especulação. Seria até assustador considerar que a motivação dessas empresas para manter a qualidade dos seus produtos é não fazerem as headlines dos jornais por motivos negativos.

Mas devido a suspeitas como essa os genéricos sempre estiveram sob grande escrutínio e portanto já existem imensos dados sobre isso que nos deixam descansados.

Deixo aqui um exemplo (entre muitos), feito em portugal pelo INFARMED que conclui, entre outros, que não há diferenças na qualidade dos medicamentos genéricos e dos não genéricos (foram até detectadas mais não conformidades nos de merca, o que provavelmente se explica devido à diferença no número de amostras utilizadas): https://dl.dropboxusercontent.com/u/470114/Comprova%C3%A7%C3%A3o%20da%20qualidade%20de%20medicamentos%20gen%C3%A9ricos.pdf

Creio que este é um tema que tem que ser tratado de forma diferente à que se usa para o resto das indústrias tradicionais.

cop disse...

Dan Ariely no seu livro "Previsivelmente irracional" explica porque é que uma aspirina de dez cêntimos não faz o mesmo que uma de cinquenta.
O efeito preço cria expectativas...apenas com base no preço é fácil imaginar que um sofá de 4 mil € seja mais confortável que um de 400 €... mas no caso de um medicamento, para além do preço ainda temos o efeito placebo a funcionar. E, segundo as experiências do autor, o preço influencia a eficácia dos placebos. Numa experiência para testar a eficácia de um novo analgésico, a grande maioria dos participantes registaram um alívio muito significativo da dor quando na realidade o comprimido que tomaram era vitamina C (placebo). Mas, quando para o mesmo comprimido foi alterada a brochura , eliminando o preço original (2,5€/unidade)e inserindo o preço promocional de 10 cêntimos, só metade sentiu o mesmo efeito.

CCz disse...

Bem lembrado

http://balancedscorecard.blogspot.pt/2012/07/o-poder-das-expectativas-placebo-parte.html

Azrael disse...

Isso sim. O efeito placebo tem real impacto nas melhorias reportadas pelas pessoas. Mas nada tem a ver com as impurezas ou a qualidade tangível do produto.