sábado, maio 04, 2013

Pós-Magnitogorsk

Nada de novo no texto que se segue. Escreve-se sobre isto aqui no blogue há vários anos. O que é novidade é encontrar isto escrito num jornal português:
"No essencial esta nova fábrica, apropriadamente intitulada "NextFab", consiste num conjunto de máquinas, várias de base digital mas outras não, com as quais é possível fabricar praticamente tudo. Tem similaridades com os chamados FabLabs, uma invenção do MIT, mas com uma variante importante. A componente digital, crítica nos FabLabs, não é aqui determinante.
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Na indústria convencional (Moi ici: Produção em massa, modelo do século XX) as máquinas são concebidas para cumprirem uma única e repetitiva função. Cada nova produção exige normalmente uma reconfiguração importante da maquinaria e dos processos. Ao invés, neste novo tipo de fábrica pode fazer-se em simultâneo uma bicicleta, um saca-rolhas, uma camisola ou desenvolver um novo polímero. As máquinas são muito versáteis e de elevada capacidade combinatória. (Moi ici: Produção customizada em Mongo, peças únicas, pequenas séries, produção para uso próprio)
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A nova fábrica é acessível a qualquer pessoa, quer na modalidade de auto-produção, em que o próprio opera os equipamentos, ou contratando pontualmente um serviço de assistência. (Moi ici: Prosumers, os artesãos de Mongo - todos nós) O modelo de negócio segue estas ideias e é por isso bastante original. Assenta numa carteira de associados que, através do pagamento de uma cota incomparavelmente menor do que o investimento em causa, utilizam livremente e sem mais custos todos os equipamentos. Estes são portanto partilhados e utilizados de forma bastante mais eficaz e produtiva do que é habitual. A propriedade exclusiva não é económica nem muito inteligente. Uma máquina, um qualquer equipamento ou, por exemplo, o nosso carro estão na maior parte do tempo parados. Não faz qualquer sentido. A partilha é muito mais lógica e eficaz. (Moi ici: Os modelos de negócio assentes na partilha e no aluguer)
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O gosto muda velozmente, a inovação constante altera comportamentos e necessidades, os problemas sociais, ambientais e económicos crescem em complexidade. Faz cada vez menos sentido continuar a produzir em massa, quando as pessoas desejam diferenciação. Faz cada vez menos sentido impor uma determinada solução quando as pessoas gostariam de poder escolher, desenhar, conceber a sua.
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Existem para além disso problemas concretos que exigem uma mudança. A produção em massa gera imensos desperdícios, precisa de enormes áreas de armazenagem, requer uma sofisticada e onerosa rede de transportes. É, além do mais, ambientalmente insustentável. Por isso as fábricas do futuro terão forçosamente de ser muito diferentes.
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A indústria do futuro será ligeira, dispersa, diversificada e sobretudo acessível. Os equipamentos pesados, as grandes linhas de montagem irão dando lugar a pequenos centros de produção que funcionarão ao virar da esquina. Os poluentes e inacessíveis complexos industriais tenderão a desaparecer. Assistiremos a uma espécie de regresso da pequena oficina de bairro, só que altamente sofisticada e, mais importante, à disposição de todos. Isto vai mudar muito o universo produtivo e é melhor estarmos todos preparados. Depois não digam que não avisei."
Agora imaginem  o mundo de possibilidades que se abre...
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´As Magnitogorsk do século XX absorveram as pessoas expulsas da agricultura. Agora, com o fim dessas Magnitogorsk voltaremos ao mundo não normalizado, ao mundo diversificado, ao mundo da produção dispersa e próxima do consumo. voltaremos a um mundo com menos empregados por conta de outrém. Small is beautiful!
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Trecho retirado de "Nova indústria".

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