sexta-feira, junho 15, 2012

Acerca da ordem espontânea

A propósito deste postal "o que é, afinal, o “mercado”?", ontem à noite apanhei a meio um programa no canal Odisseia onde um indivíduo falava com especialistas que lhe explicavam como os comportamentos, aparentemente organizados, de colónias de formigas e de enxames de gafanhotos, resultam do somatório das decisões locais de cada indivíduo.
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O programa terminou com a viagem a uma localidade na Holanda onde a autarquia acabou com os passeios, acabou com os polícias de trânsito, acabou com os sinais stop e com os semáforos e... conseguiu reduzir os acidentes de trânsito e as mortes na estrada.

14 comentários:

Anónimo disse...

Um sistema anárquico, sem hierarquias nem prioridades não funciona. Há localidades em espanha que retiraram a semaforização e que tiveram resultados positivos mas também há casos onde tiveram de voltar a colocar os semáforos...

Anónimo disse...

As decisões locais de cada individuo resultam num sistema caótico que é preciso organizar. Basta ver a maneira como se ocupa o areal das praias aqui...

Carlos Albuquerque disse...

Uma formiga não tem capacidade de organização para se apropriar de uma parte muito grande dos recursos da colónia e colocar esses recursos ao seu serviço.

A questão fundamental do mercado totalmente livre é que conduz a grandes desigualdades e, nas sociedades humanas, pessoas com recursos muito desiguais deixam de estar ao mesmo nível no que diz respeito aos direitos.

E, se alguém tiver dúvidas, pode experimentar ir para a justiça contra alguém que tenha capacidade de gastar em advogados dez ou cem vezes mais.

O que não percebo é como é que há tanta preocupação com o estado, do qual no fundo todos somos accionistas e onde todos temos voto, e depois sem um estado com algum poder não há quem faça frente a empresas com mais poder que muitos estados e que não são escrutináveis praticamente por ninguém.

Ricciardi disse...

Como diriam os liberais, as formigas são, pois, Keynesianas.
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Rb

CCz disse...

Qual é o problema da ocupação do areal nas praias? As pessoas não arranjam um espaço? Não minimizam os conflitos?

Não queira uma ASAE a tutelar onde cada um pode estender a toalha, por favor.

CCz disse...

"A questão fundamental do mercado totalmente livre é que conduz a grandes desigualdades e, nas sociedades humanas"

A desigualdade em Portugal e em muitos outros países é cada vez maior, ao mesmo tempo, o poder e a presença do Estado na sociedade aumentou para níveis nunca vistos. Quanto mais Estado mais desigualdade.

CCz disse...

Formigas queinesianos... eheheh

CCz disse...

Formigas queinesianos... eheheh

CCz disse...

"depois sem um estado com algum poder não há quem faça frente a empresas com mais poder que muitos estados e que não são escrutináveis praticamente por ninguém."

Veja por favor o que acontece às empresas grandes e poderosas do Fortune-100. A mais antiga, a Kodak, faliu recentemente. Nas sociedades em que o Estado tem menos poder as empresas nascem, crescem, podem ter muito poder mas depois começam a definhar e acabam por morrer. Lembra-se da Microsoft há 10 anos?
Nas sociedades em que o Estado é poderoso as empresas do regime, as empresas grandes, estão sempre protegidas. Veja quantas empresas do nosso PSI 20 faliram?
nas sociedades em que o Estado é poderoso e tudo decide quem está bem são estes http://www.inverbis.pt/2012/advogados/advogados-ajuste-directo

Ricciardi disse...

Bem, Ccz, o Keynesianismo tem andado a ser usado de forma pouco correcta.
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Mas enfim, partidarites à parte, eu diria que o exemplo das formigas é excelente para demonstrar uma coisa simples: Independetemente da individualidade de cada um, e do mérito de cada pessoa, observamos padrões no conjunto. Quer dizer, voçê não consegue saber o que cada formiga vai fazer, porque não é Deus, mas tem uma ideia estatistica de como provavelmente as coisa se irão passar. Essa ideia adveio do estudo do passado e de como tende a reagir o conjunto a determinados constragimentos.
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Não é ciencia exacta, obviamente, mas é o mais parecido com a fisica. Voçê não sabe determinar a posição exacta de um electrão, mas sabe que determina-lo por calculos estatisticos. É provavel em 95% das vezes que ele esteja ali, aonde o determinou.
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E, portanto, adivinhando as tendencias e analisando comprtamentos das massas, fruto do calculo, keynes foi capaz de actuar com medidas que pudessem evitar o que sugeria a estatistica que ia acontecer.
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É mais fácil voçê adivinhar o comportamento de uma amostra grande do que adivinhar cada decisão individual. É o principio das sondagens. À medida que a analise conta com cada vez maior numero de entrevistados, temos uma noção do resto da população.
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Rb

Carlos Albuquerque disse...

"A desigualdade em Portugal e em muitos outros países é cada vez maior, ao mesmo tempo, o poder e a presença do Estado na sociedade aumentou para níveis nunca vistos. Quanto mais Estado mais desigualdade."

Então hoje em Portugal há mais estado do que quando os bancos eram nacionalizados ou quando só havia tv pública? Hoje a saúde está mais entregue ao estado do que há uns anos?

Carlos Albuquerque disse...

"Nas sociedades em que o Estado tem menos poder as empresas nascem, crescem, podem ter muito poder mas depois começam a definhar e acabam por morrer."

Presumo que os EUA sejam o país onde o estado tenha menos poder. E contudo viu-se com a crise financeira e com o conceito de "too big to fail" que há empresas que não "acabam por morrer" mesmo quando deviam ir à falência!

O que conta é que não haja entre os cidadãos desigualdades tão grandes que eliminem os equilíbrios de poderes.

De resto, estado ou empresas, é tudo uma questão de poder. Ao menos o poder do estado pode ser escrutinado.

A ideia liberal de uma ordem em que cada um procura a felicidade e todos respeitam a lei é tão utópica como uma sociedade sem classes.

MigPT disse...

A ideia de que o indivíduo, na sua ação é orientado por interesses egoístas e quando faz parte de um governo deixa de se comportar por interesses egoístas é verdadeiramente hilariante. Para estes adeptos do centralismo estatal, um Mário Lino quando decide o investimento do TGV, está imbuído de um espírito superior, que lhe permite tomar as melhores decisões de "interesse público" (o que quer que isso seja). O mal dos adeptos do centralismo estatal é a enorme míopia económica. Estes tipos nunca perceberão a falácia da janela partida.

Carlos Albuquerque disse...

O que controla o egoísmo de cada indivíduo são os outros. Se um indivíduo tem muito mais poder do que os outros, ninguém o controla. Por isso no estado moderno o poder político deve ser exercido por indivíduos controlados por todos os outros. Se nem assim as coisas funcionam bem, não será num país controlado por meia dúzia de indivíduos poderosos sem qualquer controlo que haverá mais liberdade.