sexta-feira, junho 11, 2010

Fim ao deboche do endividamento

"Alguns especialistas argumentam que a única forma de salvar o euro é acompanhar a união monetária com uma união orçamental. A receita que defendem passa por políticas de impostos mais elevados, gastos sociais mais altos (e défices não demasiado baixos) nas grandes economias do norte da Europa, na Alemanha e na França. Mas isso seria um grande erro. O que é necessário são limitações à política orçamental de cada país e não uma autoridade orçamental supranacional.
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O problema que enfrentam muitas democracias avançadas, na Europa e em outras partes do mundo, é o crescente nível dos gastos públicos, dos impostos e da dívida pública. Em conjunto, estes factores afectam seriamente o crescimento económico. Em resposta a esta tendência, o Fundo Monetário Internacional apela a um regresso aos rácios da dívida pública que existiam antes da crise. De outra forma, a explosão da dívida pública vai permanentemente diminuir o crescimento do rendimento per capita em um terço ou mais nas economias avançadas - uma estagnação permanente surpreendente - e afectaria a capacidade dos governos de enfrentar a próxima recessão.
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As principais lições do fiasco da dívida grega não são novas: 1) os governantes eleitos ignoram, sistematicamente, os custos de longo prazo para alcançaram benefícios no curto prazo; 2) esperam para agir quando são forçados a fazê-lo; 3) as políticas governamentais não podem evitar as leis da economia; 4) os governos não podem anular as leis da aritmética; e 5) a política orçamental não é mera contabilidade.
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Quando um Governo pede um euro emprestado (ou um dólar, libra, peso ou yuan), compromete-se a pagar este euro ao valor actual do pagamento de juros futuros e à eventual devolução do capital.
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Esse dinheiro deve ser proveniente de impostos mais elevados, de uma erosão do valor real dos balanços monetários e da dívida pública através da inflação. Ou directamente de um incumprimento de pagamentos e da reestruturação da dívida. Os eventuais custos de qualquer destas acções são severos.
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Além disso, o problema não é apenas a dívida pública. Um rácio mais elevado entre impostos e produto interno bruto apenas troca o problema do défice por um crescimento económico mais lento. Nas últimas décadas, as grandes economias avançadas com impostos mais elevados cresceram muito mais lentamente. E as economias com impostos mais elevados nem sequer registaram défices orçamentais mais pequenos do que os Estados Unidos, uma economia com impostos mais baixos; impostos mais elevados apenas permitiram maiores gastos.
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Assim, será melhor que cada país aplique sérias limitações legais à autoridade orçamental dos seus legisladores. Restrições aos défices orçamentais são um início mas não são suficientes. O imenso crescimento do estado social e a subida dos défices e das dívidas públicas tornaram-se nas maiores fontes de riscos económicos sistémicos tanto a nível nacional como global. Por isso, é preciso aplicar restrições simultâneas aos gastos, impostos e dívida para evitar crises económicas e financeiras futuras.
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O problema não é que os governos tenham falta de recursos para gastar mas que o aumento dos gastos, impostos e da dívida pública estão a afectar negativamente o crescimento económico e os padrões de vida futuros. Este futuro parece estar no horizonte não apenas na Europa, mas em todo o lado, a não ser que os governos restrinjam os seus gastos."
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Trechos retirados do Jornal de Negócios "Hora de restringir o governo" de Michael J. Boskin

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