quarta-feira, maio 12, 2010

Uns gabinetes de apoio...

Na sequência deste postal "Escapar a todas as sistematizações" o john fez o seguinte comentário:
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"No entanto, se nos focarmos na sua perspectiva, o Estado nada pode fazer economicamente, o que não concordo. Sei que numa economia de mercado, cabe aos particulares tomarem a iniciativa, mas ela pode ser picada ou relembrada.

Muitas empresas e muitos empresários lançam-se completamente às escuras, sem saber sequer quais são os seus objectivos e as suas estratégias. É a estratégia do passo a passo, sem rumo. Uns gabinetes de apoio aos empresários ajudariam um pouco a prepará-los melhor para o mundo empresarial."
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Caro john... e quem é que iria meter nesses gabinetes de apoio aos empresários?
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Funcionários públicos?
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Académicos bem intencionados? Basta recordar este postal.
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Recém-licenciados em biologia, direito e engenharia ou gestão, baratos, com um curso de 30 horas da AEP a certificar a sua sapiciência em estratégia? (Não é aranha!?!?)
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Adeptos do mainstream que estão longe da realidade e que só conhecem a variável custo? Basta pesquisar Daniel Amaral, Vítor Bento ou Ferraz da Costa neste blogue para perceber que só conhecem a variável custo (Ferraz da Costa é, nada mais nada menos que o presidente do Forum Português para a Competitividade). Pudera, um mestre de xadrez não consegue jogar contra si próprio!!!
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Na semana passada apreciava o trabalho que uma jovem consultora está a realizar numa PME. Fiquei bem impressionado com o trabalho, a empresa está satisfeita com o trabalho, um trabalho que consiste em acções concretas, coisas como sistematização de moldes e sistematização de ensaios. Saí de lá com um desafio na cabeça... como é que se pode inverter este cenário. Porque a PME se inscreveu num programa apoiado pelo Estado, tem o apoio da consultora que está a ajudar a produzir resultados palpáveis e positivos, sem pagar nada. No entanto, se a consultora batesse à porta da empresa a oferecer os seus serviços... suspeito que não estaria disposta a pagar pelo mesmo serviço.
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Caro john, esta segunda-feira estive numa empresa portuguesa que há anos formulou uma estratégia... assente no custo/preço e viu a vida a andar para trás. Reviu a sua situação e há 3/4 anos que está a apostar na inovação e a começar a obter resultados, a adquirir novos equipamentos e a admitir novos colaboradores, quer operários quer doutorados.
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Os telejornais, os jornais e as rádios só noticiam os despedimentos e encerramentos. Isso não seria problema se, em contrapartida, abrissem novas empresas. Contudo, com o aumento da carga fiscal, com a propaganda que passa e contamina as mentes e que olha para o lucro como um pecado e para os empresários como gente pouca séria... há poucas alternativas.
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É duro mas é o preço, são as dores de parto de uma nova economia que vamos ter de ter "Número de falências aumentou 7 por cento no primeiro trimestre".

5 comentários:

Jonh disse...

Caro Carlos,

Agradeço a resposta ao meu comentário do post anterior.

A sua resposta (da qual eu concordo totalmente) tem, afinal, explícita a ajuda do Estado. Tal empresa que recorreu a um incentivo do Estado e está a ser ajudada por uma empresa de consultadoria, mas tem razão quando diz que tem de ser a empresa a sentir essa necessidade, que foi aliciada pelo apoio estatal.

Focando-me apenas no que pode ou não o Estado fazer, talvez seja altura de modificar as estratégias seguidas recentemente. Devem ser dados apoios às empresas, desde que se criem garantias que aquale dinheiro será investido no reforço da competitividade das empresas, ao contrário do que se tem feito.

lookingforjohn disse...

Um conhecido entrou em estágio profissional numa empresa que é assídua na participação em projectos financiados que envolvem formação e consultoria.
Naqueles 3 meses em que trabalhou a dobrar para mostrar valor e recebeu zero remuneração foi ouvindo que a presença dele fazia toda a diferença. No fim, ouviu que a empresa não podia contratá-lo até porque tinha acesso a outros estagiários não remunerados.
Não é que seja um exemplo absolutamente estrondoso, mas ilustra a importância que as empresas dão à competência quando comparada com a expectativa de não terem que a pagar. Nem todas serão assim, mas a grande maioria tem sido aliciada nesse sentido e tem correspondido, alimentando este mercado dos "habilitados 30 horas", e que, diga-se em abono da verdade, também são pagos em função das suas reais capacidades - o grosso do dinheiro disponibilizado pelo Estado fica nos intermediários, sejam eles empresas de formação e consultoria (nome muito errado, já que são na verdade empresas de transporte de dinheiro), ou associações também elas ligadas ao estado ou então associações sectoriais.
Bom, isto um dia vai acabar, e o negócio vai tremer...
O problema com a intenção de mudar as estratégias é que os actores são péssimos, a começar pelos definidores das estratégias, e a rede muito extensa, contemplando os executantes e todos aqueles que deveriam assegurar o controlo.
Não, não me parece... isto tem que começar de dentro de cada unidade e ir-se espalhando. Infelizmente, o todo (Estado) não tem e não vai ter capacidade de mudar a estratégia...
Um bom exemplo duma entidade que optou por não se habituar a depender de ninguém, e até nem seria de estranhar se o fizesse, e que até vem da governação, é este: http://www.faroldanossaterra.net/mortagua-em-2%C2%BA-lugar-no-ranking-global-dos-308-municipios/

by Aranha

Pedro Soares disse...

Caros Amigos,

Antes de mais o meu obrigado ao Carlos Cruz pela forma metódica como vai contribuindo para o meu desenvolvimento, através deste blog e dos seus livros, trazendo á discussão questões pertinentes com opiniões fundamentadas. (Como podem ver esta é a minha primeira participação)
Escrevo somente agora porque o tema dos empreendores e dos apoios ás empresas são temas que me incomodam muito.
Tenho ouvido e lido ao longo dos anos várias opiniões de políticos, comentadores, economistas, etc, etc, que indicam como grande necessidade de Portugal a criação de uma cultura de empreendedorismo.
Tb tenho ouvido, como diz o John, muita gente apontar que o que falta são apoios (sejam de que forma for, consultoria, educacional ou económica).
Sou licenciado em Gestão Industrial e tenho um “bichinho” pelo empreendedorismo. Recentemente frequentei um MBA. Sabem qual a % dos meus colegas, altamente formados, queriam ser empreendedores? Menos de 5%.
Pq?
No caso em questão, o problema não é falta de formação, inteligência, ideias ou acesso a crédito (existem muitas hipóteses de crédito se a ideia for realmente boa e se for apresentado um plano de negócios fundamentado). Se apresentam um plano de negócios fundamentado têm de pensar na componente estratégica e não estão a seguir passo a passo, como foi referido.
Então resolvi perguntar (se bem que tb já sabia a resposta)
A resposta foi simples… “Estás doido? Achas que me vou meter nisso? Trabalhar feito um mouro, não dormir, ter que aguentar credores… para quê? Para ser tratado como um criminoso? Para se falhar entrarem sobre os meus bens pessoais? Não recebo apoio da segurança social… Só porque tentei?…
Se não falhar vão colocar todo o género de dificuldades, vão aplicar-me dupla tributação, tenho de prestar satisfações por tudo o que faço e que compro. Serei visto pela sociedade como um criminoso. Se quiser crescer e investir vou ter de contratar gente e após alguns anos os meus funcionários vão ser mais poderosos que eu, protegidos por uma legislação inflexível. Passo a ter contractos vitalícios!! E se o negócio corre mal? Como me vejo livre deles?...”
A lista de argumentos continuava. Eu tentei fazer de advogado do Diabo e apresentar os benefícios do empreendedorismo mas saí derrotado. Ser empreendedor em Portugal é das piores coisas que pode haver.
Todos foram para multinacionais. Todos são bem sucedidos.
Se tomarem atenção a maior parte das PME Portuguesas foram criadas por pessoas com formação “inferior” os tais que vão passo a passo. Pq? Porque não têm alternativa de satisfazer a sua ambição. Chegam a um ponto e a única forma de serem maiores é serem empreendedores. Acreditem, se houvessem outras eles tinha preferido esses caminhos.
Deixo a questão para, eventualmente, outro postal: “ Será que devemos criar apoios ou remover barreiras ao Empreendedorismo?”
Desculpem o texto longo.

Jonh disse...

Caro Pedro,

Ainda bem que existe um forum onde são tratados assuntos pertinentes e onde as pessoas podem debater as suas ideias.

No que disse, em nada discordo. Concordo perfeitamente com a eliminação das barreiras ao empreendedorismo. E existem muitas: laborais, justiça, fiscalidade, etc. Com o meu comentário, ao defender apoios ao empresário, não pretendi defender mais dinheiro, mas apoios que possam ajudar o empresário a ser mais competitivo. Como disse o Carlos, deve ser ele próprio a procurar ajuda, em parte concordo, mas há formas de fazer com que o empresário abra o olhos e procure ajuda.

CCz disse...

Meus caros,

Obrigado por aparecerem e enriquecerem este espaço com a Vossa opinião.

A evolução dos comentários remeteu-me para algo que pairou na minha mente entre 2003 e 2004, espero amanhã dedicar um postal ao tema.