sábado, maio 01, 2010

Assim, admiramos-nos de quê?

Um país é um sistema.
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Um sistema é um conjunto de elementos interrelacionados que formam um todo que pode ser visto como uma entidade única, organizada e coerente.
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Um sistema não é igual à soma das partes que o constituem, é mais do que isso. As interacções entre as partes de um sistema geram algo que emerge do conjunto e que não estava lá antes.
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Feitas estas ressalvas atentemos primeiro num caso concreto.
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O nosso conhecido Aranha aka Lookingforjohn chamou-me a atenção para este caso (chamemos-lhe evento, algo que emerge de um padrão, de um comportamento) "É pena, mas receio que ...".
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Nos últimos anos tenho acompanhado ao longe o trajecto deste caso, através de breves conversas de reflexão com o "amigo e consultor anterior ali deixara", nos "bons velhos tempos" nunca era possível mudar de vida, era sempre preferível ir com a corrente, sempre por motivos que já na altura pareciam absurdos. Agora que esses velhos tempos acabaram e a corrente empurra a organização, qual crash test dummy, contra o muro duro da realidade, entra em cena um consultor com um BSC pré-cozinhado, sem mapa da estratégia, e focado nos cortes.
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O futuro desta empresa não me interessa em particular, embora me preocupe o futuro dos seus trabalhadores. O que saliento deste caso, da história deste elemento que também constitui o País, é que ele não passa de mais um evento que assenta em padrões de comportamento que decorrem de estruturas sistémicas que resultam de modelos mentais.
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Agora, se olharmos para o sistema País, veremos uma organização complexa que segue os mesmos passos relatados pelo Aranha. Ano após ano, consultores como Medina Carreira alertaram, qual Jonas, para onde a corrente nos estava a conduzir. Só que ao contrário dos ninivitas, nós por cá não demos ouvidos, e mais, até gozámos com eles, só não os pusemos na fronteira envoltos em alcatrão e penas porque parecia mal.
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Agora que a parede da realidade se está a aproximar, agora que o Diabo bateu à porta de Fausto para cumprir a parte final do contrato, também só lá vamos com a entrada em cena de um guru de economia milagreiro imposto pelos credores e em nome do FMI e outros.
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Assim, admiramos-nos de quê?

1 comentário:

lookingforjohn disse...

E, contudo, irrita-me que este país/ sistema seja feito de arrebanhados que passam pela vida a seguir tendências.
Isto a propósito dos tantos que se limitam a seguir tendências do vox populi (ou da linha editorial da imprensa), para estarem sempre em linha com o mainstream.
E isto a propósito dos tantos que agora se juntam ao momento apenas para tentarem ser vistos no meio do rebanho que descobriu que a casa estava a arder. No fundo, são uma data de inúteis, porque permitiram que se cavasse o buraco, e de incendiários, porque agora fazem coro (mas só coro, só berros, só ecos, nada de ideias) que retira discernimento e foco a quem poderia fazer alguma coisa.
E, claro, depois temos os parasitas... (ver consultor financeiro que, pago a peso de ouro, vai "salvar" aquela empresa perante o seu único cliente...)

by Aranha